Uma crónica de Jorge Fiel ( jornalista com a carteira profissional número 729, Jorge Fiel tem uma extensa carreira que começou na secção de revisão do JN e que passou, depois, pelo "Norte Desportivo", "Comércio do Porto", "Semanário", "Expresso" e "Diário de Notícias") um dos muito preocupados com o caso BPN.
O BPN dava um filme indiano
Não imaginam quanto lamento não ter o tempo nem o talento para digerir os 70 volumes e 700 apensos do caso BPN e escrever um thriller baseado nos factos reais da maior fraude portuguesa do século.
A realidade supera sempre a ficção. Duvido que John Grisham fosse capaz de imaginar a cena do juiz presidente do colectivo ter de fazer uma colecta para comprar no IKEA uma estante para arrumar o processo - que lhe foi negada pela DG da Justiça.
A galeria de personagens é estupenda. Ken Follet teria de nascer duas vezes para conseguir inventar um naipe tão rico, denso e variado.
No protagonista, Oliveira e Costa, que por alguma razão era conhecido na sua terra (Esgueira) como Zeca Diabo, e que munido de um cartão laranja subiu na vida ao ponto de chegar a secretário de Estado.
Saído do Governo de Cavaco, na sequência de um perdão fiscal mais que suspeito a empresas de Aveiro (Cerâmica Campos, Caves Aliança), foi recompensado pelo seu amigo com uma vice-presidência do BEI, apesar de ter um inglês ainda mais rudimentar que o de Zezé Camarinha.
Amigo do seu amigo, Costa comprou, em 2001, um lote de ações da SLN (dona do BPN), a 2,4 euros cada, que revendeu com prejuízo (a um euro/acção) ao amigo algarvio (o Aníbal, não o Zezé) e à filha dele. Menos de dois anos depois, Cavaco e Patrícia venderam as ações com um lucro de 140% - ele ganhou 147 mil euros, ela 209 mil. Nada mau.
Quando o naufrágio foi evidente, Zeca Diabo teve a dignidade de ir ao fundo com o barco, aceitou fazer de único responsável pelas patifarias.
Em recompensa pela imolação, foi libertado devido "ao seu estado de saúde e por se encontrar em carência económica". O elenco de actores secundários também é muito atraente e diversificado. Por exemplo, Manel Joaquim (Dias Loureiro), o filho de comerciantes de Linhares da Beira que chegou a ministro, conselheiro de Estado e administrador-executivo do BPN, carreira em que fez fortuna ao ponto de poder comprar, por 2,5 milhões de euros, à viúva de Jorge Mello, uma mansão no Monte Estoril.
Temos também Vítor Constâncio que, apesar de usar óculos e ser o governador do Banco de Portugal, foi o último a ver a falcatrua, anos depois da Deloitte, Exame e Jornal de Negócios terem alertado para o assunto.
E ainda Scolari, que recebia 800 mil euros/ano, Figo (apenas 400 mil/ano) e Vale e Azevedo, que sacou dois milhões (passaram-lhe o cheque antes de verificarem as garantias), e tantas outras figuras do nosso Gotha que lucraram com um banco que tinha balcões em gasolineiras e ativos tão extravagantes como 80 Mirós e uma coleção de arte egípcia.
O enredo é fabuloso. Dava um filme indiano. Só espero que, na venda ao BIC, o Estado tenha tido o bom senso de reservar os direitos de adaptação ao cinema desta história, que estou certo será disputada por Hollywood e Bollywood. Sempre será algum dinheiro que entra para minorar o prejuízo de seis mil milhões.
Este jornalista, Jorge Fiel, é um preocupado com o BPN. O caso BPN a Fiel e a todos os fiéis do costume é um caso que supera em tudo, todas as manigâncias de todos os demais governantes. O caso BPN suplanta Parques Escolares, Scuts, PPP´s, avenças a advogados e consultadorias.
Os milhões destas "festas" são nada ao pé do BPN, erigido por estes fiéis como o exemplo supremo da corrupção absoluta e do mal maior que nos atinge.
Para além de ser um "caso de polícia", o caso BPN é o bode expiatório de todos os casos que os fiéis fidelíssimos nunca viram, não querem ver, nem toleram que outros vejam.
Se o caso BPN for resolvido a contento destes fiéis, tudo retoma a normalidade democrática.
Os demais casos são nada de nada ao pé do BPN...
O Link não funciona José!
ResponderEliminarSão só 8 mil milhões de €uros que foram roubados ao as contribuintes. Coisa de nada. Estás mesmo a precisar dum oftalmologista....
ResponderEliminarO fripor e "a melhor ministra da justiça dos últimos 30 anos" (suponho que isto inclui o Mário Júlio da enfiteuse) tornaram-te míope.
ResponderEliminarNão te preocupes...tenho por aí escritos que atestam que sobre o BPN também tenho opinião.
ResponderEliminarSó que não é apenas sobre esse caso que me ocupo e acho que os demais precisam de um tratamento pelo menos idêntico.
O problema destes preocupados tipo Fiel é que não passam além da chine...perdão, do BPN.
Tudo começa e acaba no BPN, para esses.
30 anos foi em 1982...era ministro o Meneres Pimentel, o do Código Penal que temos.
ResponderEliminarDepois disso houve outros, entre os quais o Laborinho.
o presidente da SLN é agora sapientíssimo Grão-mestre do minúsculo oriente do Bairro Alto.
ResponderEliminarera o candidato do anterior, o seminarista reis
os 'fiéis defuntos'sempre que querem desviar a atenção dos casos do pinóquio recorrem ao bpn, mas ocultam a imensa fila de xuxas que comeu à tripa forra.
A frase entre "" é tua. Não é minha.
ResponderEliminarA actual ministra da Justiça parece me mesmo a melhor dos últimos trinta anos. Mas ressalvei que era caso para ver...
ResponderEliminarAinda quanto ao BPN: há um inquérito criminal a correr; há presos (um pelo menos); há diligencias a decorrer.
Quanto aos demais casos, o que há? Quase nada...e quanto a esses os fiéis do costume não rasgam as vestes.
Só os incomoda o caso BPN...
Acrescentaria apenas que, se o caso em si é de polícia, a factura ser prejuízo para os contribuintes foi resultado de opção política, e mal explicada.
ResponderEliminarJosé, não seja cego nem se deixe cegar pelo laranjal... Uma coisa não invalida a outra e nem acho que o Fiel deixe de ter razão por escrever o que escreveu!
ResponderEliminarPercebo. Claro que o Fiel tem toda a razão e não sou eu que lha tiro, porque já escrevi no mesmo sentido, aqui.
ResponderEliminarO que me chateia é ler estes requisitórios contra o BPN e não ler ao mesmo tempo contra a "grande burla" que nos fizeram e que nem tem comparação com o BPN.
As Scuts e a renegociação das mesmas são uma gigantesca burla e não me parece que o Fiel se preocupe com tal.
É só por isso.
Então mas, quer dizer, porque é que se nacionalizou o BPN? É que, tanto quanto consigo perceber, embora fosse uma fraude gigantesca, era uma fraude entre privados. Por muito que interessasse do ponto de vista da Justiça e jurisprudência, não adviria daí grande mal ao contribuinte, pelo menos à primeira vista. Ora alguém, por alguma razão, achou que o contribuinte é que devia pagar a factura de uma gigantesca fraude entre privados. No entanto, o que é considerado um grande escândalo é o caso de polícia em si, e não o prejuízo monumental despejado sobre o erário público, portanto, sobre o contribuinte sem, aparentemente, necessidade alguma!
ResponderEliminarAs PPPs, Scuts, etc, envolveram, desde a sua incepção e por definição, o contribuinte. Portanto, qualquer fraude ou acto fraudulento, ou intenção de defraudar, teria como vítima o erário público, logo, o contribuinte. Mais, não é concebível que quem praticasse ou demonstrasse intenção de praticar a fraude, não soubesse que a parte prejudicada seria o Estado - o contribuinte. Portanto, teve que haver, no mínimo, negligência grosseira no que respeita ao dever primeiro e crucial de qualquer representante eleito ou nomeado políticamente que é o de acautelar e defender o interesse público acima de qualquer outro; e dolo da parte dos privados envolvidos pois também não é concebível que essas partes fossem ignorantes do prejuízo para os contribuintes resultante dos contratos que celebravam.
Parece-me, na minha modesta opinião, que tanto no caso do BPN como nos outros, e aqui não haverá coincidência, o que verdadeiramente importa do ponto de vista público - a origem e justificação do prejuízo sobre o contribuinte, é o que menos atenção recebe.
Portanto, com ou sem laranjais, e em linguagem mais prosaica, o que interessa é: quem é que roubou os contribuintes?
José, qualquer uma malfeitoria não invalida outra. Todas devem ter tratamento semelhante.
ResponderEliminarO facto de se tratar um caso específico, não quer dizer que os outros não existam. E os múltiplos postes do José, disso são prova.
No caso presente, julgo ser de aplaudir este artigo de Jorge Fiel, pessoa que há muito tempo acompanho pela leitura dos seus artigos.
E, se bem reparar, vai chegar à conclusão de que não há um caso em Portugal, mas sim um conjunto de casos que se interligam como uma teia.
Carlos: sendo isso verdade, o mesmo Jorge Fiel já escreveu sobre os outros casos?
ResponderEliminarSe me disse que sim, retrato-me no postal...
ResponderEliminarOu melhor, sem retrato, retracto-me.
ResponderEliminarJosé,
ResponderEliminarÉ capaz de ter razão. Estive a rever alguns artigos de JF e não encontrei outros casos assim tratados. No entanto, tal facto, não invalida a razão deste artigo sobre o BPN "penso eu de que!".
Abaixo de polícia há a deputalhada e abaixo da deputalhada há a rapaziada das claques e abaixo dos mongos da bola há os jornalistas e abaixo dos jornalistas há os jornalistas 'desportivos' e abaixo dos jornalistas desportivos há os jornalistas do Porto.
ResponderEliminarahahahahahah
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