O CM de ontem dava conta de uma reunião magna para debate dos problemas dos media nacionais. O presidente da ERC, indepentente e aqui mais que corporativo alvitrava soluções do mesmo género das que foram aventadas para "salvar os bancos": injecção maciça de dinheiros públicos para manter os postos de trabalho de jornalistas. Todos de esquerda, por sinal, ou a fazerem o percurso conjunto, por necessidade a ausência de alternativa.
É só isso que está em jogo porque a qualidade do jornalismo é coisa de somenos.
Compreende-se a preocupação do CM que esta notícia do passado dia 15 registava:
A maioria dos jornais em Portugal há longos anos vive de subsídios e não produzem nada que os auto-sustentem.
Produzem propaganda político-ideológica e o público está farto e não os compra. Então viram-se para o Estado, para o patrono que verdadeiramente respeitam como entidade salvífica, por evidente preconceito ideológico na medida em que não acreditam no mercado como entidade reguladora. Em poucas palavras: os jornais em Portugal são de esquerda por necessidade de sobrevivência.
A ERC e o seu presidente ao alvitrar a solução miraculosa outra coisa não disse.
Hoje percorri as páginas dos principais jornais nacionais para ver o modo como noticiavam a morte do fundador da revista Playboy, um ícone da cultura popular. Pois bem: nem um único se destaca a noticiar de modo personalizado e com artigo interessante. Todos afinam e alinham pelo diapasão estafado da cultura de internet. O que escrevem é requentado de artigos da internet. Qualquer um dos artigos que me foi dado ler, de través mas suficientemente para o poder afirmar, poderia ter sido composto por um robô e parece que já há quem pense nisso...
O Público tem um artigo de duas páginas assinado por Mário Lopes, com idade suficiente para poder relatar algo pessoal sobre Hefner e a Playboy. Que nenni! Cópia, todo o artigo. O i, no artigo assinado por António Rodrigues, idem aspas, duas páginas um pouco mais ilustrada mas sem lustro algum essencial. O DN tem um artigo assinado por uma jornalista em tom idêntico, com as mesmas ideias feitas, as mesmas referências iconográficas e as mesmas alusões anedóticas. O CM ilustra imagens com um pequeno texto igualmente copiado das mesmas fontes.
O interessante de tudo é perceber como funciona a mentalidade deste jornalismo e a escolha prática do que é notícia para imprimir. Como é que deram todos em copiar a mesmíssima coisa e as mesmas ideias e factos? Só pode haver uma explicação: aprenderam todos da mesma escola.
Mas que escola temos, deste jornalismo? Confesso que não sei mas alguém deve saber. É uma escola de uma mediocridade atroz, com um currículo que deve ser de fugir a sete pés e uns professores que replicam o que lhes ensinaram, contribuindo para a rotina do que vem de trás se tocar para a frente.
Para que serve este tipo de jornalismo, neste caso "cultural"? Para nada porque a internet suplanta-o em dois tempos e em cima do acontecimento. Poderia fazer-se valer da qualidade da imagem impressa mas nem isso os toca. É aflitivo.
Em vez de tentarem ser diferentes, mais interessantes e escreverem sobre o que sabem, copiam ideias alheias e até referências factuais sem qualquer menção ao lugar de origem. Quem os lê, a escrever no presente singular será levado a acreditar que o relato é na primeira pessoa que experimentou aqueles factos ao vivo e a cores. Que miséria!
Este fenómeno é recorrente e permanente sempre que ocorrem factos como este. Os artigos surgem no dia seguinte, parecendo copiados uns dos outros e sem qualquer originalidade criativa ou mesmo autêntica. Tudo copiado. E mal porque nem sequer a origem da cópia é mencionada. A Internet tornou-se uma terra de ninguém onde toda a gente rouba ideias avulsas e alheias, sem qualquer pejo ou vergonha.
Depois queixam-se da falta de leitores...
Outro exemplo triste é para um jornal de chico-espertos que aparentemente não precisará, por si, de apoios do Estado mas está num estado lastimável com uma direcção de uma mediocridade atroz.
O Expresso na semana passada titulou assim ( a imagem é do sítio do jornal, editada por mim):
Quem lê isto fica a pensar que o jornal obteve o chamado "scoop". A fonte seria da própria entidade emitente do relatório e o assunto provocou ondas mediáticas que abalaram as instituições. O primeiro-ministro desmentiu logo, dizendo que não havia relatório algum. O jornal, numa bravata estúpida e à medida de quem o dirige, reafirmou o teor da notícia e a autenticidade do relatório, escusando comentar o comentário do primeiro--ministro sobre o carácter apócrifo do mesmo.
O CM de ontem esclarecia o assunto que o Expresso, por esperteza saloia não esclareceu: o relatório é mesmo apócrifo e não tem valor oficial. Tem apenas valor indicativo e o escândalo afinal reside no modo como tal relatório não foi aprovado pelos apparatchicks das "secretas". Esse é que é o escândalo, mas o Expresso preferiu inventar outro, numa habilidade triste que enganou os leitores e portanto produziu um péssimo jornalismo.
Ao ler estes exemplos de jornalismo forçoso será dizer que se os jornalistas se queixam deveriam fazê-lo em primeiro lugar do jornalismo que produzem e praticam.
Em 1975 havia muitos jornais e todos alinhavam à esquerda, tirando as folhas de couve das franjas marginais de uma direita que deixou de existir.
A informação era de tal modo enviesada para esse lado que fatalmente marcou uma geração ou duas.
Nessa altura os jornais vendiam mais que hoje porque não havia alternativas de informação como hoje existem. Ainda assim a crise de vendas que se instalou foi de tal ordem que obrigou a uma reformulação dos jornais estatizados e intervencionados pelo Estado, do mesmo modo que se calhar alguns jornalistas da ErC pretendem.
Ao longo dos anos foram aparecendo projectos e investimentos financeiros em jornais e revistas que se foram mantendo durante algum tempo, terminando quase sempre em falência técnica e editorial, com dívidas monstruosas que ninguém pagou.
A esquerda manteve os seus redutos e a esquerda que se apresenta como direita em Portugal também os organizou, primeiro no Semanário e depois num Independente nem carne nem peixe.
Pelo meio houve umas tantas tentativas de organizar um jornal ou revista verdadeiramente independentes, como seria uma Grande Reportagem, mas nem isso foi possível por causa da influência esquerdizante e gramsciana que se instalou em há longos anos na sociedade portuguesa.
Tudo falhou. Não há e nunca houve uma Der Spiegel em Portugal. Nem sequer um Corriere della sera ou um arremedo de Le Monde apesar do quixotismo do Público de antanho ( como seria possível com um faccioso do género Vicente Jorge Silva?).
Estamos por isso condenados a esta apagada e vil tristeza do jornalismo nacional. Para mim a causa é a existência de uma Esquerda über alles, viciosa e permanente que tudo domina no campo ideológico mais alargado e conduz o politicamente correcto que afundará o que resta da nossa originalidade.
Essa esquerda viciosa começou aliás com uma experiência de jornalismo "independente", num projecto chamado O Jornal que tenho já por aqui mostrado em várias ocasiões.
É a escola por excelência do jornalismo nacional actual, da geração que está a reformar-se. É a escola dos dinis dinis alguém assim quis e outros avatares. É a escola que desembocou na Visão que foi comprada pelo Balsemão e que agora a vai fechar. E na verdade pouco se perde. O Lobo Antunes arranjará outro sítio para escrever o o jornalista Miguel Carvalho outro local para investigar e reportar.
Não haverá ninguém que se preste a financiar outro projecto como o do o Jornal, com o idealismo original e sem a mácula do esquerdismo de antanho que se prolonga até hoje?
Na altura fizeram-no em cooperativa e escreviam essencialmente sobre politiqueirice nacional, orientando-se contra o comunismo totalitário, mas fazendo percurso conjunto na táctica de conquista do poder em modo gramsciano.
O modelo organizativo, no entanto, funcionou durante dez anos aproximadamente, estiolando depois. Poderia ser essa uma solução para os poucos jornalistas que apesar de tudo ainda devem existir por aí?
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sexta-feira, setembro 29, 2017
quinta-feira, setembro 28, 2017
Playboy, 1974, a novidade
Morreu Hugh Hefner, o fundador da revista americana Playboy.
Antes de 25 de Abril de 1974 tal revista, à semelhança de outras sobre assunto similar ( mulheres nuas mas sem grande explicitação carnal) não se vendia em Portugal. A pornografia em papel era assunto de contrabando e venda por baixo do balcão de livrarias e papelarias, mas esta revista que não se enquadrava nesse género hard-core não tinha curso livre em Portugal. Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e consequência da proibição desse fruto, o desejo enchia bancas de jornais, na rua e arredores, numa exposição por vezes obscena e desregulada de rasquice a esmo. Nessa altura a pornografia em papel misturava na rua e nos passeios ( no Rossio, por exemplo) o sexo com a divulgação das obras comunistas até então proibidas, numa amálgama apropriada. O mesmo se passou com filmes "proibidos", como por exemplo O Último Tango em Paris do então comunista Bertolluci.
Assim, o primeiro número que me lembro de ter folheado e eventualmente comprado da Playboy, foi o de Novembro de 1974, chegado cá no final desse ano, aí por 55$00, segundo julgo lembrar-me.
A revista era um must nessa altura, com 250 páginas bem nutridas de textos e publicidades e as tais gajas nuas que apareciam relativamente recatadas em reportagens fotográficas de luxo plastificado a papel lustroso. Mulheres de modelo americano, de cinema, altas, esguias e inacessíveis. Mulheres de papel.
Para além desse recheio julgado pernicioso para olhos portugueses e portanto censurado antes de 25 de Abril de 1974, a revista que folheei por altura do Natal desse ano, revelava-se um viveiro de artigos interessantes e ilustrações a condizer, com publicidades apelativas a produtos que por cá não apareciam. Para além dos anúncios a álcool e tabaco, agora passados estes anos terminantemente proibidos como tal, havia ainda páginas e páginas a mostrar carros, motas, aparelhagens hi-fi, perfumes, roupas, etc etc. com convite descarado a um consumo que por cá era ainda impossível.
Passada a relativa surpresa das páginas centrais e adjacentes, figurava-se a revista em várias ilustrações irresistíveis e por isso aqui ficam.
Em primeiro lugar as páginas de publicidade a produtos de consumo:
E uma publicidade de outro número e que mostra o que era o "Marlboro Man" que alguns anos depois não gostava dos Clinton...e estes retribuíam do modo que sabiam e podiam.
Depois um capítulo que marcou a revista: as entrevistas "tipo Playboy" que inspiraram um Artur Portela Filho , em 1976 a tentar copiar o estilo, sem a substância. Neste caso, Hunter Thompson, um dos maiores inimigos de Nixon e que escrevia na revista Rolling Stone, sobre tudo, sendo um dos paradigmas do "novo jornalismo" que aparecera na América.
Depois os artigos da revista, com textos interessantes e alguns de autores consagrados ( Norman Mailer, por exemplo, ou John Updike) .
Alguns ilustrados de modo a suster a respiração pela novidade estética e gráfica, como este que explorava a tendência de então para o grafismo a aerógrafo, coisa que desapareceu do panorama ilustrativo.
Ou este clássico de Vargas, autor que chegou a ilustrar a capa de um disco dos Cars, nos anos oitenta (Candy-O)
E também os cartoons, como este de Gahan Wilson.
Ou este com um traço mais straight, de Smilby, também mais aproximado à temática da revista...
Ou esta publicidade a uma nova publicação que então me despertou a atenção mas nunca vi porque nunca apareceu por cá:
Outra revista que foi novidade para mim, nos anos setenta, foi a Esquire. Dei por ela nos quiosques, por volta de 1978.
A Esquire tinha sido a revista onde Hugh Hefner trabalhara antes de fundar a Playboy. Os jornais de hoje contam a história acerca de Hefner ter deixado a revista por não ter sido aumentado nos cinco dólares que tinha pedido, mas não indicam onde leram a história a primeira vez.
Ora aparece aqui, na Esquire de Dezembro de 1979, num artigo de Gay Talese sobre aquele antigo colaborador. Vem na última página de um artigo extenso, em duas partes, publicado nesse número da Esquire e no anterior.
A Esquire tinha colaboradores do género da Playboy mas sem as mulheres e menos ilustrações. Mas tinha bons artigos.
Por exemplo no número de 4 de Julho de 1978
Ou no de 9 de Maio de 1978 um artigo sobre o ilustrador francês Folon:
Ou um artigo sobre o jornalismo italiano nos anos de chumbo da extrema-esquerda das Brigate Rosse...
Antes de 25 de Abril de 1974 tal revista, à semelhança de outras sobre assunto similar ( mulheres nuas mas sem grande explicitação carnal) não se vendia em Portugal. A pornografia em papel era assunto de contrabando e venda por baixo do balcão de livrarias e papelarias, mas esta revista que não se enquadrava nesse género hard-core não tinha curso livre em Portugal. Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e consequência da proibição desse fruto, o desejo enchia bancas de jornais, na rua e arredores, numa exposição por vezes obscena e desregulada de rasquice a esmo. Nessa altura a pornografia em papel misturava na rua e nos passeios ( no Rossio, por exemplo) o sexo com a divulgação das obras comunistas até então proibidas, numa amálgama apropriada. O mesmo se passou com filmes "proibidos", como por exemplo O Último Tango em Paris do então comunista Bertolluci.
Assim, o primeiro número que me lembro de ter folheado e eventualmente comprado da Playboy, foi o de Novembro de 1974, chegado cá no final desse ano, aí por 55$00, segundo julgo lembrar-me.
A revista era um must nessa altura, com 250 páginas bem nutridas de textos e publicidades e as tais gajas nuas que apareciam relativamente recatadas em reportagens fotográficas de luxo plastificado a papel lustroso. Mulheres de modelo americano, de cinema, altas, esguias e inacessíveis. Mulheres de papel.
Para além desse recheio julgado pernicioso para olhos portugueses e portanto censurado antes de 25 de Abril de 1974, a revista que folheei por altura do Natal desse ano, revelava-se um viveiro de artigos interessantes e ilustrações a condizer, com publicidades apelativas a produtos que por cá não apareciam. Para além dos anúncios a álcool e tabaco, agora passados estes anos terminantemente proibidos como tal, havia ainda páginas e páginas a mostrar carros, motas, aparelhagens hi-fi, perfumes, roupas, etc etc. com convite descarado a um consumo que por cá era ainda impossível.
Passada a relativa surpresa das páginas centrais e adjacentes, figurava-se a revista em várias ilustrações irresistíveis e por isso aqui ficam.
Em primeiro lugar as páginas de publicidade a produtos de consumo:
E uma publicidade de outro número e que mostra o que era o "Marlboro Man" que alguns anos depois não gostava dos Clinton...e estes retribuíam do modo que sabiam e podiam.
Depois um capítulo que marcou a revista: as entrevistas "tipo Playboy" que inspiraram um Artur Portela Filho , em 1976 a tentar copiar o estilo, sem a substância. Neste caso, Hunter Thompson, um dos maiores inimigos de Nixon e que escrevia na revista Rolling Stone, sobre tudo, sendo um dos paradigmas do "novo jornalismo" que aparecera na América.
Depois os artigos da revista, com textos interessantes e alguns de autores consagrados ( Norman Mailer, por exemplo, ou John Updike) .
Alguns ilustrados de modo a suster a respiração pela novidade estética e gráfica, como este que explorava a tendência de então para o grafismo a aerógrafo, coisa que desapareceu do panorama ilustrativo.
Ou este clássico de Vargas, autor que chegou a ilustrar a capa de um disco dos Cars, nos anos oitenta (Candy-O)
E também os cartoons, como este de Gahan Wilson.
Ou este com um traço mais straight, de Smilby, também mais aproximado à temática da revista...
Ou esta publicidade a uma nova publicação que então me despertou a atenção mas nunca vi porque nunca apareceu por cá:
Outra revista que foi novidade para mim, nos anos setenta, foi a Esquire. Dei por ela nos quiosques, por volta de 1978.
A Esquire tinha sido a revista onde Hugh Hefner trabalhara antes de fundar a Playboy. Os jornais de hoje contam a história acerca de Hefner ter deixado a revista por não ter sido aumentado nos cinco dólares que tinha pedido, mas não indicam onde leram a história a primeira vez.
Ora aparece aqui, na Esquire de Dezembro de 1979, num artigo de Gay Talese sobre aquele antigo colaborador. Vem na última página de um artigo extenso, em duas partes, publicado nesse número da Esquire e no anterior.
A Esquire tinha colaboradores do género da Playboy mas sem as mulheres e menos ilustrações. Mas tinha bons artigos.
Por exemplo no número de 4 de Julho de 1978
Ou no de 9 de Maio de 1978 um artigo sobre o ilustrador francês Folon:
Ou um artigo sobre o jornalismo italiano nos anos de chumbo da extrema-esquerda das Brigate Rosse...
quarta-feira, setembro 27, 2017
A Cultura Portuguesa vista antes de 1970
A Fundação Calouste Gulbenkian teve um serviço itinerante de biblioteca, em todo o país, desde o início dos anos sessenta do século passado.
Segundo se conta aqui, tal serviço foi organizado pelo escritor Branquinho da Fonseca, a pedido do então presidente da Fundação, Azeredo Perdigão.
A par da distribuição, por empréstimo gratuito e mensal, de livros, a "Biblioteca" como se chamava nas aldeias por onde passava, entregava um Boletim periódico com um concentrado de cultura humanista, eventualmente orientado pelas mesmas pessoas.
Na altura era leitor da Biblioteca ( com o nº 1637) e coleccionei tais boletins que então pedi, tendo-me sido oferecidos os que existiam na época, ou seja a I e II Séries e depois a Série III que se iniciou em...1975.
A nova série apresentava-se assim, auspiciosamente, encetando a revolução cultural à moda da casa, dirigida por um Vitor Silva Tavares que só pode ser este, já falecido e que era o editor da &etc. também um companheiro de percurso da esquerda comunista. Também aparece o beneficiário da generosidade de um capitalista de antanho: Luiz Pacheco, o escritor que vivia por vezes a expensas de Manoel Vinhas. Os kamaradas não lhe davam p´ra comer...
Antes dessa tomada de poder comunista na Gulbenkian, porém, o tempo era outro.
Em 1970 saiu o nº 18 da II Série de tal Boletim, dedicado à Cultura Portuguesa. O nº1 dessa II Série publicara-se em 1964 com um número dedicado ao "romance", como género literário.
O nº 9 da II Série, de 1967 é dedicado integralmente à "cultura medieval" e conto publicar aqui para informação geral e proveito de quem o tire.
Fica aqui, integralmente, tal Boletim nº 18, na parte que interessa. Fica aqui o que tínhamos e temos para oferecer como "mostra" da nossa cultura secular e considerações avulsas acerca do valor da mesma.
Tendo em atenção que os responsáveis pela Fundação, nessa altura, eram pessoas que não afeiçoavam particularmente o regime vigente, este escrito aproxima-se muito do de Soares Martinez, no valor que é atribuído à Cultura Portuguesa e pelos mesmos motivos: a sua ancestralidade e significado histórico.
Antes disso , porém, na I Série tal Boletim publicou no nº 7 de 1963 estas páginas sobre o tema dos descobrimentos portugueses, abordado sob a perspectiva da "Literatura de Viagens":
Segundo se conta aqui, tal serviço foi organizado pelo escritor Branquinho da Fonseca, a pedido do então presidente da Fundação, Azeredo Perdigão.
A par da distribuição, por empréstimo gratuito e mensal, de livros, a "Biblioteca" como se chamava nas aldeias por onde passava, entregava um Boletim periódico com um concentrado de cultura humanista, eventualmente orientado pelas mesmas pessoas.
Na altura era leitor da Biblioteca ( com o nº 1637) e coleccionei tais boletins que então pedi, tendo-me sido oferecidos os que existiam na época, ou seja a I e II Séries e depois a Série III que se iniciou em...1975.
A nova série apresentava-se assim, auspiciosamente, encetando a revolução cultural à moda da casa, dirigida por um Vitor Silva Tavares que só pode ser este, já falecido e que era o editor da &etc. também um companheiro de percurso da esquerda comunista. Também aparece o beneficiário da generosidade de um capitalista de antanho: Luiz Pacheco, o escritor que vivia por vezes a expensas de Manoel Vinhas. Os kamaradas não lhe davam p´ra comer...
Antes dessa tomada de poder comunista na Gulbenkian, porém, o tempo era outro.
Em 1970 saiu o nº 18 da II Série de tal Boletim, dedicado à Cultura Portuguesa. O nº1 dessa II Série publicara-se em 1964 com um número dedicado ao "romance", como género literário.
O nº 9 da II Série, de 1967 é dedicado integralmente à "cultura medieval" e conto publicar aqui para informação geral e proveito de quem o tire.
Fica aqui, integralmente, tal Boletim nº 18, na parte que interessa. Fica aqui o que tínhamos e temos para oferecer como "mostra" da nossa cultura secular e considerações avulsas acerca do valor da mesma.
Tendo em atenção que os responsáveis pela Fundação, nessa altura, eram pessoas que não afeiçoavam particularmente o regime vigente, este escrito aproxima-se muito do de Soares Martinez, no valor que é atribuído à Cultura Portuguesa e pelos mesmos motivos: a sua ancestralidade e significado histórico.
Antes disso , porém, na I Série tal Boletim publicou no nº 7 de 1963 estas páginas sobre o tema dos descobrimentos portugueses, abordado sob a perspectiva da "Literatura de Viagens":
terça-feira, setembro 26, 2017
A História dos ventos
Pedro Soares Martinez tem hoje um artigo no O Diabo que refere o nosso esplendor passado e que segundo ele perdura no presente.
Em suma, os portugueses podem estar orgulhosos dos seus feitos de um passado que só nos honra e enobrece.
Tenho algumas dúvidas que passo a expor, depois de apresentar o escrito:
Segundo se lê, Portugal iniciou a sua decadência por mor dos efeitos da Reforma. Antes, quem mandava era o Papa e todos os países obedeciam aos mandamentos. Em relação a Portugal ( e Espanha, católica como nós) havia a posição oficial da Santa Sé em considerar os mares nunca antes navegados como praia nossa, pivativa. Mare Clausum.
Tudo corria bem e Portugal podia explorar as riquezas dos lugares de Além-Mar até que por efeito da Reforma, os países "emergentes" da época se tornaram potências e impuseram o "Mare Liberum" e tudo se foi desmoronando e até a Espanha se virou contra nós.
A nossa descolonização, de facto, começou há séculos e foi imposta de fora pelos efeitos da retirada do proteccionismo da Santa Sé.
Isto é o que se lê, acima.
Porém, pode ler-se outras coisas que não desmentindo a tese de fundo, apara-lhe a simplicidade e acrescenta-lhe outro contexto.
Segundo contam os franceses da revista Historia de Maio de 2010 a influência da Santa Sé era notória e inegável mas o apogeu dessa glória ocorreu no início do séc. XIII. Depois disso foi sempre a cair e até houve dois papas no final do séc XIV ( 1378) e já no início do séc. XVI o das nossas Descobertas, o Papa foi perseguido pelos luteranos ( Fransberg) e teve que se refugiar. Depois disso as guerras por causa da Reforma podem justificar tal tese. Em 1800 Napoleão era quem mandava e o Antigo Regime tinha acabado.
Não obstante, a Reforma foi um dos ventos dessa História. Como conta outra revista francesa, L´Histoire, de Maio de 2013, a Alemanha começou a surgir como potência logo no início do séc. XVI, ou seja aquando das nossas Descobertas.
As "95 teses" de Lutero foram afixadas na porta da igreja de Wittenberg em 31 de Outubro de 1517, faz agora muitos anos numa data redonda.
Mas tal foi o começo da Reforma, a verdade é que a Alemanha já começara a evoluir muito antes para a Modernidade. Até a Cartografia das Descobertas teve ajuda deles...
E nós, nesse tempo o que fizemos? A revista L´Histoire de Abril de 2014, consagrada a Portugal tenta explicar:
Ocupamo-nos do Brasil e do pau-brasil e cana do açúcar, em primeiro lugar. Na altura haveria por aí algumas, poucas, dezenas de milhar de portugueses, contra mais de dois milhões de índios autóctones. Pouca gente para trabalhar, problema que foi resolvido assim: importação de mão de obra, vinda de Angola. Escrava. Em três séculos ( 1550 a 1850) calcula-se que tenham vindo para o Brasil, desse modo, cerca de 4 milhões de escravos, traficados em barcos portugueses.
Primeiro para os "engenhos" do açúcar e depois para a exploração do ouro. Total do ouro trazido do Brasil? Cerca de 876 toneladas. Mais ou menos o que tínhamos guardado no Banco de Portugal, em 1974...
Resultado? Declínio logo no final do séc. XVIII. E não se deveu à Reforma e ao "mare liberum"...
A Alemanha, no mesmo período, viu surgir a sua Renascença e a origem da sua pujança. Porque é que isto sucedeu assim? Por causa da Reforma? Não me parece. Deve haver outros motivos bem mais interessantes.
Que ventos é que sopraram para eles que não quiseram soprar para nós?
Em suma, os portugueses podem estar orgulhosos dos seus feitos de um passado que só nos honra e enobrece.
Tenho algumas dúvidas que passo a expor, depois de apresentar o escrito:
Segundo se lê, Portugal iniciou a sua decadência por mor dos efeitos da Reforma. Antes, quem mandava era o Papa e todos os países obedeciam aos mandamentos. Em relação a Portugal ( e Espanha, católica como nós) havia a posição oficial da Santa Sé em considerar os mares nunca antes navegados como praia nossa, pivativa. Mare Clausum.
Tudo corria bem e Portugal podia explorar as riquezas dos lugares de Além-Mar até que por efeito da Reforma, os países "emergentes" da época se tornaram potências e impuseram o "Mare Liberum" e tudo se foi desmoronando e até a Espanha se virou contra nós.
A nossa descolonização, de facto, começou há séculos e foi imposta de fora pelos efeitos da retirada do proteccionismo da Santa Sé.
Isto é o que se lê, acima.
Porém, pode ler-se outras coisas que não desmentindo a tese de fundo, apara-lhe a simplicidade e acrescenta-lhe outro contexto.
Segundo contam os franceses da revista Historia de Maio de 2010 a influência da Santa Sé era notória e inegável mas o apogeu dessa glória ocorreu no início do séc. XIII. Depois disso foi sempre a cair e até houve dois papas no final do séc XIV ( 1378) e já no início do séc. XVI o das nossas Descobertas, o Papa foi perseguido pelos luteranos ( Fransberg) e teve que se refugiar. Depois disso as guerras por causa da Reforma podem justificar tal tese. Em 1800 Napoleão era quem mandava e o Antigo Regime tinha acabado.
Não obstante, a Reforma foi um dos ventos dessa História. Como conta outra revista francesa, L´Histoire, de Maio de 2013, a Alemanha começou a surgir como potência logo no início do séc. XVI, ou seja aquando das nossas Descobertas.
As "95 teses" de Lutero foram afixadas na porta da igreja de Wittenberg em 31 de Outubro de 1517, faz agora muitos anos numa data redonda.
Mas tal foi o começo da Reforma, a verdade é que a Alemanha já começara a evoluir muito antes para a Modernidade. Até a Cartografia das Descobertas teve ajuda deles...
E nós, nesse tempo o que fizemos? A revista L´Histoire de Abril de 2014, consagrada a Portugal tenta explicar:
Ocupamo-nos do Brasil e do pau-brasil e cana do açúcar, em primeiro lugar. Na altura haveria por aí algumas, poucas, dezenas de milhar de portugueses, contra mais de dois milhões de índios autóctones. Pouca gente para trabalhar, problema que foi resolvido assim: importação de mão de obra, vinda de Angola. Escrava. Em três séculos ( 1550 a 1850) calcula-se que tenham vindo para o Brasil, desse modo, cerca de 4 milhões de escravos, traficados em barcos portugueses.
Primeiro para os "engenhos" do açúcar e depois para a exploração do ouro. Total do ouro trazido do Brasil? Cerca de 876 toneladas. Mais ou menos o que tínhamos guardado no Banco de Portugal, em 1974...
Resultado? Declínio logo no final do séc. XVIII. E não se deveu à Reforma e ao "mare liberum"...
A Alemanha, no mesmo período, viu surgir a sua Renascença e a origem da sua pujança. Porque é que isto sucedeu assim? Por causa da Reforma? Não me parece. Deve haver outros motivos bem mais interessantes.
Que ventos é que sopraram para eles que não quiseram soprar para nós?