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terça-feira, março 31, 2009

A falar é que a gente se entende.

Numa entrevista ao Expresso, em Outubro de 1984, o antigo PGR, Cunha Rodrigues, pronunciou-se abertamente sobre estas questões da autonomia do MP, relacionados com os poder político versus judicial e disse assim:

Cunha Rodrigues- " O nosso país, em termos de independência de magistrados, está muito bem. Mas, nos últimos anos (nessa altura, antes dos casos de investigações a desvios de verbas do Fundo Social Europeu, do Ministério da Saúde, Melancia, etc), a opinião pública teve a percepção de que havia iniciativas políticas que apareciam como resposta a actos ou decisões dos magistrados. E isso é uma claríssima limitação à independência dos tribunais.

Expresso- Não quer indicar um exemplo?
Cunha Rodrigues- Não, porque penso que não é especialmente grave. Mas, em termos de aparência, isso já aconteceu.

Expresso- E esses actos criam um ambiente de crispação entre o poder político e a magistratura?
Cunha Rodrigues- Mais que isso: legitimam-nos a nós, magistrados, para nos colocarmos numa posição de atenção, de defesa, e para usarmos a palavra, se necessário, em prol da independência dos tribunais."

Expresso- Quer dizer que os magistrados não se devem calar?
Cunha Rodrigues- Quero dizer que há um limite e que a certa altura devem usar da palavra. Há um pouco a ideia de que os magistrados devem ser discretos e apagados. É um fenómeno tão universal que foi preciso uma recomendação, aprovada sob os auspícios da ONU, dizendo que os magistrados têm o direito e até o dever de falar quando houver questões relacionadas com os direitos do Homem, com a Justiça, com as liberdades ou com a independência dos tribunais."

36 comentários:

  1. Muitíssimo oportuno, José. Repescar este excerto é uma excelente resposta a quem defende que tudo deve ficar na mesma.
    Estas situações fazem-me lembrar aqueles julgamentos onde a prova passa à frente dos "nossos" olhos e "nós" viramos a cara para fingir que não é nada connosco.

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  2. Opine sobre o seu post José, please :-)

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  3. Constituição da República Portuguesa:

    Artigo 1º: Ninguém faz broches. Eles apenas aparecem feitos.

    PS. Leonor: AMO-TE

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  4. Comentar o postal?

    Mais palavras para quê?

    Quando está em causa uma questão relacionada com direitos do Homem, com a Justiça, com as liberdades ou com a independência dos tribunais, os magistrados têm o direito e o dever de falar.

    Basta ter isto presente, para não fazer um comunicado como o que apareceu.

    Aliás, não é com comunicados destes que se param estas coisas, porque o Sindicato reafirmou tudo outra vez, hoje, já depois da divulgação da PGR.

    Assim, o que temos em causa, é mais grave: é o papel do PGR em relação aos magistrados em geral. É o problema do estatuto que está em causa e é isso que será preciso discutir, mais que nunca.

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  5. Pois José tem toda a razão!
    Direitos dos Homens...
    Qual a sua opinião do Cunha Rodrigues?

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  6. Sobre Cunha Rodrigues?

    Tem vários artigos meus sobre o indivíduo. Aqui mesmo nos arquivos, logo no início.

    Pode procurar...

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  7. Nos arquivos, em Domingo, 18 Janeiro de 2004: está lá tudo o que penso e posso dizer publicamente.

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  8. E verifiquei agora que a entrevista de CUnha Rodrigues é de Outubro de 1984!

    Tem 25 anos!

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  9. Karocha:
    tem o livro "Comunicar e Julgar", de Cunha Rodrigues, que se lê muito bem.

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  10. Não Leonor, tenho outros o do Rui Mateus e mais alguns...
    Obrigada José :-)
    Leonor
    Tenho Sartre, mas o que eu gosto mais é Sun Tzu!

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  11. Era de Cunha Rodrigues que falávamos, não era? :)
    Sun Tzu? Não conheço. Também tenho Sartre e o Rui Mateus fiz download quando circulou pela net. :)

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  12. Então leiam agora A ascensão do dinheiro, de Niall Ferguson, um professor de História, em Harvard e investigador em Oxford.

    É um livro que se lê muito bem, sem grandes complicações ou "teses" á Pedro Arroja.

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  13. No Público de 14-2-2009, sobre Lopes da Mota: "Sobretudo devido ao caso Casa Pia, em 2005, depois do regresso do PS ao poder nas legislativas desse ano, a substituição de Souto de Moura no cargo de procurador-geral da República figurava entre as prioridades da direcção socialista. Lopes da Mota chegou a ser um dos nomes falados para substituir o PGR, mas na altura foram tornadas públicas suspeitas de que teria fornecido a Fátima Felgueiras uma cópia da denúncia anónima sobre o "saco azul" socialista. O inquérito aberto pelo procurador-geral Souto de Moura foi arquivado por falta de qualquer tipo de provas nesse sentido. Na década de 80, tinha sido procurador em Felgueiras."

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  14. Não Leonor?
    existem outros,"Coração de Cão",Selma Lagerlof, estão encaixotados, não é preciso fazer Download!
    Beauvoir sempre achei uma estucha.

    Mas tem uma frase notável "uma mulher não nasce mulher,torna-se mulher"

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  15. Conheço Lopes da Mota, do trabalho que fez em Felgueiras.Sei porque vi, no início dos anos noventa.
    Era um magistrado com categoria técnica, de alto valor referencial como pessoa e também na carreira.

    Felgueiras é uma vilória, com poucas pessoas que contam e entre elas, a inevitável Fátima Felgueiras e o então seu marido, Sousa Carvalho ( acho que é assim que se chama) advogado na vila.

    Lopes da Mota quando foi promovido, nessa altura, já se falava num futuro com boas abertas: esteve na PGR onde se destacou em trabalho "diplomático", com Cunha Rodrigues. Acompanhava-o sempre que este se deslocava à província e fazia de secretário do então PGR. Atento.
    Quando Guterres ascendeu em 1995, não fiquei admirado em vê-lo como Secretário de Estado da Justiça, do ministro Vera Jardim. Merecido.

    Provavelmente Lopes da Mota é da Maçonaria. Tem todo o perfil disso.

    A questão que se deve colocar agora a Lopes da Mota é muito simples: soube do teor da carta rogatória expedida aos ingleses?
    Informou alguém do governo sobre o seu conteúdo?

    São duas perguntas simples e directas que é preciso fazer.

    Isso, independentemente do valor pessoal e profissional que reconheço ao José Luís Lopes da Mota.

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  16. E Sabe quem eu admiro Leonor?
    A Sharon Stone!
    Mulher linda, e inteligente, sabe o que ela fez na cimeira de Davos de Jeans e sem pintura???

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  17. Karocha: Uma mulher é sempre uma mulher, basta que se assuma(contra ventos e intempéries).

    Já registei a sugestão, José. Obrigada.

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  18. José
    O Grão- Mestre da Maçonaria é o Duque de Kent, pela simples razão, que a Maçonaria é masculina, senão seria a Isabel Maria Alexandra!!!

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  19. A Maçonaria em Inglaterra é sociedade aberta. É como os rotários,por cá.

    Aqui, a Maçonaria é sociedade secreta.
    Mas não se coibem de atacar o anonimato: nas queixas, nos blogs e coisa assim.

    É preciso ter lata.

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  20. «A questão que se deve colocar agora a Lopes da Mota é muito simples: soube do teor da carta rogatória expedida aos ingleses?
    Informou alguém do governo sobre o seu conteúdo?
    São duas perguntas simples e directas que é preciso fazer.»


    José, e se ele responder apenas "não" a ambas? Que pode ou deve suceder?

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  21. LooooLLLLLL

    José, eles lá sabem o que andam a esconder!!!!

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  22. VML

    Tem um ataque cardíaco como o outro!

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  23. Leonor,

    Sun Tzu foi um general chinês, que ainda hoje se considera ter sido um dos melhores estrategos de todos os tempos. Escreveu "A Arte da Guerra" (penso ser este o livro que a Karocha referiu).
    Se tiver interesse em ler, tem aqui um link para fazer download :

    A Arte da Guerra - Sun Tzu
    Está em Português do Brasil, mas como estes políticos já assassinaram a nossa língua é bom que nos vamos habituando ...

    Quanto ao Zé dos Plásticos, penso que já entendeu o significado.

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  24. Não basta que ele diga não. É preciso primeiro dizer se soube do conteúdo e se reportou a alguém em razão das suas funções.

    Mesmo informalmente.

    As duas perguntas são essas, mas o modo de as fazer pode variar.

    Primeiro é preciso conhecer a lei sobre a cooperação judiciária internacional em matéria penal. Depois confrontá-lo com essas matérias.

    Por exemplo: como é que o Eurojust lidou com a circunstância factual e noticiada de se por em equação a constituição de equipas conjuntas entre Portugal e Inglaterra.
    A lei obriga a que se comunique tal eventualidade ao governo, para uma questão logística ( e também, lojística, talvez).

    Por isso, é importante saber isso.

    Nenhum jornalista até hoje quis saber isso.

    Não percebo porquê, uma vez que é mais importante saber isso do que saber se o Lopes da Mota deu palpites avulsos sobre o processo.

    Palpites são palpites e mais nada.

    Agora é um facto que o Mota tem andado nestas coisas últimas. Há referências da sua intervenção informal no caso Felgueiras. E isto não é nada bom.

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  25. E na minha página também!
    Irra que são estúpidos...

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  26. A Procuradora Cândida Almeida "explicou" isso na televisão. Disse que não era tolerável que estrangeiros metessem o bedelho em investigações a portugueses. Tenho a impressão que ela não tem televisão, sequer.

    PS: Eu acho que quem estava previsto ir a essa reunião era a PJ de Setúbal, e não a equipa do DCIAP, diz-se para sacar nabos da púcara, mas isto sou eu que sou maluco e vejo conspiração em todo o lado, deve confiar-se na justiça e deixá-la seguir o seu rumo, como eles (lojistas) dizem...

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  27. Colemar, embora, à partida, não esteja muito interessada no tema, agradeço o link.

    Quanto ao Zé dos plásticos, que posso eu dizer-lhe?
    Talvez, sugerir-lhe que tente perceber quando escrevo a sério - enquanto expressão da minha opinião - e quando brinco ou ironizo.
    No caso do Zé dos plástico, foi simples tentativa de ironia e humor :)

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  28. Entretanto, Lopes da Mota já desmentiu tudo.
    Repudia tudo.

    Não percebo a razão de o PGR ter divulgado o nome dele como suspeito.

    Acho incrível.

    Amanhã há mais.

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  29. LoooLLLLLL

    Devem ler Maquiavel! eheheheheheh

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  30. A ler:

    http://www.vickbest.blogspot.com


    designadamente



    http://vickbest.blogspot.com/2009/03/quem-investiga-podridao-que-grassa-na.html

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  31. sem grandes complicações ou "teses" á Pedro Arroja
    Hehe. Ainda tenho à frente o "Arte de ser Português" recomendado pela velha raposa... Mas vou comprar esse também. -- JRF

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  32. Só não entendo qual a capacidade influência ou persuasão que o Dr. Lopes da Mota, na situação actual e a partir da Eurojust, pode exercer sobre colegas no DCIAP que possa ser entendida como "pressão insustentável".

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  33. Bem observado, Maria. O que remete para outra ordem de considerações: as que implicam a promiscuidade entre altos responsáveis do MP e os executivos, com destaque para este.

    É preciso que se saiba que há magistrados do MP no Eurojust e que também há pessoas ligadas ao governo actual.
    Por exemplo, um tal Guerra que é irmão de João Guerra, procurador-adjunto do Mp que investigou e acusou no processo Casa Pia e também o processo Cova da Beira.

    Não se trata aqui de colocar dúvidas à isenção do João Guerra que dou de barato ser um facto. Trata-se apenas de dizer que estas coisas são como são e poderiam ser diferentes.
    À mulher de César não basta ser séria e é esse o problema que está a causar engulhos demasiado óbvios.

    Estas coisas vêm sempre ao de cima e só não atenta nisto quem anda muito distraído ou não sabe.

    Em casos destes, os magistrados devem pedir escusa por causa das dúvidas e para salvaguardar as aparências porque basta uma pequena aparência de falta de isenção para que a suspeita se instale.
    E não deve instalar.

    Como disse, não pretendo lançar lama por cima desses magistrados, mas apenas alertar para o problema que estas coisas constituem e é de bom senso atender.

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  34. maria
    josé

    quanto ao post da maria, que contém uma questão importante, penso que poderá facilitar a resposta a essa pergunta se lhe retirarmos a expressão "na situação e a partir da Eurojust", porquanto talvez não seja relevante buscar no enquadramento factual actual e nas funções pelo Senhor Magistrado desempenhadas eventuais capacidades "persuasórias" deste

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