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sexta-feira, setembro 10, 2010

A crise do Jornalismo

Este episódio da falta de depósito do acórdão Casa Pia continua a alimentar notícias de primeira página, nos media em geral. Não em todos, porém.
O Público de hoje já esqueceu o assunto que remete para a página 4. Hoje é mais importante o episódio politicamente correcto do Corão que afinal não vai ser queimado.

Não obstante, quem quiser saber a razão concreta da "falha" no depósito do acórdão daquele processo, fica na mesma. O Público de hoje, ao contrário de ontem, já noticia que diligenciou junto das entidades administrativas da logística judiciária, a saber, a DGAJ e o ITIJ, organismos totalmente dependentes do Governo. É dado conhecimento da ocorrência de um "problema informático", mas sem grande precisão técnica, para além da alusão a um "aparecimento no texto de janelas indicativas de todas as alterações do mesmo com referência a dias e horas". Isso em citação de uma comunicação do CSM. Nada mais. Não se noticia uma visita às instalações do tribunal, por exemplo, e que são públicas de de acesso livre para fazer perguntas a que um Secretário de Justiça tem o dever de responder.

Ao ler a notícia, com referências explícitas a recusas do Ministério da Justiça em comentar o assunto, ficamos sem saber coisas elementares para uma notícia deste género e que só os jornalistas poderiam esclarecer devidamente, sem grande esforço, através de uma indagação sumária e rápida. Em vez disso, temos o habitual jornalismo de telefone.

Coisas como o modo de funcionamento desta Vara Criminal no Campus da Justiça. Quantos funcionários tem, como se articulam, quem é o/a Secretário/a, como se organiza o serviço de fotocópias, quantas máquinas tem e de que tipo; quem faz o respectivo serviço, em que horário e se lhe é possível fazer horas extraordinárias; quanto tempo demora, na realidade , a efectuar um serviço deste género, excepcional; que preparação técnica tiveram para tal; quem é o funcionário de informática, pelos vistos único e com responsabilidade no funcionamento do sistema Habilus e outro que é standard nos tribunais; quem organizou este sistema e de que modo funciona na prática, para originar "bugs", como o detectado. Quem recolhe o papel impresso e onde o guarda; quem assegura que o sigilo de justiça, essencial num processo deste género, aquando da leitura da sentença, não seria quebrado e por isso dado a conhecer antecipadamente, tendo em vista o tempo que demoraria a impressão prévia do acórdão, etc. etc. etc.
Nestes etc.s estão todos os pormenores que um jornalista deveria atender para informar o público com rigor, seja do Público seja de outro órgão de informação. Factos simples e que fariam toda a diferença de um jornalismo à antiga para este pós-moderno e que pouco informa.

Nesta como noutras matérias, tem-se a impressão que a informação é matéria para amadores que frequentaram cursos de jornalismo para emitir opiniões nos jornais, com o beneplácito de directores que outra coisa não pretendem fazer.

A incompetência do Jornalismo, neste como noutros campos, é de tal modo gritante que não se compreende como se comprazem a denegrir a Justiça atirando-lhe todos os dias a lama que lhes suja as mãos.

Evidentemente, a agravar tudo isto, o sempiterno problema da (in)comunicação da Justiça, cujos órgãos representativos, mesmo os administrativos, como é o CSM, continuam a falhar estrondosamente nessa comunicação essencial, primordial e pedagógica. Esta associação de incompetências, do jornalismo de comunicação e da Justiça que não comunica , gera toda uma imagem negativa cujas vítimas primeiras são aqueles cuja dificuldade atávica em comunicar, lhes impede de entender que serão os principais prejudicados. Basta ver a imagem pública que periodicamente é dada a conhecer em sondagens de opinião.
Não lhes importará? Será que são indiferentes a tal falsidade induzida pelo próprio comportamento atávico? Não terão honra em mostrar o brio que afinal podem ter? Não os incomoda que digam mal deles e ainda por cima de uma tremenda injustiça?
Se assim for, passo. Porque será assunto sem remédio e porque me parece que assim será. Mas nesse caso, lembro-lhes o velho ditado popular: quem não se sente não é filho de boa gente. Nem isso lhes importa? Então, que se arrumem e deixem de aplicar Justiça em nome do povo.

15 comentários:

  1. "Jornalismo de telefone", pois e de blogue. Que isto de ir ao local, só se der direito a directo na tv.

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  2. Que a causa do imbróglio seja atribuível ao "aparecimento no texto de janelas indicativas de todas as alterações do mesmo com referência a dias e horas" é uma coisa.
    Que se demorem dias a resolver o que se resolve em 2 segundos é outra.
    É anedótico e patético.

    Cordialmente

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  3. Resolvem-se em dois segundos? Então sabe qual o problema concreto? E poderá dizer qual é?

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  4. José

    Eu até dizia mas cobro um mês do salário de um juiz mais o do técnico informático.
    Faz lembrar aquele famoso caso do Envelope9 em que não sabiam como operar numas simples linhas de uma folha de cáculo.

    Cordialmente

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  5. Aos poucos, poucochinho, vai dando razão ao que escrevo...

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  6. Boa tarde.
    Os Juízes andam muito, muito nervosos e isso torna nervosos os Portugueses.É pena ler hoje no Expresso online o que o povo, em nome de quem é feita justiça,pensa dos Juízes e do Ministério Público.
    Neste caminhar para um tempo de vacas muitíssimo magras, tenho medo de que a justiça perca ética e moralmente o pé.

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  7. Dizem que é um problema de "Formatação" das folhas!

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  8. Se o problema é o "aparecimento no texto de janelas indicativas de todas as alterações do mesmo com referência a dias e horas" a solução leva o tempo de alguns clicks, meia dúzia de segundos.

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  9. Ao Insatisfeito:

    Se o problema fosse simples de resolver, como adiantou se explicar melhor, para que seriam precisos especialistas da Microsoft?

    Por outro lado, quanto ao sumo da questão Casa Pia, já escrevi várias vezes sobre o assunto.

    Quem escreve que há erros processuais e de investigação, não deve saber do que está a falar, em casos como este, de abuso sexual de menores.
    Não deve perceber uma coisa básica: em abusos sexuais, geralmente não há testemunhas e se houver serão cúmplices...

    Quanto às buscas, só mesmo para quem acredita que este tipo de crimes, se não se estiver perante abusadores recalcitrantes, poderá assim ser desvendado.

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  10. José, como sempre entendo o que aqui diz e tem razão em muita coisa. Mas que isto é mais um número numa palhaçada já de si insuportável De tão continuada, não tenha dúvidas. Imprimir uma folhas devidamente formatadas? Eliminar uns nomes? É mau demais. É nestes detalhes que se espelha o estado disto.
    Li no Negócios que agora chamaram um técnico da Microsoft. É caso para relembrar uma publicidade antiga da Apple: Get a Mac. -- JRF

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  11. José, não tinha visto um link para essa dos "especialistas da microsoft" que também mencionei no singular... Claro que não sabemos qual o problema, mas a fazer fé no que diz o jornal é a formataçao Do texto. Porque é que um texto destes tem De nascer torto? Nas novas oportunidades devem ensinar a trabalhar Com o word, os responsaveis por isto nao sabem trabalhar Com os meios informaticos Do tribunal? Porque nao sabem? -- JRF

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  12. joserui:

    Não sabem porque ninguém os ensinou e não nasceram ensinados. Tiveram que aprender no duro a lidar com a informática. Há alguns ( que conheço) que ainda hoje não sabem. E safam-se.

    Problema disto tudo? Falta de informação e de investimento na Justiça. De quem a culpa? GOverno só e apenas.

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  13. Para lidar com o Habilus o Ministério da Justiça organizou uns cursos rápidos em locais centralizados e onde iriam todos os magistrados aprender.

    Só que esses cursos foram ministrados meses antes do Habilus estar a funcionar. Quem não sabia desaprendeu e quem sabia teve que aprender outra vez.

    O MJ tem funcionarios dedicados e alguns competentes. Mas não chegam para tudo e muito menos para ensinar magistrados cujos conhecimentos informáticos são nulos.

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  14. Ninguém nasceu ensinado, mas na minha opinião toca em mais um ponto que anda transversal: as pessoas hoje não se valorizam, nem têm gosto em valorizar-se. Dantes dizia-se que o saber não ocupa lugar. Agora parece que ocupa, nas cabeças cheias de bola e bacoradas.
    Eu se tivesse à espera da informática que me ensinaram na faculdade, era um excluido informático. E não havia internet, havia manuais e livros. Mas foi preciso lê-los. E continuar a ler, porque 28 anos em informática é pré-história.
    Dito isto, um documento mesmo de 2.000 páginas não passa de processamento de texto que classifico de básico. Não deve ter grandes tabelas, notações científicas, imagens ou notas de rodapé. Mas também por ter 2.000 páginas com esta importância, não devia ser publicado à base de amadorismos. A maior parte das vezes corre menos mal e vai-se empurrando para a frente. Aqui, azar, correu mal.
    Os magistrados em 2010 com conhecimentos informáticos nulos, também vale a pena ser lido. Ainda bem que não foi do "campus" que se tentou ir à Lua, senão ainda hoje andavam a cair foguetões no Marco de Canaveses e com jeitinho, a pensar que era em Marte.
    Eu ando pasmado. -- JRF

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  15. José

    Ainda bem que reconhece que "O MJ tem funcionários dedicados e alguns competentes". Apenas "alguns", disse !

    Se foi necessário recorrer-se à ajuda de "especialistas da Microsoft", que aparentemente resolveram o assunto em 3 tempos, então o caso não é grave, mas antes gravíssimo, porque é suposto que os serviços de informática do Min Justiça tenham pessoal competente para resolver as questões, mesmo as complexas e complicadas que possam surgir. E meras questões de formatação de textos ou de junção de ficheiros, como foi referido, não serão o caso.

    Gravíssimo, repito, porque o que aconteceu põe a nu contornos de poder estar em causa a segurança nacional, pois não é admissível um serviço de informática, e muito menos no Min Justiça, incapaz de resolver problemas desse tipo, porque não dá garantias, antes pelo contrário, de que esses serviços sejam capazes de controlar eventuais situações, essas sim, verdadeiramente sérias e complexas.

    Gravíssimo, repito, e de segurança nacional, porque chamar os técnicos da Microsoft para resolver a questão surgida é como se, perante um problema de ordem pública, tivessem que ser chamados os capacetes azuis da ONU para restabelecer a ordem interna devido à inoperacionalidade das forças de segurança nacionais.

    Onde estão as regras de segurança, de "backups", de uso de "templates", de uso de "passwords", de encriptação de ficheiros, de actualização e compatibilidades de "softwares", de cuidados "anti-hackers" ou anti-virus, etc, regras básicas no funcionamento de qualquer empresa ou organização onde intervenham multiplos agentes ?

    Sobre o Habilus, que é suposto estar blindado e protegido, já vem de trás queixas de juízes, nunca devidamente esclarecidas, de que alguém alheio a um processo consiga ter acesso à respectiva sentença e mesmo alterá-la. E quando se diz alterá-la pode incluir-se, como qualquer informático sabe, vulnerabilidade a muito mais coisas, como copiar, apagar, extraviar, etc.

    Acrescentaria que com este caso fica constituido um perigoso precedente : de agora em diante qualquer advogado, com este exemplo, poderá pretextar um problema de junção de ficheiros ou de formatação de textos para desculpabilizar a entrega de documentos fora de prazo.

    Cordialmente

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