Roman Polanski nasceu em 1933, de família com ascendência católico-judaica e com seis anos vivia em Cracóvia ocupada pelos nazis. A mãe foi levada por estes, para o campo de concentração de Auschwitz, de onde nunca mais voltou. O pai sobreviveu ao campo de Mauthausen. Polanski foi protegido por outras famílias polacas e foi maltradado, gravemente ( tem uma placa metálica na cabeça, por causa disso). A fome e os maus tratos de infância eram recordados pelo mesmo, assim, numa entrevista à revista americana Rolling Stone, no número de 2 de Abril de 1981:
" Esses dias eram difíceis por duas razões", diz em modo calmo. "Uma era simples: passávamos fome. É mais fácil a uma criança aguentar isso do que uma mãe cujo filho tem fome." A voz baixa. "A outra razão por que era tão difícil, devia-se à ausência dos meus pais. Era muito pequeno e sentia muito a sua falta. Isto é instintivo para uma criança. Não se pode compensar. Não há modo de o ultrapassar." Pausa. "Ficava à espera de os voltar a ver."
Esta entrevista de Polanski àquela revista, tinha o pretexto do filme Tess que o realizador acabara de rodar e o artigo menciona o acontecimento como "uma desculpa ao público e imprensa americanos pela sua fuga à lei, em 1978. Em Fevereiro desse ano, Polanski considerou-se culpado de acusações de relações sexuais ilegais ( unlawful sexual intercourse) com uma menor de 13 anos. Cumpriu 42 dias de detenção no Instituto da California para Homems de Chino, submetendo-se a testes psiquiátricos. E então fugiu para Paris. Continua fugitivo; não pode colocar o pé nos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá ou qualquer outro país com tratados de extradição com os Estados Unidos. "
A revista, mais à frente, explica Polanski com as suas próprias palavras:
" Praticamente cresci sozinho. Não tive o benefício de uma boa educação que os meus me poderiam ter dado se não houvesse guerra. Mas talvez me tenham dado o primeiro impulso ( first stage). Vim de um meio burguês, um ambiente confortável (pampered background), e talvez esses seis anos da minha vida antes dos nazis aparecerem, criaram este tipo de indivíduo especial que gosta das coisas bem feitas. Quando faço qualquer coisa, tenho de a fazer bem. Como escrever uma carta. Escrevo poucas cartas porque me leva muito tempo a fazê-lo. Rasgo-as e escrevo outra vez até estar mesmo satisfeito. É a diferença entre talento e génio.
Talento é algo com que se nasce, algo que surge naturalmente, com facilidade. Quando se pega nesse talento e se trabalha e trabalha, levando o mais longe possível, isso é génio."
Na actualidade, Polanski tem 76 anos, casado há vários com uma actriz ( Emmanuelle Seigner), com dois filhos ainda pequenos e com uma vida normal de pai de família.
Os acontecimentos das últimas semanas, com a prisão de Polanski na Suíça, na sequência do mandado de captura por aquele facto relatado e acontecido em 1977, dá que pensar.
Em primeiro lugar, que facto foi esse e como se desenvolveu nessa altura?
Diz a BBC da época ( 11.3.1978) que Polanski, então com 43 anos, fora preso pelo facto de ter violado ( rape) uma rapariga de 13 anos, na casa do actor Jack Nicholson.
Estava em liberdade provisória e deveria apresentar-se em tribunal na semana seguinte. Enfrentava uma pena de prisão que poderia chegar aos 50 anos, pelas 4 acusações concretas, iniciais, de violação, sodomia, maus tratos a menor, com drogas à mistura. Mas o julgamento nem sequer seria por essas acusações porque se dera como culpado de algo como "having unlawful sex with the 13-year-old girl", diz a notícia da época, de Agosto de 1977, altura em que o mesmo fora preso num hotel de beverly Hills.
Em Dezembro desse ano de 1977, era para ter ficado 90 dias preso, enquanto era submetido a perícia psiquiátrica, tendo sido libertado ao fim de 42 dias. Então, em Fevereiro de 1978, em liberdade provisória, fugiu para França, com receio de apanhar uma pena de prisão efectiva por vários anos.
Segundo relatos posteriores, do próprio juiz da sentença, era intenção do mesmo aplicar uma pena leve ( light sentence) e expulsá-lo dos Estados Unidos se não tivesse fugido.
E agora, com a prisão e perspectiva de extradição? Vai continuar a prevalecer a ideia original da pena leve e expulsão do país?
Os tempos são outros, os anos passaram e a própria ofendida, já declarou sentir-se indemnizada e portanto o assunto transcende o problema da mesma ofendida, para se concentrar numa dupla questão que se desenvolve actualmente: a questão moral, social e política e a questão penal e processual.
Sobre esta última, diga-se já o que nos reserva a nossa lei nessa matéria:
Um crime de violação consumada ( que já vimos que pode nem ser isso que está em causa) , praticado em 1977, por cá, há muito que teria prescrito, porque a pena, por mais pesada que fosse nessa época ( e não era) prescreveria ao fim do decurso de todo o seu tempo de pena máxima, acrescido de metade.
Em França, onde o realizador reside, o debate sobre a prisão actual, a relevância do crime de há mais de trinta anos e a mudança de mentalidade nas opções criminais dos delitos contra menores, suscitam discussão acesa e que envolve várias personalidades públicas e notórias.
Curiosamente, a discussão não assenta directa e estritamente nos aspectos jurídicos, porque se assim fosse, Polanski não teria sido acolhido em santuário, durante mais de trinta anos sem que alguém se preocupasse com isso. Nenhum político ou personagem mediático se preocupou com o facto de Polanski ter cometido o crime que cometeu, nestes últimos trinta anos. Até lhe deram prémios e é reconhecidamente um dos maiores cineastas mundiais, radicado em...França.
A França não se incomodou com a presença de Polanski no seu território, como cidadão francês, durante este tempo todo, Preocupa-se agora, acenando com os aspectos jurídicos que nunca considerou suficientes para o extraditar ou devolver à procedência do local do crime.
Mas...há uma cisão entre a opinião pública do povo em geral que aprova a prisão do fugitivo e o repatriamento para o local do crime para ser julgado e uma elite de artistas, escritores, intelectuais que pugnam pela libertação do mesmo, em nome da paz jurídica, da prescrição do crime na memória da própria vítima e do senso de equilíbrio derivado destas contradições.
Para acicatar ainda mais esta cisão, alguns intervenientes vieram lançar achas para uma fogueira mediática que se aproxima mesmo da fogueira inquisitorial em que os factos perdem relevância perante outros factores de ponderação de culpas e expiação.
Uma deles é um sobrinho do antigo presidente Miterrand, Frédéric Miterrand. Homosexual assumido, escreveu em 2005 uma espécie de romance autobiográfico que deu que falar agora que foi nomeado ministro da Cultura por Sarkozy. Este leu o livro e afiançou a grande qualidade do mesmo ao tratar do turismo sexual na Tailândia e das aventuras homosexuais do autor com rapazinhos de idade acima do limiar da pedofilia. Mesmo assim, o tema e a circunstância e o vigor que o autor colocou na defesa do cineasta polaco, suscitaram uma reacção negativa na população e uma onda de protesto e pedidos de demissão.
Outro que afina por diapasão um pouco diferente é Daniel Cohn Bendit. Distanciou-se dessas elites e do seu próprio passado de libertinagem sexual ( le grand bazar, como lhe chamou) dos anos setenta em que foi apanhado em escritos nitidamente pedófilos. Qual a razão do afastamento dessa solidariedade de classe? Precisamente a justiça de classe: uma para os poderosos e influentes e outra para o cidadão comum que Bendit agora denuncia por receio de ...incoerência.
É neste entreposto que se coloca o teorema Polanski: juridicamente é assunto pendente nos USA. Em França não é e nunca o foi. Em Portugal, idem, por causa do tempo que passou.
Em França, porém, não querem ligar ao tempo jurídico e hipocritamente ligam ao problema de fundo que nunca os incomodou.
E em Portugal, como será?
Até agora, quase ninguém se pronunciou nos media...e no entanto, o problema é interessante.
Quid Juris?
" Esses dias eram difíceis por duas razões", diz em modo calmo. "Uma era simples: passávamos fome. É mais fácil a uma criança aguentar isso do que uma mãe cujo filho tem fome." A voz baixa. "A outra razão por que era tão difícil, devia-se à ausência dos meus pais. Era muito pequeno e sentia muito a sua falta. Isto é instintivo para uma criança. Não se pode compensar. Não há modo de o ultrapassar." Pausa. "Ficava à espera de os voltar a ver."
Esta entrevista de Polanski àquela revista, tinha o pretexto do filme Tess que o realizador acabara de rodar e o artigo menciona o acontecimento como "uma desculpa ao público e imprensa americanos pela sua fuga à lei, em 1978. Em Fevereiro desse ano, Polanski considerou-se culpado de acusações de relações sexuais ilegais ( unlawful sexual intercourse) com uma menor de 13 anos. Cumpriu 42 dias de detenção no Instituto da California para Homems de Chino, submetendo-se a testes psiquiátricos. E então fugiu para Paris. Continua fugitivo; não pode colocar o pé nos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá ou qualquer outro país com tratados de extradição com os Estados Unidos. "
A revista, mais à frente, explica Polanski com as suas próprias palavras:
" Praticamente cresci sozinho. Não tive o benefício de uma boa educação que os meus me poderiam ter dado se não houvesse guerra. Mas talvez me tenham dado o primeiro impulso ( first stage). Vim de um meio burguês, um ambiente confortável (pampered background), e talvez esses seis anos da minha vida antes dos nazis aparecerem, criaram este tipo de indivíduo especial que gosta das coisas bem feitas. Quando faço qualquer coisa, tenho de a fazer bem. Como escrever uma carta. Escrevo poucas cartas porque me leva muito tempo a fazê-lo. Rasgo-as e escrevo outra vez até estar mesmo satisfeito. É a diferença entre talento e génio.
Talento é algo com que se nasce, algo que surge naturalmente, com facilidade. Quando se pega nesse talento e se trabalha e trabalha, levando o mais longe possível, isso é génio."
Na actualidade, Polanski tem 76 anos, casado há vários com uma actriz ( Emmanuelle Seigner), com dois filhos ainda pequenos e com uma vida normal de pai de família.
Os acontecimentos das últimas semanas, com a prisão de Polanski na Suíça, na sequência do mandado de captura por aquele facto relatado e acontecido em 1977, dá que pensar.
Em primeiro lugar, que facto foi esse e como se desenvolveu nessa altura?
Diz a BBC da época ( 11.3.1978) que Polanski, então com 43 anos, fora preso pelo facto de ter violado ( rape) uma rapariga de 13 anos, na casa do actor Jack Nicholson.
Estava em liberdade provisória e deveria apresentar-se em tribunal na semana seguinte. Enfrentava uma pena de prisão que poderia chegar aos 50 anos, pelas 4 acusações concretas, iniciais, de violação, sodomia, maus tratos a menor, com drogas à mistura. Mas o julgamento nem sequer seria por essas acusações porque se dera como culpado de algo como "having unlawful sex with the 13-year-old girl", diz a notícia da época, de Agosto de 1977, altura em que o mesmo fora preso num hotel de beverly Hills.
Em Dezembro desse ano de 1977, era para ter ficado 90 dias preso, enquanto era submetido a perícia psiquiátrica, tendo sido libertado ao fim de 42 dias. Então, em Fevereiro de 1978, em liberdade provisória, fugiu para França, com receio de apanhar uma pena de prisão efectiva por vários anos.
Segundo relatos posteriores, do próprio juiz da sentença, era intenção do mesmo aplicar uma pena leve ( light sentence) e expulsá-lo dos Estados Unidos se não tivesse fugido.
E agora, com a prisão e perspectiva de extradição? Vai continuar a prevalecer a ideia original da pena leve e expulsão do país?
Os tempos são outros, os anos passaram e a própria ofendida, já declarou sentir-se indemnizada e portanto o assunto transcende o problema da mesma ofendida, para se concentrar numa dupla questão que se desenvolve actualmente: a questão moral, social e política e a questão penal e processual.
Sobre esta última, diga-se já o que nos reserva a nossa lei nessa matéria:
Um crime de violação consumada ( que já vimos que pode nem ser isso que está em causa) , praticado em 1977, por cá, há muito que teria prescrito, porque a pena, por mais pesada que fosse nessa época ( e não era) prescreveria ao fim do decurso de todo o seu tempo de pena máxima, acrescido de metade.
Em França, onde o realizador reside, o debate sobre a prisão actual, a relevância do crime de há mais de trinta anos e a mudança de mentalidade nas opções criminais dos delitos contra menores, suscitam discussão acesa e que envolve várias personalidades públicas e notórias.
Curiosamente, a discussão não assenta directa e estritamente nos aspectos jurídicos, porque se assim fosse, Polanski não teria sido acolhido em santuário, durante mais de trinta anos sem que alguém se preocupasse com isso. Nenhum político ou personagem mediático se preocupou com o facto de Polanski ter cometido o crime que cometeu, nestes últimos trinta anos. Até lhe deram prémios e é reconhecidamente um dos maiores cineastas mundiais, radicado em...França.
A França não se incomodou com a presença de Polanski no seu território, como cidadão francês, durante este tempo todo, Preocupa-se agora, acenando com os aspectos jurídicos que nunca considerou suficientes para o extraditar ou devolver à procedência do local do crime.
Mas...há uma cisão entre a opinião pública do povo em geral que aprova a prisão do fugitivo e o repatriamento para o local do crime para ser julgado e uma elite de artistas, escritores, intelectuais que pugnam pela libertação do mesmo, em nome da paz jurídica, da prescrição do crime na memória da própria vítima e do senso de equilíbrio derivado destas contradições.
Para acicatar ainda mais esta cisão, alguns intervenientes vieram lançar achas para uma fogueira mediática que se aproxima mesmo da fogueira inquisitorial em que os factos perdem relevância perante outros factores de ponderação de culpas e expiação.
Uma deles é um sobrinho do antigo presidente Miterrand, Frédéric Miterrand. Homosexual assumido, escreveu em 2005 uma espécie de romance autobiográfico que deu que falar agora que foi nomeado ministro da Cultura por Sarkozy. Este leu o livro e afiançou a grande qualidade do mesmo ao tratar do turismo sexual na Tailândia e das aventuras homosexuais do autor com rapazinhos de idade acima do limiar da pedofilia. Mesmo assim, o tema e a circunstância e o vigor que o autor colocou na defesa do cineasta polaco, suscitaram uma reacção negativa na população e uma onda de protesto e pedidos de demissão.
Outro que afina por diapasão um pouco diferente é Daniel Cohn Bendit. Distanciou-se dessas elites e do seu próprio passado de libertinagem sexual ( le grand bazar, como lhe chamou) dos anos setenta em que foi apanhado em escritos nitidamente pedófilos. Qual a razão do afastamento dessa solidariedade de classe? Precisamente a justiça de classe: uma para os poderosos e influentes e outra para o cidadão comum que Bendit agora denuncia por receio de ...incoerência.
É neste entreposto que se coloca o teorema Polanski: juridicamente é assunto pendente nos USA. Em França não é e nunca o foi. Em Portugal, idem, por causa do tempo que passou.
Em França, porém, não querem ligar ao tempo jurídico e hipocritamente ligam ao problema de fundo que nunca os incomodou.
E em Portugal, como será?
Até agora, quase ninguém se pronunciou nos media...e no entanto, o problema é interessante.
Quid Juris?
Aditamento em 21.10:
O tribunal de recurso suíço, segundo notícias de hoje, negou a pretensão de liberdade provisória a Polanski, enquanto aguarda pela extradição.
Polanski, segundo tudo indica, vai mesmo ser apresentado a julgamento ou sentença, no tribunal do local de onde fugiu, em Fevereiro de 1978: Los Angeles.
Pois é. Este é um case study mais curioso pelas reacções que faz acordar.
ResponderEliminarE eu lembro-me do seu texto do Dr. Jekyll e Mr Hide, pois. E fiquei com pena de não ter lá ido apanhar muito mais coisa antes dos arquivos desaparecerem no limbo virtual.
Mas tenho uma pergunta- o que fundamenta o direito americano onde as penas não prescrevem?
A lei-moral, em si mesma e por si mesma?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMas estive a ver aqueles "serões televisivos" com o Cohn Bendit que a HM linkou e o tipo era (é) um nojo.
ResponderEliminarNão imagino uma vergonha daquelas na nossa televisão, na mesma época.
Que pornochachada mais rasca. E os risinhos daquela intelectualidade toda, à conta das descrições que o labrego fazia das masturbações aos putos da escola.
Um dos argumentos desculpabilizadores que tem sido utilizado pela imprensa francesa e norte-americana, refere o "ambiente e a mentalidade dos anos 70".
ResponderEliminarApesar de toada a permissividade hipoteticamente existente não me recordo de qualquer tolerância para com a pedofilia. Ou sou eu que sou um provinciano?
Até por cá foram publicados textos do Foucault a defendê-la. A defender a não criminização de actos pedófilos que incluíam sodomização.
ResponderEliminarE todo a mitificação literária de Kerouacks ou Burroughs fazem parte dela e até estão na origem de organizações para a sua legalização.
Ia jurar que as entrevistas ao Foucault até foram publicadas pelo Carrilho numa revista filosófica.
O universo do Roland Barthes era esse e mais tarde a coisa popularizou-se com o turismo gay e pedófilo no Norte de África.
ResponderEliminarPor cá era promovido em programas de rádio como a Vox.
Até deu direito a mais- a cisões de organizações gay com a Ilga.
Mas isto já é recente, não é anos 70.
A Nambla tem essa origem "intelectual".
ResponderEliminarE queria dizer Allen Ginsberg e não Kerouac
ResponderEliminarMas há outros exemplos mais antigos. Nos anos 60 o Joaquim Paço d'Arcos publicou romances pedófilos.
ResponderEliminarNão me recordo agora do nome mais eram. Era pedofilia com meninas na pré-puberdade.
OK. Mas isso são algumas elites literárias e ou filosóficas. Se bem que duvido que a influência de Foucault ou Barthes tenha sido alguma neste aspecto. Mas pode-se falar de "ambiente" de tolerância relativamente à pedofilia nos anos 70, em termos gerais? Era um assunto mais escondido, mas tolerado?
ResponderEliminarE mais, pode-se utilizar isso como argumento desculpabilizador?
ResponderEliminarEu nem sabia o que é a Nambla. Já fui ver e afinal sou mesmo um provinciano portanto vou-me calar.
ResponderEliminarA pedofilia comum que existia era familiar e incluia-se noutra coisa- nos habituais espancamentos aos filhos.
ResponderEliminarE isso sim, era tolerado, no sentido em que era abafado.
Sei de dois casos que existiram durante anos na vizinhança.
Um deles foi terrível porque o miúdo era sodomizado no quintal por um tarado maricas que também deixava a mulher em mau estado.
O outro caso só muito tarde vim a perceber.
Uma rapariga violentada pelo pai que acabou a viver em casa de uns tios.
Nunca percebi o motivo pelo qual ela tinha ido para lá viver e chegámos a brincar em miúdas.
Mais tarde casou com outro tipo estranho que deu em militante do PCP mas que trabalhava como bufo para a Pide antes do 25 de Abril.
Teve filhos (um casal) e, mais uma vez, também esses ficaram a viver separados dos pais- a miúda na casa da avó e o miúdo na dos mesmos padrinhos.
Vários anos mais tarde divorciou-se e a minha mãe foi a tribunal como testemunha pelo lado dela.
Foi aí que se soube que a saga continuou e era o marido quem assediava a filha desde criança.
Tudo isto era do conhecimento da família mas "naturalmente" abafado.
Mas a perspectiva "artística e intelectual" é muito mais pertinente. Porque esses sim- defendiam e praticavam sem esse cunho do barbárie do espancamento familiar.
ResponderEliminarA entrevista com o Bendit é um nojo por esse motivo.
Mas havia uma aura de "modernidade" em torno de promiscuidade sexual com crianças.
ResponderEliminarPor cá apareceu depois do 25 de Abril e cheguei a ver um qualquer filme onde ela era praticada com esse tom muito à Bendit.
As organizações gay, quer queiram quer não, nasceram por aí.
O que é surpreendente é que sendo as relações pedófilas relações essencialmente de poder abusador/vítima essa elites de esquerda as validassem. Com que argumentos?
ResponderEliminarToda a razão zazie!
ResponderEliminarApenas uma objecção os espancamentos familiares não se circunscreviam a questões pedófilas e eram muito mais abrangentes como prática.
ResponderEliminarTambém tem razão wegie!
ResponderEliminarSim, mas essa coisa dos espancamentos é hoje BDSM virtual e negócio que envolve sexo e pornografia infantil.
ResponderEliminarNem todos os espancamentos eram acompanhados disso mas grande parte claro que sim. Dantes e sempre.
Quanto a "legitimação teórica de esquerda" a que li foi a tal entrevista ao Foucault.
Ainda devo ter isso guardado não sei onde (sou o oposto do José no que toca a "arquivos").
Aliás, a justificação dele baseava-se num caso concreto.
Mas é assunto que me desagrada sobejamente e por isso também sei pouco.
ResponderEliminarNeste exemplo do Polanski anda por aí o tal duplo Jeckyll/Hide.
Mas passou-se em casa do Nickolson que é um sujeito do mais decadente que existe e que também sempre viveu muito bem com isso.
Nunca vi qualquer ostracização artística ao gajo pelas porcarias que sempre fez.
Zazie:
ResponderEliminarDe facto não me estava a referir aos ambientes intelectuais. Foram sempre decadentes em qualquer época. Referia-me ao "ambiente em geral".
Por exemplo recordo que na minha vizinhança existia uma familia pobre que se reproduzia na ausência de qualquer regra moral. Filhos de pai/filha e irmão/irmã, etc. Eram apontados a dedo e ostracizados. Mas nunca ninguém interferiu no assunto. Era uma coisa "de família". Mas a condenação existia
é capaz de ser isso.
ResponderEliminarComo estive na jardinagem, lembrei-me há pouco de outras coisas estranhíssimas que podiam acontecer sem que houvesse indignação pública e muito menos denúncia à polícia.
No prédio onde agora moro e que é de família, viveu uma sujeita "prisioneira" dentro de casa até morrer.
Teve relações sexuais sem ser casada, das quais nasceu uma menina (lindíssima que ainda me lembro dela- à mãe nunca vi).
A irmã (que por alcunha de pescoço comprido, era conhecida pela girafa) encarcerou-a a vida inteira e dizem que nunca mais veio sequer à rua.
No dia em que morreu, pegaram nas roupas delas e fizeram uma fogueira no quintal (quintal esse pegado com o que agora é o meu).
A filha continuou a ser criada pela tia e depois casou e este caso nunca foi falado.
No mesmo bairro, uma grunha matou uma criadita a pontapé na barriga para a fazer vomitar qualquer comida que esta teria comido sem autorização.
Ambos os casos eram conhecidos e nunca deram direito a nada.
Se existia condenação, nestes dois casos apenas por se falar.
A girafa viveu e morreu sem que nunca ninguém lhe pedisse batatinhas por ter uma irmã prisioneira dentro de casa.
Afinal, era ela que até sustentava ambas- a irmã e a filha.
Isto serve também para aquelas tiradas da famosa "superioridade da "civilização ocidental" contra a barbárie "lá longe". A diferença são uns anos. Nem meio século.
ResponderEliminarEssa condenação que existia era a condenação pela "imoralidade". Mas na noção de moralidade entrava muita coisa verdadeiramente imoral.
ResponderEliminarO que era preciso era uma qualquer outra "ordem de poder" ou status que lhe desse a respeitabilidade necessária.
No caso da girafa era a "castidade, o facto de ser mais velha e o sustento dado".
Tenho os textos do pastilhas que escrevi sobre estes assuntos e vou (re)publicar, porque continuam actuais e com interesse, passados mais de seis anos.
ResponderEliminarForça, José.
ResponderEliminarEu estava ali ao lado, no Blasfémias na porrada com o eterno tema da moda- a grunhice em nome da "liberdade de expressão" desde que entre a rábula da vitimização judaica e diabolização do "terrorismo muçulmano".
Esse "terrorismo muçulmano" já nem precisa de ser árabe- pode ser porto-riquenho desocupado.
O que é preciso é arranjar os Bons e os Maus- e os morcões blasfemos arranjam-nos para todos os gostos. Neste a vítima é o Wilders. Coitadinho dele- que nasceu mesmo com fronha de vítima.
ehehheh
Este assunto do Wilders e do dogma da liberdade de cagar trampa para cima dos outros a que chamam "liberdade de expressão"- é coisa capaz de me encanitar até dizer chega.
ResponderEliminarE junta sempre quem nasceu para fanático.
Do ponto de vista jurídico, a questão não é interessante. A partir do momento em que se aceita a ideia de prescrição em sede criminal - e eu aceito-a, com excepção talvez do homicídio doloso - também se terá de convir que o homem deve ser deixado em paz, por muito ignóbil que tenha sido o seu comportamento.
ResponderEliminarDefender o contrário seria admitir que o longo braço da justiça se deve estender à vida inteira de uma pessoa, inclusive, mesmo que esta fosse inocente e estivesse incorrectamente indiciada da prática do crime em questão (não é o caso de Polanski, mas podia ser...).
Dito isto, do ponto de vista das reacções dos apoiantes do realizador é que a coisa se torna interessante. Os factos são incompatíveis com uma defesa apaixonada do homem, porque o retratam a uma luz extremamente sombria, para mais nos tempos que correm, relativamente aos quais a pedofilia não poderia ser mais condenável.
Mas quem o defende tem também a noção que a defesa do homem não "passa" mediaticamente se não for apaixonada, tanto quanto o discurso histérico de quem exige agora a sua prisão. Donde a apresentação dos mais espatafúrdios argumentos (como dizer-se que o homem é um excelente realizador, que a menina era uma galdéria, mesmo que com treze anos, etc...).
Enfim, o drama é o de sempre: a impossibilidade de uma discussão civilizada. Demasiado ruído.
impossibilidade de uma discussão civilizada. Demasiado ruído.
Mas o post não falava disso e acho que ninguém por aqui estava a achar muito sensato ir-se agora prender o Polanski.
ResponderEliminarO post fala de outras questões- uma delas bem pertinente- a figura do duplo- a vítima que replica as sevícias que o traumatizaram.
A outra questão tem mesmo a ver com as reacções e, para isso, nem sei o que importa a "discussão civilizada".
Aliás, nem sei em que se traduz uma "discussão civilizada".
A pergunta é esta- cá fala-se no assunto? quem?
A vida dele e os filmes são isso mesmo- a repetição das sevícias traumáticas. É estranho este fenómeno. Não há por aqui "literatura escapista" nem sequer pequenos feitiços estéticos por meras Lolitas. Há mais que e pior que isso.
ResponderEliminarA propósito ou não, também li o Hermano Saraiva e a desmontagem da mistificação do Aristides Sousa Mendes.
ResponderEliminarEsse é que é um tema que sempre afirmei que estava mal contado, quando se diabolizava o Salazar por causa dos judeus.
ED sei isso por proximidade à questão- a minha família fez parte das que acolheram judeus refugiados" e os incluíram em laços familiares.
E essa foi uma política do Salazar em tempo de guerra. Ainda tenho por aí panfletos e encontros desses. Sempre soube isto familiarmente mas era apedrejada quando o referia na blogo.
Diziam que era mentira e absolutamente impossível. Agora le3mbraram-se de recolher as provas e é mesmo assim- mentira foi a fantasia do Aristides a salvar milhares às escondidas do Salazar.
Se escrevesse isto no Blasfémias, aparecia logo o Bernardino do Luck a salivar que estava a defender o terrorismo islâmico.
ResponderEliminarehehehe
Eu acho que a prescrição não deve abranger apenas homicídios dolosos mas toda uma série de crimes como homicidios simples, violações, sequestros , etc.
ResponderEliminarZazie: Quanto aos Judeus tenho a percepção de que existiu uma política subreptícia de acolhimento durante a WWII como afirmas.
Mas o Aristides é só um mito?
Corrijo a prescrição não devia existir para toda uma série de crimes.
ResponderEliminarÉ grande parte mito. Já se sabia há muito. E eu sabia da política do Salazar desde pequena. E não é treta de propaganda ideológica. Foi mesmo assim.
ResponderEliminarO mais curioso era a mistura com laços familiares. Tornavam-se compadres. A minha mãe ainda conta como foi e tem panfletos de encontros para o efeito.
Quanto à prescrição não vejo assim.
ResponderEliminarPor isso deixei a pergunta ao José. Não sei bem de onde vem essa tradição americana. É possível que venha das seitas religiosas. O que também tem piada porque com o divino os gajos tomam uma banhoca e ficam limpos de pecados até à eternidade.
Já com o terreno, a eternidade paga-se até morrer
abhahahaha
Eu também acho que o Salazar não podia almoçar todas as semanas com um anglófilo como o Bissaya Barreto e ter uma política anti-semita.
ResponderEliminarAgora qual é a parte da história do Aristides que é mito?
Não vejo assim em parte. Admito que a "paga" está para além do perdão pessoal de quem pode ter sido ofendido; mas não muito mais que isso.
ResponderEliminarE menos que pagar o desrespeito à Instituição, que parece ser este o caso. Se não fugisse a pena era leve, fugiu e o crime lesa-majestade troca de vítima e de dano.
A parte mito é o nº. Foi mutíssimo menos e fez parte do pacote do próprio Salazar.
ResponderEliminarA prescrição da acção pública existe na maior parte dos sistemas jurídicos para as infracções pouco graves. Para as infracções graves, vários sistemas jurídicos não conhecem este obstáculo ao exercício da acção pública. É nomeadamente o caso dos sistemas de "common law". As legislaturas dos sistemas de direito romano-germânico instituíram para este tipo de infracções, prescrições bem mais longas do que para as infracções benignas, ou então excluíram mesmo toda a prescrição para este tipo de infracções.
ResponderEliminarA prescrição das penas não é tão largamente aceite pelos diferentes direitos. Os direitos de "common law" ignoram-na e os outros direitos limitam-na severamente. Os prazos são geralmente muito longos para as infracções mais graves. A prescrição da pena não chega habitualmente a aplicar-se em certas infracções ou em relação a delinquentes considerados perigosos ou reincidentes.
Eu alinho pela "common law"
Não tenho grande opinião sobre o assunto mas não me agradam excessos de prestar contas às instituições como se fossem divinas.
ResponderEliminarDiscuti muito isto com o Rui de Alarcão que foi meu professor no 1º ano. Bom homem.
ResponderEliminarNeste caso nem há sequer perigo algum de reincidência.
ResponderEliminarReincidência de quê? de drogar meninas, quando até casou com a última que apanhou debaixo da mesa?
ehehe
O tipo era um grande maluco. E parecia um zé ninguém mas lá sacava as miúdas mais giras.
Como digo, o que neste caso me incomoda é a gravidade da violação ser menor que o desrespeito à justiça americana.
ResponderEliminarNão gosto disso. Nem disso, nem de ursos à Roy Bean.
E também acho um exagero uma pena de 50 anos por ter sexo com uma miúda de 13. Com droga e de modo um tanto tosco, mas não mais que isso.
ResponderEliminarNão me agradam exageros. E essa da eternidade terrena é demasiado à Texas para o meu gosto.
Tresanda a puritanismo.
O Aristides mais o vicio do jogo zazie!
ResponderEliminarSabia que o Manuel B. Vivas é tio bisavô do meu filho?
Zazie:
ResponderEliminarO quadro penal é que podia ir até 50 anos. De facto após a sua fuga o juiz revelou que lhe ia aplicar uma pena de poucos anos remível e expulsão do país.
Errata
ResponderEliminarMeus filhos.
Pois, mas agora, o enxofrado é o "quadro penal" e não o juiz da altura e muito menos a "piquena trintona".
ResponderEliminarNão conheço bem a história desses homens mas tenho a percepção que o Schindler não passava de um oportunista explorador de mão-de-obra barata.
ResponderEliminarOs americanos nestas coisas ainda têm o urso na jaula.
ResponderEliminarE eu mato-me a rir com a mistura religiosa quando depois o puritanismo também serve para o céu garantido porque a paga é apenas terrena.
":O)))
Pois... mas é melhor dizer isso à boca fechada antes que o Bernardino Luck oiça e faça aí um pé de vento por estarmos alegadamente, por portas travessas, a ser anti-semitas e a defender o terrorismo muçulmano
ResponderEliminar":O)))))
E a excisão do clítoris, já me esquecia
ResponderEliminarahahah
Desta vez veio com a excisão do clítoris para justificar a crueldade contra o Wilders. Tadinho, só ia lá para se exprimir em inglès. E os defensores da excisão do clítoris não lhe deram essa liberdade.
ahahahahah
Zazie : What are you talking about?
ResponderEliminarahahahahaha
ResponderEliminar":O))))
ahahhaha
ResponderEliminarV.s só blogam com uma janelinha e nem sabem os filmes que perdem.
ahahahah
Estava a falar no que estava teclar noutra janelinha no Blasfémias.
A cena do post do Wilders e o quadrado do Luck que até vê defensores de excisão de clítoris em quem não defende a qualidade histórica do FITNA e a humanidade do senhor Geer Wilders.
Deve ser outra controvérsia marada que mete o politico holandês mais as aversões do costume.
ResponderEliminarMas não me digas que não se apanha facilmente a problemática- Aristides/Schindler/Holocausto- terrorismo da AlQaeda e excisão do clítoris- é tão óbvio, caramba
ResponderEliminarahahahaha
Eles é que falam assim- se não se idolatra o Winders está-se a defender a AlCaeda e a excisão do clítoris. E pior, a impedir a liberdade de expressão
ResponderEliminarahahahah
Aquele maluco até veio com não sei quantos de clítoris arrancados na Somália, por causa da causa santa do Wilders.
Só que essas coisas não devem ser abordadas nessa perspectiva antinómica Indios vs Cowboys como estão a fazer.
ResponderEliminarFoi assim que o Bernardino liberal disse:
ResponderEliminar«Wilders: não à Imigração, Zazie: não à Imigração. Zazie: Widers é um nojo mas isto aquilo e a aquelotro…
Entretanto uma Policia Islâmica na Somalia tem uma função especial:
“…The insurgent group Al Shabaab has sent gunmen into the streets of Mogadishu to round up any women who appear to have a firm bust, residents claimed yesterday.
The women are then inspected to see if the firmness is natural, or if it is the result of wearing a bra.
If they are found wearing a bra, they are ordered to remove it and shake their breasts, residents said….”»
ehehehe
Já me rebolei a rir. Este é o que também diz que vivemos 500 anos sob ditadura régia.
A lógica é espantosa. E o anti-wonder bra da Somália serve para explicar o Fitna.
ResponderEliminarE é por isso que há coisas que nunca mudarão e nem precisam de ideologias para serem assim- basta a ignorância natural com uma pitada de "causa".
A Somália é um país surpreendente:
ResponderEliminartem polícias que são apalpadores de mamas e piratas que são génios empresariais.«Como qualquer outro negócio, a pirataria Somali pode ser explicada em termos puramente económicos. Ela floresce ao explorar os incentivos criados pelo comércio marítimo internacional. As outras partes envolvidas — armadores, seguradoras, segurança privada, e numerosas marinhas de guerra nacionais — ganham mais (ou, pelo menos, perdem menos) a tolerá-la do que a combatê-la seriamente. Quanto aos piratas, as suas crescentes exigências são apenas um método de formação de preços, um modo de medir quanto é que o mercado suporta pagar.»