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sexta-feira, março 02, 2012

O silêncio dos responsáveis e o tapete anómico

Esta pequena crónica de Manuela Moura Guedes no Correio da Manhã de hoje resume o estado da arte mediática no nosso país.
O jornal tem divulgado as escutas entre José Sócrates e Luís Arouca, a propósito da licenciatura daquele e do modo como o mesmo pretendeu esconder da opinião pública o assunto, aldrabando, omitindo e procurando manipular a informação a esse respeito. Tudo isso enquanto exercia funções de primeiro-ministro.
Tal como Manuela Moura Guedes refere, poucos ou quase nenhuns comentadores habituais se referem a esta divulgação legítima desses factos e se indignam com o que os mesmos revelam.

A anestesia anómica que atinge uma boa parte dos media encontrou um alfobre bem adubado nas várias direcções de informação. A informação em Portugal e em geral está completamente desviada de assuntos que contendem com ética, moral política ou limpeza de costumes que se liguem a determinados indivíduos de partidos políticos do poder.
Há assuntos que os media em Portugal não abordam, nem tentam sequer uma aproximação tímida e que revele uma realidade que todo o cidadão comum e medianamente inteligente compreende.
Por exemplo, como vivem e de que vivem certas pessoas da ribalta política. Com que dinheiro vivem e como o ganham é sempre uma espécie de tabu que a informação doméstica e suave não sindica nem sequer cheira informativamente.

Antes, durante o consulado governativo daquele mesmo indivíduo, a retracção noticiosa cheirava a medo puro e simples, quando não a sabujice plena e acabada.
Em 2007, altura em que estes factos ocorreram, o governo ainda não tinha entrado na fase descendente e apesar de os mesmos constituirem matéria noticiosa, a importância que lhes foi atribuida reduziu-se à banalidade de factos inconsequentes.

Talvez por isso mesmo, a repristinação do assunto parece não interessar à maioria nem indignar quem deveria. Assim como não interessa indagar o que se passa com os negócios de milhões em que esse indivíduo, enquanto governante, autorizou e promoveu, em nome do interesse colectivo e que prejudicou seriamente esse interesse, por incompetência ou pior ainda. É o caso das PPP e em certos contratos legalmente protegidos mas de contornos duvidosos na área bancária e das grandes empresas ( PT, por exemplo).
Os indícios podem aparecer que são rapidamente varridos para debaixo do tapete anómico.

E ainda falam do "fassismo"!

24 comentários:

  1. li algures esta manhã que o Juiz Ricardo Cardoso teria pedido 'as escutas'.
    não me admiro que seja verdade.
    Ricardo tem tomates para isso e muito mais

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  2. Caro José,

    "Assim como não interessa indagar o que se passa com os negócios de milhões em que esse indivíduo, enquanto governante, autorizou e promoveu, em nome do interesse colectivo e que prejudicou seriamente esse interesse, por incompetência ou pior ainda."

    Não interessa porque há muita gente, como por exemplo o caro comentador mujahedin no post anterior, que acha que a responsabilidade última é dos eleitores. Somos nós que os elegemos, por isso a javardice que eles fazem é da nossa responsabilidade. Ponto. E assim se esgota a democracia.

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  3. Confesso que não gosto do estilo MMGuedes. Aliás, detesto a personagem em questão, talvez por razões que aqui não importam.
    No entanto, não me custa admitir que subscrevo na integra o artigo da MMG.

    Repare-se, por exemplo, que no caso dos cartões de crédito de vários Ministérios, a comunicação social tem estado completamente ausente (excepção ao CM). Teve de ser o sindicato do MJ a pedir essa informação.

    Vivemos numa época onde o poder politico (dominado pelos partidos) e o poder dos media vivem em conluio...e onde nada interessa.

    Va la...hj joga o SLB-FCP...não vai haver crise....

    Repto: O problema está bem identificado (nem que seja por alguns)...falta é a solução...ou a coragem para assumir a mesma!

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  5. eheheh

    Essa lógica nega-se a si mesma. Se é verdade que não são os eleitores os reponsáveis pelos desvarios do poder, igualmente também não são eles que possuem megafones nem poder para fazerem justiça.

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  6. Olhem para a Irlanda. A Irlanda vai mais uma vez fazer uso do seu direito soberano de entregar ao povo o direito de decidir numa matéria que tem óbvias consequências para a Zona Euro.

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  7. Caro Wegie,

    Mais uma vez, mas ao estilo do último exemplo?

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  8. O país(a Irlanda), está obrigada pela sua constituição, a fazer referendo sempre que esteja em causa qualquer perda da sua soberania. Custou demasiado aos Irlandeses serem independentes. São poucos mas orgulhosos.

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  9. Caros,


    que a responsabilidade derradeira do estado de uma democracia pertence aos eleitores, parece-me uma verdade insofismável. Se a democracia é o sistema em que todos os cidadãos de uma Nação, juntos, determinam as políticas públicas, as leis e acções do seu Estado, ainda que por meio de representantes; em quem mais poderá recair a responsabilidade do bem-estar, ou falta dele, de um país?


    Mas não penseis que sou ingénuo ou alheado da realidade o suficiente para não compreender perfeitamente que, na prática, a realidade se compõe de coisas muito mais prosaicas do que elevados conceitos morais e abstractas considerações filosóficas. Favores, trocas, conhecimentos, são mais estas as leis que governam o existir nacional. E estas leis têm rostos, nomes e consequências. Sou absolutamente a favor de responsabilizar e reprimir de todas as formas justamente possíveis quem tenha usado o poder detido públicamente para benefício próprio, sobretudo se em prejuízo do erário público.


    Quanto à justiça, não percebo muito, não sei. Mas sei que se todos os eleitores tivessem cumprido nos últimos anos a sua responsabilidade, não de ir votar, mas de o fazer na consciência de saber que tentou informar-se o máximo possível sobre em quem vai escolher para o representar, a Justiça e a justiça não estariam certamente tão degradadas como hoje estão. O que, na verdade, me faz questionar se haverá eleitores a mais...

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  10. ( Somos um povo despolitizado, é o que é . E não há nada como um povo despolitizado para servir esta gente . )

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  11. mujahedin-quelque-chose:

    O problema é que não é democracia nenhuma onde se possa escolher pessoas porque os que vão a voto já foram uma triagem limitadíssima e de lobby e não elegememos sequer um partido, sabendo quem irão ser os ministros, como se passa em Inglaterra, por exemplo.

    Também não temos informação popular porque, ao contrário dos países livres e democráticos, como o José não se cansa de mostrar, os nossos jornalistas são "suaves" e domesticados, cheios de respeitinho.

    Portanto, está enganado. Votar não altera nada e, o mais indicado para agitar alguma coisa- seria ninguém votar em nada.

    Uma greve geral à urna. Isso sim, poderia ter algum efeito.

    Mas, como é óbvio, é algo inmpensável, pois não há indignação por amorfismo e desinformação.

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  12. Mas eu penso é que já nem há povo, o que é mil vezes pior.

    E estes últimos anos socretinos conseguiram incnetivar o chico-espertismo por imitação do exemplo de cima.

    Não há indignação moral porque infelizmente o povo também se habituou a lucrar das falcatruas que o Poder permitia e praticava para ter votos.

    Não é problema de despolitização- é o inverso- excesso de partidarite e encosto por essa via.

    Já faltou mais para a "formação cívica" ser feita por ideologia partidária infiltrada logo na pré-primária.

    Porque a partir do ciclo e do secundário já lá estão infiltrados.

    A "escola democrática" que temos é uma máquina de formatação idológica maior que a do "facismo".

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  13. Correcção: permitia e permite e fazia e faz.

    E é por isso que quem diz que nada mudou tem razão.

    Não serão iguais, mas a verdade é que deixaram intocável o esterco que alimenta o saque e a corrupção.

    E aí nem o programa da Troika cumprem. Nada. Como aliás eu previ e deixei aqui escrito, no dia em que foi aprovado o memorando e o José até publicou um post do que agora é ministro da economia.

    Disse logo que estavam a sonhar porque o tanas- tocar em fundações, PPS, Câmaras, juntas e toda essa procaria para o saque é que bem podiam esperar sentados.

    Enquanto houver povo a quem se sacar dinheiro para a dívida, essa vergonha continua intocável e a alimentar o mesmo.

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  14. Em Inglaterra vão a votos partidos mas com governos e governos sombra públicos.

    Não é como cá onde apenas andam a votos uns pategos que vão fazer de PMs, eleitos por meia-dúzia de cretinos com poder de lobby dentro dos partidos.

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  15. Voltando à escola- eu não sei se v.s estão a par do que se faz hoje em dia nas escolas.

    Eu vou tendo umas informações e garanto-vos que são assustadoras.

    O Crato deixou tudo na mesma- aquela cambada de pedagogos não foi corrida e pior, as direcções das escolas continuam a ser eleitas pelas "forças vivas da terra"= partidos.

    Para terem um exemplo- na disciplina de Filosofia já se chega a chamar putos mongos e analfabetos das jotas para irem lá dar "palestra" acerca dos projectos em que militam.

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  18. Um nojo esta comunicação que silência o que de grave se passa neste Portugal roubado pela corja dos políticos. Se eles, sem pejo até roubam rádios e gravadores, porque não hão-de roubar or portugueses. Não são eles que que se acobardam e não legislam sobre os crimes que vão praticando? Uma sugestão para a Televisão do Porto, agora sob a orientação de Júlio Magalhães: porque não contratam Manuela Moura Guedes para fazer um program de investigação semanal?

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  19. O senhor Juca a contratar MMG? Só se quisesse ser corrido daqui a pouco...

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  20. Mais grave ainda do que as PPP´s e da corrupção porventura coisas reversíveis é a nossa colonização africana.De papel passado.E com 500000 "legais" a aguardar vez.Isto com 1200000 desempregados que os vergonhosos agora convidam a emigrar...
    Aqui não custava um tostão ao contribuinte "reestruturar".Acabando com os ACIDIS e quejandos similares que tornaram mos indígenas escravos...

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  21. zazie,


    tudo o que escreve me parece, infelizmente, irrefutável.
    Sou da mesma opinião.

    Mas não acho que seja incompatível a minha afirmação sobre a derradeira responsabilidade. Mas convém notar que o meu intuito quando a escrevi e escrevo normalmente, passa mais por uma provocação aos "democratas" que tanto gostam de arvorar a sua "religião" como algo que não pode nem deve ser questionado, excepto se for para lhe reforçar ou enaltecer as virtudes.

    Ora essa gente tende a esquecer, ou a nunca se lembrar, que, pela lógica deles, a derradeira responsabilidade tem que estar em quem vota. É inescapável. A larga maioria dos andam por aí a vociferar dizendo que "são todos iguais" nunca se lembram que foi pelo voto deles que lá chegaram os que "são todos iguais". Mais, muitos ouvi eu indignarem-se e chocarem-se quando eu apelava a um boicote às urnas como sendo a única forma lógica de actuar num cenário "todos iguais" - porque votar "é um direito!", porque "quem não vota não tem direito a criticar depois!"(quão facilmente se transfigura um suposto direito numa obrigação!!!) e, enfim, mais um chorrilho de chavões e frases feitas (e concebidas algures, decerto, na mente de um qualquer esbirro partidário) que até metia dó o quanto aquela gentinha não enxergava à frente dos olhos. Muitos seriam os mesmos que votariam PS no segundo mandato por entenderem que MFL não "tinha perfil", o que quer que isso signifique...

    A democracia portuguesa é podre, é um logro. Nunca foi outra coisa. Nem o poderia ser, porque foi implementada por vigaristas/parasitas cujo o intuito nunca foi dar a responsabilidade da "liberdade" ao Povo, mas apenas verem-se livres da autoridade para melhor colonizarem a administração pública e usarem o dinheiro dos contribuintes para benefício próprio. A democracia portuguesa é um lobo disfarçado de cordeiro. E lobo procederá na sua chacina inexorável, porque os cordeirecos prezam a aparente liberdade que possuem, sobretudo, porque lhes permite pastarem na erva do vizinho.

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  22. Ah, quanto a isso tem toda a razão.

    O que mais há por aí é eleitores socretinos a descobrirem agora as maleitas do poder.

    Descobriram-nas no próprio dia em que perderam as eleições

    ahahahahahhaha

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  23. Eu também não suporto essa conversa do é tudo igual e agora é que é o presente que importa.

    Já dei corrida e da grande a quem me enviou fwds com essa treta- as aparições dos indignados de última hora.

    Os branqueadores, é o que são.

    Por isso é que também não vou na mesma de se dizer que a culpa é do povo. Em sendo, também somos todos pares.

    E ainda menos na treta da impunidade por estado de graça de maioria. Um Estado de Direito nunca pode estar impune em função do número de mecos que elegeu outros mecos.

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  24. Caros mujahedin, zazie,

    Só respondo agora, porque no fim de semana estive em off, como habitualmente :)

    Eu creio que é mais o que nos une que o que nos separa. Eu também há anos "sofro" quando sugiro que o voto é, nesta situação, uma perda de tempo. A malta olha pra mim como se eu tivesse sarna ou coisa que o valha :)

    Quanto ao assunto das responsabilidades últimas dos eleitores, digamos que, num mundo perfeito, com uma democracia funcional (e não voto por lobby como diz a zazie), com uma justiça a funcionar exemplarmente na punição dos desvarios, aí sim, se calhar podia aceitar essa ligação eleitor<->eleito<->responsabilidade.

    Como não é o mundo em que vivemos, não me parece de todo legítimo esse "fluir" de responsabilização. Há muitas coisas que deturpam essa corrente.

    Relativamente ao "são todos iguais", reitero a minha opinião anterior, e julgo que não difere de todo da vossa, no fundo. Não está em causa a virtde ou falta dela de elementos individuais de partidos ou governos; antes, é a própria organização da política que faz com que tudo junto, o resultado acabe por ser invariavelmente mau.

    Melhores cumprimentos.

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