quinta-feira, fevereiro 02, 2012

O anti- jornalismo da Impresa


"Os segredos que coleccionou , ao longo de 20 anos de actividade nas secretas, e que coincidem com o período mais conturbado da democracia portuguesa-casos Casa Pia, Freeport, Portucale, Face Oculta, BPN, para só lembrar os mais recentes-não impediram que se tornasse no primeiro dirigente dos serviços de informações a ser envolvido num escândalo de grandes proporções."

É esta uma frase assinada por Paulo Pena e Ricardo Fonseca, repórteres da Visão desta semana, em mais um artigo desta revista da Impresa a atacar Jorge Silva Carvalho. Definitivamente não têm qualquer pudor ou vergonha. O artigo ( ver acima, clicando) é inócuo em tudo menos nos inuendos. Começa logo por advertir o leitor incauto que " os dados minuciosos que recolheu, desde 2005, podem ter sido obtidos indevidamente nos serviços de informações".
"Podem" significa que os jornalistas não sabem, não confirmaram, não conhecem os "dados" e deitam-se a adivinhar através de pequenas fugas a um segredo de justiça que é nada de nada, a cargo da 9ª secção do DIAP. Por muito menos, este departamento penal invadiu o extinto 24 Horas em busca de recolha de indícios de violação de segredos de justiça. Por muito menos, este departamento penal invadiu a casa de algumas pessoas, para tentar recolher indícios de crimes.

Estes jornalistas da Impresa estão obvia e objectivamente a fazer um frete ao patrão, o magnata Pinto Balsemão, em grandes dificuldades económicas e que poderá ter sido um dos beneficiários da caixa pública, com empréstimos para adiar uma bancarrota ( este é exactamente o mesmo tipo de informação - fornecida aliás por Silva Carvalho a um jornal- que a Visão usa como jornalismo).
Para tal, estes jornalistas divulgam elementos em segredo de justiça, em segredo de Estado e nada lhes acontece. O Expresso de Ricardo Costa anda há meses nisto e nada lhe acontece. Ao contrário do pobre Tadeu que levou com o maço todo na cabeça, quando dirigia o jornal apasquinado que ele mesmo não lia ( disse-o numa entrevista de modo a permitir tal interpretação). Diz que agora dirige um suplemento ( aliás excelente) do Diário de Notícias, o QI. Muito apropriado, não há dúvida...

O artigo de hoje na Visão é por isso uma pequena resenha de factóides. O primeiro tem a ver com a recolha de informação pelo antigo dirigente do SIED. Acusam-no de ter um telemóvel que apodam em modo parolo, de "última geração" ( um Sony Experia" de" écran táctil"...ahahaha) e de aí recolher informações. Não dizem que tipo de informação a não ser que "são ficheiros que contém informação pessoal sobre milhares de cidadãos influentes". E asseguram que não é uma "mera agenda telefónica" porque aí estão registados dados tão detalhados como matrículas de veículos, informações familiares, "pontos fracos", ligações amorosas, rotinas e hábitos pessoais- como restaurantes e bares preferidos- relações familiares, etc."
Em nenhum destes casos já antes apontados como o corpo de delito contra o antigo director do SIED, se dá o exemplo concreto. Em nenhum destes casos se informa algo que viole qualquer disposição legal. Em nenhum destes casos se indica em que consiste por exemplo um "ponto fraco". Em nenhum destes casos se conjuga o facto com a ilicitude de uma eventual conduta, mormente de cariz chantagista ou outra que viole a reserva de intimidade da vida privada de alguém, em modo inadmissível para um espião e director de um serviço secreto.
Aliás, o próprio artigo informa ( não se sabe como porque aparentemente os jornalistas não viram os dados e apenas conhecem umas dicas que alguém lhes forneceu, praticando assim o chamado jornalismo do para quem é, bacalhau basta) que "alguma desta informação se encontra em fontes abertas", o que retira imediatamente qualquer ilicitude a uma conduta que à viva força e por imposição tácita da Impresa pretendem imputar ao inimigo da Ongoing.

Apesar de citarem "várias fontes" que asseguraram à revista o recurso "de forma ilegal" aos serviços de informações para obter alguma dessa informação, não se refere concretamente que "forma ilegal" será essa e fica a dúvida se será mesmo ilegal.

É este o tipo de jornalismo que temos em voga na Impresa: o anti-jornalismo. O exemplo concreto é dado no mesmo artigo. Rui Pereira, citado como integrante do "grupo de Macau" orientador da entourage do espião caído em desgraça, desmente a revista: "nunca residi ou trabalhei em Macau, onde estive ao todo, durante quatro dias, no âmbito de duas deslocações oficiais."
Brilhante, para a credibilidade de quem faz do jornalismo profissão.

2 comentários:

Floribundus disse...

esta história está ainda muito nebulosa para se perceber quem vai ter problemas.

Karocha disse...

Assino por baixo o seu comentário Floribundos!

A obscenidade do jornalismo televisivo