A actriz Rita Blanco em entrevista de duas páginas ao i de hoje, sobre uma pergunta acerca do "estado da cultura, em Portugal", diz assim:
" Já nem temos Ministério. Obviamente que precisamos de batatas, mas é inacreditável, como acreditamos, desde a época salazarista, que não precisamos de educação e cultura. Não ter cultura vai fazer de nós um povo triste, que percebe cada vez menos."
Esta concepção de cultura necessitada de um ministério, parece-me exactamente o símbolo da incultura. Parece-me que a ideia básica será a de que o Estado deve subsidiar certas actividades culturais e quanto tal não acontece, não temos cultura.
Ora, em primeiro lugar, o que será a tal "cultura"? Não esperava que fosse uma Rita Blanco a dizer, senão por citação, o que aliás nem acontece.
Não obstante, é muito importante estabelecer a base de um entendimento mínimo destas coisas e a noção de cultura é uma delas.
António José Saraiva escreveu um livrito em meados dos anos quarenta do século passado- Para a História da Cultura em Portugal- no qual escreveu essencialmente sobre...literatura. O que melhor sabia e conhecia.
Mas no prólogo da primeira edição, escrito em Viana do Castelo no ano de 1946 tentava definir a cultura como " a possibilidade de controlar e reconhecer as forças naturais de que somos agentes ou pacientes, ou as duas coisas ao mesmo tempo". Portanto, uma noção pantológica de cultura.
No mesmo prólogo lamenta a ausência de uma élite em Portugal que assentasse arraiais nas universidades e que constituísse o que de melhor teríamos para representar as massas que somos como portugueses. Concluía que não existia essa élite a não ser como representante de uma classe fechada em si mesma e portanto alienada ( marxisticamente) das massas em geral. E tentava explicar que sendo o nível cultural médio da população relativamente baixo, não poderíamos esperar uam verdadeira Universidade porque " não há uma base suficientemente larga para recrutar esse pessoal dirigente".
Será isto que Rita Blanco quer dizer?
Não me parece nada...porque me parece antes que cultura, para o efeito é o mesmo que dizer "para quem é, bacalhau basta". Ou seja, cinema nacional, arte nacional em geral. E subsídios a granel.
E o que o José tem de concreto a acrescentar? Se concorda com a análise citada, e "o nível cultural médio da população [é] relativamente baixo", nao será a mesma populacao a fazer um grande esforco para ampliar a sua cultura, nao? Será sempre preciso alguém individual que tenha uma idea que saia da média para criar iniciativas interessantes. Assumindo que a cultura (que parece dizer) nao é comercialmente viável, será que essas ideias devem ser apoiadas ou nao?
ResponderEliminarCompare com praticamente todos os países que menciona no blog como mais avancados, e veja qual o papel do estado nesses países em apoiar a cultura. Ou seja, a ajudar à realizacao de novas ideias que nao se esgotam no retorno comercial imediato (que também sao cultura, mas nao a mesma).
Por exemplo, nomes como Oliveira, Monteiro, E. Nunes, sao celebrados "lá fora" com muitas honrarias. Eles nunca deveriam ter sido apoiados?
A senhora dona, apesar de podre de beta, é boa actriz, do melhorzinho que há no rincão. Mas, pelas almas, o que aquela cabecinha diz não se escreve: qualquer ser pensante reconhece contristado que a criatura é um caso perdido, uma analfabeta irrecuperável. Podia ser doutorada pelo Iscte.
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