Em 19 de Julho de 1987 "o regime mudou", assinalou por escrito, na altura, Adriano Moreira. Mudou para um "presidencialismo do primeiro-ministro", no caso Cavaco Silva.
Dois anos depois, Vasco Pulido Valente escrevia uma crónica no Independente em que lembrava essa observação de Adriano Moreira, acrescentado que o regime se transformava aos poucos numa "ditadura plebiscitária". As pessoas não elegiam deputados, mas apenas o chefe que escolhia os candidatos e VPV escrevia isso porque os deputados de então não tinham direito a opinião própria e se discordassem do chefe, traíam o mandato...
Quanto ao presidente da República, a sua força política fora esvaziada e ficara apenas com " a magistratura de influência", para além do exercício do lançamento da bomba atómica política, com a dissolução do parlamento.
Vale a pena recordar esses anos em que começou a década prodigiosa do cavaquismo até 1995-96 e o que sucedeu depois disso.
As primeiras imagens são do Expresso que em 10 de Janeiro de 1998 publicou uma separata comemorativa dos 25 anos do jornal e referem-se aos acontecimentos de 1987 e 1988. Os principais de natureza política foram a primeira maioria absoluta de Cavaco e a eleição de Soares para PR por...150 mil votos, muitos deles deitados de olhos tapados, pelos comunistas ( Soares garantia que era o presidente dos pobres...e o outro candidato " da direita" era o temível fassista Freitas do Amaral, que comia comunistas ao almoço como quem devorava croissants na Versailles, com um sombrio "loden" proveniente da ainda mais sombria Caríntia ou coisa que o valha).
Em 1988 o Expresso publicou no suplemento a Revista, de 31 de Dezembro desse ano, um artigo extenso sobre "o novo clube dos ricos" e começava assim a prosa, assinada por Sofia Pinto Coelho, mais tarde jornalista da SIC: " Subitamente, a ideia de lucro tornou-se mágica em Portugal. (...) até os filhos dos operários de Setúbal respondem, nos inquéritos das escolas, que, quando crescerem, querem ser "empresáros". O tempore! O mores! E a Constituição ainda a jurar que íamos a caminho do socialismo...
No mesmo artigo retratava-se o panorama empresarial português da época, depois das nacionalizações de 1975 e antes das privatizações.
Alguns meses depois, o mesmo Expresso na mesma a Revista de 8.7.1989 publicava um extenso artigo sobre "os grupos económicos em Portugal" e começava assim a escrever, Virgílio Azevedo: " Catorze anos depois das nacionalizações, os grupos económicos estão de volta. " O jornal seleccionou os "dez mais": Sonae, Jerónimo Martins, Amorim da cortiça, Vicaima, "grupo discreto" de Álvaro Costa Leite, Espírito Santo ( o único que se reorganizou integralmente depois das nacionalizações)ainda com Ricardo Espírito Santo, outra loiça que já não há , Entreposto de Dias da Cunha, RAR, de Macedo Silva, Interfina de um tal Ferro Ribeiro, testa de ferro de interesses orientais, Colep de Ilídio Pinho. E apresentava depois "outros grupos", quase todos do Norte, a saber, Salvador Caetano, Manuel Violas, Nelson Quintas, José da Costa Oliveira ( Riopele), Eduardo Pinto ( Soja de Portugal) e Fernando Guedes ( Sogrape) e ainda Vista Alegre e Mendes Godinho.
Eram esses os criadores de riqueza de então, em Portugal, para além, claro do IPE que agregava as empresas públicas.
É ler o artigo sobre o Espírito Santo e reflectir nas comparações.
Por outro lado, o Expresso de fim de ano de 1989, ( a Revista de 23.12.89) evidenciava o acontecimento do ano em Portugal como o início do processo das privatizações, ocorrido em 26 de Abril desse ano. E escrevia assim Luís Marques: " Ao contrário do 11 de Março de 1975, o 26 de Abril de 1989 não será recordado no futuro como uma data de referência na história portuguesa. No entanto, ambas balizam dois momentos de mudança na economia portuguesa: o primeiro com as nacionalizações e o segundo com o início do processo das privatizações."
E apresentava o panorama:
Ainda no final de 1988, o Expresso na sua a Revista de 24.12.1988, publicou este artigo de recensão dos acontecimentos do ano que passava e anunciava o silêncio das rádios pirata nesse dia de véspera do Natal, porque a legalização chegaria depois. À TSF e às demais que "passavam tudo o que se passava".
Entretanto já havia escândalos: Miguel Cadilhe, ministro das Finanças e que se propunha baixar a taxa de inflação para seis por cento ( ia quase no dobro) organizava os milhões que entretanto chegavam da CEE. E a par disso esqueceu-se de pagar uma sisa por uma permuta de um apartamento modesto por outro mais vistoso nas Amoreiras, usando carros da guarda fiscal para as mudanças...
Nada de especial e até Vasco Pulido Valente lhe consagrou uma crónica no Independente de 10.2.1989, intitulada "A caça a Cadilhe" onde lembrava "o caso da caleche oferecida a Costa Cabral por um certo Frescata em troca de uma comenda."...coisa mixuruca, dizia VPVporque pequena corrupção desta sempre houvera em Portugal e nem devia ser notícia. Além disso lembrava que " se Cadilhe fosse na realidade corrupto, não comprava andares nas Amoreiras, punha dólares na Suíça".
Enfim, o mote estava lançado para o devorismo que se seguiu. Depois de Cadilhe veio o caso Costa Freire.
face aos ps de guterres e sô zé fugitivo estes eram aprendizes de feiticeiro.
ResponderEliminarFreire dizia que não pertencia à 'seita da mão fria e luta por um croquete'.
a dívida pública era uma miséria comparada com a de hoje.
depois vimos rebolar o 'queijo limiano', as auto-estradas para lugar algum, aeroportos sem aviões, faces ocultas, freeports,
os 'vampiros' chegaram 'comeram tudo e deixaram dividas'
veio o FMI. Pum, catapum
quem ficar até ao fim 'que feche a porta e apague a luz' do fundo do tonel
Caramba José...eu fico sempre de boca aberta com o acervo jornaleiro que "Bósmecê".
ResponderEliminarHoje ao ver estas paginas lembrei-me de...
Bem pensado ...vou começar a guardar todos os meus doc de identificação e os jornais desta época, pois,actualemnte passamos por tempos fantásticos de "a história repete-se " e mais tarde, talvez possam ser uteis para explicar muita coisa, pois a história tem tendencia a ser sempre escrita pela pena dos victoriósos.
I´m flabagasted...
Abraço José
You ain´t seen nothing yet...é uma música de 1974 dos Bachman Turner Overdrive, grupo canadiano que passava na Página Um, nos primeiros meses de 1975.
ResponderEliminarO animador do programa era Luís Filipe Martins ou Luís Paixão Martins que tive o gosto de conhecer aqui há uns meses, em Lisboa. Onde aliás lhe manifestei a minha admiração pela apresentação do programa da minha adolescência.
Nessa altura, a Página Um era um covil ou se se quiser, um reduto da extrema-esquerda. Passavam os discos mais revolucionários que poderiam existir. Os da América do Sul que glorificavam Vítor Jara, o comunista assassinado por Pinochet e outros, como os da Expression Spontanée, da França, com músicas como Cadence, sobre as linhas de montagem de automóveis em França.
Sabe o que faz hoje LPM? É o principal responsável por essa agência de imagem e comunicação, precisamente LPM que ajudou alguns governos, incluindo o de Sócrates a mostrar uma imagem mentirosa para o país.
Mesmo assim, sempre que me lembro dos tempos da minha adolescência, condescendo logo em admirar essa época gloriosa culturalmente e economicamente desastrosa- por causa do comunismo precisamente.
O futuro prometido era tão cheio de sol que até mesmo o SMO foi considerado um entrave na "carreira" dos jovens.Curiosamente agora ou são arrumadores de carros devidamente drogados, desempregados sem conhecimentos produtivos ou emigrantes.Claro que para alguns cheios de "empreendedorismos" a vida foi fácil, com licenciaturas na hora e empregos governativos garantidos.Por conta do resto a caminho da escravização por haver tanto planeta por nossa conta a salvar...
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