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quinta-feira, junho 07, 2012

A Mariano fechou. Que pena!



Há dias procurei uns sapatos. Há uma marca que sempre me marcou desde que comecei a comprar sapatos com dinheiro meu:  Mariano, em S. João da Madeira. No Porto, onde costumava comprá-los nos anos oitenta e vindouros, havia várias lojas  que os vendiam. Nesses primórdios dos oitenta, antes de Portugal na CEE até se compravam noutras localidades mais pequenas.
Nessa altura, não tenho qualquer dúvida em afirmar que os sapatos Mariano seriam dos melhores do mundo, com preços portugueses apenas um pouco mais caros que os sapatos de Felgueiras  que se vendiam em todas as casas Teresinha da rua de Cedofeita, no Porto, a meca do calçado, na época.
O calçado Mariano distinguia-se então por uma qualidade dos materiais acima da média e um design clássico imbatível aos meus olhos de consumidor exigente. Aliás, nunca abandonou esses padrões de produção variando apenas no estilo e design, conforme as modas, nem sempre as mais felizes.

Há dias quando os procurei outra vez, apesar de ter a noção de que perderam alguma qualidade no design que não nos materiais, disseram-me logo . "fechou a fábrica". Fechou a Mariano, uma das melhores fábricas de calçado do mundo, digna de ter os seus produtos a figurar em qualquer feira de Milão e que até suscitou há uns anos, a admiração de um ministro que só comprava sapatos italianos?

Pois parece que fechou mesmo.  Num país que precisa de exportações como de pão para a boca, literalmente, o fecho de uma fábrica com a qualidade da Mariano é uma grande tristeza.
O savoir-faire daqueles operários que nem seriam muitos é um dado adquirido que não deveria perder-se. O sector do calçado, em Portugal, parece ser daqueles  tradicionais onde a qualidade da mão de obra sempre foi obra feita no produto acabado. Deveríamos orgulhar-nos disso.
Não temos que receber muitas lições seja de quem for, mesmo italianos, excepto no ideário do design, mas mesmo aí teremos melhorado. Se o sector tivesse melhor sorte, eventualmente com empresários mais esclarecidos e audazes, seríamos dos melhores do mundo porque me parece que temos todos os ingredientes para o ser: a tradição do produto, o lugar que é um cluster com uma cultura empresarial própria e que não depende do Estado ( Felgueiras e S. João da Madeira) o savoir- faire de quem o faz e as condições para o fazer se aparecer quem as financie e tenha visão.
O fecho da Mariano é como se acabasse o lugar onde melhor se produz o Barca Velha ou o azeite de Moura. Ou as conservas Pinhais, para citar comentadores deste blog que conhecem o que temos de bom.
Depois da Mariano resta-nos quem, nos sapatos? Armando Silva? Nem lhe chega aos calcanhares...

30 comentários:

  1. Phónix!

    Que péssima notícia

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  2. os salários em atraso por falta de vendas ou má gestão?
    o rectângulo vai ser suportado pelos cada vez menos contribuintes

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  3. "Calçado Mariano tem nova empresa

    Empresa original extinguiu postos de trabalho mas marca mantém-se no mercado com nova designação social"

    http://www.labor.pt/index.asp?idEdicao=329&id=17097&idSeccao=3506&Action=noticia

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  4. Já vi a notícia. As habilidades do costume do empresário português típico.

    Se isto fosse criminalizado não aconteceria tão frequentemente.

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  5. O que soube nas sapatarias onde perguntei o que aconteceu foi isto:
    O velhote que era a alma da empresa morreu há uns tempos. Os filhos não estão à altura dos pergaminhos, parece.

    É uma tragédia económica quanto a mim porque desaparece um calçado de uma categoria rara.

    Não haverá naquela empresa um encarregado suficientemente inteligente e capaz de retomar o espírito da velha empresa?

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    1. Boa tarde podia me dar o nome do patrao da fabrica?
      Obrigado

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    2. Boa tarde podia me dar o nome do patrao da fabrica?
      Obrigado

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  6. ahahaha

    A chico-esperitce tuga de sempre. E assim escapam a indemnizações e dívidas e voltam a meter o contador a zeros.

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  7. Vou investigar e procurar elementos factuais.
    .
    Contudo, sem conhecimento de causa, ouso especular:
    .
    Aposta em materiais e mercados que não dominavam:
    .
    "Calçado: Empresa portuguesa lança em Milão sapatos de pele de pata de galinha" em http://visao.sapo.pt/calcado-empresa-portuguesa-lanca-em-milao-sapatos-de-pele-de-pata-de-galinha=f529492
    .
    Será que quando a empresa quis começar a exportar o fez demasiado depressa?

    http://www.portugueseshoes.pt/newsletter/ler4.asp?idart=69&zona=1&id=2&anonews=MjAxMQ==&lang=PT

    Muitas marcas portuguesas que dão cartas lá fora, começaram por conhecer o mercado como subcontratados produzindo private label e, a aposta na marca própria foi um paciente investimento de anos com um crescimento gradual.

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  8. Contudo, não me adiantava a chamar xico-espertice tuga. Pode ser, mas também pode ser uma tentativa de salvar alguma coisa quando se reconhece que decisões anteriores foram más.

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  9. Segundo me disseram também poderão ter sido erros de gestão depois do pai morrer.

    Essa dos sapatos de pele de galinha que também já tinha ouvido falar pode ser uma das causas: a aposta em nichos que se perderam.

    Quanto a mim uma das causas seguras poderá ter sido a opção por um design sem solidez comercial.

    Os sapatos desenhados no início dos anos oitenta eram do melhor que poderia haver. Pele em calfe, opções de estilo pouco variadas mas essencialmente clássicas sem ser demasiado démodé.

    Era quanto a mim o exemplo típico do "sapato italiano".

    Adorava saber quem é que nessa altura lhes desenhava os sapatos.

    Era um génio.

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  10. A chico-espertice residem na fuga para a frente. Deixa-se uma empresa em dificuldades, com dívidas à Segurança Social e ao Fisco. Geralmente mais mas mesmo muito mais à Segurança Social, normalmente os 11% que deveriam descontar em nome dos trabalhadores ( e que é crime ou contra-ordenação se o não fizerem) e abandonam-se os credores à sua sorte.

    Vem a insolvência e os donos já estão noutra. Eventualmente repescam os trabalhadores antigos que lhes servem e já está.

    Se houver dívidas ao FIsco, daqui por uns tempos ( dois ou três anos) os gerentes podem ser incomodados se houver execuções, como revertidos, mas isso enquanto o pau vai e vem folgam as costas.

    Será que na Europa é assim?

    É por isso que chamo chico-espertos.

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  11. Exacto. O José já disse tudo por mim.

    É sempre assim.

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  12. E chegam a fazer isso tudo até no mesmíssimo local da empresa a que declaram falência.

    Mudam o nome. Despedem uns, ficam as dívidas e lá voltam a fazer o mesmo com outro nome.

    Claro que numa marca, trocar o nome só pode ser uma sobrevivência a prazo. Não faz sentido de outro modo.

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  13. Os últimos dois pares de sapatos que comprei, clássicos, foram Mariano, na Romeu, em Coimbra, há 2 anos.
    Em saldo, com 40% de desconto.
    Excelentes.
    Quer no design quer no material.
    Melhores só os Lotus, muito mais caros.

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  14. Os Lotusse não são melhores que o Mariano. E também os últimos que comprei da Mariano foi exactamente aí, na Romeu de Coimbra.

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  15. Nunca tive nenhuns Lotusse (e não Lotus, como lhes chamei - que parolo!) para poder comparar a resistência e qualidade de ambos, mas os Lotusse sempre me pareceram mais robustos.

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  16. Lottusse, com dois "t". Assim é que é.

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  17. Vcs não se contentam com umas sapatilhas Sanjo?

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  18. Já não há disso com antes, no início dos setenta. Precisamente de SanJo...ão da Madeira.

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  19. Existem. Agora são fabricadas na China. Like everithing else...

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  20. Não é a mesma coisa, penso de que. A borracha não cheira a hévea. E a vulcanização é de carregar pela boca.

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  21. Há sempre os Church's, mas só para os senadores, os parasitas e demais filhos da... tuga-democracia

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  22. Sobre as "Sanjo".

    Fizeram parte de quase toda a minha carreira de desportista.

    Há dois anos, quando reparei numa montra de Caminha, não resisti e lá comprei umas novinhas em folha.
    Pura desilusão! só em casa reparei "made in China". A lona, palmilha e borracha(?) nada tem a ver com as originais. Lá se foi mais "um anel".

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  23. Eu também, coitado de mim, já não ecnontro botas dos Capelas de Espinho, ou de Anta ou lá que é, deu-lhes para consertar rabecas.

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  24. António Capela (Anta, Espinho) é o maior luthier português, um dos maiores do mundo.
    Seguiu as pisadas do pai, e o filho segue as suas.
    Não consta que algum dia tenha feito tamancos…

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  25. Já não faz o que fazia. Reformou-se.

    O nome é Pramaturar, Hajap...

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  26. Pois eu também sofri com o fecho da fábrica. Entre outros modelos de outros fabricantes, usava sapatos "Mariano" (sempre o mesmo modelo, clássico, pretos, biqueira um pouco para o largo) desde 1982. Cada dois/três anos comprava um par, como viajava muito , e em negócios primava por ter calçado que pessoas de moda franceses chegaram a classificar como "branché".

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  27. A Sanjo está de volta com imagem renovada, uma nova loja online em sanjo.pt e produção 100% realizada em Portugal!

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