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segunda-feira, agosto 02, 2010

O cancro da nossa democracia

"Das ilhas Caimão e de Man, paraísos fiscais, não chegaram as informações pretendidas pela investigação."
"A Sean Colidge, o MP tinha reservado 24 questões. Mas a carta rogatória para França veio com a informação de que estaria a viver em Inglaterra. Veio outra carta, a resposta foi basicamente a mesma: o mesmo não reside no Reino Unido", escreve o i de hoje, relativamente ao caso Freeport".

Ainda diz o i que "O Ministério Público refere no despacho final que os autos contém abundantes elementos de prova que sustentam a forte convicção de que aos responsáveis pelo Freeport foram exigidas por diversas vezes, quantias em dinheiro, alegadamente destinadas às autoridades portuguesas e aos partidos políticos mais representativos."

Esta última parte - "aos partidos políticos mais representativos", indica a podridão do nosso Estado actual e a explicação simples para as leis que temos, de lassidão e condescendência formal, relativamente à corrupção.

Neste ambiente deletério, qualquer ministério do Ambiente é ou deveria ser suspeito, à partida. Porém, com a legislação existente e os condicionalismos que travam efectivamente a eficácia de qualquer investigação criminal, temos a impunidade assegurada e mais do que isso, o despudor de ver os suspeitos politicamente colocados e os seus apaniguados, às centenas, indignarem-se por terem sido apontados como tal e com vontade de reforçar ainda mais as garantias de impunidade, através dos mecanismos processuais que impedem a investigação. A actual tendência em capar o poder de investigação do MP e a sua ( fraca) autonomia, insere-se neste contexto de grande falta de vergonha institucional. Vemos essa desfaçatez e a horda de apaniguados que defendem o chefe que lhes assegura a prebenda ou a renda imerecida ou mesmo por simples clubismo partidário que lobotomiza o bestunto.
É este o panorama geral em Portugal, desde há muitos anos e quem manda sente-se muito bem neste charco, o tal "pântano", porque a podridão em que se imergiram nele viceja.
Há anos e anos que é assim e escolhem-se governantes porque se adaptam e cultivam este meio. Aliás, são os seus melhores cultores aqueles que são escolhidos nos partidos para representarem os interesses apresentados como gerais, mas que geralmente não passam do horizonte particular de umas dúzias. Para os sustentar mediaticamente não faltam as figuras do costume que aparecem, sempre, sempre que em algum momento fica em crise este sistema podre em que se habituaram a viver. E para o defender mentem, aldrabam e apresentam-se como defensores dos mais altos valores democráticos quando são os primeiros a denegá-los e desprezá-los. Como mentem bem, convencem melhor.

Em Portugal, investigar de modo proficiente a alta corrupção de partidos políticos e membros de governo é virtualmente impossível e isto não é uma simples afirmação retória de indignação. Os media, com raríssimas excepções ( sim, sim, o Jornal de Sexta da TVI é uma delas) colaboram nesta farsa gigantesca que nos coloca ao nível do terceiro mundo, porque os media portugueses são efectivamente do terceiro mundo e os jornalistas que trabalham, na sua esmagadora maioria são apaniguados do poder que está. Se não fossem, não seriam jornalistas com as vidas que têm. Não teriam direito a suplemento remuneratório por apresentarem telejornais nem teriam direito a acesso a determinadas regalias sem justificação. Aliás, alguns nem jornalistas seriam, sequer. Por carência de requisitos mínimos de seriedade e competência. Assim, até se tornam comentadores, bem pagos, como podemos ver e ouvir diariamente. Delgados, em Portugal, é aos montes.

É a mais pura das verdades e que justifica o fracasso da investigação do Freeport e outros, como se irá ver a seguir, com o Face Oculta.

Isto não pode continuar assim porque é insustentável democraticamente e todos os partido são responsáveis por este estado de coisas, talvez com a honrosa excepção do PCP, um partido trágica e politicamente insustentável.

3 comentários:

  1. Porque teima uma pessoa tão esclarecida como o José considerar democracia um estado de arbítrio oligárquico que não passa de uma tirania obscena?

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  2. O grave é que, no quadro dito democrático, não há saída para este estado de coisas.

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  3. Há saída para este estado de coisas; a começar: sermos líderes de nós próprios e não arrebanhados em "yes-man", em que o líder pensa por nós.
    Analisar as contas do Estado como se das nossas contas domésticas se tratasse, e verificar que em 2009 houve um buraco orçamental de 1800 milhões de euros, com o qual pretendem remediar com impostos extraordinários, directos e indirectos, em 2010 na ordem estimada de 1700 milhões desses mesmos euros.
    Os partidos deram a esta negociata o pomposo nome de PEC.
    Aderir aos movimentos cívicos de cidadãos, que têm petições que visam moralizar as contas públicas do Estado e reintroduzir a ética pessoal na gestão do bem comum (que não comum, mas particulares a lobbies e ordens que dominam os próprios partidos) é um acto de patriotismo, para o qual poucos estão despertos e ainda menos à altura.
    Passe a publicidade, em especial porque este blog é excelente e muito bem escrito, no meu cidadaniaproactiva.blogspot.com poderá, se quiser, acompanhar a análise detalhada à bandalheira e pouca vergonha da governação (?) portuguesa.

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