Pedro Lomba entrevistou Vasco Pulido Valente e o Público de hoje mostra o que disse um dos mais antigos cronistas portugueses. É uma entrevista a não perder.
Leio VPV há vários anos. Já lia nos anos oitenta, ainda antes de entrarmos na CEE, na revista Grande Reportagem. Continuei a ler no Independente e na Kapa e agora no Público.
Vasco Pulido Valente é um dos nossos melhores cronistas de jornal e Pedro Lomba também.
A entrevista, com quatro páginas de jornal mas com fotos de grande dimensão, mostram-nos um VPV sempre pessimista, amargo até.
Sobre a nossa realidade político-social VPV acha que os governos não dependem dos bancos. Ou seja, entre as "forças sociais" que sustentam os governos, incluindo " o voto, certas instituições, as câmaras e as regiões autónomas e também os aparelhos partidários que se confundem com as câmaras". Mas os bancos, não.
VPV esquece o que se passou com o BPN, o BCP e a CGD nos últimos 15 anos. E o BES, com o senhor Salgado, outro Sombra do regime. Os bancos podem não sustentar governos directamente, mas...de onde saem os governantes da economia? De um saiu um incrível, (a todos os títulos) Manuel Pinho que escolheu como regulador da concorrência outro ainda mais incrível Sebastião?
VPV sabe o que disse Catroga de Pinho? Que ao sair do governo "disseram-lhe" que iria para a Caixa para seu desgosto porque ganhava pouco mais de 350 mil euros por ano...
Só este pormenor anedótico contado por um indivíduo sem papas na língua, permite entender que em Portugal há um mundo paralelo que se governa nos governos e que tem assento nas mesas de conselhos de administração de certas empresas como os bancos.
É um mundo que VPV parece não perscrutar e que significa apenas uma coisa, quanto a mim: é o verdadeiro poder em Portugal. É o poder do dinheiro, do grande dinheiro e que nos dias que correm procura colocar o dinheiro a bom recato, nas offshores etc etc. Ninguém parece ligar ao facto, mas a fuga de capitais em Portugal, actualmente só terá paralelo nos tempos do PREC de há mais de trinta anos atrás.
Por outro lado, VPV acha que o pai da nossa crise actual tem um nome algarvio: Cavaco. Foi ele quem "empurrou o carrinho pela descida abaixo."
VPV esquece outra coisa ao enunciar esta ideia: Com Cavaco tivemos a aposta no betão e apareceu o novo-riquismo das Amoreiras e o embrião do BPN, apenas um símbolo neste panorama. O nosso mal moral intensificou-se com Cavaco, é certo. Cavaco será talvez o pai da moderna saloiice portuguesa. Cavaco não é saloio mas os seus amigos políticos são-no, quase todos.
Mas tivemos outra coisa que alguns esquecem: com Cavaco não teríamos os estádios do Euro, de José Sócrates e Guterres, porque o próprio se questionou na altura publicamente. Não teríamos o endividamento que tivemos nos últimos dez anos e que foram a raiz e a causa dos nossos males financeiros. Mesmo que Cavaco tenha sido presidente da República não a mesma coisa que ser governante em maioria absoluta e tendo em conta que é um indivíduo medroso e cauteloso, não arriscou o confronto com o governo, para garantir a estabilidade, a sua estabilidade presidencial, acima de tudo. Será o mesmo culpado de tudo, por causa disso? Nem tanto ao mar...
Sobre as suas crónicas ao longo dos anos, Pedro Lomba perguntou-lhe se alguma vez se enganou nalguma coisa...para ouvir uma resposta desconcertante: "Não me lembro de me ter enganado em nada de essencial, mas você dirá..."
Não disse, Pedro Lomba não disse mas devia ter dito: enganou-se na profecia de catástrofe no Leste após a desintegração da URSS. Houve guerras? Claro que houve, mas não aconteceu a hecatombe prometida. E ainda bem que VPV se enganou. Como se enganou ao apoiar o MASP de Mário Soares e a eleição deste como PR. Uma das causas do nosso mal estar-social tem origem nessa desgraça eleitoral e com o que se passou em Macau nos anos a seguir.
Mário Soares é uma das figuras mais nocivas da nossa democracia pela mediocridade que transporta e sempre transportou. Se VPV se lembrasse do ditado sobre a forte gente que se torna fraca por causa dos fracos líderes saberia o que isso significou de desgraça colectiva para nós. Que não para uns tantos que aproveitaram à fartazana como vilanagem que são.
De resto, VPV escreve por um motivo interessante e que subscrevo inteiramente: " é uma maneira de comunicar com o mundo, de não me isolar, é uma maneira de não perder o pé ao mundo e também é uma maneira de intervenção política " (...) "achando que tendo coisas a dizer que as outras pessoas não dizem, custa não as escrever, não as comunicar."
Exactamente. É mesmo por isso que também escrevo.
Para finalizar: VPV acha que a RTP devia acabar . Devia ser extinta.
E acha muito bem. De pura higiene se trata.
ResponderEliminarBom "post".
ResponderEliminarMas, em jeito de provocação, lembro: Vasco Lourenço, também considera que estamos a viver um tipo de PREC ao contrário.
Muito embora ambos tenham contribuído de forma decisiva para a bancarrota moral, económica e financeira do nosso País, existe, no meu entender, uma "colossal" diferença entre o Dr. Mário Soares e o Dr. Cavaco Silva. Mário Soares, até pelo seu passado, só enganou aqueles que queriam ser enganados. Já Cavaco, agarrado à batina da sacristia, e à ladainha do "eu não nasci em berço de ouro" enganou muita gente que já se considerava imune ao canto de sereia do "social/socialismo". O "Pai de Monstro, cognome que lhe assenta como uma luva, da autoria do seu Ministro das Finanças , Prof. Miguel Cadilhe, constitui um epitáfio à altura da mediocridade e falta de carácter que caracterizam o Dr.Cavaco Silva.
ResponderEliminarMuito bom post.
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