Reparem-se nos cabeçalhos dos jornais de hoje: só o Público e o JN aposta na designação do anti-nome da rosa: a "direita". Supõem-se ideologicamente esclarecidos para informar a populaça que "a direita" ganhou e contribuem, mais que ninguém para a confusão ideológica que só a eles aproveita. Ou seja, a uma Esquerda que se recusa a desaparecer, mesmo depois de mortas as referências em ideias e doutrinas. Social-democracia, para eles, deixou de fazer sentido porque nunca fez. O comunismo nunca aceitou essa designação e nunca se lhe referiu porque lhe rouba espaço político e a breve trecho destrói-os. Foi isso que aconteceu em toda a Europa. Menos aqui, em Portugal e isso tem explicação idiossincrática que poucos querem entender e denunciar. Para contributo ficam aqui dois pequenos textos.
"Nas democracias, o político sobrepõe-se sempre ao social, o movimento de opinião ao dos grupos e classes, porque a democracia é um fenómeno de cultura e não um resultado da natureza das coisas. A precariedade de democracia vem exactamente de ela ser o mais antinatural dos regimes, um fruto da civilização e uma forma concertada e superior de autolimitação e de autoregulação, que exige progresso técnico e material(...) As democracias não suportam um pensamento global sob pena de este destruir a sua pluralidade natural ao lhe impor um sentido- um pensamento sobre o todo e a totalidade. E é isso que a "esquerda" não tem sido no seu namoro totalitário: para ser moderna e se afastar do terror, ela só pode assumir-se como movimento para laicizar a sociedade, ou seja libertar os cidadãos da existência de qualquer sentido último que não seja o direito de eles como indivíduos se autodeterminarem em função dos seus desejos e possibilidades. No passado, a "esquerda" travou muitas vezes este bom combate contra o clericalismo, por exemplo.
Colocada de modo contraditório contra as significações actuais da ´esquerda` ( e utiliza-se sempre o termo mais no seu sentido histórico do que ideológico, pretendendo as aspas não separar uma verdadeira de uma falsa esquerda mas sim tratá-la como um significado histórico) . a geração de 68 necessita não só de fazer as contas com o seu passado imediato como realizar o seu futuro. Este rito de passagem é já hoje visível no progressivo retomar da actividade política geracional, após um período de silêncio e no carácter mais ou menos comum do que se diz e faz(...)"
Colocada de modo contraditório contra as significações actuais da ´esquerda` ( e utiliza-se sempre o termo mais no seu sentido histórico do que ideológico, pretendendo as aspas não separar uma verdadeira de uma falsa esquerda mas sim tratá-la como um significado histórico) . a geração de 68 necessita não só de fazer as contas com o seu passado imediato como realizar o seu futuro. Este rito de passagem é já hoje visível no progressivo retomar da actividade política geracional, após um período de silêncio e no carácter mais ou menos comum do que se diz e faz(...)"
Este pequeno texto é um excerto de um artigo de José Pacheco Pereira, no Expresso de 30 de Junho de 1984 em que se prè-anuncia um livro de "dois ex-activistas da extrema-esquerda": JPP e João Carlos Espada.
A explicação que fica, assim a modo um pouco estruturalista pretende mostrar o caminho de uma" esquerda face ao totalitarismo ou a geração de 68 a contas com o seu passado imediato".
O texto de João Carlos Espada começa assim:
" Durante muito tempo, a esquerda revolucionária acreditou que o erro das concepções leninistas-jacobinas se confinava às tendências centralistas e vanguardistas. O conceito de Revolução- que é um conceito chave para os leninistas, como o foi para os jacobinos e também para os blanquistas- permaneceu intocável. Até há muito pouco tempo a esquerda portuguesa continuava a preferir a ideia revolucionária- mais romântica e aparentemente mais radical- à de reforma.
Hoje penso que não é possível romper com o despotismo leninista sem romper com o credo revolucionário que lhe está subjacente- assim como aos jacobinos, aos blanquistas e à generalidade das correntes que se proclamam, por princípio anti-reformistas. Em vez de discutir se uma revolução é possível na democracia burguesa, acho preferível perguntar se ela será desejável. E a primeira coisa a saber é para quê clamam os revolucionários por uma revolução.
No imaginário leninista- assim como no das várias correntes revolucionárias que se reclamam de Marx- a revolução possui ainda mais do que uma missão política transformadora: ela é chamada a desempenhar um papel histórico de ruptura com um modo de produção envelhecido. o capitalismo, e de inauguração de uma nova era, a do socialismo. Compreende-se porque é que os leninistas não aceitam nenhuma oposição ao seu poder pós-revolucionário: ela é entendida como uma oposição à marcha da História e à construção do socialismo. E é curioso notar que todas as correntes comunistas dissidentes apelam a uma liberalização do poder leninista, mas uma liberalização limitada: o poder revolucionário deve assentar num pluralismo revolucionário e socialista, isto é, aquele que abrange exclusivamente os partidários do modelo que os revolucionários se propõem construir.
Esta concepção abre imediatamente caminho a um regime de excepção: se a liberdade de opinião tem limites de opinião quem estabelece esses limites? Quem decide, a cada momento, o que está ainda dentro do campo revolucionário e o que já é contra-revolucionário? (...) Rosa Luxemburgo afirmou premonitoriamente que ou a liberdade é a daquele que pensa de modo contrário ou não é nada."
Hoje penso que não é possível romper com o despotismo leninista sem romper com o credo revolucionário que lhe está subjacente- assim como aos jacobinos, aos blanquistas e à generalidade das correntes que se proclamam, por princípio anti-reformistas. Em vez de discutir se uma revolução é possível na democracia burguesa, acho preferível perguntar se ela será desejável. E a primeira coisa a saber é para quê clamam os revolucionários por uma revolução.
No imaginário leninista- assim como no das várias correntes revolucionárias que se reclamam de Marx- a revolução possui ainda mais do que uma missão política transformadora: ela é chamada a desempenhar um papel histórico de ruptura com um modo de produção envelhecido. o capitalismo, e de inauguração de uma nova era, a do socialismo. Compreende-se porque é que os leninistas não aceitam nenhuma oposição ao seu poder pós-revolucionário: ela é entendida como uma oposição à marcha da História e à construção do socialismo. E é curioso notar que todas as correntes comunistas dissidentes apelam a uma liberalização do poder leninista, mas uma liberalização limitada: o poder revolucionário deve assentar num pluralismo revolucionário e socialista, isto é, aquele que abrange exclusivamente os partidários do modelo que os revolucionários se propõem construir.
Esta concepção abre imediatamente caminho a um regime de excepção: se a liberdade de opinião tem limites de opinião quem estabelece esses limites? Quem decide, a cada momento, o que está ainda dentro do campo revolucionário e o que já é contra-revolucionário? (...) Rosa Luxemburgo afirmou premonitoriamente que ou a liberdade é a daquele que pensa de modo contrário ou não é nada."
Estes pequenos excertos dão conta para quem quiser entender que em 1984 o problema da Esquerda e Direita portuguesas era...um problema de Esquerda. A Direita deixou de existir em 1974, pura e simplesmente, se é que jamais existiu na mente dos apoiantes serôdios de Américo Tomás.
Portugal transformou-se num campo de experimentação ideológico, em laboratório. Dez anos antes, em 1974, as discussões políticas públicas, não integravam a "direita". Nestas duas imagens abaixo podem ver-se alguns dos fenómenos políticos que marcaram a discussão ideológica das últimas décadas: na primeira, de O Jornal de 28.5.1976 um artigo do historiador João Medina ( de esquerda obviamente) faz a pergunta mais inconveniente para a esquerda: "Salazar, "fascista" ou democrata-cristão?" Evidentemente que a narrativa que a Esquerda construiu para todos os portugueses aprenderem logo na escola primária que agora se chama de ensino básico é que Salazar era "fascista" ou melhor "fassista" ou até "faxista" ou mesmo "fachista" consoante as consonâncias da conveniência política.
O discurso e narrativa históricos sobre essa figura continuam a pertencer ao partido comunista e à extrema-esquerda. Nada mudou nesse aspecto, em 37 anos e é inútil andar a fazer de d- quijote contra moinhos de vento ideológicos.
Portugal transformou-se num campo de experimentação ideológico, em laboratório. Dez anos antes, em 1974, as discussões políticas públicas, não integravam a "direita". Nestas duas imagens abaixo podem ver-se alguns dos fenómenos políticos que marcaram a discussão ideológica das últimas décadas: na primeira, de O Jornal de 28.5.1976 um artigo do historiador João Medina ( de esquerda obviamente) faz a pergunta mais inconveniente para a esquerda: "Salazar, "fascista" ou democrata-cristão?" Evidentemente que a narrativa que a Esquerda construiu para todos os portugueses aprenderem logo na escola primária que agora se chama de ensino básico é que Salazar era "fascista" ou melhor "fassista" ou até "faxista" ou mesmo "fachista" consoante as consonâncias da conveniência política.
O discurso e narrativa históricos sobre essa figura continuam a pertencer ao partido comunista e à extrema-esquerda. Nada mudou nesse aspecto, em 37 anos e é inútil andar a fazer de d- quijote contra moinhos de vento ideológicos.
Na segunda, tirada da Grande Reportagem de 2 Abril 2005 num artigo de repescagem de memórias da esquerda radical aparece toda a contradição do PS: um Mário Soares que aperta a mão a Acácio Barreiros ( que depois integrou o PS) e no quadro acima, o mais radical da extrema esquerda parlamentar que jamais tivemos: o deputado Duarte que votava segundo a orientação que recebia da bancada do público.
Este artigo da G.R. no texto que se pode ler clincando mostra bem quem passou da extrema esquerda para um lado mais à direita, sem que por tal se assumisse como de direita. Entre os nomes, o de José Manuel Fernandes e Nuno Pacheco do Público. Fernandes saiu e tornou-se liberal no pensamento económico mas conserva os laivos de ideologia enquistada que João Carlos Espada apontou e que pode afrontar a ideia de liberdade, de vez em quando. Pacheco Pereira idem aspas, com a subtileza de se julgar outsider e observador exterior do fenómeno social.
A actual directora do Público navegou certamente nas mesmas águas, tendo o barco adornado algures numa praia em 1968 e desde então anda à procura do rumo que Pacheco Pereira aponta no seu artigo transcrito.
Para mim é esta a única explicação para que o Público continue a insistir da dicotomia "esquerda-direita" colocando o PSD e o CDS na margem direita e todo o resto do espectro político na esquerda.
Tal taxionomia, recente mas com alguns anos, sorveu a indefinição que incomodava essa gente de esquerda sem eira nem beira partidária. E é a única tábua de salvação ideológica que encontram para sair do sítio encalhado onde se encontram: Maio de 1968 afundou-se há muitos anos no tempo longínquo de uma opção política qe leva a outros barcos encalhados. Mas eles não querem de lá sair. E o jacobinismo político reciclado no modernismo dos costumes enviesados e luta contra o "ultra-liberalismo" alimenta-os no dia a dia do que pensam e sentem.
Este artigo da G.R. no texto que se pode ler clincando mostra bem quem passou da extrema esquerda para um lado mais à direita, sem que por tal se assumisse como de direita. Entre os nomes, o de José Manuel Fernandes e Nuno Pacheco do Público. Fernandes saiu e tornou-se liberal no pensamento económico mas conserva os laivos de ideologia enquistada que João Carlos Espada apontou e que pode afrontar a ideia de liberdade, de vez em quando. Pacheco Pereira idem aspas, com a subtileza de se julgar outsider e observador exterior do fenómeno social.
A actual directora do Público navegou certamente nas mesmas águas, tendo o barco adornado algures numa praia em 1968 e desde então anda à procura do rumo que Pacheco Pereira aponta no seu artigo transcrito.
Para mim é esta a única explicação para que o Público continue a insistir da dicotomia "esquerda-direita" colocando o PSD e o CDS na margem direita e todo o resto do espectro político na esquerda.
Tal taxionomia, recente mas com alguns anos, sorveu a indefinição que incomodava essa gente de esquerda sem eira nem beira partidária. E é a única tábua de salvação ideológica que encontram para sair do sítio encalhado onde se encontram: Maio de 1968 afundou-se há muitos anos no tempo longínquo de uma opção política qe leva a outros barcos encalhados. Mas eles não querem de lá sair. E o jacobinismo político reciclado no modernismo dos costumes enviesados e luta contra o "ultra-liberalismo" alimenta-os no dia a dia do que pensam e sentem.
Quanto a mim, uma das causas das vitórias da "esquerda" de um PS descaracterizado dessas marcações ideológicas e definitivamente assente na social-democracia com pendor jacobino nos costumes e métodos, reside nessa confusão sempre requerida em épocas eleitorais. E há os jornais que lhes servem de correia de transmissão ideológica. O Público é um deles e tem cumprido a tarefa de modo claro e indesmentível. Desta vez não chegou para manter o poder porque o nível de rasquice e incompetência foram de tal ordem que até o eleitor comum percebeu o logro e votou diferente. Seguiu à risca o ditado de que à primeira quem quer cai e à segunda só mesmo quem quiser. À terceira cansou-se de ser tolo...mas não foi porque o Público não tentasse que o voltassem a ser. A directora sê-lo-á? E vai continuar a ser?
O Jornal de Notícias, com a designação de Manuel Tavares como director, depois de Leite Pereira ter saído, cumpre a mesma função. Manuel Tavares passou pelo jornal O Diário, o tal da "verdade a que temos direito" e tem sido jornalista desportivo. Anda agora à procura da linha editorial que ponha o jornal a vender mais que o Correio da Manhã. O capitalista Oliveira ( mais que ultra-liberal é um capitalista de estado social ligado às futebolices e outras ices) já lho disse e Tavares tem agora essa verdade pela frente. Método? Simples: alguidar à ilharga da primeira página e faca afiada na liga.
Está tudo dito, sobre este estado de coisas.
Estou farto desta farsa.
O Jornal de Notícias, com a designação de Manuel Tavares como director, depois de Leite Pereira ter saído, cumpre a mesma função. Manuel Tavares passou pelo jornal O Diário, o tal da "verdade a que temos direito" e tem sido jornalista desportivo. Anda agora à procura da linha editorial que ponha o jornal a vender mais que o Correio da Manhã. O capitalista Oliveira ( mais que ultra-liberal é um capitalista de estado social ligado às futebolices e outras ices) já lho disse e Tavares tem agora essa verdade pela frente. Método? Simples: alguidar à ilharga da primeira página e faca afiada na liga.
Está tudo dito, sobre este estado de coisas.
Estou farto desta farsa.
fizeram eleições no minúsculo orienta do seminarista. não têm tomates para dizer o número de votantes. referem percentagens.
ResponderEliminaro seminarista promoveu a venda do desorientado oriente à Sociedade Portuguesa de Negócios representada pelo ex-presidente Fernandes
jacobinismo do ilhó (pequeno olho) e não do 'olho divino'.
mais um sandeu
O Relvas é da casa?
ResponderEliminarO PSD ontem cantou o Hino Nacional.Vamos ver se o futuro ministro da educação o faz cantar nas escolas...e constar nos "exames orais" para analfabetos para aquisição da Nacionalidade Portuguesa...
ResponderEliminarJosé,
ResponderEliminarEste teu post pede meças à escolástica tardo-medieval. Eu também considero espúria a dicotomia esquerda/direita mas quando leio a insuspeita Forbes a assinalar a vitória do "centre-right" em Portugal tenho que render-me à evidência de que esta taxonomia é uma questão cultural que ultrapassa as idiossincracias nacionais.
ehehe
ResponderEliminarO paradoxo não é esse. É que as palavras existem e é suposto que existam realidades para as preencher.
Os estrangeiros engavetam assim, porque cá se inventaram cacifos sem realidade correspondente.
Imagine-se como engavetariam o BE se há quem jure que é um partido social democrata de feição nórdica
ResponderEliminar":O))))
Mas, faça-se o exercício inverso para que se perceba que tudo tem uma história e que os conceitos não se entendem de modo estruturalista.
ResponderEliminarPor exemplo- como classificariam por cá, um partido como o do Timo Soini finlandês?
E note-se que ele até foi censurado pelo Wall Street. Portanto, a coisa ficava complicada para as etiquetas da moda onde liberalismo passou a ser sinónimo de "Direita".
Alguém imagina o que seria? eu imagino e estava a ver a Linha da Denúncia a ser chamada e manifs a tentarem proibir essa "extrema direita naconalista e racista".
Caro amigo
ResponderEliminarAqui vai mais uma do seu "amigo" no JN :)
"Uma justiça iníqua
Ontem
Em Março de 2010, um jovem de 17 anos assassinou a frio o pai da namorada, alegadamente, por a vítima, de 51 anos, bater na filha e se opor ao namoro. O crime teve lugar em Santo António dos Cavaleiros e foi consumado na via pública, com dois tiros de caçadeira, quando a vítima se encontrava acompanhado de um filho de cinco anos de idade. Aparentemente tratou-se de um homicídio qualificado (punível com uma pena de 12 a 25 anos de prisão), praticado com frieza de ânimo e com reflexão sobre os meios empregados, pois o seu autor comprara a arma com o propósito de o levar a cabo.
Apesar disso, o arguido nem sequer ficou preso preventivamente, pois o juiz de instrução mandou-o para casa, com pulseira electrónica. O julgamento realizou-se em Fevereiro deste ano, tendo o arguido sido condenado numa pena de 7 anos de prisão, inferior até ao mínimo legalmente previsto para o homicídio simples que é de 8 a 16 anos. O assassino foi defendido por um dos melhores advogados portugueses e beneficiou de todas as atenuantes e mais algumas, enquanto a vítima quase foi tratada como sendo um facínora, apesar de trabalhar há 30 anos na mesma empresa e ser considerado pelos amigos como uma pessoa excelente que nunca tivera problemas com ninguém. Aliás, no seu funeral, os colegas de trabalho deixaram uma mensagem num cartão em que se podia ler: «Foste um exemplo de vida para todos nós».
"No momento em que escrevo esta crónica não sei se a sentença já transitou em julgado, pois ignoro se houve recurso, mas sei que quanto mais a sentença demorar a transitar em julgado, mais tempo o arguido ficará em casa com a pulseira electrónica e menos tempo ficará na prisão, pois essa medida de coacção é descontada por inteiro no cumprimento da pena. Sei também que o assassino é filho de um juiz desembargador e de uma magistrada do Ministério Público e que a vítima era um imigrante africano natural da Guiné-Bissau.
ResponderEliminarE se evoco, aqui e agora, este caso é por três razões fundamentais.
A primeira, é para realçar que um crime pode atingir qualquer família. Perante a notícia de um crime, todos nos colocamos no lugar da vítima e, implacáveis, logo condenamos o seu autor. Esquecemo-nos, porém, que um crime envolve quase sempre duas tragédias: a da família da vítima (que, neste caso, perdeu um pai, marido e irmão), mas também a do autor do crime, cujos pais carregarão para sempre um estigma tão infamante. Por isso, todos devíamos ser mais comedidos quando se trata de julgar os (filhos dos) outros e, sobretudo, não sermos tão precipitados nas condenações.
A segunda razão é para salientar que este caso quase foi ignorado pela comunicação social, nomeadamente, pelas televisões, as mesmas que nos últimos dias têm procedido a um verdadeiro linchamento de carácter de duas menores comparticipantes num crime de muito menor gravidade. Refiro-me às duas raparigas de 15 e 16 anos de idade que agrediram com pontapés no corpo e na cabeça outra menor de 13 anos. O filme dessa agressão foi transmitido dezenas de vezes por todos os canais de televisão sem qualquer respeito pelas referências éticas que balizam o direito de informar e que no caso se impunha de forma acrescida, devido à idade das envolvidas. Durante dias, as televisões, tendo como único critério o mais sórdido sensacionalismo, exploraram ad nauseam os sentimentos mais justiceiros das pessoas, criando um alarme social absolutamente desproporcionado em relação à gravidade do crime em causa (ofensa à integridade física qualificada), o qual é punido com a pena de um mês a quatro anos de prisão). Sublinhe-se que o crime de ofensas graves é punido com uma pena de 2 a 10 anos de prisão, a qual, em certos casos, pode ser elevada em mais um terço.
Finalmente, para, mais uma vez, denunciar a iniquidade do nosso sistema judicial, duro e impiedoso com os pobres e clemente e obsequioso com os poderosos.
O autor confesso de um crime punível com uma pena de 12 a 25 anos de prisão, beneficiando de todas as atenuantes possíveis e imaginárias, vai para casa com pulseira electrónica e aguarda o julgamento na companhia dos pais que são magistrados, enquanto a autora de um crime punível com uma pena de um mês a 4 anos de prisão, com 16 anos, sem antecedentes criminais, fica em prisão preventiva sem qualquer contemplação.
Felizmente, a situação já foi parcialmente corrigida, mas isso não invalida o terror que nos inspira um sistema de justiça tão iníquo, em cujos tribunais prevalece mais o arbítrio das vontades pessoais dos juízes do que a certeza jurídica das leis da República."
http://www.maconariaportugal.com/ultimas-noticias/52-como-eles-falavam-de-maconaria-escutas-do-processo-portucale
ResponderEliminarDr. Assur:
ResponderEliminarEsse artigo do Marinho e Pinto é uma filhadaputicea acabada. Não comentei porque iria insultá-lo e prefiro não o fazer.
É demasiado rasca o que está por trás desse artiguelho. E sei porquê...
Caro José
ResponderEliminar"Deus não dorme"... :)