sexta-feira, outubro 16, 2009

Imaginemos que Portugal era um país com importância internacional...

A revista Newsweek, na capa de um número destas semanas, trata do assunto Berlusconi assim:

Corram com Berlusconi, sem ademanes ou subtilezas. O libelo acusatório? Este:

Italian prime minister Silvio Berlusconi's record of intimidating and outfoxing his enemies, rewriting laws to suit himself, and generally leading his public as well as private life in flagrante delicto puts him in a particularly Italian pantheon. One thinks of Nero, or the Borgias, of bread and circuses, debauchery and corruption. Never mind that this is 2009; consider just a few of the scandals that have rocked Berlusconi's throne in the past few months. There was the allegation by his estranged wife that he was flirting with underage girls; the sleazy sex tapes made by a call girl who said she serviced Il Cavaliere, as he's called, and that he offered her a seat in the European Parliament; and the allegations of an influence peddler and cocaine dealer that he'd furnished hookers for Berlusconi's parties in Rome. All that on top of paparazzi photos taken at the prime minister's villa in Sardinia that showed at least one distinguished guest cavorting like a priapic satyr.

Agora, compare-se o corpo de delito contra Berlusconi, com o que a mesma revista poderia escrever sobre José S. enquanto primeiro-ministro de um país que tivesse realmente importância no panorama internacional...imagine-se apenas, sabendo o que se sabe e depois, tirem-se as conclusões devidas: temos uma imprensa e media em geral, merdosos. Abúlicos e anómicos. Ridículos, numa palavra.

5 comentários:

rosa disse...

Caro José,

https://www.blogger.com/comment.g?blogID=6107154&postID=4901327387859052356&isPopup=true&pli=1

Depois desta sua interpelação, a resposta tarda, mas não falha.

Já percebi o seu ponto de vista e creio que o José já percebeu o meu.

No seu raciocínio parece cindir o plano da responsabilidade penal e o da responsabilidade política, jogos diferentes e cada um com as suas regras próprias, diz. Mas a cisão que faz é só aparente, porque é ao processo penal que vai buscar os motivos para o ostracismo político que preconiza para certas pessoas, normalmente da esfera do Partido Socialista. Mesmo que os indícios da responsabilidade penal dessas figuras públicas sejam tão ténues que nem justificaram a sua constituição como arguidos – num tempo em que a constituição como arguido era bem mais “fácil” do que é hoje – quanto mais a sua acusação

Mas indo ao processo Casa Pia, que ostenta como símbolo da degenerescência da nossa classe política (socialista). É verdade que neste processo ninguém ficou bem na fotografia e realmente faz sentido tirar consequências de ordem política em relação a personagens com efectivo poder e que mais do que conotadas com o PS são a própria personificação actual do PS (António Costa, Ferro Rodrigues, Ana Gomes, etc.), que usaram e abusaram do seu poder para pressionar e condicionar de modo intolerável a investigação ou certas tomadas de posição que cabiam ao Ministério Público. Estou, como é óbvio, a falar dos telefonemas ao PGR e tuttiquanti, nas disparatadas teorias da cabala, das recepções histéricas à porta do Parlamento e de tudo o mais que tristemente sucedeu.

Já não posso, todavia, concordar consigo quando advoga o estatuto de párias para algumas dessas pessoas contra quem foram dirigidas insinuações de abusos sexuais. Pois, que conhecemos nós – e falo no cidadão em geral, que sabe do processo o que vem na comunicação social – desse processo Casa Pia que nos habilite a ser tão terminantes para com quem viu o seu nome nele envolvido. É certo que há uns quantos acórdãos dos tribunais superiores – sobretudo os do Tribunal Constitucional – que permitiram levantar o véu sobre o processo, designadamente sobre o seu inquérito e sobre os incidentes relacionados com as medidas de coacção nele aplicadas. E o que esses acórdãos revelaram não foi nada bonito de se ver. Na verdade, os termos em que algumas das prisões preventivas foram aplicadas constituíram mesmo uma vergonha. O que por si só já suscita reservas sobre a actuação do MP (e do JIC) no inquérito.

Tirando esses acórdãos, com que ficamos? Com um sem número de notícias quase sempre imbuídas de histerismo, sensacionalismo e parcialidade. E na sua esmagadora maioria reveladoras da mais crassa ignorância sobre os crimes em discussão, o perfil criminológico dos delinquentes sexuais, as leis do processo e, o que é pior, sobre os próprios factos submetidos a julgamento. É nesta informação que confiamos para emitir opinião sobre o caso Casa Pia? Nas Tânias, nos Tadeus, nos Marcelinos, nas Felícias, etc.? Eu não. E porque não gosto de falar do que não sei e muito menos ditar juízos finais sobre o carácter de pessoas que não conheço, prefiro ficar calado a dizer que deveriam emigrar para Marte.

Saudações,
Rosa

rosa disse...

Sobre Berlusconi.

Costuma dizer-se que cada povo tem o Governo que merece. Nós temos o nosso; os italianos têm o deles.

E a sobrevivência política (e, aqui sim, penal) de Berlusconi diz bem da decadência lenta em que a Itália mergulhou.

Como nós, os italianos prezam muito o que os estrangeiros dizem e escrevem acerca do seu país. E esta da Newsweek vai dar que falar!

Rosa

josé disse...

Rosa:

O seu comentário deu-me ensejo de pegar no assunto Polanski que evidentemente está relacionado com isto, embora por portas travessas.

Ontem escrevi meio texto e hoje vou concluir.

Quanto ao que escreve agora:

O facto de pegar no aspecto penal para lhe dar relevância política, não é tal como diz. O aspecto penal existe como facto relevante, porque a actuação tem esse condimento, de natureza penal. Os factos imputados são eventuais crimes, mesmo que prescritos ou insusceptíveis de comprovação segundo as regras do direito.
Sò por isso merecem a atenção da análise dessa perspectiva, mas não estendo para além disso.
Se o processo penal não permite a imputação ou o julgamento, isso não quer dizer que permita o atestado de inocência que a presunção não ilidida poderia impor. Mas fiquemos por aí.

Ainda que esses factos nunca passassem à fase processual penal, como por exemplo aconteceu com o Ballet Rose ( o melhor exemplo em todos os níveis para o que pretendo dizer), ainda assim, pensaria como penso: um indivíduo atingido, mal ou bem por esse labéu, deveria afastar-se da política. Pelo princípio da cautela que entendo deve ser norma disso mesmo.
Não é ser hipócrita ou radical ou até fundamentalista. É o princípio do parecer que deve acompanhar todo o ser político.

Não pretendo reduzir ao estatuto de pária da política quem foi de algum modo envolvido nestas coisas da pedofilia. Por uma razão: os políticos não devem ser uma carreira profissional, assim como se fossem funcionários públicos de alta administração.

Os políticos são apenas indivíduos cujas circunstâncias emprestam um papel de relevância nos assuntos da coisa pública, em determinada época. Podem ser bons, maus, assim-assim e alguns, muito poucos imprescindíveis, mas apenas durante algum tempo. O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente, diz-se há muito tempo.

Para mim, tenho assente que um indivíduo que exerça cargos de relevo político, em representação do povo que elege, deixa de ter condições objecivas e subjectivas para tal, logo que seja suspeito de algo que o povo não tolera. A prática de crime infamante ou de actividades do mesmo género, como sem dúvida é a de pedofilia, mesmo em cumplicidade de amiguismo ou de pertença a grupo, é uma fronteira para mim inultrapassável.

Se temos meia dúzia de ofendidos, sem margem para duvidar dessa qualidade e que afirmam que determinado político está associado a práticas dessas, para mim, não será preciso mais nada: esse político deve deixar de o ser. Não para passar a ter o estatuto de pária, designação inapropriada e de utilidade apenas justificativa, como argumento para suscitar compreensão para a injustiça que tal representaria.Um sofisma, portanto, uma vez que o político que deixa de poder exercer política representativa, pode fazer muitas outras coisas na vida. Tal como os políticos que são afastados pelas circunstâncias mais diversas. Até pelos votos...
Ou acaso serão párias os que deixaram de merecer a atenção de quem de direito, mormente o povo?

Outro aspecto importantissimo e que esqueci de referir já por duas vezes:

Se um desses indivíduos que foram apanhados nesta teia, mesmo injustamente, fosse meu amigo, nunca seria colocado à margem e na condição de pária na minha amizade.

josé disse...

Sabe qual foi o primeiro texto que escrevi sobre este assunto da Casa Pia, logo que estourou a notícia da prisão de Carlos Cruz?

Foi um texto que publiquei num comentário no Pastilhas do MEC.
Um texto em que falo de Dr. Jekyll and Mr Hide.

A Zazie há-de lembrar-se, ás tantas.

Um dia destes vou republicar porque me parece que dá o ponto de vista exacto que ainda continuo a ter sobre o assunto.

Diogo disse...

Errado. Não temos uma imprensa e media merdosos nem abúlicos. Temos uma imprensa e televisões que são propriedade de grandes grupos económicos. Que, a propósito, são proprietários dos partidos e dos políticos.