Na morte recente de duas figuras mais ou menos públicas o destaque
mediático conferido merece alguma
atenção.
Primeiro Fernando Lopes, o cineasta de filmes portugueses e
amigo de outros cineastas de filmes ainda mais estrangeiros, cujo público nunca
os compreendeu de modo a frequentar as salas e aplaudir as obras, mas que
influenciou cineastas da nova geração cujos filmes um dia destes poderão ganhar
prémios e serem reconhecidos como obras-primas.Nessa altura se verá mas já passaram muitos anos para se poder ver alguma coisa.
Fernando Lopes chegou a Lisboa em 1939, vindo de Alvaiázere
e do campo agrícola. Gostava de futebol e acabou como dactilógrafo na RTP, tendo
evoluído até ser director ( e bom director) da RTP2 . Antes de 25 de Abril de 74 realizou filmes caseiros, digamos assim. Conheceu outros
cineastas nos anos sessenta, em litígio intelectual com o regime de então. Maio de 1968 andava muito perto deles e de António Cunha Teles, Paulo Rocha, Fonseca e
Costa, António Macedo, Alberto Seixas- Santos, António-Pedro Vasconcelos e João
César Monteiro, além de Augusto Cabrita.
Por causa disto um dos obituários que procurei ler foi este, no Sol da semana que passou, da autoria de António-Pedro Vasconcelos, outro "cross-over" capaz de se equilibrar bem nessa linha invisível que divide opções ideológicas. O escrito não brilha por aí além mas permite ler o essencial: foram eles quem fizeram o Cinéfilo que me encantava em finais de 1973. E isso chega para me inclinar na homenagem.
Por causa disto um dos obituários que procurei ler foi este, no Sol da semana que passou, da autoria de António-Pedro Vasconcelos, outro "cross-over" capaz de se equilibrar bem nessa linha invisível que divide opções ideológicas. O escrito não brilha por aí além mas permite ler o essencial: foram eles quem fizeram o Cinéfilo que me encantava em finais de 1973. E isso chega para me inclinar na homenagem.
É sabido que Vasco Pulido Valente era um dos seus amigos do
Gambrinus, como o seria Maria João Seixas, com quem casou. E como o seria um João Martins Pereira, o
marxista intelectualizado , também falecido há pouco e que ainda hoje inspira o
Bloco de Esquerda.
Quem fala em Maria João Seixas , antiga jornalista, lembrará
necessariamente um percurso televisivo num concurso que se chamava A Visita daCornélia, em 1977, um modelo de concurso bem montado, com originalidade qb,
sempre com motivos de interesse e a anos-luz do que se faz hoje no fast-food
televiseiro dos modelos importados e com direitos de autor a pagar no estrangeiro, com muitas luzinhas e apresentadoras, aliás dessas mesmas boas famílias da esquerda, a ganhar 30 mil euros por mês ( Catarina Furtado, filha de outro jornalista do mesmo grupo ideológico).
Nessa época, Portugal
era um sítio pequenino que havia em Lisboa, onde todos se conheciam e assim reunia todas essas personagens mais umas
tantas: Raul Calado, Paulo Renato, Maria Leonor, Luís de Sttau Monteiro,
Fernando Assis Pacheco, Gonçalo Lucena, Tozé Martinho, José Fanha ( "eu sou
português aqui e agora!") Tó e Clarisse, Pitum ( o arquitecto com uma família
tipo Música no Coração) etc. etc. foram personagens da Visita da tal Cornélia. Carlos
Cruz não andou por aqui mas poderia ter andado porque o Zip-Zip foi o percursor
desse tipo de programa televisivo e o meio incluía toda essa gente.
O Portugal de 1977 era um sítio pequenino onde só cabiam
jornalistas, radialistas, cineastas, artistas de variedades e de teatro. Eram estes que apoiavam nos media os
políticos de então, numa altura em que Portugal, sítio de Lisboa, andava de mão
estendida à caridade do FMI e as importações eram mais restringidas do que o
bacalhau de cura amarela, por causa da depreciação galopante do escudo de
então.
Quem promovia todos estes artistas das variedades, incluindo as políticas, eram os media que havia. Nas variedades o destaque ia todo para o
Sete, jornal semanal saído de O Jornal, cujo corpo redactorial se poderia
juntar àqueles nomes por afinidade e idiossincrasia.Aliás, o Jornal de Letras cuja capa se publica é dirigido por...José Carlos de Vasconcelos, um jornalista da família de esquerda soft, primeiro responsável pelo O Jornal, em 1975. Para se ver melhor quem são os membros da família alargada nada melhor aliás que ler o corpo redactorial e de colaboradores desse "jornal de letras, artes e ideias", sempre à esquerda porque a direita não tem letras artes ou ideias.
Mais ou menos por esse tempo ( início dos anos
oitenta) aquele mesmo Cruz chegou a dizer ao tal jornal- o Sete- que se sentia capaz de
ser... presidente da República! Dá para ver o sítio que Portugal era. Será que mudou assim tanto ou...piorou ainda mais?
O Expresso era então uma espécie de sítio paralelo do
Portugal daqueles, alternando o Pabe com a sala pequena do Gambrinus e onde se
reunia outro tipo de mentalidade um pouco menos à esquerda que funcionava como
cross-over, como ponte de ligação entre aqueles personagens saídos do marxismo
aprendido à pressa nas afinidades
electivas ou mastigado a preceito por
instigação do ar do tempo. O Expresso era
apenas social-democrata e tal chegava para se associar à maçonaria na amálgama
que herdamos nos media e não só.
E quem eram os políticos associados naquele sítio pequenino
que era o Portugal desses anos? O maior deles todos era Mário Soares, o
verdadeiro vencedor do 25 de Novembro. Soares foi até finais dos setenta a
alternativa de Esquerda ao Álvaro leninista que metia medo a muitos. A extrema-esquerda só por acaso se chegava a
eles.
Mário Soares tem o estatuto que tem, ganhou as eleições que
ganhou por causa dessa gente. E retribuiu-lhes em grande e à francesa. É ver
quantos aviões fretados à Tap transportaram jornalistas e pessoas de bem para
paragens longínquas como as Antilhas ou as Galápagos nos bons velhos tempos do
dinheiro da CEE e por conta de todos nós.
A direita de um Rui Guedes
( um dos concursantes da Cornélia e pianista, por sinal) não existia e
era sempre olhada com um soslaio
sobranceiro e superiorizado pelo número de votos.
No dealbar do 25 de
Abril de 1974 foram esses e mais alguns, poucos, os intelectuais que se afirmaram no novo
regime e o moldaram naquilo que temos. Havia os comunistas leninistas,
subjugados pela canga do “partido” e recolhidos nos órgãos partidários a que tinham
direito e os da extrema-esquerda que principalmente cantavam “contra a
burguesia”. Esses contaram muito- antes
do 25 de Abril. Depois, contaram apenas aos militantes o que seria uma luta
contra a burguesia , de armas na mão. Deixaram de contar mas o conto que
contaram conta muito ainda hoje.
“E assim se passaram anos, muitos anos e enganos. Anos
muitos anos e danos, anos danos e enganos”, na escrita cantada de António
Avelar Pinho, um outro dos intelectuais malditos, da Banda do Casaco desses
mesmos anos . António Pinho não fazia parte do grupo dos cornélios nem dos
cantautores da extrema-esquerda panfletária e por isso foi marginalizado pelos
bem-pensantes dos media. E no entanto o génio dele supera em muito o de quase todos os que agora se incensam.
A segunda morte com destaque mediático desmedido é a de
Bernardo Sassetti, um pianista de jazz cujos méritos são os de um artista de
nicho. Porquê então o destaque mediático?
Pela mesmíssima razão dada ao cineasta Fernando Lopes.
Sassetti era de boas famílias, desse pequeno sítio que ainda é Portugal depois
destes anos todos que passam por uma geração inteira e que não muda de lugar
porque radicou em Lisboa.
Antes de 25 de Abril de 74, a firma da família, Guilda-
Sassetti deu acolhimento a um
intelectual comunista, Fernando Lopes Graça e aos cantautores da extrema-
esquerda revolucionária, os Josés Jorges Letrias ( “só de punho erguido a
canção terá sentido”, cantava nessa altura) , Sérgios Godinhos ( Ó meu caro vamos lá por os pontos nos iis…de
quem são os campos deste país?” e Josés Mários Brancos ( “ a cantiga é uma arma…contra
quem, camaradas?").
(As imagens são de dois números da revista Mundo da Canção, de 1971)
É assim naturalíssimo que Portugal , sítio de Lisboa, se
comova mediaticamente com um destaque deste género.Praticamente nenhuma revista das actualidades caseiras desse sítio que Portugal ainda continua a ser se esqueceu de fazer capa com a tragédia da morte de um indivíduo aos 41 anos, com família e amigos.
Mas não foi apenas por isso. O que conta, afinal de contas, ainda continua a ser a velha história das visitas da Cornélia. Tal como nos anos setenta, são todos família.
E para dizer a verdade também gostava dessa família, quando faziam espectáculos. Não havia outra...
Certeiro, José.
ResponderEliminarMas prepare-se que vão crucificá-lo.
Este foi dos posts mais iconoclastas que me lembro que o José tenha escrito.
ResponderEliminarE o título... está tramado. Se fosse público não se safava de ovos e outros objectos mais contundentes.
Mas olhe que até simpatizo com essa família. Porque não temos outra, infelizmente.
ResponderEliminarO António Pinho não conta porque sempre o marginalizaram. E foi dos melhores músicos que tivemos nessa altura.
Mas não era de esquerda...
O que me chateia é o unanimismo cultural e os tiques que se replicam.
É isso que faz de nós o que somos enquanto colectivo: um atraso de vida.
Pois é isso mesmo.
ResponderEliminarMas prepare-se porque a aldeia não perdoa
Até admira ainda não ter aparecido o arameco aos pulos.
ResponderEliminarMoi...je suis le fou du village.
ResponderEliminarE aluado, para parecer artista.
ResponderEliminar(não me estou a referir ao José ahahaha)
Estas a esquecer a Cidadela dos Alarcão Júdice, Nogueira Pinto, et al...
ResponderEliminarE quantas divisões tinham essas figuras pequenas do nosso espectro político?
ResponderEliminarFoi assim que Estaline perguntou em relação ao Papa da época...
Além disso o tempo veio a demonstrar que eram apenas uns farsantes.
ResponderEliminarE tb havia aqueles que iam aos cházinhos do D. Duarte de Bragança em S.Marcos. Agora são comentadores do Blasfémias e do Arroja.
ResponderEliminareu que nunca fui fascista fui grande vítima desta revolução de inveja e ódio.
ResponderEliminarse for necessário cuspo na focinheira desta escumalha que destruiu o país e me fez a vida negra.
submetia-os a todos à medieval tortura da 'merda em boca' e depois empalava-os.
o soba do Campo Grande foi o inútil que deu a primeira grande machadada na economia com juros de 40% à cabeça.
a gaga gágá ficou viúva- marradas cornelianas. a tourada continua
Por falar em segredo de justiça: Os 4 tipos que foram constituídos arguidos no âmbito do processo de lavagem de dinheiro (denunciados pelo Duarte Lima) são todos do PSD. Amanhã a Cabrita conta.
ResponderEliminarCoitado do Floribundo. Está explicada a pancada.
ResponderEliminarTanto quanto julgo saber pelos jornais a única burla verdadeira que pode ser imputada ao Lima é a que o mesmo pregou ao sócio, advogado no Porto. Uma burla em grande!
ResponderEliminarO resto quanto a mim é quase nada em termos criminais. Insuficiente para medidas de coacção de prisão preventiva. Mas não li o processo...e confio em quem o leu.
O Vítor Raposo, ex-deputado do PSD foi preso.
ResponderEliminarGostei deste "post".
ResponderEliminarQuanto ao símbolo de representação da direita neste panorama, está bem entregue ao "Topo Gígio", artista de qualidades várias.
Pois mas a vítima da verdadeira burla foi ele.
ResponderEliminarahahaha
ResponderEliminarJá percebi o motivo pelo qual o post nem teve tanta contestação.
É um post contra a mourama
":O)))))))
Este comentário foi removido pelo autor.
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