Jornal i:
Isabel Monteiro, empresária de 57 anos, natural de Lisboa, reuniu uma
base de dados com as vítimas mortais do incêndio dos concelhos de
Pedrógão Grande e já contabilizou mais de 80 mortos, dos quais 69 estão
confirmados pelas famílias com nomes completos, localidade e local da
morte.
A intenção era criar uma lista de vítimas para a criação de um
memorial na Estrada Nacional 236, hoje conhecida como “Estrada da
Morte”, mas foi ao recolher a informação junto das famílias, funerárias,
bombeiros e dados da comunicação social que Isabel constatou que o
número de vítimas mortais seria superior ao número oficial divulgado
pelas instituições do Estado. Começou então uma investigação de fundo e o
total de mortos contados até à data, na sua base de dados, já
ultrapassa os 80.
A experiência dizia-lhe que, para ser útil na situação de Pedrógão,
teria de ir directamente ao local e perceber de que tipo de ajuda as
famílias precisavam.
O instinto tem uma história. Em 1996, na guerra do Kosovo, Isabel viu um
apelo da AMI e da Cruz Vermelha Portuguesa e decidiu ajudar, mas
apercebeu-se que os donativos não estavam a ser encaminhados. Organizou,
nesse ano, o Concerto dos Cobertores, na Praça Sony, cujo bilhete de
entrada era um cobertor que seria enviado para Kosovo. O evento foi um
sucesso e Portugal foi o segundo país a entregar o maior número de
cobertores no Kosovo.
Isabel entrou em conflito com a AMI e pressionou o governo para ir
directamente no avião C130, que transportou muita da ajuda humanitária
enviada de Portugal. Quis ir directamente ao local dos acontecimentos
entregar em mão a ajuda às vítimas do histórico conflito.
Isabel contou ao i que aprendeu com essa experiência a não doar
dinheiro ou a entregar donativos sem ser directamente a quem precisava e,
ao saber da catástrofe de Pedrógão, decidiu pôr em prática mais uma vez
o método de solidariedade direta.
“Fui a primeira vez a Pedrógão no dia 21 de junho. Dirigi-me ao quartel
dos bombeiros e fiquei mesmo muito impressionada com tudo o que vi.
Decidi então recolher donativos e voltei no dia 3 de Julho. Fui
directamente à junta de Castanheira de Pêra levar donativos que uns
amigos da família que teve nove vítimas mortais me pediu para entregar”,
conta. “Fui recebida por uma senhora que me disse que não era a Junta
que tratava desse assunto e mandou-me entregar tudo aos Médicos do
Mundo”.
Isabel que se recusa a entregar donativos às ONG, decidiu seguir caminho
pelas aldeias. Foi então que o seu grupo de voluntários se cruzou com
quatro senhoras que recolhiam sementes de eucalipto, na localidade de
Vermelho, certificando-se de que estas árvores não voltariam a crescer
perto das suas zonas de habitação. As mulheres, apesar de terem perdido
todas as árvores e hortas, não quiseram receber donativos uma vez que as
suas casas por dentro estavam intactas. "Foi aí que me disseram pela
primeira vez que o número de mortos seria muito superior ao anunciado".
A Contagem
“Falaram-me de uma família de duas pessoas que salvaram tudo sozinhos e
deixámos lá donativos, já que tinham dado abrigo à sobrinha que só tinha
a roupa do corpo desde o dia do incêndio”, conta ao i.
Foi depois deste contacto que Isabel decidiu ir à aldeia de Nodeirinho,
uma vez que tinha sido uma das localidades mais faladas na comunicação
social. “Quando cheguei lá, as pessoas estavam todas reunidas na capela.
Falei com toda gente, disseram-me o que lhes fazia falta e voltaram a
confirmar a teoria de que o número de mortos seria muito superior ao
anunciado” .
Isabel, intrigada com o assunto, terá falado telefonicamente no sábado
dia 8 de julho com uma agência funerária em Vila Facaia que pelo
telefone lhe confirmou, mais uma vez, que o número era muito superior.
Abordou os funcionários com uma história que acabara de inventar. “Tive
de inventar uma história, caso contrário nunca se iriam abrir comigo.
Falei-lhes então que procurava um rapaz amigo de uma amiga minha que
estaria a chegar para o tentar encontrar e que precisava de saber se o
nome dele estaria entre os 64 mortos”.
Terá sido neste momento que a primeira pista lhe foi dada. Uma das
funcionárias terá respondido sob pressão com um sincero “eu sei lá
menina, são muito mais, só eu vi mais de 95 corpos”, desabafo que Isabel
nunca mais conseguiu que se repetisse, já que a senhora em causa nunca
mais o confirmou.
Isabel explica ao i que, nas suas visitas às localidades dos
concelhos afectados pelo incêndio, “os locais estão muito pressionados
politicamente e há um estado de medo instalado”.
Mas ao falar com as famílias de luto, a ideia da criação de um memorial
surgiu. “É o mínimo que se pode imaginar depois de uma tragédia destas,
nada faz sentido se não houver uma homenagem a todos os que morreram”.
A empresária de Lisboa terá então iniciado um processo de recolha de
informação. "Primeiro procurei tudo o que a imprensa tinha escrito sobre
os mortos, chegando mesmo a perceber que tinham dado como mortas
pessoas que estavam vivas. Com o é o caso da dona Gina, que estava
internada e viva e na comunicação social deram o nome dela como
falecida”.
Ao verificar se os dados da imprensa estavam correctos, comecei a ir de
família em família, a abordar bombeiros e cheguei a contar as campas
frescas de um dos cemitérios para confirmar que os números são
superiores, parece macabro mas tive de o fazer”.
Segundo Isabel e dois bombeiros que não querem ser identificados,
várias vítimas foram encontradas mortas depois de os números oficiais
terem sido dado como certos. Terá sido o caso de Leonor Silva Henriques e
Armindo Henriques Modesto que não estavam referenciados em lugar
nenhum, mas morreram dentro do carro de Anabela Lopes Carvalho, de
Sarzedas, que circulavam na EN236.
Otília, irmã de Anabela, teve de identificar o corpo da irmã na estrada e
falou a Isabel dos dois acompanhantes da irmã que não faziam parte das
listagens.
Também Fernando, de Campelo, foi encontrado carbonizado por uma local
de Pobrais no meio do mato vários dias depois. “Estes corpos foram
encontrados e enterrados mas os números nunca foram actualizados”,
explica Isabel Monteiro.
O i contactou várias das famílias das vítimas que pertencem à listagem
de Isabel e que pedem para não ser identificadas, mas que garantem que o
número de mortos (64) dado pelas autoridades "está muito longe da
verdade".
Isabel Monteiro e a sua amiga Ana Sousa e Silva juntaram algum
dinheiro e, com a ajuda e confiança do padre da Paróquia de Nossa
Senhora dos Navegantes, no Parque das Nações, e um de Bragança,
conseguiram uma quantia de dinheiro que lhes permitiu a aquisição local
de animais e hortícolas para doar às famílias. Compraram 80 animais (com
208,99 euros) e com 197 euros compraram 700 mudas de hortícolas que
transportaram às famílias afectadas pelos incêndios. Foi aí que
constataram que, depois de 30 dias, a ajuda ainda continuava por chegar.
“Chegaram-me a dizer que havia certamente mais de 100 mortos, eu não
queria acreditar. Mas realmente assim que comecei a juntar toda a
informação percebi que pelo menos mais de 80 mortos tínhamos listados”.
Para Isabel há demasiadas falhas em tudo que se relaciona com este
assunto, como o exemplo dos questionários online para as vítimas dos
incêndios. “Como é que o ministério da agricultura espera que idosos que
não fazem ideia do que é usar a internet, depois de todo o trauma,
ainda preencham formulários?”, pergunta. O formulário poderia ser
entregue na Câmara Municipal até ao sábado dia 15 de julho.
Como Alcafache
No dia 13 de julho, às 18h21, Isabel publicou a lista na sua página
do facebook pedindo que a ajudassem a actualizar e a corrigir os dados
disponíveis. “As chamadas, até hoje ainda não pararam, sempre com novas
informações”.
“Isto como bombeiro não me surpreende, já tivemos situações destas em
Portugal, como no caso do comboio de Alcafache que nunca chegaram a dar
o número real de vítimas e soubemos de corpos enterrados em vala
comum”. O bombeiro de Viseu conta que militares já lhe haviam falado de
um número de mortos muito superior ao anunciado, logo no primeiro dia de
acção em Pedrógão. “Entre pessoal das operações sempre se ouviu falar
em mais de 100 mortos. Mas sempre se falou disto sem provas, eram apenas
boatos. Agora há nomes, como é que se mentem nomes de pessoas?”.
Segundo a empresária e os dois bombeiros que o i contactou, têm sido
várias as pressões para que este assunto “morra na praia”. “Disseram-me
que devia estar calada porque isto envolve interesses nacionais. Mas eu
não quero viver num país em que interesses do Estado valem mais do que
vidas humanas”.
A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) reiterou neste sábado
que o incêndio do mês passado em Pedrógão Grande fez 64 vítimas
mortais, em "consequência directa" do fogo, e que outros eventuais casos
não se integram nos critérios "definidos". Os critérios que foram
identificados para apurar as vítimas do incêndio são "mortes por
inalação e queimaduras", resultantes do fogo, adiantou à agência Lusa a
adjunta nacional de operações Patrícia Gaspar.
Segue-se a listagem das vítimas mortais contabilizadas por Isabel
Monteiro, que reuniu informação com famílias, populares, funerárias e
bombeiros.
Comentário:
Factos são factos e mortos são mortos. Ou há esclarecimento cabal e completo ou ficar-se-á sempre na dúvida sobre o número de pessoas que pereceram na tragédia de Pedrógão Grande na tardinha de 17 de Junho de 2017.
Os serviços oficiais que dependem do governo e pouca autonomia têm para poderem ser autoridade credível e suficiente já contaram 64 vítimas e nem querem contar mais. O Expresso, ontem, relatava que houve uma pessoa que foi atropelada naquelas circunstâncias que rodearam o incêndio e por causa dele. Não a querem contar como vítima porque não pereceu devido a queimaduras ou inalação de fumo...e estamos nisto. Como terá sido atropelada por veículo que se pôs em fuga, nem o seguro quererá nada com ela...
Por outro lado, o que relata o i é assustador:
"Segundo Isabel e dois bombeiros que não querem ser identificados,
várias vítimas foram encontradas mortas depois de os números oficiais
terem sido dado como certos. Terá sido o caso de Leonor Silva Henriques e
Armindo Henriques Modesto que não estavam referenciados em lugar
nenhum, mas morreram dentro do carro de Anabela Lopes Carvalho, de
Sarzedas, que circulavam na EN236.
Otília, irmã de Anabela, teve de identificar o corpo da irmã na estrada e
falou a Isabel dos dois acompanhantes da irmã que não faziam parte das
listagens.
Também Fernando, de Campelo, foi encontrado carbonizado por uma local
de Pobrais no meio do mato vários dias depois. “Estes corpos foram
encontrados e enterrados mas os números nunca foram actualizados”,
explica Isabel Monteiro."
Isto são factos que podem ser investigados e confirmados ou não. Será que alguém o irá fazer?
ResponderEliminar«Isabel Monteiro, empresária de 57 anos, natural de Lisboa, reuniu uma base de dados com as vítimas mortais do incêndio dos concelhos de Pedrógão Grande e já contabilizou mais de 80 mortos, dos quais 69 estão confirmados pelas famílias com nomes completos, localidade e local da morte.
A intenção era criar uma lista de vítimas para a criação de um memorial na Estrada Nacional 236, hoje conhecida como “Estrada da Morte”, mas foi ao recolher a informação junto das famílias, funerárias, bombeiros e dados da comunicação social que Isabel constatou que o número de vítimas mortais seria superior ao número oficial divulgado pelas instituições do Estado. Começou então uma investigação de fundo e o total de mortos contados até à data, na sua base de dados, já ultrapassa os 80. »
censura tipo urss
o PR, ao reunir os Conselhos e ao desaparecer das tvs,
ResponderEliminarmostrou a sua incapacidade de impor os factos
antónio das mortes
continua risonho
a fazer a sua propaganda
a divida aumenta, mas isso é problema dos contribuintes
Até quando, vamos continuar a viver com medo e pressionados pela verdade oficial.
ResponderEliminarNem no tempo do Salazar. O 25 a foi uma treta para roubar o povo português, esse povo em que alguns, demasiados, morreram queimados.
Somos roubados por gentalha, que não faz diferença dos negreiros.
Batemos no fundo
Não batemos no fundo porque, como diz Brandão Ferreira, já não há fundo...
ResponderEliminarComo já disse alguém, "esta corja nem para administrar um condomínio"...
ResponderEliminarantónio da mortes e a dupla pcp+be
ResponderEliminarmontaram um estado soviético
estaline levou mais tempo a matar gente
este Campo de extermínio é pior que Auschwitz
"estaline levou mais tempo a matar gente
ResponderEliminareste Campo de extermínio é pior que Auschwitz"
É sempre bom constatar que há sempre alguém mais exagerado que nós nos comentários! :)
Outro assunto: estava a ler a entrevista com o Alvaro Costa no Observador e fiquei a saber que Vila do Conde tinha uma grande tradição anti-fassista (e se calhar ainda tem). Não há cão e gato neste país que não tenha sido anti-fassista ou que não tenha sido tocado pela aura anti-fassista… grandes artistas.
ResponderEliminarIsto é como a URSS quando se deu o acidente de Chernobyl. Se ficar assim é porque somos uns bananas e não merecemos melhor que estes tristes que fingem governar e apenas se governam. Com sorte ainda vão convencer-nos de que não houve incêndios.
ResponderEliminarJá agora, alguém sabe informar-me com rigor por que razão mais de 65 mortos é uma desgraça? já li que tem a ver com os apoios da UESS mas como, concretamente?
desiludido abandonou o ps como militante
ResponderEliminar“A responsabilidade pela morte de 64 pessoas inocentes, famílias inteiras, não pode continuar a ser uma questão alienada pela propaganda política. Pessoalmente, tenho de afirmar o que me parece óbvio: Costa tem a maior carga de responsabilidade, pelo que fez e pelo que não fez”, lê-se no texto de Henrique Neto.
“Costa colocou a sua cultura propagandística à frente do seu papel de primeiro-ministro”, diz ainda Henrique Neto, referindo-se ao caso do roubo de material de guerra nos Paióis Nacionais de Tancos.
Para Henrique Neto, a “recusa em esclarecer os portugueses” tem sido uma “forte característica” do actual Governo, com implicações em casos como o Banif, Montepio, Novo Banco ou Caixa Geral de Depósitos.
“António Costa é um bom executante da política à portuguesa e um erro de casting como estadista e primeiro-ministro”, escreve ainda o candidato à Presidência da República em 2016.
Muito de longe a longe, aparece um Henrique Neto.
ResponderEliminaro monhé
ResponderEliminarantónio das mortes
continua a pavonear-se de ar risonho
com a maior insensibilidade e falta de vergonha
a nova urss vai continuar
o be é o partido com mais diplomas aprovados na AR social-fascista
por isso a poia
o rectângulo arde
a anpc parece uma velha palavrosa de soalheiro
verdade única
no gulag
O Mamadou Ba que exija a verdade.É tiro e queda que ficam logo todos sensibilizados...
ResponderEliminarCalma
ResponderEliminarO Primeiro coiso já disse que quem conta os mortos não é ele, e que na barcaça dele a responsabilidade nunca é do capitão.
Amanhã vão descobrir que havia um erro na fórmula da folha de cálculo, que só somava as primeiras 64 linhas, ou então que o software foi comprado pelo governo do Passos (que o brinquinhos irá explicar com a sua conhecida eloquência!).
Vergonha....essa senhora devia ser presa! Não falta gente a querer aproveitar-se destas situações
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