quinta-feira, dezembro 13, 2012

O mundo que mexe

Do Económico, um perfil de António Mexia, que foi administrador da casa Espírito Santo entre 1990 e 1998 ( Banco Espírito Santo Investimentos)  e gosta de dar música aos colaboradores. Boa música. Suspeito que foi quem ofereceu a Santana a célebre obra dos concertos para violino de Chopin. Recomendada com todo o carinho e atenção de quem conhece por ter andado à boleia pela Suíça.
Mexia é o retrato vivo de um país. De um certo país. Do país que está falido. Há um livro que Mexia já leu, provavelmente, e devia discutir proximamente com os colaboradores. É um livro que ainda não foi escrito em português, mas se encontra traduzido. Fogueira das Vaidades de Tom Wolfe. É um livro pop, nada pedante mas sobre o pedantismo e outros costumes.

Quando António Mexia conversa com um colaborador mais jovem, que tenha entrado na empresa há pouco tempo, não está preocupado em saber se ele tem um curso de economia ou de gestão. Também dificilmente lhe fará perguntas sobre o EBITDA ou o ‘cash flow' da empresa. Num tom descontraído, o executivo prefere perguntar-lhe qual o género de música que gosta, que livro está a ler ou quem é o pintor favorito. As viagens são outro dos assuntos preferidos de Mexia.
De repente, a conversa pode passar por Bach, Mozart, Miles Davis, Nova Iorque ou Roma. Se, por acaso, o "entrevistado" não for um especialista em música clássica ou tiver gostos diferentes, deve evitar substituir estes temas por outros mais técnicos. O melhor é manter a calma. Normalmente, António Mexia pega num CD ou num livro e oferece-lhe - e, neste caso, junta uma dedicatória.
Depois, convém ouvir o CD ou ler o livro, até porque nos pequenos-almoços regulares da empresa, em que o presidente executivo (CEO) se reúne com os quadros superiores mais jovens, arrisca-se a ser novamente questionado sobre os mesmos temas. Mexia gosta de saber se os colaboradores têm mundo.
Numa empresa como a EDP, esta é uma característica fundamental para ter êxito na carreira. A eléctrica portuguesa está presente na Europa, no continente americano, em África e na Ásia. A revista "Forbes" considerou-a uma das melhores empresas do mundo no sector da energia. Os resultados estão à vista. Ontem, na apresentação do relatório e contas, a EDP registou um lucro de 609 milhões de euros na primeira metade do ano.
O dia-a-dia do gestor
A vida de António Mexia, aos 54 anos, corre a um ritmo intenso. Todas as manhãs, o CEO leva a filha à escola, mas depois desloca-se para a empresa, onde tem pela frente um dia com 12 horas de trabalho, que termina por volta das 20h30. Em casa, ainda resolve assuntos pendentes e uma boa parte do ano é passada em viagens profissionais por Portugal e pelos países onde a EDP está presente - por exemplo, num ‘road show' de três dias, o gestor chega a visitar cinco países.
No caso dos Estados Unidos, a apresentação da empresa feita aos investidores torna-se ainda mais frenética. A EDP está presente em 12 estados americanos (de Boston a Houston). Depois, há ainda viagens para o Brasil, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra e Itália.
Tem 1001 fotos no iPhone
Há um ‘gadget' do qual nunca se separa e que já se tornou uma ferramenta essencial de trabalho: o iPhone, o ‘smartphone' da Apple. O executivo tem 1001 imagens, dos mais variados estilos. Tanto pode tirar uma foto a um grafite como a uma barragem da EDP. "O que me leva a tirar fotografias é a força e a vida própria de cada momento. É aquilo que se impõe à nossa frente e que possa servir para comunicar algo", conta o gestor ao Económico. Quando a memória do telefone fica cheia, descarrega as fotos para o computador e, se quiser, ilustrar alguma apresentação ou palestra, passa as fotos para uma ‘pen'.

Mexia também usa o iPhone para ouvir música. Os estilos clássicos e o ‘jazz' são os preferidos para relaxar da pressão do trabalho. A eléctrica nacional passa actualmente por um momento de mudança. Na assembleia geral do próximo dia 25 de Agosto, os accionistas vão reunir-se para deliberar o fim da ‘golden share' e o aumento do limite dos direitos de voto para 20%. Com o fim dos direitos especiais do Estado, a EDP torna-se ainda mais atractiva para os investidores estrangeiros. A China Power, a Eletrobras, o grupo alemão E.On e a InterOceânico são alguns dos potenciais interessados.

Natural de Lisboa, partiu aos 17 anos para Genebra, na Suíça. Chegou sozinho, com duas malas na mão e completamente dependente de si próprio. "Não tinha muito dinheiro, havia que racionar as chamadas telefónicas que fazia para a família", disse o gestor, em 2004, numa entrevista à Fora de Série.

Depois de terminar o curso, o executivo começou a trabalhar como assistente universitário. Em 1982, regressou a Portugal para dar aulas nas universidades Nova e Católica. A actual directora da Católica Business School, Fátima Barros, foi caloira do professor António Mexia. "Gostei bastante das aulas dele, porque trouxe uma abordagem diferente do ensino. Deu-me uma nota de 17 ou 18 valores", recorda a directora.

Mais tarde, o gestor foi adjunto do secretário de Estado do Comércio Externo, Miguel Horta e Costa. "É um homem muito bem preparado e já na altura se notava o enorme potencial. Foi um grande apoio que eu tive para trazermos a Autoeuropa para Portugal", lembra Miguel Horta e Costa. Entre 1990 e 1998, Mexia foi administrador do Banco Espírito Santo de Investimentos e, em 1998, foi nomeado presidente do conselho de administração da Gás de Portugal e da Transgás.

José Maria Ricciardi, presidente executivo do BESI, salienta a forma como Mexia consegue motivar os colaboradores. "Ele é como os grandes treinadores de futebol. Tem uma enorme capacidade para trabalhar em equipa e não é como muitos gestores que querem ser ‘one man show." Ricciardi acrescenta ainda que Mexia "é amigo do seu amigo e não deixa cair as pessoas, mesmo quando elas estão na mó de baixo."

O CEO da eléctrica passou ainda pela Galp, onde foi presidente executivo e, em 2004, foi nomeado ministro das Obras Públicas. "Entre os momentos mais marcantes da carreira destaco a entrada da Autoeuropa em Portugal, a privatização da PT, a expansão da EDP Renováveis, a estratégia crescente da EDP e a aposta nas renováveis e hídricas", conta António Mexia ao Económico.

Como ‘hobbies', além da pintura e da música, o gestor também se dedica à leitura. Entre os vários títulos que está a ler destaca-se "Memórias de Adriano", um romance da autora Marguerite Yourcenar. Esta é uma boa dica para os colaboradores: a biografia do imperador Adriano pode muito bem ser um dos assuntos do próximo pequeno-almoço de trabalho com os quadros jovens da EDP.

CINCO MOMENTOS MARCANTES NO PERCURSO DE ANTÓNIO MEXIA NA CARREIRA PROFISSIONAL
1980
António Mexia licenciou-se em Economia pela Universidade de Genebra, na Suíça, sendo depois assistente na mesma faculdade. Cinco antes antes, o gestor tinha chegado a esta cidade sozinho. Sem carro, acabou por conhecer todo o país à boleia.
1986
O gestor foi nomeado adjunto do secretário de Estado do Comércio Externo, Miguel Horta e Costa. As negociações para a entrada da fábrica da Autoeuropa foi um dos momentos marcantes da carreira profissional de Mexia.
2000
Integrou a Galp Energia como vice-presidente do conselho de administração e, entre 2001 e 2004, assumiu funções de presidente executivo. Em 2004, Mexia afirmou numa entrevista que o desafio na petrolífera passava por fazer um ‘upgrade' das competências e das pessoas.
2004
Mexia foi nomeado Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações durante o Governo de Pedro Santana Lopes. O encerramento do túnel ferroviário do Rossio acabou por ser um dos temas mais polémicos durante o mandato.
2011
O resultado líquido da EDP cresceu 8% para 609 milhões de euros na primeira metade do ano. O número saiu acima das estimativas dos analistas sondados pela Reuters que previam, em média, um resultado de 577 milhões de euros entre Janeiro e Junho deste ano.


 

5 comentários:

Kaiser Soze disse...

na falta de algo realmente produtivo para dizer sobre este homem do mundo, limito-me a propor que deixe de ouvir mp3 porque, especialmente em música clássica, este formato rouba muita qualidade.

ah, e, de facto, esta coisa vaidosa de ser super à frente, evoluido e sofisticado (partindo do princípio que se é todas estas coisas) esbarra em gente como Buffet e Slim que não se arrogam de nunhuma destas coisas.

muja disse...

Hmm isso já não é bem assim. A compressão feita, sobretudo hoje em dia com taxas mais elevadas, já é quase imperceptível ao ouvido humano. E o quase requer aparelhos de altíssima fidelidade que apenas os mais dedicados audiófilos(?) possuem. Para não falar de ouvido apurado...

Diferenças entre vinil e CD haverá sempre, dada a natureza fundamentalmente diferente da codificação do som, mas entre um CD e um ficheiro comprimido já se pode dizer que, na práctica, não existem.

De qualquer maneira há formatos de compressão "lossless" como o FLAC, em que a qualidade é intocada.

muja disse...

Quanto ao tipo, pois. O José já disse tudo:

Há um livro que Mexia já leu, provavelmente, e devia discutir proximamente com os colaboradores.

Floribundus disse...

em comum temos o gosto pela música clássica, viagens, leitura, profissionalismo.

reli o livro da escritora que usava o pseudónimo de Yourcenar.
Adriano era o meu nome simbólico no gol em homenagem a um dos melhores Imperadores, cujo mausoléu se conhece como Castello Sant'Angelo.

quanto ao resto é melhor estar quieto

José Domingos disse...

O monsieur pinto de suza, já teria a valise de carrton, para ir emborra á Pari????