sábado, abril 30, 2011

Não pagamos! Não pagamos!

Sapo:

O líder do PCP defendeu hoje, em Coimbra, que a “única solução” para os problemas financeiros do país passa pela “imediata” renegociação da dívida externa ao nível dos prazos, montantes e taxas de juro.

“Perante a complacência e a cumplicidade da União Europeia, com as práticas de agiotagem e especulação, a única solução que se impunha para defender os interesses do país era e é, em alternativa a esta inadmissível ingerência externa, a imediata renegociação da dívida externa portuguesa”, afirmou Jerónimo de Sousa.

O bravo Jerónimo, se tivesse poder, levar-nos-ia num instantinho para a miséria mais adequada ao seu programa eleitoral: à saída do euro e à desvalorização da moeda que viríamos a ter. Como boa parte da dívida privada aos bancos é de empréstimos à habitação, cujo pagamento de juros seria incomportável para a maioria dos portugueses, era fácil: nacionalizava-os e mandava-os dar uma volta ao bilhar grande da especulação. Depois, o bravo Jerónimo iria fazer uma quête à Coreia do Norte ( a Cuba já não adiantava) para nos dar algum...

Este Jerónimo e os seus economistas só inventados. Será que o Octávio Teixeira também pensa assim?

Alguém trave este louco!

"Na prática, sem ajuda externa o Estado não tem dinheiro para funcionar a partir do final de Maio."- escreve Joao Silvestre no Expresso de hoje.

O título da notícia , na página 6,- " Cofres do Estado estão praticamente vazios"- devia estar na primeira página, mas os critérios editoriais do cretino que dirige o jornal são o que são e prefere por isso noticiar uma fantasia: que a "troika reestrutura Portugal de alto a baixo". Maior parvoíce jornalística é difícil de encontrar e só um director como o dito seria capaz de uma coisa assim.

Portanto, a notícia diz o que parecia óbvio a muitos e que era a realidade que nunca deveria permitir a este Inenarrável primeiro-ministro andar por aí publicamente a anunciar que não havia necessidade de intervenção externa, de ajuda financeira porque "tínhamos dinheiro".
Não tínhamos, o ministro das Finanças sabia-o muito bem e colaborou na farsa deste Mentiroso compulsivo que poucos querem acreditar seja um verdadeiro Vale e Azevedo. O tempo o dirá e nessa altura, os que o negaram voltarão com aquele ar de sábios tournesol a assegurar que sempre assim pensaram.

A verdade nua e crua, sabida já muito tempo antes do chumbo do PEC IV e do anúncio de pedido de ajuda e da demissão desse Inenarrável, é que Portugal, no início de Abril tinha em caixa apenas 300 milhões de euros. Isso tornava inevitável um pedido de ajuda externa como aconteceu e não seria qualquer PEC que o evitaria.

O Inenarrável evidentemente sabia disto. E mentiu. E votou a mentir. E continua a mentir. Não é a simples mentirola política de dizer que não esteve com quem teria estado. Não. É muito mais grave que isso: É uma negação de uma realidade que lhe seria prejudicial eleitoralmente e na qual o mesmo acredita tão piamente como no ponto electrónico que lhe colocam na frente quando discursa.

Tudo o que este Mentiroso pretende é permanecer no poder. Para continuar a mentir e a mentir e a mentir. Descarada, impudica e impunemente.

Evidentemente que isto só pára quando um alguém de reconhecida competência de credibilidade lhe diagnosticar a doença ou o prenderem para conduzir a um rilhafoles que já não existe.
Já há vozes dispersas a reclamar responsabilidade " de tribunal" a este Inenarrável. São poucas, manhosas algumas delas e sem consistência factual em corpo de delito suficiente. Outras surgirão, como aparecerão os Sombras do costume a cobrir com o manto diáfano da fantasia a notória mancha de factos criminosos.

Portanto, como isso não vai suceder, este Inenarrável vai conduzir-nos ao lugar onde nunca estivemos em centenas de anos de História: à falência económica e moral. Porque a anomia que vemos no eleitorado é de tal ordem que essa espécie de nemátodo social já está em expansão.
Os Sombras, nessa altura ficarão mudos que nem petos. Pica-paus a quem tiraram as árvores...

PS. Pacheco Pereira, no artigo no Público de hoje, diz a mesma coisa. Agora e de outro modo mais suave. Tipo jornalismo caseiro.

Uma estupidez, apenas.

Num programa de rádio, na Antena Um e que passa aos Sábados de manhã, João Gobern e Pedro Rolo Duarte, dois animadores mediáticos das últimas décadas, entrevistaram hoje o advogado Garcia Pereira.
Em dado momento Garcia Pereira falou da sua vida política e pessoal e no seu passado do "fachismo", palavra que há mais de quarenta anos lhe enche o discurso para falar do regime de Salazar/Caetano.

Contou que um tio se encontrava preso no Aljube ( não disse porquê, mas adivinha-se que foi por ir duas vezes seguidas à missa de Domingo) e foi visitá-lo com a mãe, pessoa que notoria e confessadamente o influenciou para a vida. Ao deparar com o tio "desfigurado" com a "tortura do sono", nem o reconheceu pela face e só notou que era o tio que foram visitar quando ele falou e lhe ouviu a viva voz. Chocado com o aspecto, começou a chorar e perto de "um Pide" que vigiava o encontro e a conversa.
A mãe então deu-lhe uma lição para a vida: "nunca se chora à beira de gente desta". Carrascos, entenda-se. Facínoras, compreende-se. Psicopatas, adivinha-se. O piorio, conclui-se.

Garcia Pereira já então jurava pela subversão ao "fachismo" e continuou a luta pela revolução proletária com os slogans importados da China de Mao, da Albânia e outros paraísos da classe operária.
Nem é preciso lembrar a Garcia Pereira quem era "essa gente" chinesa que o dirigente do MRPP adulava politicamente e apoiava em bandeiras, cartazes e panfletos num culto ridículo de uma personalidade estúpida.
Desde então e até hoje, a História, em livros, documentos e depoimentos de pessoas vivas e testemunhas daqueles "amanhãs a cantar" em "campos de flores" com bandeiras a desfraldar ao vento do folclore político, encarregou-se de lhe mostrar com uma evidência de tal modo esmagadora que nunca o atingiu nas meninges, a natureza do regime que Pereira propunha em alternativa ao "fachismo".

Mesmo com estas evidências que nunca lhe permearam os neurónios pensadores, Garcia Pereira continuou ao longo dos anos a defender o absurdo e o projecto político da "ditadura do proletariado" e da revolução de classe, com luta armada se preciso fosse. O MRPP,depois tacticamente transformado em PCTP, continua por aí em cartazes de circunstância e depoimentos do garbo deste Garcia Pereira, dirigente sempiterno desse projecto fantástico que denuncia o "fachismo" mas não se revê no regime que continua a defender e que matou, assassinou, torturou, escravizou, vilipendiou milhões de pessoas.
Não foram nos aljubes ou caxias ou mesmo em campos de deportação quase semelhantes a campos de trabalho para presos, existentes em democracias sem ditaduras. Foram em extermínios massificados, por simples delitos de opinião contrária à oficial. Foram em matanças colectivas e prisões de uma arbitrariedade que o nosso "fachismo" nunca sonhou sequer imitar.

É nisto que o advogado, supostamente inteligente Garcia Pereira ,acredita ainda hoje e é isto que os animadores de rádio em Portugal, numa estação oficial, continuam a apreciar, porque é politicamente correcto entrevistar um lutador contra o "fachismo" e que acredita no projecto político que extermina pessoas como ele. É um "romântico" defensor dos trabalhadores e sempre na luta política, que tem sido marginalizado pelo actual poder político e mediático que não quer ouvir as suas magníficas propostas, partidárias porque nem sequer pessoais ( que horror! Ele que até disse que nem gosta de falar de si próprio...) e a sua actividade de causídico lutador com maravilhas nos tribunais do trabalho. Ou a defender pequ(en)itos.

Será isto uma vergonha? Não, não é. É apenas uma estupidez.

sexta-feira, abril 29, 2011

O conto do vigário

O programa eleitoral do PS é um novo conto do vigário. Mostra aos portugueses o seu vigésimo premiado: o PEV IV. E que não se pôde aplicar porque a malvada oposição subtraiu ao aflito e empenhado governo a possibilidade no último instante, fechando-lhe a porta na cara. Mas o PS precisa de novo fôlego para aplicar esse vigésimo que sendo premiado será pago aos eleitores depois das eleições.

Por isso mesmo só pede uma coisa: que lhe dêem os votinhos necessários e que são de graça, não custando nada a ninguém.

Os crédulos e néscios cairão na esparrela e no fim pagarão a conta do que lhes era prometido como gratuito...

A caridade maçónica

José Moreno, grão-mestre da Grande Loja Legal de Portugal, hoje em entrevista ao Sol:

Sol- Porque é importante para a Maçonaria ter pessoas com cargos importantes?

José Moreno- Se um maçon desempenha um cargo de relevância, levará também valores da maçonaria para a sociedade. E, por outro lado, nós gostamos que os nossos irmãos estejam bem. Pretendemos ser uma elite ética e moral. Uma escola de valores.

Sol- Nas lojas debate-se muito a crise e o estado do país?

José Moreno- Partidariamente nunca falamos. Discutimos os problemas que preocupam a sociedade e trazemos a eventos nossos figuras que não são maçons mas que têm destaque na sociedade.

Sol- Quem?

José Moreno- Desde dirigentes partidários a dirigentes religiosos.

Sol- Que dirigentes religiosos foram esses?

José Moreno- Temos tido conferências com bispos e de grande sucesso. Mas não revelo os nomes.

Sol- Um dos princípios é a protecção dos irmãos. A todo o custo?

José Moreno- Naturalmente se sou seu amigo e precisar da minha ajuda, eu ajudo-o. Da mesma forma se for minha amiga também me ajuda. É apenas isto.

Os anglo-saxónicos têm uma melhor definição: I scratch your back you scratch mine.

Fica apenas um mistério gozoso: por que razão os "irmãos" do credo não se dão a conhecer à comnunidade? Têm medo da exposição ou cultivam o anonimato útil e insindicável? Para quê?

A Maçonaria nunca responde a esta questão simples.

quinta-feira, abril 28, 2011

O que a propaganda esconde

Isto, por exemplo:

O programa eleitoral do PS ontem apresentado por José Sócrates, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, apresenta os números do défice de 2010 que foram corrigidos pelo Instituto Nacional de Estatística no passado dia 23 de Abril.

Ou seja, em vez dos 9,1% reais, refere os 6,8% antes apresentados. Num tom elogioso escreve-se na página 27 que "o défice de 2010 foi de 6,8% do PIB, isto é, menos 2,7 pontos percentuais do que no ano anterior. Este é um indicador evidente do esforço de consolidação realizado." Os números estão errados.


E principalmente isto:

No PEC IV, o verdadeiro programa que o Governo queria seguir, mas que agora já nem sequer pretende impingir, mas vai cumprir porque nem tem alternativa, previa-se o aumento para o dobro do IRS a pagar por reformados com pensões inferiores a 1000 euros.

Quem denuncia esta manigância? Ninguém.

Para entender a nossa miséria

Este vídeo mostra uma pequena lição do fiscalista Diogo Leite Campos sobre o rendimento dos nossos "ricos", segundo o entendimento comum deste "socialismo democrático" que temos e que é a principal base de apoio do partido do governo.



Vale mais que um artigo no Público... porque mostra até que ponto descemos e fomos descendo no cômputo da riqueza média comunitária. Um país cujo rendimento mínimo socialmente garantido é inferior a 500 euros por mês e tal é considerado excessivo por um FMI e até pelo próprio governo que está, é um país que perdeu definitivamente a capacidade de fazer contas e perceber onde nos conduziu este socialismo de miséria.




Onde, paradoxalmente, um primeiro-ministro que ganha 5000 euros consegue milagres de poupança pessoal para almoçar nos restaurantes de maior luxo e comprar os fatos em Nova Iorque e Milão e foi cliente ( pelo menos uma vez ) do famigerado Bijan, em L.A., deixando lá o nome de Portugal inscrito na montra. Inenarrável. Só visto.

A táctica eleitoraleira do vale tudo

O portal do Sapo, às 11h e 30 já tinha notícias frescas da propaganda "vota PS":

O primeiro-ministro, José Sócrates, convidado do Fórum TSF, disse que o PSD foi irresponsável ao provocar uma crise política quando chumbou o PEC IV. Além de assumir a responsabilidade pelas negociações com a Troika, o líder socialista garantiu que o PS está a trabalhar para que as medidas tenham o menor impacto possível, tanto a nível social como económico.


É assim que se apanham votos, na democracia portuguesa: com patranhas e bolos prometidos. Serão tolos, os votantes? Alguns, muitos, certamente o serão. Mas para o certificado psiquiátrico contribuem em esforço denodado as agências de informação e propaganda.


Que interesse especial relevam as declarações repetidas e marteladas do primeiro-ministro sobre esta matéria, quando o governador do banco de Portugal disse coisas gravíssimas sobre a responsabilidade daquele, essas sim gravíssimas e isentas de propaganda?

A (ir)responsabilidade

Daqui, um artigo no Público de hoje:



Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, defendeu esta quarta-feira que os decisores políticos e os gestores públicos devem ser responsabilizados pelo incumprimento de compromissos orçamentais.

“É crucial que os decisores de política e os gestores públicos prestem contas e sejam responsabilizados pela utilização que fazem dos recursos postos à sua disposição pelos contribuintes”, afirmou, à margem de uma conferência sobre os 35 anos da Constituição da República Portuguesa e citado pela Rádio Renascença.

Carlos Costa não esclareceu, porém, se esta responsabilização deve ser civil, criminal ou qualquer outra.

O governador do banco central português afirmou ainda que nos últimos 12 anos os governos não foram comedidos. Diz mesmo que não quiseram cumprir regras europeias, de manter o défice abaixo dos 3%, ou de simples bom senso.

“O objectivo de atingir um saldo orçamental próximo do equilíbrio foi sistematicamente reiterado nos nossos diferentes Programas de Estabilidade e Crescimento mas foi sempre adiado para o final do horizonte do programa seguinte, isto é, não nos esquecemos da regra mas nunca a respeitamos ou aplicamos”, sublinhou, citado pela Rádio Renascença.

Pediu também maior transparência sobre as actividades do sector público. “Quantos organismos públicos existem. Quantos são os funcionários públicos e quais os respectivos regimes de vinculação? Qual o volume global das garantias conferidas pelo Estado? Quais os encargos futuros com os sistemas de pensões ou com as parcerias público-privadas?”, perguntou.




O Governador do Banco de Portugal atirou, com estas declarações, uma pedra para charco, perdão, pântano político em que estamos atolados.


Ao pedir publicamente responsabilização dos decisores políticos e gestores públicos não estava a lembrar-se do seu antecessor, monsieur Constant. Mas devia.


Como também devia alvitrar que tipo de responsabilidade acha adequado pedir-se a esses dirigentes. Civil? Pois já temos uma lei, tímida mas ainda assim consequente se a quiserem pôr em marcha acelerada.


Penal? Isso é que era bom. Ontem, um advogado de Coimbra, Castanheira Neves, da oposição, participou criminalmente pelo facto de o primeiro-ministro ter decidido dar uma "balda" ao funcionalismo público na quinta-feira santa. Obviamente saberá muitíssimo bem que é processo para arquivar e só resta saber se o PGR o vai fazer como fez ao expediente do Face Oculta ou o vai encaminhar para a secção criminal do STJ. Aposto que vai ser para esta última, porque o assunto não melindra ninguém. É apenas fogo de vista.




E por isso mesmo resta a última das responsabildiades, aquela que os políticos consideram exclusiva e excludente. É a deles, a única que reconhecem e que atira as demais para os outros.


Sempre que alguém tem o devaneio do advogado de Coimbra ou a petulância de apelar à responsabilização criminal dos actos lesivos da coisa pública, aparece logo quem se indigne pela politização da justiça. E como entre os indignados aparecem legisladores, magistrados e executivos, mais os politólogos das tretas do costume, estamos todos muito bem conversados.




Portugal não é a Islândia e depois do comício de um fim de semana em Matosinhos e o resultado das sondagens, podemos apostar o dobro contra singelo que a irresponsabilidade mais uma vez campeará.




Até um dia.


quarta-feira, abril 27, 2011

O país do primeiro-ministro José S.

É este:

O vídeo passou como uma "gaffe".

Tragicamente nem sequer de gaffe se tratava...

Este jornalismo não presta

O jornal Público de hoje trata o "caso BPN" na primeira página e em duas interiores. O artigo é assinado por Cristina Ferreira e estive e ler com atenção. Ficam algumas passagens para mostrar o que é o jornalismo hoje, em Portugal.

"Num quadro de escassez de liquidez, a CGD já emprestou ao banco liderado por Francisco Bandeira ( vice-presidente da CGD) cerca de 5,3 mil milhões de euros, linhas que o BPN substituiu no final de 2010, emitindo papel comercial. com garantia do Estado.
É neste contexto que se admite que o plano de resgate possa prever uma linha destinada a liquidar os empréstimos que a CGD concedeu ao BPN.

(...)
A nacionalização do BPN ocorreu em Novembro de 2008, em plena crise financeira, com a promessa de o restituir ao mercado no curto prazo. Mas as duas tentativas de o privatizar falharam por ausência de comprador." (...)

O BdP recusou ainda comentar ao Público a possibilidade de a instituição. que apresenta uma situação líquida negativa, poder vir a ser declarada "oficialmente" inviável tal como tem sido defendido há vários meses por um grupo de quadros do supervisor.
A liquidação, a confirmar-se, iria ampliar, por um lado os prejuízos do Estado, para cima de oito mil milhões de euros( somando às perdas de dois mil milhões de euros os financiamentos dados pela CGD com aval público), mas, por outro lado, permitiria estancar as perdas." (...)

"A falência do BPN, que foi liderado por Oliveira e Costa"(...) para além das polémicas à volta do BPN, a última legislatura ficou ainda marcada, no que diz respeito ao sector bancário, pela escassez de liquidez, pela necessidade de "desalavancagem" e pelas debilidades dos capitais".

Estes excertos servem para escrever uma coisa simples: os jornalistas portugueses sabem escrever sobre assuntos técnicos que misturam factos conhecidos e aparentemente compreensíveis pela generalidade das pessoas? Não me parece. O uso indiscriminado de jargão técnico, de conceitos equívocos, de elipses explicativas, de frases feitas em reuniões de executivos, dão uma péssima informação a quem queira entender a questão essencial do BPN: como é que a falência aconteceu? Porque é que o Estado interveio e quem a incentivou através da CGD? Como é que decorreu o jogo CGD-BPN-BCP e quem o animou nos bastidores? E as questões básicas, essenciais que parecem não são explicadas por ninguém: para onde foi o dinheiro dos milhares de milhões? É que a alguma sítio foi parar, disso não haja dúvidas. Foi para as offshores? Indaguem e escrevam-no. No julgamento que decorre há uma testemunha que sabe. Porque não a entrevistaram depois do depoimento? Porque não procuraram saber esses factos básicos, fundamentais, para entender o que se passou no BPN? P

Para além destas perguntas básicas cujas respostas não se apresentam a todos em modo claro e inequívoco, sobram muitas outras que o artigo de hoje exemplarmente mostra: os termos usados no artigo, certamente próprio de um jornal económico destinado a executivos de agências de folhetos de comunicação incompreensível, são suficientes para se perceberem as limitações do nosso jornalismo a todos os níveis.

É um jornalismo analfabeto, pretensiosamente engalanado em termos aspados e sem manual de instruções para o leitor.
É um jornalismo que desinforma porque o que não informa devidamente contribui para o ruído ambiental do desconhecimento silencioso.
É um jornalismo inútil porque estende palha discursiva em páginas escusadas o que poderia ser relatado em meia dúzia de linhas.
É um jornalismo em que os factos são frequentemente substituídos pelas opiniões dos "reguladores" ou por quem fornece a informação pronta a imprimir.
É um jornalismo desastrado porque confuso, contraditório e eufemístico.
É um jornalismo de elipses em que as frases que se sucedem perdem frequentemente a lógica discursiva.
É um jornalismo focado num assunto que se desgarra do que o rodeia e que o jornalista não consegue perceber.
É um jornalismo em que o jornalista quer escrever frequentemente sobre o que não percebe, não domina nem sequer vislumbra.
É um jornalismo de basbaques em rapidez frenética pela escrita em cima da hora.
É um jornalismo que não se percebe onde foi ensinado ou onde se aprendeu.
É um jornalismo que evita factos complexos porque a natural dificuldade de compreensão do autor não abarca a profundidade do que é simples mas leva muitos anos a aprender.
É um jornalismo frustrante porque não dá notícias, mas apenas fornece dados desconexos.
É um jornalismo que se deveria evitar a todo o custo mas tem proliferado a ritmo alucinante.

Parafraseando Frank Zappa, numa tirada célebre sobre os críticos musicais dos anos sessenta:

É um jornalismo de pessoas que não sabem escrever, que falam com pessoas que não sabem falar para pessoas que não sabem ler.

Até quando teremos que aguentar a carrada de jornalistas que temos assim? Porque é que não podemos encontrar nos media portugueses um único jornalista que saiba do que escreve de modo que nos comunique o que sabe e de modo fiel com os factos que aconteceram?

Porquê mais esta desgraça das judites e dos Zés do jornalismo televisivo, as marias de são josé no rádio e dos jornalistas de imprensa que não percebem o que escrevem e comunicam por sinais de escrita criptografada em frases feitas?
Para que servem as escolas de jornalismo em Portugal ? Para produzir estes profissionais seria melhor acabar com elas. Dantes eram melhores e não tinham formação superior.

terça-feira, abril 26, 2011

Refastelados

Imagem do Expresso.

Estes são os quatro presidentes da República eleitos que tivemos desde o 25 de Abril de 74. Perante a crise gravíssima que eles e os partidos políticos a que estão intimamente ligados provocaram por incompetência para governar e conduzir os destinos políticos do país, que disseram ontem, dia 25 de Abril?
Que era preciso estarmos todos unidos e coesos. Resta saber com quê e com quem. Com eles e as ideias que defendem? Pois sim.
O primeiro a contar da esquerda, o mais refastelado deles todos, foi eleito duas vezes, tentou uma terceira e durante uns meses negros de 2004 andou tão calado e fugido que nem ao largo do Rato assomava. Alguma coisa terá sucedido para tamanho sumiço. Durante os seus governos o país definhou de tal modo que foi preciso aparecer por cá o FMI por duas vezes para nos dizer como tínhamos de fazer as contas. Os seus ministros das Finanças nunca tiveram poder suficiente para o mandar calar e fazer o que deveria ser feito. Foi o pai desta cegada em que se transformou Portugal.
O seguinte foi governante durante a década dourada em que recebemos carradas de ouro, não do Brasil mas desta vez em fundos estruturais da Europa. Que fez com isso ? Escreveu um livro em que relata a suprema categoria da sua governação e uso que destinou aos fundos: estradas, betão, desenvolvimento parolo em centros culturais que não precisávamos, em esportulações várias por capitalistas fugidos ao comunismo e regressados para sacar o Estado. Ainda assim foi talvez o menos nocivo de todos, porque é relativamente poupado e sabe fazer contas.

O terceiro foi um esforçado militar que frustrou as expectativas políticas de uns milhares de descontentes e um inconsequente político que não se sabe o que anda a fazer agora.

O quarto é uma figura lamentável de um regime sem rei nem roque e que teve o desplante de afirmar solenemente e em público que o controlo das contas públicas era coisa de somenos importância porque "havia vida para além do défice". Talvez seja altura de lhe perguntar se a vida que havia era a daqueles que agora sofrem as consequências dessas ideias excelsas de mais um incompetente com ares de discurso sempre embrulhado em inanidades.

É fácil desfazer e dizer mal destes políticos porque as evidências da sua incompetência e das ideias que levaram ao descalabro é de tal ordem que nem é preciso demonstração em teses de doutoramento.
Mas é também verdade que foram escolhidos por eleitores. E são eles os responsáveis pelo que tiveram: esta miséria que está à vista de todos e que aqueles refastelados agradecem porque tiveram a vidinha que nunca teriam. O que podiam era ter mais vergonha e pedirem desculpa do que fizeram.
Mas isso seria se tivessem a noção dos erros e a hombridade de os confessarem.

O subsídio de sobrevivência do PS

A razão para o PS ainda ter ambições de ganhar as próximas eleições, depois de tudo o que os seus governos fizeram, reside em parte nesta notícia que relata a pobreza em que nos meteram e o paradoxo em que nos querem meter: o de serem os pobres a eleger quem os empobreceu, confiados no engano ledo e cego que a fortuna tem deixado durar muito.
Entretanto, a medida esperada para golpear ainda mais a classe média é esta, toda ela devida aos desmandos deste PS e deste Inenarrável mai-lo seu afamado ministro das Finanças que a Economist considerou em tempos o pior da Europa, mas que os tugas acham que foi um génio:

Agora, segundo os técnicos da ‘troika, é preciso ir mais longe: tanto o 13º como o 14º mês devem ser abrangidos e deverão ser pagos na totalidade em títulos do Tesouro português.

O Inenarrável vai passar a ideia de que este corte de rendimento substancial da generalidade dos trabalhadores da função pública ( e não só) se deve inteiramente à crise internacional, ao chumbo do PEC IV e que se o deixassem governar mais e melhor, tal não teria sucedido. Vai ser assim a campanha de mentiras que se aproxima, com o apoio frenético dos apaniguados que vêem a desgraça abater-se sobre a sua vidinha se perderem as eleições.


segunda-feira, abril 25, 2011

O maior Mentiroso dos últimos cem anos

O desplante maior, exposto para todos verem:

O primeiro-ministro afirmou hoje em Santo Tirso que “estes três anos” serão classificados como “a maior crise dos últimos 100 anos” e declarou recusar contribuir para que “isso” obscureça “os grandes progressos” dos últimos seis.

Este Inenarrável tem a lata, depois disto tudo e dos seis anos em que governou como quis, na sequência de outros tantos em que acolitou quem governou também como quis, de dizer esta enormidade em público. E ninguém se riu na cara do farsante nem lhe mandou ovos podres.
Pior ainda: alguns, porventura muitos, ainda acreditam nestas mentiras descaradas deste Inenarrável. Triste, triste.
Desgraça maior não pode haver.

O PCP real

Esta senhora que aparece hoje no Público tem uma tese de doutoramento em História Política e institucional, lá para os lados do ISCTE. E tem agora uma versão light da tese, publicada em livro que o Público apresenta: "A história do PCP na Revolução dos Cravos".
Segundo o jornal é uma história revisionista porque apresenta o PCP como um partido da área social-democrata, interessado em se associar ao PS, no dealbar da Revolução de 25 de Abril de 1974 e com ideias fixas sobre a ausência de interesse do PCP em "golpes" para implantar a "revolução socialista".
Segundo o jornal, a historiadora documentou-se amplamente e conta em detalhe a análise que contraria o senso comum e até o político da altura do PREC e a ideia feita de que o PCP queria mesmo tomar o poder político no país, nesses anos de brasa que se seguiram ao 25 de Abril.
Como se documentou em modo extenso provavelmente leu a imprensa da época, uma vez que será nova demais para ter vivido esse tempo. E a imprensa da época era muito clara nas entrevistas, artigos de fundo, orientação editorial e ambiente geral, o pathos que nos mostrava sem margem para dúvidas para onde o PCP queria mesmo ir: para a democracia socialista que não se confundia de modo algum com a democracia burguesa.
Então se é assim claro e a historiador vê no escuro, o que explica a contradição?
O desconhecimento? A prosápia de revelar uma faceta nem sequer escondida, dos tempos do PREC em que o PCP aparecia por vezes como força social moderadora, desautorizando greves não decretadas pela sua correia de transmissão sindical?
Hoje no i, Otelo Saraiva de Carvalho fala em entrevista sobre o seu relacionamento pessoal e político com o PCP Diz que o PCP, em pleno PREC "promoveu um jantar em casa de Silva Graça que foi comer para a cozinha com a mulher e com as filhas e deixou-nos sós. Tivemos um bate-papo violento. Ele começou a fazer críticas ao MFA e a dizer que o MFA devia fazer isto e aquilo. E eu disse-lhe "Ó doutor, eu não lhe vou dizer o que é que deve fazer no Partido Comunista. Eu considero que o PC tem tido acções muito más, por vezes, que são prejudiciais à revolução e se quiser eu faço aqui uma lista do que é que o seu partido tem feito, mas não lhe admito que me dê orientações, porque o MFA nada tem a ver consigo, nem com nenhum partido, e se precisar de orientações peço ao Melo Antunes."

A historiadora por outro lado, não conhece certos escritos de Lenine que Cunhal conhecia muito bem. "Um passo en frente e dois atrás.", é um deles. E bem conhecido.

Se conhecesse, saberia melhor interpretar estes escritos na Vida Mundial de 1974 e 1975, particularmente o da direita ( clicar para ler), da autoria de Miguel Serras Pereira. Na investigação de História não chega ler documentos. É preciso perceber as entrelinhas e o fluxo informativo encriptado na mensagem. Uma capa da Vida Mundial em Junho de 1974, com uma entrevista extensa no interior e com a citação de que o PCP é de políticas coerentes, não pode ser lido de modo diletante e sem contextualização. E parece-me isso que a profissional faz...

O nome do cretino "elucubrador"

Ficam aqui duas crónicas do JN, recentes, de Manuel Pina. E fica também um artigo cujo autor se identifica no título.

O primeiro é este, de 18 de Abril:

Tempos de calamidade como os presentes suscitam sempre o aparecimento de demagogos e oportunistas e de projectos salvíficos de todo o género.

Ainda o país digeria, estupefacto (ou, se calhar, não), o modo como, apenas com a expectativa de um penacho prometedor, foi fácil encher o vazio das ideias de "cidadania" e "participação" em torno de que Fernando Nobre fez a campanha à Presidência da República, já estava a pular para o palco o omnipresente bastonário dos advogados atirando-se, também ele, a políticos e partidos e propondo uma "greve" abstencionista às próximas eleições para os "envergonhar publicamente perante a Europa e o Mundo".

Marinho e Pinto merece a nossa compreensão, mesmo que esgote a nossa paciência. É um "junky" de protagonismo, quando está muito tempo longe dos holofotes entra em carência, afligem-no dores musculares insuportáveis no sistema vocal e as palavras acumulam-se-lhe, ansiosas, na garganta, sufocando-o e forçando-o a correr em desespero para as redacções em busca de um "dealer" de manchetes ou, ao menos, de títulos a duas colunas ou rodapés de noticiários televisivos para "meter para a veia".

É um caso diferente do de Fernando Nobre. O de Marinho e Pinto resolve-se, tudo o indica, com adequada terapia de substituição. O de Fernando Nobre é obviamente incurável, é um cancro terminal dos valores morais; mesmo o cargo de presidente da AR será só um paliativo.

A resposta a esta crónica surgiu ontem, no JN. Terá sido a primeira vez que o JN deu guarida escrita a um artigo deste teor, de insulto explícito e repetido como só nos blogs se usa. Provavelmente, o dirigente da redacção pensou que o título identificava o autor do escrito. E não se enganou na "elucubração"...
Assim o nome do autor aparece logo no título- Um cretino é um cretino.

Comecemos por onde estas coisas devem começar: o escriba que diariamente bolça sentenças nesta página e que dá pelo nome de Manuel António Pina é um refinado cretino. Posto isto, assim, que é a forma honesta de pôr este tipo de coisas, nada mais haveria a dizer. Citando um treinador de futebol dado a elucubrações epistemológicas, «um vintém é um vintém e um cretino é um cretino». E... Pronto! Estaria tudo dito. Além disso, só se MAP não fosse tão cretino é que valeria a pena mostrar-lhe por que é que ele é tão cretino.

Não costumo responder a cretinos. Mas, correndo o risco de este, como todos os outros, se tornar ainda mais agressivo, vou abrir uma excepção e descer ao seu terreno para lhe responder com as mesmas armas que ele tem usado contra mim, até porque este é um cretino especial, do tipo intelectual de esquerda.

MAP anda, desde 2005, a desferir-me ataques pessoais. O homem tem uma fixação doentia em mim. Incomodam-no muito as minhas posições públicas e sobretudo as denúncias que tenho feito sobre o nosso sistema judicial. Ele nunca se referiu com seriedade ao que eu digo. Prefere atacar-me como pessoa, imputando-me sempre os motivos mais mesquinhos ou os propósitos mais infames.

MAP tem a postura de um medíocre bem pensante, para quem é sempre mais cómodo atacar pessoas em vez de criticar ideias. As pessoas arrumam-se de uma penada, atingindo-as, à falsa fé, com dois ou três adjectivos. Isso dá a essa espécie de cretinos uma ilusória sensação de importância. Os medíocres só se sentem fortes quando humilham os que julgam mais fracos. Discutir ideias ou comentá-las com seriedade é sempre mais difícil porque exige qualidades que não abundam em MAP. Este é um megalómano em permanente ajuste de contas com a sua própria mediocridade intelectual.

Mas, ele é também intelectualmente desonesto, pois interpreta os factos sobre que escreve de modo que as pessoas concluam algo diferente do que eles realmente significam. A título de exemplo: ele já tentou convencer os leitores do JN de que a culpa pelas horas que as pessoas perdem inutilmente nos tribunais portugueses é dos advogados e não dos juízes.

Aliás, MAP nunca teve uma palavra sobre a actuação dos magistrados, a não ser para os elogiar ou então para execrar quem os critica. Ele deve ter algum sentimento compulsivo de gratidão para com eles ou alguma amizade reverencial (este tipo de pessoas age muito por amiguismos), pois adopta sempre uma postura canina em relação à justiça. A agressividade de mastim com que ataca os que criticam o funcionamento dos tribunais é apenas o corolário da sua obsequiosidade de caniche em relação às magistraturas.

MAP julga-se um ser superior. Com a displicência dos tudólogos diplomados ele fala de tudo e de todos, do que sabe e do que não sabe. As suas crónicas no JN, sempre naquele estilo alambicado típico dos ociosos, são a expressão aparolada de um imenso complexo de superioridade. Ele tem de julgar e condenar sumariamente alguém, pois senão sente-se diminuído perante si próprio e, sobretudo, perante o círculo de aduladores que lhe entumecem o ego.

Mas, se repararmos bem, lá nos secretos mais profundos do seu ser esconde-se um homem cruelmente dilacerado por indizíveis frustrações. É possível que na adolescência o tenham convencido de que seria um grande escritor, destino para o qual logo desenvolveu os tiques e poses apropriados. Mas, afinal, nunca passou de uma figura menor típica do universo queirosiano - um personagem que mistura o diletantismo de um João da Ega com os dotes literários de um Alencar d'Alenquer e o rancor mesquinho de um Dâmaso Salcede. Tudo isso, transposto para o jornalismo, resultou numa espécie de Palma Cavalão dos tempos actuais. Enfim, um homem que chegou a velho sem ter sido adulto e a quem os mais próximos, por rotina, caridade ou estupidez, provavelmente ainda tratam como uma grande esperança.

Esse género de frustrações conduz, no limite, ao desespero existencial. Em alguns casos, estes frustrados cometem actos tenebrosos. Porém, em MAP, as suas frustrações e complexos transformaram-no, num sniper que, emboscado nos telhados da sua senilidade rancorosa, dispara cobardemente contra tudo o que mexe, de preferência contra o carácter das vítimas que escolhe ao acaso.

Senhor Manuel António Pina, não se atormente mais. O seu mal cura-se com uma dose apropriada de iodo. Trate-se! Vá para uma boa praia e... Ioda-se!

NOTA: Na próxima crónica apresentarei as razões por que não irei votar em 5 de Junho. Isto se mais nenhum cretino se atravessar no meu caminho.

Em resposta a este chorrilho de insultos do autor que se identifica no título, Manuel Pina foi comedido. Em vez de descer completamente à liça do "elucubrador", ficou pelas amarras da condescendência e da inteligência insidiosa, provavelmente para tornar o escrito publicável. Se fosse num blog...

E portanto escreveu assim, com a elegância do bólide a ultrapassar o carroceiro:

O bastonário Pinto saltou ontem as barreiras (todas, incluindo as do JN, onde, que me lembre, foi a primeira vez que, nos 40 anos que levo de casa, se deu guarida à castiça arte do insulto) e, de cabeça baixa, desembestou desenfreadamente contra o que aqui foi dito sobre a sua patética ânsia de protagonismo com argumentos como "cretino", "refinado cretino", "medíocre", "cretino" outra vez, outra , mais outra, ainda outra, "megalómano", de novo "cretino" (o vocabulário desta espécie de Capitão Haddock, ou Ad Hoc, é escasso), "desonesto", "ocioso", "parolo", "mesquinho", e depois, na secção zoológica, "canino", "mastim" e "caniche" e, na secção psicanalítica," desesperado existencial" (o que quer que isso signifique), "frustrado" e "cruelmente dilacerado". A fina e bastonária argumentação termina a mandar que o cronista se "ioda". Escapou a honra da mãe do cronista, o que, vindo a coisa de quem vem, já foi assinalável proeza...

Tenho um princípio de sobrevivência na estrada que consiste em dar sempre prioridade a um camião destravado (ainda por cima, este vê-se bem que faltou a alguma inspecção). Meto, pois, travões e ele que passe.

É certo que, na sua fúria em contramão, o camionista atropelou repetidamente, provocando-lhe traumatismos vários, a pobre gramática da língua portuguesa. Mas gramática e ele que se entendam. Eu não me queixo. Podia ser pior, sei lá se o homem tem tomado a medicação.

domingo, abril 24, 2011

Erros de palmatória

O Provedor do Público, José Queirós, hoje deu em catar erros no jornal por mor das queixas dos leitores de lupa em riste.

Escreve que têm havido proliferação de erros na escrita do jornal e que por tal "manifesta um diagnóstico negativo. A quantidade de erros de redacção e revisão parece-me superior à tolerável num jornal de qualidade. Os leitores que têm dado a conhecer o seu descontentamento dispensar-me-ão de multiplicar aqui os exemplos. São erros de ortografia, erros gramaticais ( com destaque para as falhas de concordância, o desrespeito das regências verbais, as vírgulas a separar o sujeito do predicado). Alguns surgem com frequência patológica, e imitam o mau português que cada vez mais se ouve, por exemplo nas televisões ( o facto dos sindicatos terem apelado à greve...; tratam-se de novas condições colocadas na mesa da negociação...;o deputado interviu na discussão...;desde Madrid chega a informação...) sem falar já das tropelias clássicas com o verbo haver ou com a distinção entre "por que" e "porque".

José Queirós tem razão: a nossa literacia, melhor, a nossa alfabetização melhorou na junção das letras para se soletrar palavras. É coisa que se aprende logo nos dois primeiros anos de primária, como dantes se dizia e agora se diz "escola básica", porque primária soava demasiado a coisa ainda sem valor e importava mudar para trocar pela semântica valorativa do "socialismo democrático".
Pois foi apenas esse valor inicial que se incrementou. Só esse. Os seguintes ficaram já todos nas intenções de quem propagandeia o progresso do tal "socialismo democrático" na alfabetização, para o contrapor ao tempo da longa noite do "fachismo" em que o analfabetismo atingia uma população maciça. Agora, a alfabetização "é mato", como dantes se dizia. Está por todo o lado para onde nos viremos, particularmente nas televisões.

E é uma alfabetização tão completa e tão perfeita que nem lhes dá para fazer a necessária auto-crítica de arrepiar caminho e entender as razões do fracasso evidente. O qual se percebe melhor quando se lê, por exemplo, um exemplar do Comércio do Porto dos anos sessenta e uma edição do Público onde escreve o Provedor do Leitor.

PS. Acho verdadeiramente delicioso que este Provedor faça os reparos todos que fez , sobre verbos e vírgulas e escreva depois " "Alguns surgem com frequência patológica, e imitam o mau português que cada vez mais se ouve, por exemplo, nas televisões(...)" .

Aquela vírgula antes do "e" fica a matar para quem pretende o papel de matador de erros e gralhas, não fica?

sábado, abril 23, 2011

O comunista Louçã

Imagem do lançamento do livro na FNAC, retirada daqui.

Francisco Louçã escreveu um livro recentemente e que foi lançado na FNAC: “Portugal agrilhoado”, com subtítulo “A economia cruel na era do FMI”, editado pela Bertrand. Poucos lhe deram atenção e está nas prateleiras das livrarias como mais um lançamento de ocasião. Mas não é. É um livro que repristina as teses da verdadeira esquerda que temos em Portugal: a que acredita na luta de classes e portanto no comunismo.

Louçã passa mais de cinquenta páginas do livro que tem duzentas e se lê de um trago porque em letra corpo 14 e com margens de badana, a repenicar uma tese que peregrinou directamente da teoria marxista: na desigualdade entre o “trabalho” e o “capital”, o sacrifício impõe-se sempre ao primeiro e até são os economistas que o recomendam. Sendo certo que é o segundo que tem levado sempre vantagem competitiva.

Para tal “ o fisco protege os rendimentos do capital, os impostos regressivos devem ser reforçados, a segurança social financia o lucro, as operações de capital são isentas de operação de registo. Pior ainda, a solução que nos está a ser apresentada para a crise económica é esta: o capital exige uma parte maior do salário directo ( reduzindo o pagamento pelo trabalho) e do salário indirecto ( transferindo para o privado o financiamento da saúde ou educação). A isto se chama recuperação da competitividade “( pág. 16-17).

Mais: “ para haver emprego, o salário deve ser reduzido e a esse mal devemos chamar um bem” ( pág. 26), citando Medina Carreira que ao longo do livro é apresentado, assim como Vítor Bento, Nogueira Leite a que se juntam prémios Nobel, como autênticos artífices intelectuais da guerra de classes em curso, sempre ao lado do capital.

O livrito é um requisitório actual, pós moderno, da crise mais recente do capitalismo agora apodado de neoliberalismo.

Uma das passagens mais interessantes é a citação de um autor moderno – Robert Barro, apresentado como futuro Nobel- para lhe refutar as teorias apresentadas em modo simples, mas com um condimento que se aplica que nem luva branca ao economista catedrático, Louçã:

“Há duas razões essenciais para a complexidade constitucional da economia: a economia descreve processos de relações sociais, em parte indeterminadas e dependentes das escolhas dos agentes; em segundo lugar a economia descreve processos históricos com memória e dependência sensível das condições iniciais. Considerar a economia num contexto completamente determinista é uma forma ingénua de recusar estas características sociais e históricas.”

Para além de refutar toda a teoria económica sem lhe chamar nomes – “burguesa” seria o termo adequado aqui há uns anos, mas que evita por razões óbvias de aggiornamento retórico- Louçã envereda pela solução final para o nosso problema: “ a emergência de uma política socialista.

Ora bem. E começa logo com citação de Hegel. Que escrevia que a “desigualdade social cria a plebe, destituída de tudo, do mínimo de subsistência, de dignidade e até do sentimento do direito, e acima dela uma classe de riqueza desproporcionada.

Cá estamos, na página 159, no ponto nevrálgico do problema de Louçã, o comunista. No pressuposto de que “o Direito é assim excluído da maioria da população”, Louçã propõe-se refazer a “batalha” pela recuperação do Direito para os povos, através de soluções “que contrariem a destruição neoliberal pela economia cruel, procurando recuperar o salário e o rendimento, utilizar os bens comuns e promover a democracia económica.”

Medidas? Várias e todas no mesmo sentido: reverter a tendência, para o comunista Louçã sempre constante, de subalternizar o salário em relação ao capital. "Proletários do mundo inteiro:uni-vos!", agora soa mais a "assalariados de toda a parte, estais lixados!"

Há um pequeno problema nesta equação do comunista Louçã: a defesa da “democracia económica” que “corrija os desequilíbrios e desigualdades” tem que contar com um Estado. Louçã evita falar nesse problema porque não lhe interessa escarrapachar em livro a teoria marxista sobre o Estado e que sem dúvida alguma defende e esconde do leitor desprevenido.

O comunista Louçã nunca conseguirá pôr em prática qualquer uma das medidas que propõe por uma simples razão estrutural: o Estado é burguês. E para o mudar é preciso...uma revoluçãozita. E estas estão pelo preço proibitivo do caos social. E nunca deram bons frutos em lado algum. E foram abandonadas pelos que as experimentaram. Mas tal não demove o comunista Louçã porque ele saberia fazer diferente, mesmo tendo à ilharga os paradoxos que enunciou sobre a complexidade da Economia de que aliás é catedrático professoral.

Marx e Engels ensinavam ( por exemplo na “Origem da Família da propriedade privada e do estado”) e Louçã aprendeu muito bem, mas esconde melhor, que o Estado é um produto da sociedade ou um estado determinado do seu desenvolvimento; é o testemunho de que esta sociedade se envolve numa contradição insolúvel com ela própria, tendo-se cindido em contradições inconciliáveis que não pode resolver. Mas a fim de que os antagonistas, as classes com interesses económicos opostos, não se destruam, a si e à sociedade numa luta estéril, impõe-se a necessidade de um poder que, colocado na aparência acima da sociedade, é chamado a atenuar o conflito, mantendo-se dentro dos limites da “ordem”; e este poder, nascido da sociedade mas que se situa acima dela e se lhe torna cada vez mais estranho, é o Estado” ( citações de uma lição copiografada para o 1º ano de Direito Constitucional- regido por Vital Moreira- na faculdade de Direito de Coimbra, em 1975-76).

Em resumo e fundamentalmente “ o Estado é o produto e a manifestação do facto de as contradições de classes serem inconciliáveis. O Estado aparece precisamente e na medida em que, objectivamente, as contradições de classe são inconciliáveis.”

E a interpretação correctiva de Marx, efectuada pelos intelectuais “burgueses” ou “pequeno-burgueses”, aponta noutro sentido: o papel do Estado seria o de conciliar as classes. O que o comunismo refuta.

E o comunista Louçã, sobre isto o que pensa ou diz? Nada de nada, não vá alguém perceber que parou no séc. XIX na leitura de Marx e Engels, cujos frutos degeneraram naquilo que os países de Leste abandonaram no final dos anos noventa: tretas que amaldiçoaram milhões de pessoas.

Tretas que o comunista Louçã ainda comunga religiosamente, no silêncio sepulcral das suas ideias reprimidas, obrigando-se a um papel de pequeno-burguês encapotado numa “esquerda caviar”.

As diferenças ét(n)icas

Do blog Dragoscópio, provavelmente o sítio da Rede onde melhor se escrevem frases com palavras em português genuíno, com um estilo corrosivo e onde se citam filósofos e Céline, e mais uns tantos, fica aqui este escrito que nos mostra um problema grave que muito poucos sentem e muito menos pressentem como o nosso mal original e na raiz profunda da crise económica e moral que atravessamos.

"Nova Iorque, 16 de Outubro de 1963...

«Procuro Jaja Wachuku, ministro dos Estrangeiros da Nigéria, no seu apartamento do Waldorf-Astoria. Está mais do que sumptuosamente instalado. (Eu, para poupar o dinheiro do Estado, e toda a delegação portuguesa, estamos em dignos mas modestos hotéis de terceira ordem; e tenho só um quarto, e sinto-me muito orgulhoso por isso, e não será por este facto que desempenho menos bem as funções; mas os ministros e delegados do terceiro mundo, esses vivem na magnificência.) Wachuku tem quarto, sala de jantar e salão privativos; e tudo do mais caro e luxuoso que o Waldorf possui.»

- Franco Nogueira, "Um Político Confessa-se"

Felizmente, a Revolução dos Cravos viria para libertar os Watchukus portugueses da opressão salazarista. A breve trecho, todos os Wachukus, africanos, asiáticos e europeus, poderiam reunir-se, para amenas cavaqueiras, em fraternas tertúlias, congressos ou banquetes, num plano de plena igualdade, digamos assim, estadeante. O sentido de estado, aliás, por todas as latitudes, daria lugar ao sentimento de estadão.
Claro que não há bela sem seninho. Não se podem fazer belas omoletes sem partir uns ovitos supérfluos. As dívidas soberanas astronómicas, as bancarrotas , a miséria dos povos avulsos e outras minudências que tais não passam disso mesmo. Acidentes de percurso. Porque o importante é que os Wachukus , "desmesuradamente obesos, se sentem nos sofás, nas poltronas, depois alastrem nos sofás, depois puxem com os pés uma cadeira, depois com um sapato tirem o outro e com o pé nu tirem o sapato que ficou, e depois coloquem os dois pés em cima da cadeira: até que fiquem quase deitados de mãos postas e dedos enclavinhados por cima das panças proeminentes. E assim falem..." falem de autodeterminação, de liberdade, de democracia, de progresso, de europa fraterna e incubadoura e nutriente de muitos Wachukuzinhos, por mil anos (no mínimo), felizes, repletos e ostefeitos até à eternidade.
Nos intervalos digestivos podem também ir escrevendo pequenos artículos dispépticos que comecem assim: "Europeísta convicto, desde os tempos ominosos do salazarismo"..."

Comentário:

A delegação de estrangeiros que representam os nossos credores e que por cá passam uns dias a espiolhar as nossas contas maradas, provavelmente pensam e sentem bem este problema. Se bem que se encontram instalados nos melhores hotéis e a comer nos melhores restaurantes, devem interrogar-se como é que temos tantos carros de topo das marcas que eles fabricam e vendem ao terceiro mundo.
Se por cá tivessem estado em 1985, teriam visto outro panorama no Terreiro do Paço: velhas carripanas Volvo ou BMW ( consoantes os governos eram do PS ou do PSD...) mas ainda em bom estado de funcionamento para transportar notáveis dos ministérios. As empresas públicas tinham Renault´s ( governos PS oblige...) e os escalões inferiores da administração que deles precisavam , o modelo 4L, o mais económico. As Câmaras já se alargavam em volvos ( Porto, PS oblige), mas ainda não se estendiam a todos os vereadores nem aos assessores tipo Francos e quejandos.
Agora, passados um pouco mais de vinte anos temos um parque automóvel digno de fazer inveja a Berlim, Paris ou Londres.
Somos ricos! "Pai! Sou ministro!"

FDP.

sexta-feira, abril 22, 2011

A realidade virtual do jornalismo português

Este texto que segue é de Henrique Raposo, do Expresso.

Os media conseguem fazer uma campanha só com fait divers. Foi assim em 2009: os jornalistas conseguiram fazer uma campanha sem forçar o tema central do país (endividamento) . A coisa parece que se vai repetir. Há um tango permanente entre os media e o spin de Sócrates. O tom e a escolha de temas favorece sempre os malabarismos de Sócrates e prejudicam aqueles que querem falar seriamente da realidade. Ferreira Leite foi crucificada por causa disto . Na sociedade e, por arrastamento, nos media, existe uma cultura de cinismo pós-moderno que chega ao ponto de desprezar a realidade ("ai, o Medina Carreira diz sempre a mesma coisa"; pois, a realidade e verdade não mudam, meus amores) em detrimento dos jogos florais ("ai, o Nobre", "ai, o telefonema"). Por uma vez na vida eu gostava de ver os media preocupados com a realidade do país e não com os joguinhos dos mestres do spin. E a realidade é esta:

I. Temos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos. Temos a segunda maior fuga de cérebros de toda a OCDE. Há maior fracasso que este? Mas é inacreditável o silêncio dos media em relação a esta fuga em massa de portugueses. Parece que é tabu. Nós estamos a emigrar como nos anos 60, mas não se fala disso.

II. Na última década, Portugal teve o pior crescimento económico dos últimos 90 anos.

III. Temos a pior dívida pública (em % do PIB) dos últimos 160 anos. A dívida pública este ano vai rondar os 100% do PIB. E esta dívida pública sem precedentes não inclui os 60 mil milhões de euros das PPPs (35% do PIB adicionais), que foram utilizadas pelo PS para fazer obra (auto-estradas, hospitais, etc.) enquanto se adiava o seu pagamento para os próximos governos e as gerações futuras. As escolas também foram construídas a crédito.

IV. Temos a pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (desde que há registos). Em 2005, a taxa de desemprego era de 6,6%. Em 2011, a taxa de desemprego chegou aos 11,1% e continua a aumentar.

V. Temos a maior dívida externa dos últimos 120 anos, e nossa dívida externa bruta é quase 8 vezes maior do que as nossas exportações

VI. A nossa dívida externa bruta em 1995 era inferior a 40% do PIB. Hoje é de 230% do PIB. As dívidas das famílias são cerca de 100% do PIB e 135% do rendimento disponível

VII. Cerca de 50% de todo endividamento nacional deve-se, directa ou indirectamente, ao nosso Estado

VIII. E há muito mais.

Em vez de partirem desta base, os media partem do spin que chega às redacções. Os jornalistas não vão à procura da realidade pelo seu próprio pé. Recebem a realidade filtrada pela indústria do spin associada ao Poder. Temos, assim, um debate inquinado à partida, um debate sempre enxameado de casos e fait-divers. Há um nevoeiro permanente em redor da realidade, em redor dos problemas.

Em Portugal, a realidade não é a gramática dos jornalistas e dos media. Neste terreno, os demagogos vencem sempre. Quando os factos e a realidade não são o vocabulário do debate público, os demagogos vencem sempre.


O futuro da Justiça é assunto privado...

Daqui:

As empresas estão a fugir dos tribunais. No silêncio dos escritórios dos advogados, as grandes empresas criam os seus próprios tribunais ad hoc para dirimir litígios no valor de milhões de euros, sendo as decisões reconhecidas internacionalmente. Ao mesmo tempo, estão a surgir por todo o País centros de arbitragem que dão sentenças em trinta dias, gratuitas, com valor judicial. A justiça está a privatizar-se. Para os velhos tribunais são empurrados os crimes, as dívidas, e pouco mais.

A resolução alternativa de litígios está a impor-se a todos a níveis, sobretudo entre os economicamente poderosos. As grandes empresas, com negócios de milhões, já não querem ouvir falar em tribunais comuns. Em caso de litígio, criam um tribunal arbitrai ad hoc. as partes escolhem os juízes-árbitros, estabelecem a cláusula compromissória (regras do julgamento), estipulam o prazo para resolução da contenda e submetem-se a juízo.

O local pode ser o escritório de um advogado, ou uma sala alugada para o efeito. As partes, inclusive, podem preestabelecer a recusa de recurso. A decisão é depois reconhecida em todos os Estados que tenham aderido às convenções internacionais sobre tribunais arbitrais.

É a uma forma de fazer justiça, paralela à tradicional. “Não são concorrentes. São modelos diferentes de administração da justiça”, disse ao DN o advogado João Correia. “Quando estão em causa empresas de países diferentes, com legislações distintas, e se pretende uma decisão rápida, e que decorra em sigilo, a melhor solução são os tribunais arbitrais.”


Comentário: se funcionar bem, who cares? Por outro lado, os árbitros podem ser Kolinas ou Xistras ou mesmo Calabotes...e saberemos um dia destes se as "empresas" que recorrem a este modelo de justiça alternativa se contentam com as suas decisões " em cima do joelho".

O que Boaventura nunca entenderá...

SIC:

O Ministério Público ordenou o arquivamento da investigação ao temporal que atingiu a Madeira em fevereiro do ano passado. O procurador entendeu que não há responsáveis pela morte das 48 vítimas da tragédia. Os familiares já estão a ser informados.

A notícia é passada pelo Público em modo subtilmente equívoco. Pode ser lida como um remoque ao MºPº no sentido de que deveria ter sido apurada culpa e culpados ou apenas como uma notícia factual, sem ademanes opinativos. Eppure...o título interior diz mais uma coisita. Escreve o jornalista franciscanista Tolentino da Nóbrega que "Ninguém sai acusado das mortes na Madeira".
Um padre-jornalista devia entender melhor os mecanismos da culpa, mesmo a penal. E ao apontar a existência, num dos processos, de peças processuais de um outro processo administrativo em que se relacionava a construção do centro comercial Centrum, como motivo de agravamento de condições da catástrofe, denuncia nessas entrelinhas a motivação do escrito: uma censura ao arquivamento.

Os desejos íntimos de um confessor não deviam ser a culpabilização de ninguém, mas a vontade subliminar de um jornalista também não. E isto não é processo de intenção porque a mesma está visível, no confessionário da redacção escrita.

PS. A fantástica jornalística Maria de São José, aluna da escola Judite de Sousa, na Antena Um, acabou de dizer com aquela voz soletrada e martelada de sílabas tónicas que se conhece em momentos de catarse noticiosa que o arquivamento do inquérito é coisa a merecer comentário da CDU. E que diz esta força política que procura a política como força de justiça, na Madeira? Que o MºPº não teve coragem...e a fantástica Maria de S. José repete, soletrando as sílabas tónicas em dicção de escola básica para alunos do bloco.
É assim a informação na Antena Um. Até agora.

O que Boaventura não consegue explicar ao FMI

Repare-se nesta notícia, com sotaque brasileiro:

Nicolas Cage estava em Nova Orleans bêbado no meio da rua discutindo com sua esposa em voz alta na manhã de sábado (16). Quando, segundo o site TMZ, um taxista chamou a polícia, pensando que ele poderia agredir sua esposa Alice Kim, pois ele o agarrava muito.

Quando os policiais chegaram, Nicolas Cage os desafiou a algemá-lo, gritando: "Por vocês não me prende?". Então Nicolas Cage foi levado em custódia para a delegacia acusado de violência doméstica e perturbação da paz a paz às 6:33, sendo libertado as 14hs após pagar uma fiança de 11 mil dolares, aproximadamente R$ 17.193,01.

Também de acordo com o site, Alice Kim, esposa Nicolas Cage, não se queixa e diz que não houve contato físico.

Nicholas Cage é um dos actores mais conhecidos no mundo inteiro. Nova Orleans, uma cidade americana, do sul. A lei penal permitiu que Cage ficasse detido durante várias horas ( uma manhã inteira) por ter discutido em altos berros com a mulher, bêbado, e porque um taxista chamou a polícia. Nem a mulher se queixou de agressões nem sequer terá existido contacto físico.

Boaventura Sousa Santos, o interlocutor dos dois alemães e um dinamarquês que andam por cá a avaliar o nosso "belo estado social", devia explicar-lhes que por cá tal não seria possível por várias razões que o direito alemão que copiamos explicaria melhor...


quinta-feira, abril 21, 2011

A "cultura literária" no "secundário"

Daqui e para aqui, podemos ler este pequeno texto de uma professora do "Secundário". Fica sem comentários porque não precisa.

Link(...)Esta cultura literária é, assim, produto e processo de humanização de/em diferentes sociedades, revelando a força dessas sociedades ao mesmo tempo que se constitui, ela mesma, em iniludível força, ao potenciar uma compreensão dialéctica do mundo e dos homens, fundamental num contexto de afirmação megalómana, redutora e tentacular da cultura tecnológica, “tubarão” moderno a que se agarram os “pegadores” modernos. Contribuir para adequar a cultura literária às propriedades do “torpedo”, na convicção de que há mar e terra para todos, deve constituir-se como objectivo da escola.
(...)

a língua portuguesa vive no presente, vive nos/com os textos, esses marcos de referência da nossa cultura literária e pulsa, também, na vida política e económica, porque a vida nos seus mais diversos domínios, é sempre atinente à palavra e a palavra atinente à vida.
(...)

também contestamos qualquer opção curricular não argumentada por juízos de valor claros e fundamentados; é da aceitação da compatibilidade destes procedimentos que resulta a ancoragem num paradigma dialéctico, avesso à bipolarização e ao radicalismo, oxidações que desvirtuam a bússola do conhecimento e da acção pedagógica.

Entender o lugar comum

Económico:

PS e PSD estão tecnicamente empatados, com ligeira vantagem para os socialistas, revela a sondagem da Marktest para o Económico e TSF.

O PS e o PSD estão tecnicamente empatados a seis semanas das eleições legislativas de 5 de Junho mas, entre Março e Abril, os socialistas subiram 11 pontos percentuais para os 36% assumindo a liderança das intenções de voto, enquanto os social-democratas caíram 12 pontos para os 35%. A crise política e a dependência financeira de Portugal face ao exterior beneficiaram quem está no poder embora um outro dado mereça ser destacado: o número de indecisos aumentou.

Este lugar de ideias pouco comuns, versadas em comunicação política, aventa uma hipótese para este fenómeno: os erros de comunicação do PSD. E até aponta um motivo concreto para a débâcle:

"É uma pergunta: será que a ideia - comunicada com foco e insistência pela Esquerda Política, sobretudo o PS - de que foi a Direita Política (PSD, PP, PdR) quem "chamou" o FMI (o salvador para uns, mas o papão para outros) está a colher em grupos de eleitores, mesmo potenciais votantes do PSD e PP?

Quer dizer, no entender daquele lugar comum, a causa da perda de votos para o PSD reside essencialmente na ideia feita de que " a direita política" é responsável pela vinda do FMI, dos alemães e do dinamarquês que mandam agora em nós como carreteiros.

Será assim? Quem sabe? É uma hipótese porque em ciência política, a primeira coisa a questionar é precisamente a palavra "ciência", aproximando-a de outra com semelhanças gritantes e que é a "astrologia".

Para mim, astrólogo amador de sinais políticos avulsos inscritos no firmamento social e ambiental, diletante recalcitrante e que não se leva a sério nestas coisas, há outros factores e o mais importante é este:

A sociedade portuguesa actual depende muito do Estado. Da Administração. Diga-se do Governo. Os que votam e são ouvidos em sondagens emitem uma opinião consoante os sinais que apanham na comunicação política e social. Um dos veículos fundamentais e determinantes é a televisão. Sabemos como as tv´s se têm comportado estes últimos anos, meses e semanas: não esclarece; confundem; comunicam ruído misturado com música minimalista que não chega a todos.

Breve: o discurso político nas tv´s não tem sido suficientemente marcado no sentido de responsabilizar politicamente o governo que está e tem estado. E isso acontece porque os jornalistas de tv são funcionários de interesses políticos e ideológicos bem inscritos nos genes que lhes permitiram aceder ao posto de trabalho. Não são grandes jornalistas e podemos até dizer que estamos a assistir ao verdadeiro "triunfo dos porcos".

Mas isso não chega para explicar tudo, porque há outro factor: uma sondagem publicada ontem dizia que a maioria esmagadora dos inquiridos sabe que a responsabilidade política dos tempos que atravessamos é do primeiro-ministro que temos, o que é aparentemente contraditório com o resultado desta sondagem. Mas é só aparentemente.

O que distingue e determina a escolha dos portugueses que votam é a sua bolsa, as expectativas de ganharem ou perderem dinheiro de salário, regalias sociais e privilégios por mais relativos que sejam.

Não é o perfil moral, ético, até mesmo de competência técnica que determina a escolha de um primeiro-ministro ou de um presidente de câmara, como está absolutamente demonstrado pelos exemplos avulsos que conhecemos ( Isaltino, Fátima Felgueiras, Mesquita Machado e até o primeiro ministro Inenarrável que temos. O Freeport conta nada. O Face Oculta menos ainda.O que contaria seria mesmo a prisão, mas para evitar essas catástrofes estão lá topos das instituições, com os seus apaniguados e bastonários vários...) .

Portanto, isso tudo pode contar alguma coisa mas pouco, muito pouco. Os portugueses perderam- se é que alguma vez o tiveram, o que seriamente duvido- o sentimento ético da responsabilidade moral. Estão habituados ao desenrasque e esses exemplos são-lhes demasiado familiares para os vituperarem. Antes pelo contrário, por vezes até são isso mesmo: exemplos.

E isso associado a uma vaga ideia de justiça social que se revê melhor num partido socialista do que num partido social-democrata permanentemente associado à "direita".

O partido Socialista, ao longo dos anos, tem sabido passar a ideia básica e fundamental de que está ao lado dos trabalhadores e o partido social-democrata tem sabido ao longo dos anos, passar a ideia de que combate o PS sem mostrar que é o melhor partido para os trabalhadores apesar de igualmente ser um partido social-democrata.

O PSD compromete-se demasiado com forças sociais que se associam facilmente à "direita" seja isso o que for, normalmente um mito, mas é de mitos que se ganham eleições e poder.

O PSD ( e o CDS por supuesto) aceitam passivamente esse discurso assassino do PS. Nunca perceberam o logro e caem sempre nele.

Evidentemente que os líderes fazem diferença, mas não tanta que possam dispensar esse trabalho básico e fundamental: definir os interesses partidários em função dos objectivos de um bem nacional que inclua as classes mais desfavorecidas e que em Portugal são a maioria.

E é essa que ganha eleições. Isso e o medo de mudanças radicais. Foi por isso que não caímos no comunismo em 1975. Só por isso. E quem foi o partido que fez de charneira nessa altura? O mesmo que hoje: o PS.

O PSD não tem e nunca teve emenda, com os seus pachecos e as suas diatribes internas.


A obscenidade do jornalismo televisivo