Rui A. do blog Blasfémias escreveu um obituário de Gonçalves
Proença, seu conhecido e par no ensino universitário, antigo ministro de Salazar, das Corporações e
Segurança Social, lamentando a ausência de obituários nos media tradicionais.
Concluiu assim:
Gonçalves de Proença foi um académico brilhante, um político
sério, competente, cosmopolita e muito à frente do seu tempo, um advogado
superiormente qualificado e um notável administrador e gestor. Mas, para além
do seu curriculum de vida e do seu notável percurso profissional, o que fez
dele um homem de excepção foi, na minha opinião, o seu profundo humanismo, e a
forma com que sempre lidou, de igual para igual, com todos quantos se
relacionou ao longo da vida. Ministro de Salazar, não teve, naturalmente, direito
aos obituários do regime, o que também ajudou a que a sua morte me passasse
despercebida.
Tanto bastou para que lhe saltasse às canelas um elemento
activo da vigilância anti-fassista, com argumentos que ressumam o mais refinado
estalinismo intelectual.
Escreveu assim o anónimo em comentário ao postal:
Não gostaria de
comentar este post. Independentemente das opções políticas e ideológicas de
cada um , a amizade é um valor nobre e superior que muito estimo e pratico e só
enobrece quem o pratica.
No entanto, e porque foram igualmente feitas considerações
políticas sobre este acontecimento , não posso deixar de referir o seguinte e
sobre as seguintes palavras “que fez dele um homem de excepção foi, na minha
opinião, o seu profundo humanismo, e a forma com que sempre lidou, de igual
para igual, com todos quantos se relacionou ao longo da vida”:
José João Gonçalves de Proença foi:
Secretário da 1.a Secção no III Congresso da União Nacional,
em Coimbra (1951);
Director do Centro
Universitário da Mocidade Portuguesa em Coimbra;
Relator nacional para
os problemas universitários no II Congresso da Mocidade Portuguesa (1956);
Director do Instituto
de Formação Social e Corporativa (1959);
Membro da Comissão da
Reforma Fiscal;
Membro do Gabinete de
Estudos e Documentação da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos;
Director do Centro de
Estudos Sociais e Corporativos;
Vogal do Centro de
Estudos Fiscais do Conselho Superior de Previdência e de Habitação Económica do
Ministério as Corporações e Previdência Social.
Ministro das
Corporações e Previdência Social (1961-1970).
Tudo isto num regime fascista que , prendeu, mandou
perseguir, torturou , matou, e exilou portugueses que ousavam discordar do
regime.
Logo a seguir, outro anónimo, pondo água nesta fervura neo-estalinista,
temperou o comentário sufragando a dor de ler no obituário, uma referência a um
passado que não pode ser “branqueado”,
ou seja, reflectido numa pessoa que
desse modo não pode ser alvo de “elogios laudatórios”:
Gonçalves Pereira, foi um homem político (como todos somos)
cujo compromisso com a ditadura salazarista é inultrapassável. Tendo sido um
activista da União Nacional que, na altura, congregava os apoiantes e as elites
que sustentavam e ‘organizavam’ o regime, no seguimento da sua carreira
política, veio a integrar o Governo de Oliveira Salazar, portanto, tornou-se um
alto responsável executivo do modelo ‘corporativo’ que enfeitava a doutrina do
Estado Novo. O seu percurso e o seu compromisso político não pode ser – tão
ligeiramente – ‘branqueado’. Quando se escreve “Ministro de Salazar, não teve,
naturalmente, direito aos obituários do regime,…” parece transparecer uma
volúvel intenção de confundir ‘regimes’. De facto, os regimes não são perenes
e, de Direito, não ficam isentos de julgamento futuros, nem da análise
retrospectiva dos cidadãos. O regime pelo qual Gonçaves Pereira se empenhou e
participou activamente acabou em 1974 e, hoje, existe num novo regime que não é
a simples evolução do anterior resultando, antes, do seu derrube.
Existiu, portanto, uma ruptura que tem profundas
consequências políticas e humanas. As pessoas passam a ser julgadas pelo que
efectivamente são mas, também, pelo que fizeram…Ninguém pode ‘apagar’ o
passado.
E – repetindo – se todas as pessoas têm direito ao respeito
humano e à sua dignidade o mesmo não se aplica em relação às suas opções
políticas. Que não sendo neutras, nem assépticas estão sujeitas ao julgamento
dos povos e, logo, da História. Por vezes, elogios laudatórios de
personalidades políticas do passado – e o caso do Prof. Gonçalves Pereira não é
o único – estão eivados de um inadequado e perigoso ‘negacionismo histórico’. O
que não é abonatório para quem o pratica.
Esta maneira de entender a História contemporânea, apresentada por quem a viveu ( um dos comentadores tem
idade para tal, segundo diz) lembra inevitavelmente o estalinismo e o modo de
reescrever a História, apontando sempre o sentido “correcto” do seu curso e apagando literalmente as figuras de relevo que cairam em desgraça política. Método mais hediondo e terrorista não existe, como arma intelectual e é assim que a utilizam sempre os tais antifassistas encartados no partido ou encriptadamente comungantes do entendimento, associados a uma Esquerda que teima em fossilizar ideias.
Para os “antifascistas” nacionais, a nossa História do Estado
Novo é simples de entender: foi um período de longa noite fascista, de repressão
política, obscurantismo , analfabetismo e atraso cultural e social.
Este panorama nem sequer é apresentado em caricatura
mas sim como o retrato real da sociedade
portuguesa e do Estado e regime que governou durante mais de 40 anos. Foi assim que a Esquerda apresentou durante as últimas décadas a História desse período e a escreveu até em manuais escolares. Uma autêntica lavagem ao cérebro como soi dizer-se e que ainda dura.
Não vale qualquer pena argumentar com estes “antifascistas”
que o Estado Novo, particularmente depois da guerra não foi um estado fascista.
Historicamente foi- porque o comunismo e esquerda em geral assim o decretou. E tal é discussão arrumada e assim continuará a ser, associando-se a
esse fascismo todas as figuras que o compuseram e adornaram.
Alguém que no Estado Novo ou Estado Social tenha exercido
funções públicas de relevo e tenha sido membro da Mocidade Portuguesa ou da
União Nacional ou da ANP ou do governo ou dos seus “órgãos de repressão” é
simplesmente apodado de fascista, sem mais aquelas. E relegado para a fogueira inquisitorial do passado que teima sempre em voltar aos autos de fé.
Quem não alinhar no epiteto, enaltecendo qualidades pessoais de honradez, nobreza de carácter, saber, inteligência ou bondade, nem merece consideração
intelectual porque o estalinismo não contemporiza com desvios à norma do
pensamento politicamente correcto. E ter pertencido ao "fascismo" é o mesmo que ter sido carceceiro em Buchenwald ou fogueiro em Dachau. O diabo laico em pessoa.
Se lhes lembram, a estes antifassistas encartados que enlevam o Partido, os tempos da ditadura comunista que matou milhões, associada a repressões que só tiveram paralelo com o verdadeiro nazismo, fazem de conta que não é com eles...embora fosse esse o regime que prefeririam ter em Portugal, em vez do execrado Estado Novo. Foi por ele que lutaram e foram presos e depois disso desforraram-se, vilipendiando e perseguindo quem os perseguiu.
Já alguém disse que o comunismo foi um gigantesco "embuste", ( na verdade foi Mário Soares quem o disse, certamente depois de o ter lido no Le Nouvel Observateur, escrito por Jean Daniel) mas os comunistas continuam bem embrulhados na farsa.
Ser antifassista, para muitos é um modo de pensar evoluído. Os anticomunistas, esses, são sempre primários. Fassistas, quoi!