terça-feira, maio 16, 2017

O Ultramar português nas vésperas do 25 de Abril de 74

A discussão acerca do 25 de Abril de 1974 é algo inseparável dos acontecimentos no Ultramar português desse tempo.

Na revista Observador, nº 17 de 11 de Junho de 1971 ( a melhor fonte de informação disponível para se compreender o marcelismo na sua totalidade visível) num dossier mostrava-se a realidade do Ultramar português praticamente na véspera da viragem para a revolução no linguarejar democrático que se lhe seguiu.
Era esta a visão dos que ainda acreditavam no Ultramar português como fazendo parte integrante da Nação e pela qual se devia combater.
Não era o fascismo ou o fassismo que estava em causa, como dizem agora os que replicam a linguagem comunista, mas uma visão de Portugal no mundo que nos tornava um país isolado em relação a um cada vez maior número de países, representados na ONU e que ostensivamente nos voltavam as costas e votavam contra nós.

Essa concepção não era antiquada, se lermos o que fica escrito, porque havia uma noção de que "tudo era possível" em África, se nós nos mantivéssemos firmes no posto de batalha.




Ainda hoje há quem não tenha mudado essencialmente e no O Diabo de hoje há este artigo do "oficial piloto aviador" Brandão Ferreira que isso mostra de algum modo.


O Ultramar português e o que lhe sucedeu continua a ser uma questão em aberto, embora muito poucos lhe peguem pelo lado oposto à doutrina oficiosa que se instalou nos últimos 40 anos.
Mais um motivo, por isso mesmo, de abrir discussões sobre o assunto em busca do esclarecimento de quem o pretende.

44 comentários:

Zephyrus disse...

Um comentador ficou admirado por ha dias ter falado numa ligacao entre o comercio das especiarias da India e a Inquisicao portuguesa.

Em primeiro lugar devo dizer que nao sou Historiador, a minha formacao e cientifica, mas interesso-me por Historia e ao longo de anos fui fazendo leituras.

Sobre a Inquisicao retive que no caso portugues houve particularidades que nos distinguem das Inquisicoes de outros paises. Uma diferenca notoria da nossa Inquisicao e o feroz anti-semitismo. Perseguiam-se comerciantes, medicos, mercadores... gente com bens e dinheiro. Uma simples queixa dava origem ao processo, que se poderia anular com confissao e pagamento da multa. Como era controlada pela Coroa, a Inquisicao tornou-se assim um mecanismo de extorsao de dinheiro e bens, e quem os tinha em maior abundancia? Os cristaos-novos... esta anaise pode ser encontrada por exemplo na obra de Antonio Jose Saraiva, mas o prof. Jose Hermano Saraiva tambem partilha de esta ideia: a Inquisicao foi acima de tudo um mecanismo perverso de roubo! Devo acrescentar que na Europa protestante na mesma epoca perseguiram-se bruxas, mas nao medicos, mercadores, banqueiros, cientistas...

Quanto a India. O transporte por mar fazia com que as especiarias tivessem menos qualidade. A distancia era longa, era necessario contornar toda a Africa. Com o tempo os mercadores arabes e italianos aperceberam-se disso... alem do mais Portugal nao tinha bens para trocar pelas especiarias, nao havia manufacturas... era necessario endividar-se para comprar bens ao Norte da Europa para trocar pelas especiarias, e o juro era elevadissimo. Alem do mais, perdiam-se muitas cargas, em acidentes ou devido a pirataria. A corte entretanto cresceu, e muito, e as despesas tambem... e tal como agora o Estado aumenta e impostos e tenta garantir que controla todos os gastos e rendimentos dos portugueses, porque se endividou excessivamente, no seculo XVI arranjou uma chico-espertice para saquear os cristaos-novos.

Zephyrus disse...

Quanto ao Ultramar.

Acredito nas boas intencoes de muita gente do Regime, contudo uma coisa sao ideias e intencoes, outra e a aplicacao pratica das mesmas. Que nem sempre resulta.

O apelo do "sangue", da "raca" nestas coisas e mais forte do que pensam os sonhadores... na Europa branca, ariana, temos catalaes ou escoceses a discutir a independencia... escoceses ou ingleses sao da mesma "raca", catalaes e castelhanos tambem...

Os brancos estavam em minoria. E verifica-se que nas ex-colonias britanicas e francesas, ao dar formacao academica aos nativos, estes acabavam por se revoltar contra os europeus. Veja-se o que sucedeu no Quenia...

Portugal estava a dar formacao escolar aos nativos de Angola ou Mocambique. Mesmo que fosse aguentando era uma questao de tempo ate ter lideres formados em universidades portuguesas, europeias ou americanas e pedir independencia.

A melhor opcao, face aos ventos e ondas daqueles tempos, era a saida programada, organizada, com tons de calculismo tacito e maquivelismo. Deixar alguma presenca militar para cuidar dos emigrantes da metropole e dos interesses economicos (a Russia usou este argumento para anexar a Crimeia ou invader a Georgia, defesa da populacao russa...), usar todos os meios para garantir a eleicao de um Governo fantoche, manter a ilusao de independencia, assegurar antes da independencia formal todos os interesses dos portugueses la instalados e todos os interesses economicos, procurar o apoio da Inglaterra e dos EUA, mesmo que isso implicasse ceder na partilha da exploracao economica...

Quanto a Sao Tome a Cabo Verde, creio que foi um erro a independencia. Ja Timor, nao sei. A Inglaterra e a Franca aguentaram as ilhas pequenas...

muja disse...

Portanto, o caro Zephyrus não nos tem em conta de conseguir conservar - quando neles tínhamos pleno poder - territórios em que permanecíamos desde havia vários séculos, mas acha, em contrapartida, perfeitamente possível que fôssemos capazes de os manipular à distância, fazendo eleger governos fantoches, preservando lá privilégios económicos e outros interesses instalados igualmente privilegiados...

E que os EUA e a Inglaterra, que na primeira se nos opunham, na segunda já nos dariam apoio...

O que eu lhe pergunto são duas coisas simples:

- concedida a independência sob a forma que melhor nos conviesse, como faríamos, por exemplo, para rebater a acusação simples de neo-colonialismo?

- por que meios impediríamos nós que na manhã seguinte às independências, quem lá mandasse não fizesse gato-sapato dos nossos interesses, económicos ou outros?

zazie disse...

Ora assino por baixo o que o Zephyrus escreveu.

Deixemo-nos de cenas hippies e de moralismos por palavras espantalho.

Aguentava-se assim, por uns tempos e os nossos capitalistas que por lá tinham bom investimento não tinham de o largar para os "anti-colonialistas" americanos e quejandos internacionalistas que sempre fizeram o mesmo e estão agora lá por termos sidos tansos.

Eles fariam gato-sapato se tivessem na altura unhas com que tocar guitarra. Como as não tinham outros foram para lá tocá-la.

Principalmente, em se aguentando assim fosse até por tempo mínimo, apenas para ficar bem no retrato, de uma coisa nos tínhamos livrado- da trampa do 25 de Abril dos lateiros e da destruição de Portugal que se seguiu.
Sendo agora os donos os tais moralistas hippies da utopia da "irmandade" e do "anti-colonialismo" da boca para fora porque os fantoches que se auto-elegeram foi cá.

Unknown disse...

Sempre impressionante o arquivo do José.

Miguel D

zazie disse...

Timor tinha o petróleo mas até os pretos ao pé deles passam por hiper-activos.

Éramos corridos na mesma pela mesma cena racial contra o sacana do Homem Branco

Mas despesa ainda dá. Ainda se paga reformas aos que continuaram com o estatuto de funcionários do Estado Português. Isso e muita "cooperação" com satus de expiação de culpa.

Nota: devo dizer que de todo esse ultramar Timor seria o único local onde ainda iria e os timorenses também os únicos mais perto- ainda que por lá permaneçam alguns nas montanhas em estádio pré-histórico.

Nota 2:

Não é racismo- são afinidades- tal como as temos com todos os grupos e sempre assim foi porque é coisa biológica. E da minha parte até um biológico com empatias culturais e festivas por igual natural curiosidade pela diferença.

zazie disse...

Completamente: Miguel.

Vou ler estes posts todos que estão em atraso.

zazie disse...

Outra coisa ainda, que aqui há tempos o JNP disse no Conversas às Quintas- como é óbvio e seria bom também entende-se, seja por causa de "muros" seja pela versão natural que se chamam fronteiras- os Estados- os Países; as Nacionalidades- são construções políticas territorias e geográficas mas não o são em númeno infinito por qualquer formação "tribal".

Só Israel consegue vender a patranha do contrário e por isso, politicamente, por mil motivos, lá reconheceram um país em espaço territorial mas com tribalismo postiço.

muja disse...

Continuo sem perceber como é que se conseguia isso.

Como é que se preservavam os interesses sem lá conservar poder concreto?

Como é que funcionava isso? Portugal concedia a independência mas deixava lá as tropas? Rica independência. E os outros países eram tolos e diziam sim senhor...

E a quem entregaria o poder? E como faria para o manter nas mãos a quem o entregou?

Quer dizer, o nosso maior problema era arranjar oficiais que chegassem para enquadrar o nosso dispositivo militar cada vez mais composto de tropas recrutadas localmente. Onde é que íamos arranjá-los para servirem de "consultores" e enquadrar as respectivas forças armadas dos novos países?

Vs. nem as pensam.

É sintomático que acusem aquilo que se podia fazer e se estava a fazer de irrealista e depois aventem estas hipóteses vagas, como se fosse mera questão de vontade ou decisão.

No fundo o que Vs. sugerem foi o que se tentou fazer depois do 25. Francamente, não vejo que se pudesse ter feito muito melhor.

Podia ter-se apoiado a FNLA em vez do MPLA, mas a FNLA não estava propriamente desamparada. Tinha muitos dos nossos melhores soldados e vasto apoio sul-africano. Acabou por perder a guerra.

Podia ter-se apoiado a UNITA, mas ficavam na mesma situação que a FNLA.

Era irrealista ganhar a guerra nos nossos próprios termos, mas já não era irrealista ganhá-la nos termos dos outros...

Mandar papaias é fácil, mas apercebam-se de que nem sequer conseguem concretizar minimamente.

muja disse...

É a mesma história das soluções alternativas. Ah e tal, federação, commonwealth, etc.

Mas como é que isso funcionaria no concreto? Que pessoas? Com que meios? Quais os estatutos concretos?

É só ar e vento. Tal como Spínola era só ar e vento. Escrever um livro é muito diferente de fazer. Tal como ele deve finalmente ter percebido quando teve de cavar de helicóptero depois de perder o domínio dos acontecimentos precipitados.

Uma coisa, que nem por isso é menos louvável, é obter resultados na guerra com a máquina afinada do Exército e do Estado a funcionar em pleno por detrás.

Outra muito diferente é fazer política em condições de máxima instabilidade sem instituições por detrás...

zazie disse...

Se não funcionasse, pelo menos uma coisa era certa- tinha servido para ficarmos bem no retrato e evitado o pretexto de golpe de Estado por causa de tretas e o resto que se seguiu por causa de tretas e expiações e hipocrisias ainda maiores e a trampa da escardalhada que ficou dona disto tudo.

Escapávamos como escapou Espanha. Numa transição sem PRECs e sem destruição total do sistema económico.

E acerca disso e do pretexto para tal é que não vejo explicação minimamente racional para garantirem que se teria evitado de outra forma- voltando até atrás no tempo e negando até o processo que o próprio marcelismo já estava a avançar e o resto que é muito e que se chama -os donos das armas já não queriam e o Marcello também já não tinha quem desse o cabedal por ele- muito menos pela utopia do Minho a Timor.

josé disse...

"Continuo sem perceber como é que se conseguia isso.

Como é que se preservavam os interesses sem lá conservar poder concreto?"

Já disse aqui que se conseguia mantendo o poderia militar até um certo ponto. O ponto era o tempo necessário para a transição, como se fez na África do Sul, por exemplo.

zazie disse...

Há um detalhe que o José disse no outro post que me fez pensar:

Os Nacionalismos derivam do tribalismo.

Será assim, por haver uma proximidade geográfica que gera uma cultura e civilização mais aproximada.

Mas não creio que o Nacionalismo seja isso- o nacionalismo, por exemplo, não deriva da tradição dinástica feudal mas da maior imposição política do Estado.

O que leva a que os antigos tribalismos possam integrar-se sendo menores e fruto de um certo salto civilizacional- caso de África, por exemplo: ou tentarem desintegrar-se fruto de uma prosperidade económica em que as revanches do passado podem ser alimentadas em sonhos políticos- sempre fazendo as contas aos ganhos.

Ou seja- nós não nos tornámos portugueses, com sentido de Pátria e Nação por termos sido lusitanos. Foi por outra configuração mais forte, iniciada com a Reconquista e, creio eu, até aumentada por bandeira, quando ser português passou a ser contra ser espanhol se o rei for espanhol.

Suponho que em África se passou algo idêntico- a nacionalidade geográfica existia- a política criámo-la nós, o resto foi passar de mão para os locais e os locais não vinham de tribos do Continente, nem os brancos se tornaram negros por já nascerem por lá.

zazie disse...

Se o nacionalismo portugues, deve mais à monarquia e a partir de quando, ou à República - concretamente- ao Estado Novo que nasce da República, é uma questão que me parece pertinente.

Porque o Estado Novo conseguiu esse pleno- uma espécie de identidade histórica em contínuo desde a nacionalidade mas sem precisar de poder ser espanhola por casamentos dinásticos.

zazie disse...

Nunca o povo gostou de reizinhos espanhóis e daí ter havido revoltas para correr com eles. E eles eram a cúpula do poder político da Nação. Mas talvez não o fossem totalmente do sentido de Pátria que é geográfico e não se exporta nem importa.

zazie disse...

Em termos provinciais é sempre assim- os alentejanos podem andar à porrada entre eles e os algarvios detestarem-se de aldeia a aldeia- mas, se for preciso, juntam-se todos contra os mais poderosos- os lisboetas.

O exemplo pode ser completado com a mesma lógica. Os mais pequenos com tradição local, contra o estrangeiro, se este, ainda por cima, vai querer tomar conta de algo que não é naturalmente dele.

josé disse...

Quando faço derivar o Nacionalismo do Tribalismo não o faço no sentido da expressão tribalismo, estritamente, mas do conceito da palavra tribal e que é aquilo que respeita a uma tribo que por sua vez significa várias coisas: conjuntos de famílias, clãs, divisões entre os povos de acordo com determinados denominadores comuns.

Assim, o Nacionalismo aparece derivado da junção de várias tribos, se necessário for, mas com elementos sociais agregadores.

O Nacionalismo, ensina Norberto Bobbio nasceu com a expressão do abade Barrruel em 1798 ( Mémoires pour servir l´histoire du jacobinisme): "o nacionalismo toma o lugar do amor geral...e então permite-se que se despreze o estrangeiro, enganando-o e ofendendo-o. Essa virtude chamou-se patriotismo".

É neste sentido que uma coisa pode originar a outra.

muja disse...

Se não funcionasse,

Se não funcionasse, o quê? Aquilo que Vs. nunca dizem é o quê. Nunca passa de ar e vento: a "transição", a "solução", a "alternativa".

Qual? Concretamente, o que é que se fazia?

A quem se entregava o poder?
Organizavam-se eleições?
Quem se candidatava?
Os movimentos terroristas "de libertação"?
Passavam a ser legais? Sob que forma jurídica - já que a lei portuguesa não admitia partidos?
Eram autorizados a manterem-se armados? Se não, quem os desarmaria?
Se sim, quem asseguraria a ordem durante as eleições? A tropa? Usavam-se os milicianos, para isso? Se sim, com que moral para enfrentarem eventuais desacatos graves? Se não, onde se encontrariam os oficiais profissionais que faltavam?
Quais eram as regras de fogo? Auto-defesa apenas?
Quem asseguraria o vencedor da eleição? Durante quanto tempo?

Nem as pensam...

muja disse...

Ó Zazie...

Os espanhóis safaram-se de quê? Da guerra civil que apanharam no lombo?

Falam da boca p'ra fora.

Sabe como é que se tinha evitado o 25 de Abril? Era não o terem feito.

muja disse...

O nacionalismo é criação republicana. Ainda há dias estava a ouvir uma conferência francesa em que falavam disso. Foram os juristas da revolução francesa que passaram a soberania que estava no rei para a "nação".

Mas pronto, Vs. estão mais interessados nessa ideia de que o preto não é capaz de conviver com o branco. Convenceram-se disso, ou querem convencer-se, e não há quem vo-la tire.

Mas que fique bem claro: não tem qualquer fundamento na realidade que importa. Nenhum. De nada que se conhece dessa altura nas províncias portuguesas se tira tal conclusão ou sugestão. Aliás, tira-se o contrário.

Não havia problema racial. Não havia revolta generalizada.

josé disse...

Sobre Fé e Crença não se pode dizer muito. E por isso se acredita nisso, nada a fazer.

josé disse...

Se acredita que pretos e brancos poderiam conviver como Deus com os anjos, sem conflitos sérios de domínio de quem sobre quem, nada se poderá dizer mais.

Eu não acredito. Por várias razões que tentei explicar e que se mostram evidentes: não há um único país africano em que tal tenha acontecido, mesmo nas nossas antigas Províncias Ultramarinas. O poder dos brancos não era partilhado com os pretos e estes sentiam isso e não podiam gostar. Como não gostaram na África do Sul ou na Rodésia, precisamente pelos mesmos motivos, segundo entendo.

Logo, as mesmas causas, nos mesmos meios tendem a produzir os mesmos efeitos...

muja disse...

Ehehe!

Quem acredita aqui não sou eu!

O que os testemunhos e os documentos indicam é que pretos e brancos conviviam, de facto, sem conflitos sérios de domínio de quem sobre quem.

O José e a Zazie é que acreditam, apesar dos testemunhos e documentos, que não havia convívio pacífico nem poderia haver.

muja disse...

O argumento dos países africanos é falacioso. Não existem países africanos excepto no Magreb (e mesmo aí já são poucos) e excepto, por enquanto mas cada vez menos, a África do Sul.

O que lá há pode ser muita coisa, mas não são países.

josé disse...

Mas talvez se entenda melhor com um exemplo:

Agostinho Neto era casado com uma branca, parece-me. Foi educado por cá, em Portugal, para ser médico.

Tinha uma cultura que facilmente poderia entender-se com a nossa, de cá, de Portugal, porque estudou cá.

Imagine-se que não sendo comunista, como era, decidia candidatar-se a presidente da República de cá, abrangendo todo o Império, digamos assim.

Como seria?

josé disse...

"O José e a Zazie é que acreditam, apesar dos testemunhos e documentos, que não havia convívio pacífico nem poderia haver."

Não nego esse convívio e dos recortes que apresentei eles resultam evidentes, até.

O que nego é a estabilidade social desse convívio em modo permanente, como aconteceu com o convívio entre minhotos e algarvios, por exemplo.

muja disse...

Ora, permanente quer dizer o quê? De quantos anos estamos a falar? A contar de quando?

josé disse...

Por cá, os beirões, transmontanos ou lisboetas entendem-se. Entendemo-nos enquanto povo homogéneo que somos há muitos séculos.

E com os espanhóis, por exemplo, seria a mesma coisa? A União Ibérica teria alguma hipótese de sucesso, actualmente?

O paralelo parece-me adequado...

josé disse...

Permanente significa duradouro, sem questiúnculas do tipo tribal, mais graves até do que eles tinham entre si.

Naturalmente pacíficos...

muja disse...

O Agostinho Neto? Ahahaha!

Seria uma comédia!

Porém, consolidada a situação, e admitindo que se assentaria no integralismo, não vejo porque não poderia haver um Presidente da República preto.

Um militar distinto, por exemplo. Se se apresentasse com a integridade e verticalidade de carácter necessárias, não vejo que se pudesse objectar.

Naturalmente haveria resistências. Sobretudo da parte dos liberais e ala esquerda do regime, claro. Porque a esses interessa a pseudo-caridade para masturbação moral.

Mas se o regime quisesse manter-se coerente, pois que fosse preto.

Um Presidente do Conselho goês, por exemplo, acho que passaria também sem problemas... Ahahahahah!

muja disse...

A União Ibérica teria alguma hipótese de sucesso, actualmente

Sucesso para quem? Para nós não tinha de certeza. Para eles, admito que pudesse ter.

muja disse...

Mas estamos a afastar-nos do rigor.

O que se procurava defender não era o domínio permanente do branco sobre o preto.

Aliás, o sucesso dessa defesa era o caminho mais seguro para evitar esse resultado.

Com ou sem independência, nunca se negou a autonomia das províncias. Como tal, era de esperar que ascendem ao governo das ditas indivíduos pretos, assim que os houvesse capazes de tal.

Portanto, isso é questão que, com algum jeito, nunca chegaria a pôr-se dessa forma.

muja disse...

Aliás, era de razão que aumentasse a proporção de indivíduos pretos no governo das províncias. Não podia senão ser bom sinal.

Desde que - e aqui reside o busílis - para lá fossem por competência e não por cor de pele.

Duvido que entre os brancos das províncias houvesse mais do que uma resistência residual a isso. Aliás, não devem ter sido poucos os infelizes que ainda acreditaram que aquilo podia chegar a bom porto depois do 25...

Na metrópole o caso era mais complicado. Não duvido que houvesse muita "boa" gente em Lisboa que desprezasse o preto. Mas desde que o Estado conservasse a sua autoridade e essas pessoas no seu lugar, não creio que houvesse problemas de maior.

muja disse...

Mas isto agora também já são conjecturas minhas.

Se calhar o José tem razão. Se calhar o arranjo não podia ser duradouro. Ou talvez pudesse. Não sabemos.

Mas o certo é que na altura ainda durava e não parecia que deixasse de durar tão cedo. Daqui é não podemos afastar-nos.

Como tal, não pode isso servir de argumento a nada.

Se e quando aparecesse o problema, então se estudariam as soluções.

zazie disse...

Ok, José. Entendido e é isso mesmo.

Bic Laranja disse...

Tribo é mais que família e menos que nação. Estado é nação (ou nações) juridicamente organizada.

Estou a pensar alto.

O Muja tem muita razão em tudo o que diz. Mas gasta o seu tempo porque cada indivíduo sòzinho só com a voz, tem-na toda, que é mais. Nem precisa de família ou tribo. Vale completamente só por si.

Utopia era fazer progredir as terras do Ultramar civilizando os negros enquadrados na administração portuguesa. Largar tudo a uns milhares de guerrilheiros sem quadros para administrar uma aldeia e esperar que disso viessem a funcionar estados que nem nações eram...

...

Talvez devam os ingleses ter tido melhor razão em pôr-se ao fresco logo à partida. Se não pouparam os povos das suas estimadas colónias ao desprezo, ao sobado, nem ao conselheirismo soviético, pelo menos evitaram apetrechar países como o de Fidel com toda a sorte de maquinaria agro-industrial, hospitalar, veículos, e outros meios de produção que só serviriam aos altos quadros nativos para ganhar ferrugem. É que aqueles, os ingleses, de sempre apenas lá investiram o estritamente necessário aos seus extractivos negócios. .
Dos belgas nem falo, porque, procurando retirar à inglesa dum império postiço, mas sem engenho e nenhuma coragem, viram à saída mulheres e filhas serem violadas muito debaixo dos próprios narizes pela tropa nativa que emanciparam e, sobre ele, a sua companhia de bandeira Sabena cobrar-lhe tarifa aérea regular para os evacuar apenas e só de zonas onde não houvesse risco para a aviação.

Utopia, para estes, era vender cara a pele.

Cumpts


joserui disse...

"Como é que se preservavam os interesses sem lá conservar poder concreto?"
Imitava-se os ingleses. Perderam poder concreto e mantiveram os interesses em todo o lado. Gradualmente foram-nos perdendo, mas demoraram imenso e não foi ao estilo abrilada.

joserui disse...

Zazie a afinidade é uma coisa tramada e estou a observá-la em tempo real…
Estão cá uns miúdos alemães em casa de portugueses e eu tenho uma (no caso é uma africana adoptada, mas conta como alemã). Só foi preciso um dia para a minha filha começar a relatar "desatinos" dos colegas anfitriões com os respectivos visitantes. Hoje foi o quarto dia e ao jantar as duas miúdas já não trocaram uma palavra e as notícias é que já ninguém se dá com os visitantes + já ninguém quer ir à Alemanha para casa deles.
A que aqui anda é minimamente atinada… outros (estamos a falar de 14-15 anos) é cerveja, vinho, ganza, má criação em geral… em grupo são os portugueses todos de um lado e o bando alemão do outro. Está a ser uma desgraça.
Dizem que é também resultado de meninos do colégio de cá vs. escola pública alemã… também há a questão de amizade e empatia que não é nos chats que se consegue (e os de cá estudam juntos há 11 anos). Tudo somado, é difícil… imagino em África, com gentes tão diferentes de nós em tudo.

zazie disse...

ehehehe

E não se esqueça das iniciações na juventude branca com espancamento de preto, ou apartheid entre jipe de branco e machimbombo

O pé rapado que ia para lá numa de "fuga de imigrante" era muito pessoal das barracas. O Salazar acaba por ficar com a má fama do que começou naturalmente (como em toda a parte) por ser degredo

E isto não é mera propaganda comunista- também fez parte de uma realidade que ainda existia em 74.

zazie disse...

Não sirvas a quem serviu... dá sempre em selvajaria revanchista.

muja disse...

É o que eu digo.

Vai a ver-se e não se podia andar por o pé fora do asfalto em Luanda porque os alunos da escola pública alemã são pseudo-deliquentes...

Iniciações da juventude de que origens sócio-económicas?

josé disse...

Não estive em África mas o meu pai esteve em Angola, um ano e meio, entre 1958 e 1959.
Durante vários anos ouvi as histórias que ele contava do que se passava em Luanda entre brancos e pretos.

Não era o ambiente idílico que pretendem mostrar os que se esfalfam em demonstrar que não havia racismo. Havia e era matizado pela diferença que também existe entre brancos que pertencem a classes sociais mais diferenciadas. Ainda há disso em Portugal, por exemplo com os ciganos.

josé disse...

Julgo que a convivência seria possível ( como o tem sido com os ciganos). Mas no fundo não seria compatível a longo prazo ou em modo duradouro uma convivência pacífica entre as raças.

Por muito boa vontade que os brancos tivessem apareceria mais cedo ou mais tarde o síndroma do "não sirvas a quem serviu", como escreve a Zazie.

A natureza humana tem matrizes de comportamento e uma delas é a rejeição à diferença que para ser evitada deve ser educada, por exemplo através da religião.

Sendo nós filhos de Deus, não deveria existir qualquer tipo de racismo, porque é uma estupidez.

Mas vão dizer isso a quem não acredita em Deus, por exemplo.

joserui disse...

De qualquer modo, estou de algum modo solidário com os argumentos do Muja e também tenho a certeza que fomos muito diferentes de holandeses, inglesas, franceses, belgas…
Mas o tempo, esse grande nivelador (como dizia o Borges?), iria trazer problemas de uma forma ou de outra. Portanto, o José acaba de confirmar que tudo tende para a luta de classes que os camaradas comunistas tanto se desunham para criar :) .
Muja, será esticar muito o que se está a passar com os alemães em relação às nossas províncias, mas a Zazie usou a palavra convivência. Mas podia dar outros exemplos nesse sentido… há anos estive em Nova Iorque literalmente no meio da comunidade portuguesa da construção essencialmente… dormia em Queens e ia para Manhattan todos os dias (uma hora de comboio). Aquela malta praticamente foi lá uma vez quando chegou e nunca lá voltaram. Qual cultura, qual centro do Mundo qual quê? Não se misturavam com outras comunidades. Nada. Nem convivência nem afinidades. E o que diziam dos pretos americanos (com exemplos do tipo passarem à frente de filas e ninguém dizer nada com medo a) de levar um tiro; b) de ser acusado de racista) era terrível.
Quanto a ciganada, não me falem disso.

A obscenidade do jornalismo televisivo