"Politicamente, há duas formas de avaliar a conduta dos governantes: nas urnas, pelos cidadãos; no Parlamento, pelos mecanismos de fiscalização disponíveis a todos os partidos, onde a oposição joga um papel fundamental. Criminalmente, há um único caminho: todas as suspeitas devem ser comunicadas às autoridades competentes, investigadas e depois prosseguir o processo normal da Justiça.
Partir de uma associação sindical de juízes a iniciativa de mandar investigar...ler mais aqui:
Comentário:
O eidtorialista do DN de hoje (pre)ocupa-se com "os perigos da judicialização" da conduta dos governantes. E considera que há duas formas de avaliar a conduta de quem governa: uma, em eleições e outra, no Parlamento. E uma outra via singular de avaliação, que o editorialista considera de sentido único: a transmissão de suspeitas às autoridades.
Daí em diante, o editorial entra em sofisma de jornalismo desportivo, como habitualmente. E com clube de eleição, naturalmente.
Se a iniciativa de "mandar investigar dúvidas" sobre utilização de dinheiros públicos partir de uma associação de juízes, tal é original, segundo o editorial. O sofisma esquece o contexto- uma associação sindicalizada que se viu privada de elementos factuais para discutir salários dos associados;e ultrapassa o texto-a associação não mandou investigar, apenas remeteu às autoridades competentes para estas investigarem. Afinal, a única via legal para tal.
O sofisma ainda se vale de um pretexto: diabolizar a pretensa judicialização da política, em mais uma expressão feita por conveniência política e ideia peregrina desde os tempos do caso mani pulite em Itália. "Quem tem medo do"...judicialismo? Os políticos, claro está. Tal como os "fassistas" de antanho e na canção de um Letria tinham medo do comunismo.
Certos jornalistas com destaque assinalável para o editorialista do DN aplaudem a ideia e a frase assassina anda associada a outras de idêntica proveniência, como "o protagonismo dos juízes", "o juiz justiceiro", a "justiça da inquisição" e outras pérolas que um Marinho e Pinto por vezes desfia no seu rosário de ignomínias contra os juízes e magistrados em geral. Certos jornalistas, como o editorialista do DN, aplaudem e chamam-lhe um figo e denegam assim o direito de intervenção cívica da magistratura, retirando-lhe direitos que a democracia garante. Tal é-lhes indiferente como resultado porque as frases sonantes, mesmo vazias de conteúdo, dão uns óptimos títulos.
Os editorialistas tipo Marcelino ou Tadeu ( que está de parabéns pelo magnífico suplemento QI ao Sábado no DN e digo-o sans blague) sabem bem o que querem: proteger a classe. Não necessariamente aquela a que pertencem mas a que lhes dá a vidinha que têm e a que julgam pertencer como dirigentes de classe jornalística. Citam a democracia para a delimitar e capar e negam direitos para deslegitimarem, apontando gratuitamente um argueiro de "descredibilização" alheia sem repararem na trave que os tolhe.
Este entendimento da democracia é como um jogo de poderes em que os editorialistas se colocam na bancada dos mais fortes e que são os que os sustentam.
O DN tem sido ao longo dos anos uma espécie de caixa de ressonância de um certo poder político do momento e mesmo após a privatização a lógica editorial continua a ser a mesma, a de conferir prioridade aos interesses do patronato, aliado aos poderes políticos que o sustentam. La boucle est bouclée há muito no DN.
Só assim se compreende que se denegue a uma associação de magistrados o direito de participar criminalmente factos que têm essa mesma relevância, considerando-o um exercício ilegítimo, descredibilizador e deletério. Como se esse direito não se transformasse num dever estrito para todas as pessoas que exercem cargos públicos e deparem com suspeitas de crimes, neste caso relacionados com dinheiros públicos.
Neste caso, o que deveria ser escândalo e razão suficiente para o jornalismo encetar investigação, transforma-se em caso "singular", de contornos políticos, contra os políticos e que descredibiliza a magistratura.
É o mundo ao contrário, no Diário de Notícias. O editorialista lá saberá porquê e porque lhe doeu a iniciativa.
Entretanto, na edição do passado Sábado, um pequeno apontamento da autoria de um jornalista do diário mostra como funciona a corrupção política em Portugal, com um esquema que explica como é que "políticos corruptos podem controlar a máquina do Estado".
Se o editorialista do DN fosse mais atento ao que se escreve no seu jornal, metia a cara num saco. Isso, se tivesse vergonha.
O amigo Oliveira lá sabe com que linhas de se há-de cozer (escrevi com c e não com f).
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