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sexta-feira, dezembro 28, 2012

O estalinismo nunca dorme, como a ferrugem



Rui A. do blog Blasfémias escreveu um obituário de Gonçalves Proença, seu conhecido e par no ensino universitário,  antigo ministro de Salazar, das Corporações e Segurança Social, lamentando a ausência de obituários nos media tradicionais.
Concluiu assim:
Gonçalves de Proença foi um académico brilhante, um político sério, competente, cosmopolita e muito à frente do seu tempo, um advogado superiormente qualificado e um notável administrador e gestor. Mas, para além do seu curriculum de vida e do seu notável percurso profissional, o que fez dele um homem de excepção foi, na minha opinião, o seu profundo humanismo, e a forma com que sempre lidou, de igual para igual, com todos quantos se relacionou ao longo da vida. Ministro de Salazar, não teve, naturalmente, direito aos obituários do regime, o que também ajudou a que a sua morte me passasse despercebida.

Tanto bastou para que lhe saltasse às canelas um elemento activo da vigilância anti-fassista, com argumentos que ressumam o mais refinado estalinismo intelectual.
Escreveu assim o anónimo em comentário ao postal:

 Não gostaria de comentar este post. Independentemente das opções políticas e ideológicas de cada um , a amizade é um valor nobre e superior que muito estimo e pratico e só enobrece quem o pratica.

No entanto, e porque foram igualmente feitas considerações políticas sobre este acontecimento , não posso deixar de referir o seguinte e sobre as seguintes palavras “que fez dele um homem de excepção foi, na minha opinião, o seu profundo humanismo, e a forma com que sempre lidou, de igual para igual, com todos quantos se relacionou ao longo da vida”:

José João Gonçalves de Proença foi:

Secretário da 1.a Secção no III Congresso da União Nacional, em Coimbra (1951);

 Director do Centro Universitário da Mocidade Portuguesa em Coimbra;

 Relator nacional para os problemas universitários no II Congresso da Mocidade Portuguesa (1956);

 Director do Instituto de Formação Social e Corporativa (1959);

 Membro da Comissão da Reforma Fiscal;

 Membro do Gabinete de Estudos e Documentação da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos;

 Director do Centro de Estudos Sociais e Corporativos;

 Vogal do Centro de Estudos Fiscais do Conselho Superior de Previdência e de Habitação Económica do

Ministério as Corporações e Previdência Social.

 Ministro das Corporações e Previdência Social (1961-1970).

Tudo isto num regime fascista que , prendeu, mandou perseguir, torturou , matou, e exilou portugueses que ousavam discordar do regime.

Logo a seguir, outro anónimo, pondo água nesta fervura neo-estalinista, temperou o comentário sufragando a dor de ler no obituário, uma referência a um passado que  não pode ser “branqueado”, ou seja,  reflectido numa pessoa que desse modo não pode ser alvo de “elogios laudatórios”:

Gonçalves Pereira, foi um homem político (como todos somos) cujo compromisso com a ditadura salazarista é inultrapassável. Tendo sido um activista da União Nacional que, na altura, congregava os apoiantes e as elites que sustentavam e ‘organizavam’ o regime, no seguimento da sua carreira política, veio a integrar o Governo de Oliveira Salazar, portanto, tornou-se um alto responsável executivo do modelo ‘corporativo’ que enfeitava a doutrina do Estado Novo. O seu percurso e o seu compromisso político não pode ser – tão ligeiramente – ‘branqueado’. Quando se escreve “Ministro de Salazar, não teve, naturalmente, direito aos obituários do regime,…” parece transparecer uma volúvel intenção de confundir ‘regimes’. De facto, os regimes não são perenes e, de Direito, não ficam isentos de julgamento futuros, nem da análise retrospectiva dos cidadãos. O regime pelo qual Gonçaves Pereira se empenhou e participou activamente acabou em 1974 e, hoje, existe num novo regime que não é a simples evolução do anterior resultando, antes, do seu derrube.

Existiu, portanto, uma ruptura que tem profundas consequências políticas e humanas. As pessoas passam a ser julgadas pelo que efectivamente são mas, também, pelo que fizeram…Ninguém pode ‘apagar’ o passado.

E – repetindo – se todas as pessoas têm direito ao respeito humano e à sua dignidade o mesmo não se aplica em relação às suas opções políticas. Que não sendo neutras, nem assépticas estão sujeitas ao julgamento dos povos e, logo, da História. Por vezes, elogios laudatórios de personalidades políticas do passado – e o caso do Prof. Gonçalves Pereira não é o único – estão eivados de um inadequado e perigoso ‘negacionismo histórico’. O que não é abonatório para quem o pratica.

Esta maneira de entender a História contemporânea,  apresentada  por quem a viveu ( um dos comentadores tem idade para tal, segundo diz) lembra inevitavelmente o estalinismo e o modo de reescrever a História, apontando sempre o sentido “correcto” do seu curso e apagando literalmente as figuras de relevo que cairam em desgraça política. Método mais hediondo e terrorista não existe, como arma intelectual e é assim que a utilizam sempre os tais antifassistas encartados no partido ou encriptadamente comungantes do entendimento, associados a uma Esquerda que teima em fossilizar ideias.
Para os “antifascistas” nacionais,  a nossa História do Estado Novo é simples de entender: foi um período de longa noite fascista, de repressão política, obscurantismo , analfabetismo e atraso cultural e social.
Este panorama nem sequer é apresentado em caricatura mas  sim como o retrato real da sociedade portuguesa e do Estado e regime que governou durante mais de 40 anos. Foi assim que a Esquerda apresentou durante as últimas décadas a História desse período e a escreveu até em manuais escolares. Uma autêntica lavagem ao cérebro como soi dizer-se e que ainda dura.

Não vale qualquer pena argumentar com estes “antifascistas” que o Estado Novo, particularmente depois da guerra não foi um estado fascista. Historicamente foi- porque o comunismo e esquerda em geral assim o decretou. E tal é discussão arrumada e  assim continuará a ser, associando-se a esse fascismo todas as figuras que o compuseram e adornaram. 
Alguém que no Estado Novo ou Estado Social tenha exercido funções públicas de relevo e tenha sido membro da Mocidade Portuguesa ou da União Nacional ou da ANP ou do governo ou dos seus “órgãos de repressão” é simplesmente apodado de fascista, sem mais aquelas. E relegado para a fogueira inquisitorial do passado que teima sempre em voltar aos autos de fé.

Quem não alinhar no epiteto, enaltecendo qualidades pessoais de honradez, nobreza de carácter, saber, inteligência ou bondade,  nem merece consideração intelectual porque o estalinismo não contemporiza com desvios à norma do pensamento politicamente correcto. E ter pertencido ao "fascismo" é o mesmo que ter sido carceceiro em Buchenwald ou fogueiro em Dachau. O diabo laico em pessoa.

Se lhes lembram, a estes antifassistas encartados que enlevam o Partido,  os tempos da ditadura comunista que matou milhões, associada a repressões que só tiveram paralelo com o verdadeiro nazismo, fazem de conta que não é com eles...embora fosse esse o regime que prefeririam ter em Portugal, em vez do execrado Estado Novo. Foi por ele que lutaram e foram presos e depois disso desforraram-se, vilipendiando e perseguindo quem os perseguiu.

Já alguém disse que o comunismo foi um gigantesco "embuste", ( na verdade foi Mário Soares quem o disse, certamente depois de o ter lido no Le Nouvel Observateur, escrito por Jean Daniel) mas os comunistas continuam bem embrulhados na farsa. 
Ser antifassista, para muitos é um modo de pensar evoluído. Os anticomunistas, esses, são sempre primários. Fassistas, quoi!