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quinta-feira, agosto 10, 2017

A intenção deliberada em denegrir o Estado Novo segundo o politicamente correcto

A Sábado de hoje, dirigida por Eduardo Dâmaso dá uma capa a uma vítima célebre de "violência doméstica" com entrevista a preceito. Em título de capa, encima com outro assunto que me leva ao comentário: "Como Oliveira Salazar escondeu 700 mortos".

O propósito é iniludível: denegrir o antigo presidente do Conselho a propósito da tragédia que atingiu a região periférica de Lisboa, numa catástrofe natural nunca vista, na noite de 25 de Novembro de 1967.
A ideia básica para quem assim denigre é simples: o regime de Salazar pretendeu ocultar o número certo dos mortos, como se tal fosse fundamental para esconder a dimensão de uma catástrofe sem paralelo no século XX português.
Nem uma coisa nem outra são assim e quem se esforça tanto para assim denegrir tem que se lhe diga na manipulação de informação e censura interior, interna e implícita. Ou seja, não tem qualquer moral para acusar um regime de fazer o que fazem sempre que consideram adequado.

No caso deste artigo assinado por uma Maria Henrique Espada, o esquema jornalístico é o habitual: entrevistar duas ou três pessoas concretas sobre o facto que se pretende relatar, escolhendo pontos de vista que à partida confirmem o prè-juízo. Salpicar o artigo de considerações a apelar ao sentimento e à emoção, misturar tudo muito bem e rematar com um efeito estilístico provavelmente aprendido na escola de "comunicação" ou, no pior dos casos, nas madrassas actuais do politicamente correcto ( ISCTE, por exemplo). E fica passada e repassada a mensagem gramsciana.

Leia-se por isso o artigo, analisando a idiossincrasia corrente em que até participa o actual presidente da República, cada vez mais carente de afecto da esquerda bem-pensante:




Seria suposto, para quem agora lê os relatos da tragédia de antanho que fossem mostradas imagens que supostamente a Censura da época não deixou publicar. Imagens essas que porventura se encontrem em arquivos de redacção ( Diário de Notícias, por exemplo) ou de natureza documental, de entidades oficiais da época, o que se admite possa ser muito difícil porque o actual regime destruiu efectiva e censoriamente muita dessa documentação. A que existe não está estudada, porque não interessa a ninguém mostrar a verdade histórica do nosso passado recente e que não seja apenas para a denegrir.
Este fenómeno é tão vulgar que espanta como é que ainda ninguém da gente nova se lembrou de estudar e mostrar que este rei democrático vai nu há muito tempo  e se ocupa permanentemente em falsificar uma verdade histórica, com um objectivo claríssimo: impedir que o contraste ponha ainda mais a nu  deficiências graves do actual sistema, comparativamente ao anterior.
No fundo, o actual regime tem medo do anterior. Não se sente verdadeiramente superior porque na verdade todos os sinais indicam o contrário, exceptuando o aspecto da aparente liberdade, sempre apresentada como um Bem supremo e inquestionável. É nesse mito que se labora e ora de modo laico. A Sábado é mais um instrumento de tal propaganda que não difere muito da do anterior regime que pretendem denegrir.

A jornalista escolheu como interlocutores no esquema habitual de entrevistas sobre factos passados, três pessoas que aparentemente foram testemunhas directas dos acontecimentos. Dois antigos bombeiros bombeiro que viram muitos mortos e ajudaram a carregá-los literalmente aos ombros para a morgue;  a antiga secretária do PSD Conceição Monteiro, nora de uma figura muito importante do regime ( Armindo Monteiro) e que se salvou por sorte e uma jornalista chamada Diana Andringa, comunista antiga e opositora de sempre do antigo regime que também viu de perto os acontecimentos. Isso para além do próprio presidente da República que apresenta o relato dos estudantes da época que tentaram ajudar as vítimas da catástrofe e afinal foram prejudicados nos estudos pelo próprio padrinho do casamento dos pais, Marcelle Caetano, pouco condoído do esforço dos estudantes ( será caso para dizer que nessa altura ser padrinho de casamento de alguém não era motivo suficiente para suspeição de imparcialidade e isenção...).

A jornalista Andringa, naturalmente, coloca o acento tónico na censura noticiosa e na "repressão policial" que nem neste artigo poderia faltar. Assim, a GNR, no Técnico andaria nessa altura preocupada com  "quem andava a fazer agitação" em vez de ir ajudar as vítimas e na mesma frase refere, sem atentar em qualquer contradição que "os polícias sinaleiros ( PSP) paravam o trânsito para dar prioridade às camionetas carregadas de estudantes para as zonas afectadas".

Por outro lado, a ênfase no número real de mortos, contados por três jornalistas armados em verificadores de óbitos na morgue ( a dita, mais Pedro Alvim e Fernando Assis Pacheco, cuja filha escreve agora no mesmo registo, na Visão) dava um número redondo de 700 mortos enquanto o Diário de Notícias, no dia seguinte,  só tinha mencionado 427! E a Censura teria dado ordens para que o "número de mortos não voltasse a subir"...

Um actual investigador a UMinho acha triste que não se saiba o número e o nome dos mortos...e o investigador António Araújo também lamenta a falta de estudos sobre a tragédia. Enfim, podem sempre ocupar-se do assunto, não?

De resto e para concluir um fenómeno actual ressalta e se torna evidente:

Se as imagens da época foram censuradas por serem chocantes, porque não publicam agora as que então o foram?

Por exemplo, estas que estão disponíveis em publicações da época:


Como não espero resposta alguma destes hipócritas incongruentes e igualmente censores vou procurar dar a resposta que julgo adequada e explicativa.

Esta gente não publica estas imagens e escreve-se muito indignada com a Censura do antigo regime por dois motivos: o primeiro porque não compreendem o tempo e o modo do antigo regime ou se compreendem, como é o caso da comunista Andringa, é apenas do ponto de vista dos opositores ao dito e  assim ainda maior é a incongruência, porque defendiam um regime que era muito, mas muito pior, nesses aspectos e noutros, do que aquele que combatiam. O mal maior é que nada esqueceram e pouco aprenderam. Continuam iguais ao que eram há 50 anos...

O segundo ainda é mais grave: a Censura actual existe e é insidiosa, confinada no bestunto de quem agora escreve e não aos ditames de qualquer coronel reformado das ideias certas. A Censura actual é a do politicamente correcto apreendido com os que ensinam segundo o ar do tempo e da conveniência de uma esquerda que se afigura ainda mais incongruente e perversa. A liberdade que defendem é a proibição de mostrar o real, o mais aproximado possível ao que é, substituindo-o pelo que deve ser, segundo os seus critérios peregrinos e perversos

Assim, nem se dão conta que estão mais aprisionados da verdadeira Liberdade do que antes, no antigo regime. E isto não é figura de estilo.

O aproveitamento político da catástrofe é mostrado claramente no artigo da Sábado, feito pelos estudantes da altura, os tais que a GNR andava a "perseguir". Hoje não é preciso a GNR perseguir porque tal efeito é garantido pelos Galambas e a espécie das Andringas, em artigos de opinião e declarações em directo no telejornal.

Para entender melhor a tal Andringa e a sua acrisolada paixão à liberdade de informação basta ler este texto da sua autoria publicado no Expresso de 27 de Setembro de 1975: a liberdade de imprensa e informação deixada por conta das "comissões de trabalhadores"...


17 comentários:

  1. Mais um texto brutalmente bom, parabéns.
    Essa Andringa também se queixa da repressão democrática e não sei que mais, só nas venezuelas deste mundo é que não há repressão.

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  2. Ainda ontem recebi um mail com um artigo do Século Ilustrado da altura, precisamente a demonstrar as aldrabices e a hipocrisia dos que pegam nessa tragédia para branquear o que se vive hoje. Se a censura era tão feroz como é que se explica que tenham aparecido tais reportagens, à época?

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  3. É outra "25 de Abril sempre" e o Araújo é um palerma (para quem ainda não tinha dado por isso)

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  4. E parabéns ao José que arfruma sempre estes palermas em 2 penadas

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  5. Em suma, o estado novo escondeu o número de mortos nas cheias. Nada de novo. Ja se sabia. Os políticos se puderem só contam as coisas boas. Salazar não era, não foi, diferente.
    .
    A grande diferença é que em democracia não é possível esconder. É possível tentar, mas a liberdade tem essa coisa aborrecida de dar a qualquer um o poder de questionar e investigar. Pelo que a mentira tem sempre perna curta.
    .
    Ainda, o estado novo não precisa de ajuda para o denegrir. Não há ajuda alguma tão preciosa quanto a realidade que o estado novo nos deixou. A pobreza, a emigração massiva, a guerra gratidão são cartão de visita mais do que suficiente para que haja alguém que sinta necessidade de denigrir mais aquilo que se auto denegriu.
    .
    Rb

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  6. Excelente texto. Os avençados e os jornalixos cá do burgo, preferem não lembrar que depois do 25a, andaram a comer a conta do ouro fassista. Na altura como agora não sabem fazer nada, só fazem recados, demasiado miseráveis para serem alguém na vida, uns vendidos.

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  7. Não sabem fazer nada, nem aprendem português, para começar: «aluvião» não é do género masculino, como aparece escrito nas semigordas ligo na primeira página da reportagem. Jurnalixo de aviário.
    Cumpts.

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  8. Bic Laranja, veja aqui:

    https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-geenero-de-aluviao/18403

    Quem usar o género masculino está respaldado no DAC. Não é grande coisa, mas serve-lhes de justificação.

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  9. Anjo:

    O Dicionário da Academia das Ciências!... [suspiro] Uma obra cometida por bom preço a um trampolineiro mandrião (leia-se Malaca Casteleiro), obrada por estagiários tão ignorantes como a jornalista. Ou fim da Gramática normativa pela caução da simples burrice: boçal como as multidões; democrático como a Revolução.
    Ou ainda o «i» em português que se já pode ler «ai»....
    Ai, ai!..

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  10. José, inteligente texto com interrogações oportunas a necessitar de respostas adequadas dadas pelas pessoas em causa..., mas que de certeza jamais ocorrerão.

    A Andringa é uma oportunista, uma cínica, uma falsa e uma mentirosa. Sempre foi. Ou não tivesse ela sido uma MRPP nos inícios deste regime e se calhar ainda o é embora encapotada, como lhe convém para conservar os brutos tachos de que tem vindo a usufruir desde o 25/4. Foi-o em 74 e continuou assanhada por 1975, segundo se pode ler pelo artigo que escreveu, reproduzido. Tudo o que ali vem escrito - desde a (falsa) aversão ao PC e ao PS, passando pela defesa intransidente do seu movimento político extremo-esquerdista, até ao seu amor assolapado pelos sindicalistas seus congéneres que botavam discursos inflamados contra a extrema-direita e demais fascistas, nas reuniões de jornalistas revolucionários - é de provocar vómitos ao mais indiferente.

    Esta mulher comunista e todos os outros como ela, sempre ganharam com o facto de se terem posicionado polìticamente imediatamente à esquerda com o advento da 'democracia' e logo a seguir à esquerda da esquerda. Fosse ela maoista, estalinista, leninista ou socialista-marxista, o importante era ela e os da sua igualha apresentarem credenciais como sendo um destes "istas". A partir daí teríam o futuro assegurado, como efectivamente aconteceu a todos eles. Em caso de dúvida atente-se nos lucrativos cargos vitalícios - nos jornais, nas empresas públicas e privadas, na política - que lhes foram sendo consignados desde então até hoje, assim como aos seus familiares e muitos amigos, todos eles sob a égide dos partidos do sistema.

    Duas notas: o número de mortos nas cheias de 1967 não foram nada do que essa Andringa aldrabona e outros observadores e jornalistas comunistas afirmaram na altura, por evidente oportunismo e cegueira esquerdista e ódio a tudo o que fosse dito e escrito por jornalistas da direita. Talvez tenham sido trezentos e alguns mais, se tanto, segundo me lembro de ouvir os meus Pais afirmarem.
    Quanto a ela ter escrito que aquelas catástrofes aconteceram exactamente como as de Pedrogão que se verificam todos os anos, é uma rotunda mentira. Esta atoarda serve ùnicamente para desculpar os responsáveis pela de Pedrogão, como boa avençada que é. A de Odivelas/Loures foi originada por consequências atmosféricas adversas e o Estado nada pôde fazer para a evitar e só não compreende isto quem for muito estúpido ou propositadamente mal intencionado, como ela e os seus comparsas sempre foram. Já a de Pedrogão aconteceu por absoluta e intencional falta de coordenação dos poderes instituídos e/ou consequência directa dos fogos ateados por criminosos, sejam eles pirómanos pagos à hora, seja por descargas de produtos incendiários feitas por aviões descaracterizados (como acontece anualmente, sem nunca se atrazaren, quando começa o tempo quente em quase todos os países da Europa, Estados Unidos e Austrália) e pràticamente nenhum ateado por deficientes mentais..., como os cínicos governantes (que irão receber umas boas centenas de milhões da U.E. para atender aos prejuízos causados...) nos querem fazer acreditar.

    A hipócrita Andringa e outros como ela, dizem no artigo que não se conheceram os nomes dos mortos nas cheias de 1967. Então, como sugere o José e bem, por que razão não os vão descobrir agora, já que foram tão lestos em denunciar que houve mais de quatrocentos mortos? Era uma boa ideia, para depois publicarem-nos um a um. Pois, mas calcula-se o motivo por que o não fazem. Porque não foram quatrocentos e tal mortos coisíssima nenhuma e muito menos os setecentos que outro esquerdista-oportunista afirmou.

    Mais uma nota para se compreender o belo percurso político desta detestável Andringa. O filho dela andou no Colégio Moderno. E ela, no seu tempo de Liceu, porventura também lá terá andado. Sobre esta hipócrita personagem não é preciso dizer mais nada.

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  11. Era interessante conseguir ler-se o que está escrito naquele boneco abaixo do artigo da Andringa, em que o Comandante Alpoim Calvão quer oferecer uma bofetada a Sotto Mayor Cardiga e em que este está a dar um pontapé num cartaz do MDP(?). Mesmo aumentando ao máximo a imagem não é possível ler tudo e é pena.

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  12. MDLP. E mais abaixo há um bonequinho com o Cunhal e...? E dizem o quê? Não se consegue ler.

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  13. ... a dar um pontapé, não num cartaz, mas nas letras MDLP.

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  14. Já está resolvido o texto da caixinha que tinha sido publicada no JN.

    O bonequinho Otelo diz para o Cunhal: "vou fingir que não o conheço..."

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  15. Obrigadíssima José. A preposição "DE" foi riscada(!) e substituída pelo artigo "a". Tiraram o verdadeiro e apropriado significado da frase. Por que terá sido?... Hummmm

    Realmente foi preciso muita lata e nenhuma vergonha chamar mercenário a Alpoim Calvão, como Cardia fez, um português de enorme valor pessoal e militar. De facto Cardia mereceu a resposta pronta e adequada de Calvão. Mercenário foi Cardia e são todos os democratas, estes sim, verdadeiros mercenários da política.

    Caso o Comandante Calvão enfrentasse fìsicamente o Cardia, em poucos segundos fazia-o num oito. Este, de estrutura franzina e como bom democrata, certamente um cobarde como eles são todos, depois de ter lido ou ouvido a ameaça daquele, deve ter ficado com um tal medo que se terá borrado todo (desculpem o plebeísmo). Só a compleição física e a altura do Comandante chegava e sobejava para qualquer cobarde e sobretudo se traidor, temê-lo ao máximo e evitar a todo o transe a mais pequena refrega.

    E os dois bonequinhos trajados à karatecas! Que maravilha.

    Conheci o Comandante A. Calvão num Leilão a que assisti com a minha Mãe. Os donos da Leiloeira eram nossos amigos. Um deles, o que aceitava as licitações, assim que o Comandante entrou na sala, estava o Leilão a decorrer, interrompeu por segundos a palavra anunciando bem alto "vejo que chegou o Sr. Comandante Alpoim Calvão, um grande Homem", toda a assistência se virou para ver o recém-chegado, sendo este aplaudido por todos os presentes.

    Alpoim Calvão não só foi um Grande Senhor como um Grande Português e mais do que tudo um Valoroso Militar. O Comandante Alpoim Calvão honrou a Pátria onde nasceu.

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  16. Leia-se no plural "chegavam e sobejavam"

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  17. Não fazia ideia que a Conceição Monteiro tinha sido nora do Embaixador Monteiro. Ela foi/é casada com o Luís ou com o Miguel, filhos daquele? Alguém sabe?

    Aquando das cheias de Odivelas, falou-se lá em casa que a moradia do Embaixador tinha ficado alagada até meio das paredes e numa das Salas, a da Entrada suponho, alguns dos quadros de valor e mobiliário de igual qualidade haviam ficado parcialmente destruídos. E parece que alguns destes tinham sido mesmo levados pela enxurrada, já não me recordo bem. Deve ter sido a esta enxurrada que a Conceição se referiu, não tendo porém mencionado os estragos havidos no interior da moradia. Moradia onde, segundo palavras suas na entrevista que deu nessa altura, ela também vivia.

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