domingo, fevereiro 23, 2020

Vasco Pulido Valente visto por quem o conheceu.

Correio da Manhã:


Acho piada ao facto de VPV poder vir a integrar o elenco dos komentadores do CM e principalmente à circunstância aduzida pelo director do jornal para o convidar a escrever precisamente naquele espaço acima mostrado, a penúltima página do jornal, a obrigar quem o quisesse ler a desdobrar: seria para conciliar o espaço dedicado na última página a João Pereira Coutinho, o pequeno duende da escrita à direita, em Portugal.

No Público, Maria de Fátima Bonifácio fala do tempo em que conheceu VPV, precisamente na altura do começo do PREC, em Setembro de 1974.
Fernando Lopes foi o elo de contacto e era então director da revista Cinéfilo que estava prestes a acabar, pois terminou em Outubro desse ano ( afinal foi em Junho de 1974, fui confirmar e publico o último texto que explica) , com divergências acres com um tal Álvaro Guerra (PS), cujos desenvolvimentos publico a seguir.


Tem interesse mencionar aqui a revista Cinéfilo de que poucos se lembrarão, mas a articulista certamente se lembrará bem, a propósito do que já era evidente: a luta ideológica que se preparava nos meses a seguir, o PREC.

A revista tinha começado no ano anterior, em 4.10.1973, com este formato e periodicidade semanal, o que era um autêntico desafio de trabalho intenso.


O tal texto de acrimónias repartidas e que se entende pela idiossincrasia do meio e da época, prè PREC:


VPV começou a escrever crónicas de página algumas semanas depois,  após o nº 18 e passou a ser "colunista", juntamente com Adelino Silva Tavares e Zé Maria.
Já publiquei aqui uma no outro dia, sobre "os livros da minha vidas", aliás uma série que se estendeu por vários números.
Antes dessa tinha escrito estas duas que permitem conhecer melhor quem foi VPV: um indivíduo daquele meio artístico-literário dos "contras" ao regime que aproveitavam o que lhes era permitido. E era muito.
VPV sabia que o regime não era fascista e escreveu-o algumas vezes, porque se não o fizesse era um idiota como alguns que por aí ainda andam a meter nojo. Até dos que escreviam na Cinéfilo...

Para saber melhor o que era o regime de Marcello Caetano, depois de Salazar,  é imprescindível conhecer isto e perceber que VPV, ao contrário do que escreve no CM  de hoje, o seu director, "um escriba fundado na cultura de inquietação do Barreiro" ( ahahahah!) não era um representante da "alta burguesia lisboeta" mas apenas um pequeno burguês como muitos que se sentavam às mesas pindéricas das tertúlias vá-vá e que também explicam o PREC. Enfim. A pobreza sempre presente, entre nós, mesmo com VPV...isso e as invejas típicas de alguns que são mais que muitos. É isto a tal "apagada e vil tristeza" que já tem mais de 500 anos...

VPV faz parte deste meio e nem as leituras a eito o poderiam modificar.  Salazar não era deste mundo e isso explica muito do rancor e a raiva contra a pessoa, porque Salazar era efectivamente superior a estas pessoas, queiram ou não.



No Público ainda há o apontamento de Miguel Esteves Cardoso que me parece simplesmente patético e destinado não sei a que público.

As leituras profusas nunca fizeram génios ou sequer pessoas muito esclarecidas, necessariamente. Para tal é preciso outras qualidades que eventualmente VPV tinha e muitos não têm.

 Quando muito produzem literatos ou especialistas disto ou daquilo. VPV não era especialista de nada nem poderia ser, para além de certos aspectos da História do Século XIX que leu através de outros autores, incluindo o mestre Oliveira Martins.
Não viveu no tempo e não poderia saber exactamente como era tal tempo. Adivinhava apenas algumas coisas que lia noutros, incluindo romancistas. Por muitos livros de Camilo, Eça ou Ramalho que se possam ler, nunca será possível reviver tal tempo, com a exactidão de vivência real, das pessoas em geral e apreender o verdadeiro "ar do tempo". Seria preciso ter respirado tal atmosfera e mesmo assim, como vemos agora por alguns que dizem ser historiadores contemporâneos, sabemos como é difícil e ilusória tal tarefa.

Será o conhecimento das leituras, a erudição? E para que serve? Para debitar citações? Com que sentido?  É melhor que nada? Só se garantir a ideia certa, o logos. Mas há o resto...

No Público de hoje há uma citação, de Freud: "contra os ataques é possível defender-nos, contra o elogio não se pode fazer nada".

 Portanto, o escrito de MEC é uma inanidade. VPV era mentiroso, como confessou a Maria de Fátima Bonifácio. E portanto seria preguiçoso também, em vez de grande trabalhador. Lia. Lia muito e tal lhe deu bom proveito. Ler não é trabalhar. É principalmente um divertimento e por vezes traz benefícios porque permite citar ideias alheias. Desde que sejam correctas e certas nada de mal  haverá.
O pior é que há por aí muitos leitores compulsivos que só absorvem ideias de porcaria. Querem um exemplo concreto que me ocorreu agora mesmo, por causa de o ouvir no rádio, aos Sábados em conversa com Jaime Nogueira Pinto? Pedro Tadeu. Aí está um erudito que não vale nada intelectualmente.
VPC era outra loiça...


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A obscenidade do jornalismo televisivo