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sábado, março 10, 2012

A dádiva da dúvida ou a ética das cabalas

A figura e o nome de José Sócrates continua por aí. É ele o verdadeiro "anda por aí" que temos na política. Mesmo em Paris, anda por aqui, telefonando para cá a fim de influenciar o partido, as pessoas do partido e a política do partido.
Os antigos apaniguados, fiéis como sabujos, aparam-lhe todo o jogo e tornam-se caixas de ressonância dos queixumes e ordens do antigo patrono. Tal como fez no caso da licenciatura, José Sócrates continua a dar ordens de fora e bardos tipo Lello ou malhadinhas tipo Silva repenicam recados e um tal Silva Pereira, pau mandado para toda a obra política, faz voz grossa ao presidente da República respaldado nos recados telefonados.

Isto é simplesmente um fenómeno sem paralelo! Não se conhece noutros partidos coisa semelhante em qualquer época política. Nem com Mário Soares, nem com Sá Carneiro, nem com Cavaco Silva, Guterres, ou outra figura que ocorra, se encontra paralelo em comportamentos semelhantes. Não se percebe esta sabujice atávica a não ser por motivos ainda mais vergonhosos e relacionados com a vidinha que arranjaram com o indivíduo.

Nos jornais de hoje dá-se um destaque a notícias da semana que implicam a pessoa de José Sócrates em esquemas duvidosos e corrupção pura e simples. No Correio da Manhã, José Eduardo Moniz escreve que "José Sócrates é hoje omnipresente nos tribunais. Do Freeport ao Face Oculta, passando pela Universidade Independente, o seu nome é sempre invocado. seja pela falta de transparência do diploma de engenheiro, seja pelo perfume de corrupção que emana dos dossiês. O mal é que a verdade nunca se saberá..."

João Pereira Coutinho ( o cronista de Amarante) no mesmo jornal escreve que "um país que ainda respeita Sócrates não merece grande destino".

Pois é este fenómeno que espanta. Qualquer pessoa mediana, com todos estes casos às costas já tinha arreado a jiga na praça pública e saído pela esquerda baixa para um olvido conveniente. Não assim com Sócrates. Porquê?
Talvez por uma razão que os seus apaniguados se encarregam de demonstrar: nenhum deles reconhece qualquer valor a esses episódios vergonhosos para qualquer pessoa normal. O tal Pereira, pau-mandado de sempre, acha que uma frase de Cavaco Silva num prefácio de um livro de memórias, sobre um facto indesmentível e indesmentido, é uma afronta e o presidente não tem autoridade moral para tal. O sinuoso Vieira da Silva, perigoso também pelo apego à simulação, acha que o presidente já confrontou antes; o Lello cantor ,esse, já foi comentado. Um outro, Galamba, deputado que perguntava coisas ao governo de Santana e depois de poder sabê-las não as contou publicamente ( sobre a avença da Parpública à PLMJ ) acha que é ajuste de contas no que é secundado por um tal Laranjeiro deputado. O Zorrinho, esse, fala em surdina e não se ouve bem.
Portanto, nenhum antigo apaniguado se dá por achado com o panorama que se abate sobre José Sócrates. Todos desvalorizam o assunto por uma razão simples que Eduardo Moniz enuncia: " o mal é que a verdade nunca se saberá..." É esse o segredo deste tipo de políticos que não se consegue exterminar: encobrir a verdade, sempre, mesmo que ela salte pelos olhos dentro.
Mesmo que salte pelos olhos de toda a gente com um mínimo de sensatez, estes politiqueiros que sobrevivem nestes esquemas e neles foram educados de há anos a esta parte, desmentem, mentem, aldrabam e acabam por instalar e instilar um efeito que lhes é útil: a dúvida.
A dúvida é o segredo que os protege da ira popular, do efeito mediático, da justiça material e da processual.
Para manter esse efeito com perenidade, esses maltrapilhos da política preferem não se confrontar com a verdade simples e banal e para tal, fazem coincidir a ética com a lei. Como a lei que antes prepararam com todo o cuidado, lhes faz o jeito de não permitir que se indague para além de certo ponto, sentem-se plenamente protegidos desde que mantenham esse estado de dúvida permanente.
O processo penal que gizaram com todo o cuidado é apenas um meio para tal efeito. O caso Freeport pode estrebuchar no tribunal que o perfumado de Paris não se desconjunta um milímetro na sua integridade. O caso Face Oculta pode berrar pelas escutas que demonstram o óbvio que a impossibilidade de as ouvir de viva voz manterá integralmente a mentira debaixo do tapete da anomia. O caso da Independente suscitará sempre dúvidas na medida em que os envolvidos perdem credibilidade moral e a bandalheira do ensino era norma.
Até mesmo no caso singular e fenomenal da vida em Paris a dúvida lhe servirá mais uma vez: se chegar ao ponto de ser confrontado com a impossibilidade de fazer a vida que faz, com o rendimento que tem, terá sempre uma tábua de salvação à espera: uma dádiva oportuna, desinteressada ou uma ajuda propícia. Será essa a explicação que dará: uma dádiva para a dúvida.

Este indivíduo é incrível. Inenarrável mesmo.

PS. a imagem supra, do CM de hoje retrata o indivíduo em Paris a telefonar e segundo conta o jornal, em tempo real, ou seja, o mesmo foi ouvido por dois jornalistas do jornal ( o que andarão a fazer? Espero que seja isso mesmo...) a mandar recados e ordens para cá, para o pau-mandado Pereira.
A ética do jornal em publicar uma conversa privada do indivíduo só encontra justificação no interesse público da mesma. Mas o facto de andarem a vigiar o indivíduo não augura nada de bom...

11 comentários:

  1. Também espero que esta marcação cerrada do CM ao "engenheiro" traga novidades. Nos tempos que correm é vergonhoso o medo que os jornalistas ainda têm desta personagem e dos seus apaniguados. Veja-se o caso de João Maia Abreu (TVI) que desde as declarações prestadas em 2010 na Assembleia da Republica, tem estado calado que nem um rato, esta semana dá uma entrevista ao I e tem esta pérola :
    "
    I - Mas houve a guerra entre Sócrates e a TVI…

    JMA - Já lá vai, já passou tanto tempo. O senhor agora está em Paris.

    I - As alegadas pressões de Sócrates tinham algum fundamento?

    JMA - Tinham, ponto final. "

    Ou seja tinham fundamento, mas como quem tem cú tem medo ... o melhor é não concretizar e acabar com a entrevista.

    Entrevista JMA - Jornal I - 10/03/12

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  2. Por que razão os apaniguados tal e tal? Por que razão se calem estes e aqueles? A resposta é tão evidente que até dói - e se nos dói: foram tantos os milhões desaparecidos, são tantas as cumplicidades, que ai de quem roer a corda. Sobre uma história escabrosa de pedofilia o vale e azevedo do país construiu a sua teia, se daquela nada resulta, desta ainda menos resultará. Ou talvez não. Depende do que tapam os aventais, podem deixar de querer tapar o ranhoso e ele sabe isso et pour cause mantém a rédea curta. Isto ainda vai dar um grande romance ou pelo menos um filme manhoso.

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  3. a rataria anda em completo desespero.
    sente-se órfã.
    arranja sempre um abcesso de fixação
    ou 'fait d'hiver'

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  4. Esses ratos da politica não conseguiriam calar a verdade, mesmo com as leis que pariram, se não tivessem a cumplicidade de quem até inventa coisas como "extensão procedimental" para ajudar esta corja a furtar-se da responsabilidade... criminal, porque da outra (a politica) estamos conversados. Como não há ética na política agora estas aves falam de ética republicana. Pois é, a tal de "furtar" vilanagem assoados aos aventais.

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  5. José
    E que nos diz do despedimento do Mário Crespo pela direcção do Expresso?
    .
    Dá para caso de estudo!
    Um indivíduo critica outro por ter despedido um jornalista por delito de opinião.
    O outro dá uma resposta que é mal tratada.
    Um terceiro critica o primeiro
    O jornal onde tudo se passa demite o ultimo, por delito de opinião.
    .
    Ou seja, o Expresso dá muita corda à critica feita ao Marinho por supostamente ele ter feito o mesmo que eles fizeram ao Crespo.
    .
    A coerência é tanta que dói.

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  6. Não cheguei a perceber se as declarações ácidas de Silva Pereira eram apenas uma crítica a Cavaco Silva ou se ele ficou a pensar que às tantas o homem ainda acaba por escrever qualquer coisa sobre o caso das escutas.

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  7. foca:

    Digo que hesito em comentar. Crespo não me interessa, Tavares ainda menos e quanto a Luís Marinho, passo.
    O Ricardo Costa é o único que me levaria a comentar. Para lhe dar porrada verbal.

    Mas ainda não sei se vou comentar. Talvez.

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  8. José
    Pois do Tavares eu posso ajudar.
    Ainda ele andava pela grande reportagem, na altura como director, e todos os meses debitava umas opiniões ambientais com a superioridade moral do costume.
    Uma das vezes comentou um assunto com que não concordei, e vai daí, num ímpeto de juventude resolvi escrever uma critica e enviei para a revista.
    No mês seguinte saiu a minha carta, com apenas uma parte do texto e pontuação alterada (quem lia não percebia nada). Por baixo tinha um comentário do sr. director a gozar, algo do género "não percebi mas deve ter razão!"

    Nunca mais escrevi para nenhum jornal ou revista.

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  9. Poste delirante, pasquim delirante, jornalistas, perdão, esbirros delirantes...
    Pobre país!

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  10. Delírio a sério, já tremens, é aceitar como normal a vida do emigrado em Paris. Vive do nada...

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