terça-feira, janeiro 24, 2012

A Esquerda nunca esquece e nada aprende


Esta crónica de Pedro Lomba no Público de hoje retoma o tema do livro de Miguel Cardina sobre o maoismo, já por aqui recomendado e comentado. E anota um excelente blog-Malomil.
Pedro Lomba coloca a questão certa, a propósito do assunto: “os nossos ex-maoistas integraram-se bem neste regime. Foram muitos. Que há 40 anos evitassem falar das barbaridades do “grande timoneiro”, está certo: a ideologia cega. Hoje, é inconcebível. E é ainda mais inconcebível uma imprensa tão selectiva na sua (falta de) memória.”
Esta questão é certa porque muitos dos antigos maoistas e esquerdistas extremados andam por aí a mandar na opinião pública dos media e quanto à falta de memória da informação não é tanto como isso. É mais um pudor (des)envergonhado porque muitos jornalistas que mandam nos jornais passaram por essas vergonhas que agora "não interessa nada" lembrar ou fazem-no com o ar distante de quem passou por tais devaneios de juventude como quem muda de namorada, porque "o amor acabou".
Contudo, para estes, o amor antigo aos métodos que de democrático pouco ou nada tem, mantém-se inalterável e sintomático.
Os jornais Público e Diário de Notícias demoraram algum tempo a fazer a recensão crítica do livro. A do Público pareceu-me fraquinha. A do Diário de Notícias, da autoria de Fernando Madaíl publicada no excelente suplemento do DN, Q, no passado Sábado é mais bem feita e ilustrativa do fenómeno. Ambas. no entanto, denotam aquele ar de simpatia escrita pela condescendência para com um fenómeno de juventude. O facto de alguns serem puros assassinos pouco ou nada conta. O facto de defenderem uma revolução sangrenta ( a burguesia só entende a linguagem das armas) pouca consequência tem. Basta ver o "politólogo" ( são quase todos politólogos, sociólogos e outros logos)António Costa Pinto, perante a inefável Ana Lourenço para se entender que essas coisas "agora não interessam nada".
O D.N publica estas fotos para que as pessoas não esqueçam e compreendam a nossa idiossincrasia actual:


E não se pense que esta gente era em pequeno número como alguns pretendem fazer crer. Basta ver esta imagem do congresso da LUAR ( Palma Inácio, um amigo de Mário Soares) publicada pela Flama, em 1974. São vários milhares de pessoas que se reuniram no Coliseu para debater a Revolução, a sério. Para depor e derrotar a "burguesia". Em Março de 1975 conseguiram o que queriam: descapitalizar a Nação e passaram a mandar no tecido produtivo. Dois anos depois estava o país na bancarrota. Não desarmaram e dez anos depois tentaram através das FP25 retomar o "curso da História". Mataram outra vez. Foram derrotados mais outra vez e como viram que não tinham mais hipóteses de andar a brincar às revoluções, matando pessoas, meteram-se no PS. Acoitaram-se. Alguns passaram para o Bloco de Esquerda, novo tugúrio das mesmíssimas ideias e têm lugar no Parlamento da burguesia que querem sempre combater enquanto lhes tomam o gosto pelas coisas boas ( Ana Drago foi a Guimarães de carro e motorista, pois claro).
Portanto, esta gente não andava pelo Coliseu em 1974 para brincar, ou fruto de uma doença infantil, como dizia Saldanha Sanches pouco antes de morrer.



Para comentar este escrito ( cujo tema é sempre actual porque os próceres desta cripto-ideologia enraizada na sociedade portuguesa de esquerda é também sempre actual) repesco aqui um postal de 2009:
Encontrei o absoluto. É o marxismo-leninismo."- Pedro Baptista, natural do Porto ( Foz), antigo maoista, opositor do regime de Salazar/Caetano, actualmente socialista da social-democracia do PS e ex-deputado.
A frase, confessional, terá cerca de 40 anos e segundo a revista Pública de hoje, que retrata antigos maoistas, "pouco depois, Pedro Baptista fundou, no Porto, o jornal O Grito do Povo ( 1970), numa altura em que já um outro grupo de jovens tinha criado, em Paris, O Comunista ( 1968). A fusão dos dois, daria origem, em 1973, à União Comunista Marxista-Leninista Portuguesa, um dos principais grupos maoistas portugueses."

J.Pacheco Pereira deve saber desta História como poucos, mas não conta nada. A revista Pública de hoje, revisita alguns dos próceres dessa época e dessa utopia rovolucionária esquerdista, com inspiração na revolução chinesa: António Costa Pinto, o ubíquo palrador televisivo, apresentado como politólogo e que ostenta camisa Polo Ralph Lauren na foto, é um deles; Tino Flores o cantor de baladas de intervenção e fundador do "O Comunista", é outro; Saldanha Sanches, também. Este, cita na pequena reportagem, algo desconcertante, a propósito da importância "das massas".

"Nunca soubemos exactamente o que era isso das massas, mas enchíamos a boca com essa palavra".

As perplexidades que surgem, passados estes quase 40 anos de ideias feitas e desaparecidas, revolvidas e abandonadas, são várias:

Estes indivíduos, na altura em que defendiam estas ideias estrambólicas sobre revoluções sociais para substituir o salazarismo/caetanismo, eram de maior idade e eram indivíduos estudados e lidos.
A crer no que Saldanha Sanches diz agora, esses disparates eram fruto de adolescência retardada, portanto de uma infantilidade intelectual.
Abandonada esta, o que subsiste de solidez ideológica na mentalidade de antanho? Houve alguma mudança de estrutura mental ou de entendimento da sociedade que inexistia nesse tempo?
Permito-me duvidar. Por exemplo, o tal Pedro Baptista, agora, diz que "o PS é o que luta pelas pessoas". A mentalidade de 68 é a mesma; a linguagem idêntica e o modo de articular ideias, semelhante.
Então, se for assim, por que razão estes indivíduos continuam a ter uma importância na sociedade, desajustada e assimilada aos disparates de antanho e que perduram na mentalidade presente, porque originários de uma matriz que não desapareceu de todo?

Essa perplexidade não é abstrusa ou irrelevante. Estou convencido que esta esquerda que domina todo o panorama ideológico que nos orienta no imaginário colectivo actual, tem a matriz nesses erros e nessa mentalidade que não passa com a lixívia do tempo.

É por isso que eleitoralmente o povo escolhe como tem escolhido e é por isso que determinados assuntos da nossa sociedade são entendidos por estes arrependidos do marxismo-leninismo, de um modo particularmente condescendente, deletério e, no final de contas, relativista para além do que deveria ser tolerável.

Entre todos os males que nos afligem colectivamente, este é, sem dúvida um dos mais importantes: a importância e relevo que se continua a dar a estes comentadores da politologia ambiente.

14 comentários:

lusitânea disse...

Em Portugal quando se diz que o crime compensa é por alguma coisa...

pandacruel disse...

Este texto é importante. Deve ver-se também que a «revolução» envenenou e emborrachou muita gente. O entusiasmo desmedido caiu em cima de recalcamentos e dessa mistura não vem a «razão». É assim que agora maioritariamente vemos melhor. Com o pó levantado dá vontade de fechar os olhos ou anda-se à cabeçada. Era assim. Naquele tempo havia a teoria da luta de classes e hoje não há quase nada pelo que sobra terreno fértil para novas «loucuras». E havia a guerra. E a deserção.
As palavras valem o que valem, mas muitos daqueles não sabem manejar um canivete para aguçar um pau, quanto mais um revólver. Fome, sede, dificuldades financeiras ou outras deste teor também não moravam ali. Havia talvez um querer fazer avançar o que vinha nos livros e rasgar a cortina, não sei, nunca percebi bem (ainda que entenda entusiasmos e não lhes seja imune). E havia muito cinema.
Comprei livrinhos na rua e anos depois meti tudo num saco de sarapilheira e coloquei numa adega de aldeia. Numa tarde fria de primavera alguém os queimou sem me dar conhecimento. Consentia, assim leram. O que é curioso é que, anos depois, perguntei por aqueles livros entretanto reduzidos a cinzas. Por que voltei, perguntei? Para arquivo, naturalmente. Para não empobrecer a «história».
Assim me parece, nos meus sessenta anos sempre passados em Portugal, dois terços dos quais no Porto. E posso estar enganado.
N. B. Creio que o professor universitário Pedro Baptista já não é do Partido Socialista.
Sei mexer em canivete e em revólver mas sempre me guarneci daquele e não deste e espero assim continuar, ando com ele no bolso e é suíço.

josé disse...

pandacruel:

O único motivo que me leva a escrever estas coisas tem a ver com a memória destes desmemoriados. E o facto de serem essas pessoas quem continua a mandar na agenda cutural, intelectual e mediática.

Parece que há muita gente que ainda não percebeu isto que me parece de uma evidência atroz.
E que não sucede noutros países.

Na Itália, o Negri não tem a relevância que por aqui têm os Rosas e quejandos.

Carlos disse...

pandacruel,

Gostei do seu comentário e quanto nele me revejo.

Cumprimentos

Wegie disse...

Está visto! Sofrem todos de Alzheimer desde a adolescência...

JPRibeiro disse...

Não me choca que se tenha dado importância às infantilidades bramadas nos anos 60 e 70 por esses arautos da utopia dos amanhãs que cantam. Já nessa altura se achava que eles eram os então chamados "idiotas úteis" pelos serviços que prestavam à causa da Grande Revolução Mundial. Os Lenines, Maos, Castros e PolPots trataram os seus como se conhece, com o mesmo pelotão de fuzilamento que tratava dos contra-revolucionários.

Já me choca mais, ou melhor, revolta-me, a importância que lhes dão AGORA, quando os media se dão ao trabalho de lhes pagar para os ver ou ouvir. Se eles nada sabiam na altura, que podem ter aprendido entretanto? Que valor tem a opinião de alguém que viveu uma juventude exaltada no erro e na ignorância? Qual é a mensagem que se pretende passar?

A responsabilidade maior é de quem os acoita e lhes dá guarida nas páginas dos seus jornais, rádios ou tvs. Por isso me dá um gozo imenso cada vez que um destes "esquerdalhos inofensivos" morde a mão de quem lhes acaricia a cabeça. Acontece todos os dias, e eles nada aprendem.

Floribundus disse...

no maio de 68 deixaram de usar 'camisa de afrodite' para divulgar a pílula.

depois veio a doença chamada aborto

hajapachorra disse...

Que há aqui muita falta de memória lá isso há. Muitas destas pessegadas e destes pêssegos burgueses andavam assim não nos anos 60, então andavam de bibe ou calções, mas nos anos 70 e ainda 80. E eram retintamente tolos não so 20 anos, mas aos 30 e aos 40 anos. Aliás, muitos deles continuam estultos, pois quadrados são-no irremediavelmente. O que mais me chateia nesta porcaria toda nem é tanto o poder que detêm, mas a incompetência alarde e alarve que não os impede de tudo dominar. Um diz que é historiador sem o ser, outros são professores universitários sem o serem, outros ainda, vá lá, têm a franqueza de se dizerem jornalistas, sociólogos ou politólogos.

hajapachorra disse...

Um exemplo. só um, de como a extrema incompetência e impreparação não tolheu carreiras fulgurantíssimas: José Manuel Durão Barroso. O triste Zé Manel, um pobre diabo, um reconhecido incapaz, andou a apropriar-se da mobília da reacção, da FDUL, quando devia estar agarrado ao verbo. Não sabe uma porra do que quer que seja, apesar de bolsas e mais bolsas, de Suiças e Américas, nada, noves fora nada. E chegou a zé-ninguém de Bruxelas. Para escabelo de seus pés, foram os também pobres de espírito dos francos e germanos buscar este cepo, a quem tratam agora como merece, como o moço das mijas de libré, titular de juro e herdade. O resto é só ir por aí abaixo.

hajapachorra disse...

De facto vale a pena ler o textinho do Lombra. No entanto, o rapaz fica pela rama e não percebe que pouco mudou naquelas cabecinhas, estejam elas agora no ps, no psd ou nos mais variados tachos e tachinhos. Em bom rigor, aquilo de rebeldia nem pó. Esses carneiros seguiam o rebanho, hoje andariam todos cobertos de ferragens e tatuagens. E há um questão que tudo esclarece, a questão moral. Essa gentalha apoiou os maiores matadores, porque primeiro apagou a consciência e assim continuam: 99% dos m-l são necessariamente a favor, senão activistas, do aborto, do gaymónio, da adopção por pares de panascas, da pma, das barrigas de aluguer, contra o casamento (um papel), contra a família, e 100% continuam acerrimamente adversários de qualquer moral.

hajapachorra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zazie disse...

O hajapachorra disse tudo.

muja disse...

Viva!

Gosto muito deste blog, que apenas recentemente descobri. E ainda gosto mais, agora que vi este postal sobre este mal que aflige a nossa Nação.

Eu sou novo, na casa dos vinte e tal, mas já venho gradualmente percebendo isto há uns bons quase dez anos (devo esta lucidez, quiçá precoce nos tempos que correm, ao meu pai que sempre fez questão de vociferar lá em casa contra esta gente).

Ora, esta questão têm-me vindo a preocupar ultimamente. Todos sabemos e todos concordamos que isto, assim, não vai a lado nenhum. Também sabemos, nós, os que por aqui andam regularmente, que esta gentalha que é o tema do postal é, senão a causa, pelo menos o maior entrave para que qualquer iniciativa bem intencionada de contribuir para melhorar o nosso país saia gorada.

É difícil convencer as pessoas do que aqui está escrito, e muito tenho eu tentado. E andamos nisto quase há quarenta anos. E não se afigura que mude tão cedo...

Pelo que pude ir lendo pelos comentários, anda por aqui gente de vetustas idades, com mais experiência na vida e mais conhecimento do que eu. O dono do blog afirma-se como democrata (ou pelo menos assim o entendi), mas com esta democracia - que é como quem diz, com estes eleitores - não tenho fé que se alcance alguma solução. Também não espero que venha por aí nenhum Salazar com vontade de endireitar isto, sabe Deus a que custo, para virem depois meia-dúzia de idiotas escavacar 60 anos de trabalho só para, em teoria, fazerem eleições "livres" (eu sei que não era esse o intuito, mas enfim).

Como é que se muda isto? Como é que se expõe esta gente? Em suma, como é que corremos com esta canalha daqui para fora?

Pedro disse...

O que é a união dos comunistas marxiastas-leninistas portugueses? E por que razão o Pacheco Pereira havia de saber especialmente disso? Os senhores sabem de que estão a falar? Não têm pruridos em falar do que não sabem? Então está bem...

A obscenidade do jornalismo televisivo