Para se fazer a revista Sábado desta semana, alguém viu a Newsweek de 26 de Março
passado e teve uma ideia: copiar a ideia que viu.
A propósito de novos episódios da série televisiva Mad Men,
a Newsweek dirigida por Tina Brown ( Vanity Fair e New Yorker nos anos noventa e
mais umas tantas, incluindo uma Talk que durou pouco tempo-tenho o primeiro número e seria uma espécie de Life com Look anos 2000) elaborou aquele número seguindo um conceito: replicar a
revista segundo o formato gráfico e de conteúdo dos ano sessenta, época em que
a série se desenvolve.
Assim, aquele número da Newsweek apresenta as suas páginas
como saindo direitinhas da gráfica revivalista, com o grafismo, o lettering, a
distribuição dos assuntos, o índice e até as publicidades típicas dos anos sessenta que infelizmente não chegaram à edição internacional que comprei. A capa retoma o
formato do título antigo e as cores de antanho, com predomínio das fotos a
preto e branco. Só visto porque é uma pequena maravilha gráfica e conceptual.
A Sábado deve ter visto e como é tom em Portugal, toca a
copiar o conceito, plagiando até a ideia das publicidades retrospectivas.
O que na Newsweek é um trabalho perfeito, uma obra de arte
conceptual em forma de revista, na Sábado é um estenderete de pinderiquice que
até incomoda. E é esta revista “eleita newsmagazine melhor do ano pela Meios
& Publicidade”…
E no entanto a ideia até era boa, mesmo copiada. Só que…até
para copiar é preciso talento que na Sábado pelos vistos escasseia, como os
assuntos com interesse de notícia ou reportagem. Salva-se, no caso deste número, a reportagem sobre um homicídio de um polícia da PSP, não esclarecido, ocorrido em 30 de Abril de 1974, junto ao aeroporto da Portela e Rotunda do Relógio.
Enquanto na Newsweek a nostalgia não passa da segunda metade
dos sessenta, na Sábado a mistela revivalista junta os setenta com os sessenta
e porventura os primeiros da década de 2000, altura em que a revista apareceu, numa confusão mental de quem não arquivou bem o tempo que passa.
Enquanto a Newsweek
tem a noção exacta do respeito pelo aspecto editorial e idioma dos
anúncios de época, na Sábado tal efeito nem por sombras se nota.
Como exemplo mais patético deste falhanço pode ver-se o arranjo gráfico a imitar os
setenta sem nada que se lhe assemelhe em modo exclusivamente característico e a
ideia de refazer hipotéticas capas ( “as capas que nós teríamos feito”)
alusivas a acontecimentos reais dos anos setenta . Sobre o 25 de Abril, a ideia
de prognóstico futurista da revista seria capear com uma foto a preto e branco,
numa altura em que a cor se tornava dominante nas capas dos “newsmagazines” da
época ( até a revista da PIDE/DGS, Continuidade, já tinha capas a cores) , como
a Observador ( que já não existia em 1974, mas que foi muito importante para
mostrar o que foram os primeiros anos da década de 70 e o desenvolvimento
marcelista), para não mencionar a Flama, o Século Ilustrado ou mesmo a Vida
Mundial, relativamente às capas. A tal
capa, com moldura a vermelho teria um título com uma capciosa menção a “Tudo
sobre os bastidores da Revolução”. Supostamente, a revista saindo à Quinta, só na
semana seguinte poderia anunciar tal ideia cujo idioma pode ser tudo menos dos
setenta. Ninguém nessa época se lembraria de apresentar uma ideia peregrina dos
futuristas anos 2000, alusiva aos “bastidores” de qualquer coisa como uma
Revolução. Seria um título tão desfasado
como o de anunciar nessa época a
revelação dos ficheiros digitais da DGS.
Ou, para o efeito e como tal é apresentado, titular outro número da
revista , alusivo à primeira intervenção do FMI, em 1977, com uma foto de Mário
Soares e o título “FMI: como ele se afundou e nos levou atrás”.
Nem o O Jornal que nessa altura se dedicava ao assunto se
lembraria de titular uma coisa dessas de uma forma assim.
A linguagem, os conceitos e os termos escritos ganham por vezes
especificidades próprias consoante as épocas e a semântica do tempo
encarrega-se de situar a meta-linguagem
num domínio próprio ao entendimento geral.
Transportar para os anos setenta conceitos e linguagem das
décadas vindouras só lembra a quem não tem a noção do que significa o “ar do
tempo” e a importância dos sinais e símbolos
bem situados e muito menos entende as características da linguagem de cada época.
Para mostrar a gravidade dessa pinderiquice associada a uma
carência cultural gritante que é apanágio da Sábado, replico aqui um artigo
magistral publicado no jornal diário Diário Popular, de 7.12.1971, num
suplemento- Volta ao Mundo- de terça-feira ( o jornal tinha suplementos em
vários dias da semana, incluindo um cultural dedicado a livros à Quinta-Feira e
um mais ligeiro ao Sábado, intitulado Sábado Popular, com imagens sugestivas e
a cores, com cartoons e desenhos( por
exemplo os do O Fotógrafo estava lá).
Este artigo que publico, da autoria de Costa Júnior ( também
filatelista no jornal e aqui lembrado ) é um exemplo do jornalismo de outrora e que alguns jornalistas ainda vivos podem testemunhar mas que não ensinaram a ninguém e se ensinaram ninguém aprendeu devidamente. No modo como se
escrevia e nos termos usados; no modo como se descreviam acontecimentos, mesmo
passados ( no caso com mais de cem anos) e no modo como se respeitava o leitor
que percebia instantaneamente o que se dizia por escrito porque era escrito
para se entender plenamente e com prazer de leitura.Algumas das palavras usadas estão esquecidas e são de genuíno português que nenhum acordo ortográfico fará ressuscitar porque o jornalismo actual assassina palavras por não saber que existem.
É uma lição para todos os jornalistas da Sábado e
principalmente para a jornalista Rita
Garcia a quem incumbiram de fazer uma redacção sobre “A vida nos anos setenta era
assim” e escreveu o que escreveu em meia dúzia de páginas que fazem lembrar um "conta-me como foi" por quem leu em terceira mão os relatos de acontecimentos que não viveu nem compreendeu.
Se não foi à internet copiar factos e ideias, poderia ter
ido porque o resultado seria o mesmo.
Que desperdício!
Que desperdício!
devia abrir a época de caça a politicos e jornalistas
ResponderEliminartenho cada dia mais vergonha de viver nesta pocilga
misturado com a 'porca da politica'
não perco o meu precioso tempo a ler e ver porcarias
http://josepaulofafe.blogspot.pt/2012/04/desculpa-la-manecas.html
ResponderEliminarJosé precisava de consultar o seu Arquivo de Janeiro e o mesmo, só deixa até ao dia 23, como faço para consultar os artigos anteriores?
ResponderEliminarAbraço
Nuno
É um problema porque este template não permite ir para posts antigos e recentes, tal como o meu.
ResponderEliminarDeve haver qualquer erro no arquivo porque, em princípio, devia mostrar todos por mês.
Mas há maneira de controlar o problema. Edite um post desse mês que aparece em baixo "Entradas Anteriores" com links de outros tantos. Depois faz o mesmo, no último e assim por diante.
...........
ex:
http://portadaloja.blogspot.pt/2012/04/sabado-conta-me-como-foi-mas-de-outra.html
Obrigado, Zazie, porque eu mesmo tenho dificuldade, por vezes, em aceder a entradas antigas.
ResponderEliminarÀs vezes lá consigo, nem sei como.
Eu no meu consigo sempre!
ResponderEliminarObrigado Zazzie!
ResponderEliminarNuno
Mas, José, no seu caso é mais fácil. Faz login e procura no índice das mensagens por alguma palavra que conste no post.
ResponderEliminarPois, mas refiro-me a buscas diacrónicas no próprio blog.
ResponderEliminarE essas por vezes falham quanto ao elenco de todos os postais do mês.
Pois José o meu rapaz diz que foi o template que você usou, o meu que é mais novo que o seu não tem esse problema!
ResponderEliminarÉ bem capaz. O meu é antiguinho e sou conservador...
ResponderEliminarPois é. O do Cocanha também é antigo e não tem essa possibilidade de recuar ou avançar páginas.
ResponderEliminarMas aqui o problema há-de estar no índice dos arquivos. No meu dá para ver tudo.
Mas estes templates antigos eram mil vezes mais bonitos que a porcaria dos novos.
Pois José
ResponderEliminarSe o meu rapaz me ligar de novo eu pergunto.
Lembra-se do Jornal das sextas da MMG'
Quando entrevistou o tio do ZEZITO e foi um escangalhar na net?
Você já tinha o blog eu não!
E só o que posso fazer se quiser ajuda, o rapaz programa e deu em economista, mas sabe de Hard e Sfot!