sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Uma guerra no Ultramar, há 50 anos

Comemora-se hoje a efeméride dos 50 anos sobre uma episódio que espoletou a guerra no então Ulramar português, em Angola.

A revista Tabu, do Sol, publica uma entrevista com António Lobo Antunes, o escritor da "geração de 60" que deu com os costados na tropa e nessa guerra. Ao contrário de alguns, corajosos "antifassistas", não fugiu para lado nenhum, nem se desobrigou de prestar o serviço militar.

Na entrevista, dá uma perspectiva precisa e focada sobre essa guerra e os efeitos que teve sobre muitos dos que a fizeram como militares.

" É uma pena mas ainda não se fez o grande livro sobre a guerra. Tem que ser muito mais que um romance, tem que ser um documento e não é para mim. Terá que ser feito com os olhos mais frios e ser feito falando com aquelas pessoas. O que tenho visto na televisão e nos jornais, não falam com os soldados, falam com as chefias. É preciso falar com os nossos soldados, que eram pessoas de uma coragem extraordinária. Os rapazes são extraordinários. Tropas de elite, por exemplo, os páras, todos pequeninos, magrinhos, aparentemente inofensivos, frágeis, mas de uma coragem extraordinária. Um oficial cubano mais tarde dizia-me isso, que éramos grandes soldados. Então compreendi porque é que fomos nós que fomos à Índia."

Ora bem. Aqui está uma perspectiva que ainda não foi colocada em programas de tv ou livros. O que existe, aliás, é realizado por alguns que eram contra a tropa e a guerra, dum ponto de vista ideológico e de esquerda, obviamente. Heroísmo, patriotismo e coragem, são atributos de esquerda? Parece que não, porque o que vemos ouvimos e lemos, não podendo ignorar é o fraseado repetitivo de uma Esquerda que tomou conta dos conceitos e das palavras em 25 de Abril de 74 e nunca mais os largou, orientando todo o discurso nacional sobre o assunto a partir de então. É por isso mesmo que os antigos combatentes são quase ignorados e os que os combateram ideologicamente são incensados. Um mundo ao contrário que urge reverter.
Felizmente que aparece um Lobo Antunes que mostra o lado oculto da realidade que aqueles sempre obliteraram, principalmente na memória e acima de tudo no imaginário.
É preciso refundar esta história porque nunca foi devidamente contada. É o que nos diz Lobo Antunes nesta entrevista.
É preciso falar dos aerogramas e das madrinhas de guerra. Das comissões e dos milicianos. Das emboscadas e da fibra dos nossos soldados e principalmente perceber onde se formaram e como se formaram, na educação que tiveram e nos valores que levaram.
Não foi certamente no marxismo-leninismo, maoismo ou trotskismo. Muitos dos que foram lá parar, a esse Ultramar, aprenderam aí o que significavam esses nomes, levados pelos arautos do cancioneiro do Niassa e doutras tretas que influenciaram depois, em 25 de Abril de 74, o rumo dos acontecimentos que tivemos.
É tempo de reverter a ideologia dominante, rebuscando e repescando conceitos e valores que sempre foram os nossos e com os quais fizemos ver ao mundo o que somos como povo.

28 comentários:

Floribundus disse...

guerras coloniais
Cuanhamas e Cuamatos
dembos

colonialismo
instalação de Nova Lisboa
etc e tal ...

zazie disse...

José:

Não terá sido precisamente por esta inversão que se perdeu o orgulho de ser português?

Estará aqui a resposta para o tabu de tudo o que possa ter a ver com raízes, Nação, Pátria?

E isto por se ter feito da ditadura um hiato sem existir sequer uma República com os mesmos valores?

zazie disse...

Eu não sei, mas sempre que leio, até a neotontinhos, essa treta de termos vivido 800 anos de ditadura...

josé disse...

Está, claro que está, a meu ver.

A inversão de conceitos teve como matriz a Esquerda comunista e os intelectualóides que a compôem.

Mandam no discurso nacional há 37 anos, quase. Ou mais porque antes de 25 de Abril já dominavam e queixavam-se da censura que o queria impedir.

Diabolizando o salazarismo e o caetanismo obtiveram o efeito de estufa que pretendiam e abafaram tudo.

O nosso atraso tem a ver com isso porque a mudança de paradigmas constitucionais, nos anos noventa, foi uma luta que deixou muito por fazer. Mesmo assim, lá se conseguiu privatizar algumas empresas, particularmente os bancos e os seviços ( alguns e poucos) e entregá-los à "burguesia" capitalista e financeira ( é assim que ainda lhes chamam hoje em dia).

Portanto enquanto não descomunizarmos a linguagem e limparmos o ambiente como fizeram os países de leste logo depois da queda do muro, não sairemos da cepa torta.

O Lacão queria reduzir o número de deputados para 180. O que aliás chegava e sobrava. 50 já eram muitos!

Não o deixaram ( porque o tipo é burro, claro e não se apercebeu do efeito) porque os mais prejudicados seriam o PCP e o CDS.

joserui disse...

Bom texto!
Sobre a redução do número de deputados, é patriótico. E se prejudica os comunas azar, aliás quando são ilegalizados? Também seria patriótico, coerente e justo!
De qualquer modo, a apuração de resultados, círculos etc, devia ser tudo aperfeiçoado. E já agora actualizar os cadernos eleitorais. -- JRF

zazie disse...

Pois é.

Mas fui agora ao Blasfémias e já me fartei de rir com o lucklucky.

A sério. Ainda consigo entender as paranóias históricas da escardalhada.

Agora que neoliberais as tenham na mesma e com os mesmíssimos argumentos do perigo do "fassismo" é demasiado estranho.

Não sei sequer se há gente assim maluca nos outros países da Europa.

De onde vem esta loucura do pavor a uma Nação?

No caso da escardalhada é hipocrisia porque a Nação era a URSS e o tamanho- o planeta.

Mas nestes "libertários" que pegam na mesma semântica do papão da nossa História, para depois quererem países por bairro, não sei.

E é gente da nossa idade, não são adolescentes maluquinhos.

zazie disse...

E depois conseguem ser nacionalistas pela América do Bush

ahahahahaha

Aí não há azar se houver saque ao petróleo. A maldade era apenas a da casa, por se ter ido às especiarias.

Pedro Marcos disse...

Quando é que o pessoal vai começar a ler o Albert Pike para compreender o porquê destes "mistérios"?

A "esquerda" é apenas uma ferramenta.

Pedro Marcos disse...

Quando é que o pessoal vai começar a ler o Albert Pike para compreender o porquê destes "mistérios"?

A "esquerda" é apenas uma ferramenta.

lusitânea disse...

Os descolonizadores agora usam a "acção psico-social" da guerra do ultramar, mas para nos colonizar.Portugal para eles não podia ser pluricontinental.Porque diziam que se vivia da "exploração" do preto.Agora que temos cá mais africanos do que de brancos existiam no total no ultramar quem é "explorado"?Quem paga aquilo que os fazia gozar ao "denunciar" o "imposto de palhota" do ultramar?

Isto feito pelos mesmos gajos que tanto defendem uma coisa como o seu contrário só nos pode levar a uma conclusão:trata-se só e simplesmente de vigaristas que se apossaram da NAÇÃO e que a exploram a seu belo prazer.Coisa que ninguém do anterior regime alguma vez fez.
Espero que um dia os vigaristas-traidores sejam julgados pelo povo nos pelourinho, povo esse em nome do qual tabto falam e tanto traem...

josé disse...

Entretanto actualizei as datas. De 1961 a 2011 são 50...

lusitânea disse...

A realidade e verdade é que quem doutrinou e motivou os independentistas, cá, a revoltarem-se cumprindo ordens de Moscovo e de Pequim não se pode reclamar de "libertador", mas sim de TRAIDOR.

zazie disse...

ahahahahah

Meio século.

lusitânea disse...

Ainda agora ouvi a vice-procuradora de Évora que esteve presa pela PIDE.Era contra a guerra "colonial".Ela e a maioris que foi sendo formada pelas células de "intelectuais".A rapaziada tratou da doutrinação dos revoltosos e dos que se destinavam naturalmente a combatê-los.Assim como um islâmico que reza 5 vezes por dia um dia fará o que lhe mandarem esta rapaziada doutrinada desde cedinho no contra fez que lhe mandaram.Mas por acaso tiveram sucesso.Porque por cá não havia um regime iraniano que os enforca sem problemas...

José Domingos disse...

Como é que possível que gente que não «assentou praça» e que tem como «habilitações» a «sociologia da batata», ou antifascista, esteja numa pasta tão transversal, nacional e de Estado? Não resta dúvidas que o ex-MES forneceu ao PS e PSD quadros e personalidades para todos os gostos e feitios, desde Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues, Catalina Pestana, Vieira da Silva, David Justino, Alberto Martins, João Cravinho, Augusto Mateus, Joel Hasse Ferreira, Manuel Braga da Cruz (reitor da Universidade Católica), etc. É curioso saber que o próprio Jorge Sampaio foi o primeiro a sair deste notável grupo, um bocadinho assustado com as propostas do então líder, Augusto Mateus, que prentendia cavalgar a «onda revolucionária» e ultrapassar pela esquerda o velhinho PCP. Também a ex-UDP tem sido uma boa fornecedora de «quadros», desde Jorge Coelho, António Perez Metello, José Manuel Fernandes, Henrique Monteiro, João Carlos Espada, António Vitorino (da UEDS), Nuno Ribeiro da Silva, etc. Por sua vez o glorioso MRPP forneceu e ainda fornece quadros de alto gabirito, desde o mais mediático, o Durão Barroso, ao Fernando Rosas, à Maria José Morgado, ao recentemente falecido Saldanha Sanches, Ana Gomes,etc. Nunca a «ex»-extrema esquerda (a doença infantil do comunismo) teve tão poder nestas últimas duas décadas num país europeu como a «ex»-extrema-esquerda portuguesa. Chegaram ao topo do Estado, desde a Defesa e Informações até às assessorias de S.Bento e Belém. Não é por acaso que estamos como estamos... São especialistas na balbúrdia, indisciplina, agitação e propaganda!»

Camilo disse...

Concordo plenamente.
Sempre tenho dito que o verdadeiro... livro sobre o (nosso) Ultramar, está por escrever.
Talvez quando não houver medo... dos interesses, claro.
Por enquanto tem havido falta de coragem, com muita vergonha à mistura!!!

(E.A.M.A. 26/8/1962, até 6/3/1970).
Com muita honra.
E, também, como muito, muito orgulho.

Camilo disse...

Errata:
(E.A.M.A. 26/8/1966, até 6/3/1970).
1962 foi a minha chagada a Luanda.

Kafka disse...

Devo discordar um "pouquinho".
Estive lá (Angola) de Dez62 a Mar65 e tive oportunidade de conviver com alguns Comunas que se portaram bem (excepções?). O regresso esclareceu muita coisa, foi aí que me apercebi da existência de uma trupe onde não cabia um alfinete no cu que proliferavam pelos cantos deste país e quase sempre ligados à média e alta burguesia, encostados a uma pseudo clandestinidade; era ser do contra, coisa muito fina à época, eram uma espécie de comunas sem o ser não fosse o diabo tecê-las. São esses agora que ufanamente se intitulam de revolucionários (da merda) e que nos vão indo ó olho...
Estes com as cunhas de então não consta que lá tivessem posto o coiro.

josé disse...

Kafka:

Era útil colocar nomes.

Por exemplo...um Marcelo Rebelo de Sousa? Ficou "livre"?

zazie disse...

Ah, quanto a isso de ficarem livres a minha mãezinha é que sabe os nomes.

As principais cunhas eram feitas o mais próximo possível do poder.

Lembro-me, até de querelas familiares por causa disso, em relação ao meu irmão. A parte mais conservadora achava que não se devia meter cunha para o safar mas a minha mãe dava logo os exemplos de cima que se tinham safado.

zazie disse...

Por acaso, depois veio o 25 de Abril e ele fez parte da leva que ficou dispensada de serviço militar.

Mas, se não tivesse acontecido o 25 de Abril, a forma de o livrar já estava a ser preparada e até me dá vontade de rir a quem ia ser pedida.

lusitânea disse...

Pois a maioria da malta antes do 25 em vez de antifassista era mas é covarde.O que é evidenciado pelo seguinte:
Desertavam mais os que sabiam que iam para a Guiné de tal maneira que nos últimos tempos a malta só sabia no último momentopara não cavarem.Para Timor, Macau, Angola e mesmo Moçambique poucos desertavam.
Ouvi falar em 100000 desertores-refractários no 25, os tais lava-pratos que depois foram "revolucionários"
Em qualquer dos casos o crime compensou.Tomaram o poder e lixaram logo todos os colonos sacrificados sem dó bem piedade.Embora agora digam que "o mundo é um só" para justificar a nossa colonização desnecessária e nos apresentem a factura...

zazie disse...

Mas este é um assunto que conheço mal e acerca do qual não tenho uma posição extrema nem muito consequente.

Por um lado, como é óbvio, a História de Portugal inclui Império e dele nunca me envergonharia.

Do mesmo modo que nunca me passaria pela cabeça o insulto aos bravos que o defenderam. O Afonso de Albuquerque é até um herói que tenho.

Por outro, nunca me agradou - em termos gerais e ainda mais em específicos a personagem do branco com séquito de criadagem e os maus tratos racistas que sei que se fizeram.

E nisto não teremos sido piores que os outros mas há um aspecto que muitas pessoas amigas e conhecidas que por lá viveram sempre me contaram- os piores eram os pés-descalços; "os degredados" como lhes chamavam.

E isso sim, sempre mostrou uma grande verdade: "não sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu". E foi para África muita dessa gente. Não como militar para a defender mas para lá ser o que entre brancos nunca seria.

zazie disse...

Os exemplos que a minha mãe dava e conhecia, nada tinham a ver com "antifassistas" desertores, mas com filhos de grandes famílias que eram o oposto disso.

zazie disse...

"Ficar livre" não era emigrar, desertando, era ser dado, dentro da lei, como "não admitido ao serviço militar".

Meter cunha servia para isso.

Kafka disse...

José,
Está a pedir demais, já lá vão os tais 50 anos e na altura não passava de um puto de 20 anos que estudava com muito sacrifício dos pais porque o ensino público mais próximo ficava a 50km. A minha burguesia era do escalão de baixo e se hoje está em alta deve-se a muito trabalho desde então.
Os safados de agora já são enxertias dos de então, uns de borbulha outros de estaca. Se quer saber nomes e sei que sabe basta ler alguns "romances" que tem com certeza em arquivo como por exemplo o famoso(!) livro do Rui Mateus

zazie disse...

Essa pergunta concreta do José tem piada e não sei. Passou-me ao lado tudo isso.

Mas vou perguntar à minha mãe. Ela, na altura, bem que fazia name dropping e a família entupia toda.

ehehehe

José - uma homenagem paterna disse...

Em 2006, escrevi um e-mail que enderecei aos meus camaradas de trabalho indicando os motivos que me levavam a mudar de ares: O meu país está falido. VOu-me embora desta Direcção-geral que está a ser gerida por incompetentes e não aguento mais.
Resultado - um ano de inactividade profissional aplicado pelo DGeral

O caso é levado a Tribunal por um dos que se achou lesado com a minha atitude
O Tribunal aplica-me uma pena de multa de 150 dias a 10€, ficando esta brincadeira em 2200€
Afinal os outros é que eram os f..d..puta