Na nossa terra só há pouco mais de vinte anos ( o Continente celebrou há pouco os 25) apareceram os hipermercados.
O industrial Belmiro de Azevedo esse filantropo da nossa democracia, nos anos oitenta abandonou a indústria, na sequência da nossa desistência oficial da indústria e agricultura, trocadas por "fundos estruturais" e carros alemães.
Tem feito milhões e milhões, à semelhança de outro filantropo notório da Jerónimo Martins, Soares ( e não Marques como escrevi) dos Santos que até vai à tv dizer que este primeiro-ministro não serve porque é mentiroso mas um Vitorininho que andou de malas em Macau e que no outro fim de semana foi beijar a mão ao Sombra e ao Mentiroso, já servia.
Em Portugal não há o costume de questionar estes filantropos da distribuição alimentar que ganham milhões e passam pelos indivíduos mais ricos do país. O Feira Nova cujos donos lançaram a ideia em finais dos oitenta, já a venderam ao Jerónimo Martins do Pingo Doce. Como herança jacente, ficou-nos um comentador de truz que anda pelo Eixo do Mal a carecar inanidades em nome de um PSD fictício e que assina como Marques Lopes. Enfim, temos o que temos: sapateiros a tocar rabecão, quase sempre.
No entanto, em França já não assim. A grande distribuição alimentar foi alvo de um artigo extenso na Marianne desta semana que acabou. Mote do artigo:
" Os gigantes do comércio comprovam uma imaginação sem limites e renovada para estrangular os produtores e impedir a baixa de preços a fim de manterem os seus lucros colossais." E a revista acrescenta o que por cá nem se sonha sequer: " mas as línguas começam a soltar-se para denunciar os seus métodos sujos."
Um dos fenómenos denunciados é o do preço da alface. Diz a revista que é cara- até € 1,5 nas prateleiras dos hipers. Isso quando a sobreprodução conduz a que certos agricultores destruam a sua colheita. E quem se enriquece?-pergunta a revista, para dar conta do depoimento de um industrial do sector:
" a alface é comprada a 9 cêntimos, à lavoura. Depois de embalada e colocada em palette, vende-se a 25 cêntimos à central de compras. Esta revende-a e expede-a para os armazéns, o que ocasiona custos de transporte e de distribuição na ordem dos 40 cêntimos e portanto, factura-a a 75 cêntimos, ficando na passagem com 10 cêntimos de "margem". No final, o hiper revende-a a €1.5 "
Acrescenta a revista em modo de explicação que há duas lições a tirar: a primeira é a de que entre a lavoura e o estabelecimento de hiper há apenas três intermediários, nem um a mais, contrariamente ao que é explicado aos consumidores. A segunda é a de que a grande distribuição anda sempre a dizer que retira apenas 1 a 2% de "margem" líquida. O que é difícil de engolir a menos que os hipers paguem aos empregados principescamente...ou que paguem alugueres de arranha-céu pelos armazéns que afinal elas mesmo detêm, através de filiais imobiliárias.
Então, pergunta a revista, em modo retórico- adivinhem quem anda a mentir....
Sobre salários de empregados de hiper e regime de trabalho perguntem ao filantropo da Jerónimo Martins quanto paga aos "repositores". Aliás, nem é preciso perguntar porque não passa dos 600 euros. É este o nosso herói nacional da Fundação dita cuja.
E a seguir aponta a mesma revista outro fenómeno que se passa na Alemanha onde os preços dos hipers são mais baixos, cerca de 10 a 30%. E explica como e porquê, em modo simples que por cá parece muito difícil ao jornalismo nacional entender.
Em primeiro lugar pela importância de oferta ( 1,4 m2 de superfície de venda por habitante, contra 1,09m2 em França.) mas também pelo extraordinário sucesso das cadeias de desconto, coo a Aldi e a Lidl que detêm hoje mais de 40% das quotas de mercado na distribuição alimentar ( 25,7% em 1993). A política de preços baixos sobre um número limitado de produtos tornou-se moda e condicionou a estratégia comercial no sector. Os alemães habituaram-se a esses descontos de tal modo que são raros os distribuidores que fazem margens superiores a 3%. Até o americano Wal-Mart abandonou o país com centenas de milhões de perdas atrás. Mas...avisa Andreas Mundt, responsável oficial do género do nosso inefável Sebastião da concorrência, tal poderia acabar em breve, se a concentração aumentar ( em 2000 havia 10 grupos alemães a assegurar 70% do mercado e actualmente há quatro grupos para 85% do mesmo mercado).
E agora passemos a outro sector mais tradicional entre nós- o comércio dos pequenos e médios. Uma revista que é distribuida pelo Público, e com título altamente inventivo e de supina originalidade - "Portugal Inovador"- , é certamente das revistas mais mal feitas que temos no mercado gráfico, mas costuma trazer retratos a corpo inteiro de empresários portugueses e ainda de responsáveis por sectores do ensino com grande margem de manobra orçamental ( os Politécnicos, por exemplo).
Essa revista assim tão mal feita e que aparentemente sobrevive com a publicidade também mal feitinha e primária, ainda consegue ser, no entanto ( et pour cause) , um dos melhores indicadores do que temos e do que há em Portugal, na indústria e serviços. Um barómetro do Portugal real, inovador por imitação e sem imagem de marca que se imponha lá fora.
O número que saiu este mês tem na capa um empresário digno de nota ( sans blague): Mário Duarte dedica-se ao comércio de distribuição, neste caso de bacalhau, principalmente. A Globopeixe é a sua marca ( com design moderno e que no entanto poderia ser o de uma marca de pneus) e é um exemplo do empresário luso. Começou em 1998, herdou o negócio da família e aumentou-o, levando-o a dizer coisas como esta:
"A Globopeixe está vocacionada para a exportação, mas vai continuar a apostar no mercado português. Mesmo sabendo que este é um mercado muito competitivo e que se debate com um, grave problema sobre o qual ninguém toma medidas.
As grandes superfícies têm uma percentagem muito elevada no consumo de bacalhau e estão a comprar produto acabado directamente da Noruega o que estrangula a nossa produção e está a pôr em causa muitos postos de trabalho. Este é um problema sério para o sector."
Pois então está dito por um empresário que percebe os problemas do sector que é da exportação, note-se bem, e do qual dependemos como de pão para a boca: é preciso refrear a gula dos hipers!
É preciso controlar, regular e pôr-lhes um travão. E com vantagens variadas: restrição no consumo, aumento de exportações e moralização desses filantropos que urge "implementar" como eles dizem.
O industrial Belmiro de Azevedo esse filantropo da nossa democracia, nos anos oitenta abandonou a indústria, na sequência da nossa desistência oficial da indústria e agricultura, trocadas por "fundos estruturais" e carros alemães.
Tem feito milhões e milhões, à semelhança de outro filantropo notório da Jerónimo Martins, Soares ( e não Marques como escrevi) dos Santos que até vai à tv dizer que este primeiro-ministro não serve porque é mentiroso mas um Vitorininho que andou de malas em Macau e que no outro fim de semana foi beijar a mão ao Sombra e ao Mentiroso, já servia.
Em Portugal não há o costume de questionar estes filantropos da distribuição alimentar que ganham milhões e passam pelos indivíduos mais ricos do país. O Feira Nova cujos donos lançaram a ideia em finais dos oitenta, já a venderam ao Jerónimo Martins do Pingo Doce. Como herança jacente, ficou-nos um comentador de truz que anda pelo Eixo do Mal a carecar inanidades em nome de um PSD fictício e que assina como Marques Lopes. Enfim, temos o que temos: sapateiros a tocar rabecão, quase sempre.
No entanto, em França já não assim. A grande distribuição alimentar foi alvo de um artigo extenso na Marianne desta semana que acabou. Mote do artigo:
" Os gigantes do comércio comprovam uma imaginação sem limites e renovada para estrangular os produtores e impedir a baixa de preços a fim de manterem os seus lucros colossais." E a revista acrescenta o que por cá nem se sonha sequer: " mas as línguas começam a soltar-se para denunciar os seus métodos sujos."
Um dos fenómenos denunciados é o do preço da alface. Diz a revista que é cara- até € 1,5 nas prateleiras dos hipers. Isso quando a sobreprodução conduz a que certos agricultores destruam a sua colheita. E quem se enriquece?-pergunta a revista, para dar conta do depoimento de um industrial do sector:
" a alface é comprada a 9 cêntimos, à lavoura. Depois de embalada e colocada em palette, vende-se a 25 cêntimos à central de compras. Esta revende-a e expede-a para os armazéns, o que ocasiona custos de transporte e de distribuição na ordem dos 40 cêntimos e portanto, factura-a a 75 cêntimos, ficando na passagem com 10 cêntimos de "margem". No final, o hiper revende-a a €1.5 "
Acrescenta a revista em modo de explicação que há duas lições a tirar: a primeira é a de que entre a lavoura e o estabelecimento de hiper há apenas três intermediários, nem um a mais, contrariamente ao que é explicado aos consumidores. A segunda é a de que a grande distribuição anda sempre a dizer que retira apenas 1 a 2% de "margem" líquida. O que é difícil de engolir a menos que os hipers paguem aos empregados principescamente...ou que paguem alugueres de arranha-céu pelos armazéns que afinal elas mesmo detêm, através de filiais imobiliárias.
Então, pergunta a revista, em modo retórico- adivinhem quem anda a mentir....
Sobre salários de empregados de hiper e regime de trabalho perguntem ao filantropo da Jerónimo Martins quanto paga aos "repositores". Aliás, nem é preciso perguntar porque não passa dos 600 euros. É este o nosso herói nacional da Fundação dita cuja.
E a seguir aponta a mesma revista outro fenómeno que se passa na Alemanha onde os preços dos hipers são mais baixos, cerca de 10 a 30%. E explica como e porquê, em modo simples que por cá parece muito difícil ao jornalismo nacional entender.
Em primeiro lugar pela importância de oferta ( 1,4 m2 de superfície de venda por habitante, contra 1,09m2 em França.) mas também pelo extraordinário sucesso das cadeias de desconto, coo a Aldi e a Lidl que detêm hoje mais de 40% das quotas de mercado na distribuição alimentar ( 25,7% em 1993). A política de preços baixos sobre um número limitado de produtos tornou-se moda e condicionou a estratégia comercial no sector. Os alemães habituaram-se a esses descontos de tal modo que são raros os distribuidores que fazem margens superiores a 3%. Até o americano Wal-Mart abandonou o país com centenas de milhões de perdas atrás. Mas...avisa Andreas Mundt, responsável oficial do género do nosso inefável Sebastião da concorrência, tal poderia acabar em breve, se a concentração aumentar ( em 2000 havia 10 grupos alemães a assegurar 70% do mercado e actualmente há quatro grupos para 85% do mesmo mercado).
E agora passemos a outro sector mais tradicional entre nós- o comércio dos pequenos e médios. Uma revista que é distribuida pelo Público, e com título altamente inventivo e de supina originalidade - "Portugal Inovador"- , é certamente das revistas mais mal feitas que temos no mercado gráfico, mas costuma trazer retratos a corpo inteiro de empresários portugueses e ainda de responsáveis por sectores do ensino com grande margem de manobra orçamental ( os Politécnicos, por exemplo).
Essa revista assim tão mal feita e que aparentemente sobrevive com a publicidade também mal feitinha e primária, ainda consegue ser, no entanto ( et pour cause) , um dos melhores indicadores do que temos e do que há em Portugal, na indústria e serviços. Um barómetro do Portugal real, inovador por imitação e sem imagem de marca que se imponha lá fora.
O número que saiu este mês tem na capa um empresário digno de nota ( sans blague): Mário Duarte dedica-se ao comércio de distribuição, neste caso de bacalhau, principalmente. A Globopeixe é a sua marca ( com design moderno e que no entanto poderia ser o de uma marca de pneus) e é um exemplo do empresário luso. Começou em 1998, herdou o negócio da família e aumentou-o, levando-o a dizer coisas como esta:
"A Globopeixe está vocacionada para a exportação, mas vai continuar a apostar no mercado português. Mesmo sabendo que este é um mercado muito competitivo e que se debate com um, grave problema sobre o qual ninguém toma medidas.
As grandes superfícies têm uma percentagem muito elevada no consumo de bacalhau e estão a comprar produto acabado directamente da Noruega o que estrangula a nossa produção e está a pôr em causa muitos postos de trabalho. Este é um problema sério para o sector."
Pois então está dito por um empresário que percebe os problemas do sector que é da exportação, note-se bem, e do qual dependemos como de pão para a boca: é preciso refrear a gula dos hipers!
É preciso controlar, regular e pôr-lhes um travão. E com vantagens variadas: restrição no consumo, aumento de exportações e moralização desses filantropos que urge "implementar" como eles dizem.
A carecar inanidades? C'um canecos! Vou tomar nota! -- JRF
ResponderEliminarNão é nenhum segredo que os agricultores a depender dos hipers, bem podem morrer à fome. Ou sobreviver a comer o excesso de produção de alfaces, não vá o preço baixar.
ResponderEliminarO empresário Belmiro de Azevedo passou de funcionário a dono da Efanor num processo que nunca percebi muito bem. No fundo é o herdeiro de Manuel Pinto de Azevedo, um industrial que em pleno fassismo, construia fábricas com preocupações sociais que pelos vistos nem o herdeiro nem o regime herdaram: bairro, creche, dormitórios, complexo desportivo, um corpo privativo de bombeiros. As funcionárias até parteira tinham na empresa. -- JRF
Julgo que este grande empresário foi o introdutor em Portugal de algo extremamente nocivo que depois se generalizou: pagar pouco e tarde.
ResponderEliminarOutros empreendores, porventura mais inventivos, adaptaram posteriormente o conceito para o seu enunciado actual: pagar pouco, mal e nunca.
Todo o enquadramento e desenvolvimento legal se apressou a acarinhar este conceito em nome do progresso da nossa terra. -- JRF
Interessante post. Surge-me uma dúvida relativa ao que diz o tal empresário bacalhoeiro sobre o estrangulamento da "produção nacional de bacalhau": Eu pensava que só havia bacalhau lá para os mares austrais. Não conheço o bacalhau da costa.
ResponderEliminarÉ dos peixes mais comezinhos que falará...os róbalos por exemplo?
ResponderEliminarSe não for dos robálos, deve ser das taínhas. A indústria nacional de taínhas está em plena expansão. É vê-las a babujar na merda que grassa por toda a nação. -- JRF
ResponderEliminarMuito bom.
ResponderEliminarestes grandes não passam de merceeiros no sentido mais pejorativo da palavra.
ResponderEliminarrejeitam os produtos nacionais.
pagam quando querem e pelo preço que pretendem.
a asae só 'visita' ciganos.
belmiro e quejandos conseguiram que os produtos farmacêuticos saissem fora do circuito da saúde.
arre porra que é demais.
vivi em Roma em 2005. encontrei as mesmas lojas de rua da minha permanência em 1958 e 1959. nada de supermercados, muito menos de centros comerciais.
Isso de andarem a vender gambas de oceano que na realidade são criadas em charcos cheios de remédios é que não está bem.E de facto a ASAE anda muito distraída...
ResponderEliminarO melhor bacalhau que anda por aí é o da Islândia, a meu ver.
ResponderEliminarAinda hoje comi. Comprei e escolhi uma folha, bem seca, num L´Éclerc. Francês, está bom de ver. Preço alto mas vale a pena.
Isto é que é verdadeiro Serviço Público!
ResponderEliminarNão haja duvida que a crise está a afectar as meninges de quem menos suspeitava.
ResponderEliminarMas quem obriga alguém a frequentar as mercearias do Sr. Belmiro ou do Sr. Santos?
Já não irei ficar admirado se num próximo post o José fizer a apologia da festa do Avante
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarDomingos: leu o que escrevi? Não me parece.
ResponderEliminarPequena correcção: o Sr. da Jerónimo Martins é Alexandre Soares dos Santos....e não Marques dos Santos.
ResponderEliminarMas será que a escolha de Fernando Nobre foi acertada?
http://mentesdespertas.blogspot.com/2011/04/fernando-nobre.html
Excelente prosa....o José está em grande forma!!!
ResponderEliminarEngraçado...e assertivo...
Pois é, já corrigi. Por vezes passam-me estas coisas. Ao escrever Marques tive logo a impressão que não era o nome, mas deixei estar sem verificar.
ResponderEliminarO problema é que já tem sucedido mais vezes...com nomes.
Será prelúdio do esquecimento selectivo que nos afecta na velhice?
Escrevi um comentário longo e deu erro ao publicar. Estará por aí perdido ou os bytes esvaneceram-se definitivamente?
ResponderEliminarJá fui ver: perdeu-se mesmo. É frustrante e já me aconteceu várias vezes.
ResponderEliminarMas pode sempre repetir porque aprecio ler.