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sexta-feira, janeiro 18, 2013

O carro alegre da História

Em finais de 1976 governava o PS de Mário Soares. O tempo, tal como hoje, era de austeridade porque o país estava nas lonas e perto da bancarrota, apesar das nacionalizações de 11 de Março de 1975 terem dado todos os trunfos aos "trabalhadores" orientados pelo PCP. Banca, seguros, grandes empresas "monopolistas" passaram para as mãos da gestão do Estado, com muitos administradores em comissão de trabalhadores. Em menos de um anos puseram-nos a pedir, literalmente, às instâncias internacionais.
O remédio, tal como hoje, era o de sempre: austeridade. Cortes nos salários e rendimentos e dificuldades acrescidas para os mais pobres. Estes, sempre a acreditar no discurso da Esquerda que lhe prometia sempre mundos e fundos, continuava a votar nos que os desgraçavam cada vez mais, numa tragédia que ainda hoje se repete porque o povo nada aprendeu. Não há quem informe o povo devidamente e isto que parece uma afirmação singela de simplismo é uma evidência.

Em 10 de Dezembro de 1976, o O Jornal dirigido por José Carlos Vasconcelos ( hoje na Visão e aposto que com o mesmo entendimento político de então...) entrevistou Mário Soares, numa "primeira grande entrevista como primeiro-ministro" ( sim, porque até então tinha sido o tempo do PREC, incluindo o da Constituição de 76).
O que dizia Mário Soares sobre uma das medidas necessárias e que foi obrigado a tomar para não cairmos na bancarrota ( sim, porque nessa altura, o dinheiro podia fazer-se como agora diz Mário Soares, mas ele mesmo optou por não o fazer...)?
Dizia algo que interessa repescar para se entender como um indivíduo tido como o pai da democracia ( num arremedo cómico porque esta democracia se tornou em partidocracia sempre dos mesmos e com predominância da esquerda) entendia o Portugal da época e o futuro que nos esperava. A entrevista é de "fundo".
As dificuldades económicas que vivíamos então, fruto da clarividência política de um tempo de esquerda e a imaginar amanhãs a cantar, com as fábricas e campos entregues à classe operária e camponeses, obrigaram a transformar em títulos da dívida pública o pecúlio das famílias relativo ao 13º mês, o "subsídio de Natal", criado sem muito favor por Marcelo Caetano, em 1972, como aqui se diz.
A medida julgada necessária pelo governo de Mário Soares, perante as dificuldades enormes que atravessávamos ( tal como agora) foi logo contestada e do mesmo modo que agora, pela oposição, incluindo então o PSD e o CDS. Lendo a argumentação até aflige verificar como o discurso político nada se alterou em mais de trinta anos. Esta partidocracia começou assim e assim continuou até termos exemplares como um Nuno Magalhães ou um Montenegro, ou uma Catarina Martins, melhores exemplos do que as novas gerações  trouxeram ao país: maior mediocridade e indigência social.


O jornalista do O Jornal, ou seja o director José Carlos Vasconcelos, aproveitou uma ida do primeiro-ministro a Aveiro , de comboio ( provavelmente o " foguete", é ver na imagem) e sentado lado a lado numa carruagem comum ( não se vêem seguranças nem outros membros de comitiva governamental) e assim foi a entrevista em que Mário Soares, muito mas mesmo muito moderado ( mais do que hoje) lá explicou como estávamos quase desgraçados e que não tínhamos alternativa senão produzir ( mas como, se foi ele mesmo, apoiando nisso o PCP, quem decapitou a mais importante estrutura produtiva privada?)
Na entrevista, Mário Soares diz, em relação à medida ( em tudo semelhante às que agora se tomam de corte nos subsídios) e às críticas da oposição que  era " uma manobra eleitoral". Tal como hoje, claro está. O que lhes interessa, acima de tudo a esta gente, é manter o poder. Seja como for, mentindo, aldrabando, manipulando, dominando os media que podem ter discurso paralelo e influenciando assim o voto.
Deve dizer-se que conseguiram plenamente esses intentos porque hoje a política partidária transformou-se num jogo, simplesmente. Um jogo de poder como sempre foi, agora mais sofisticado. Basta ver o que se passa no Parlamento para entender isto plenamente.  Os debates na tv repenicam este jogo e as sombras estão lá todas mas não está a realidade, tal como na alegoria platónica.

Como é que o PCP reagia então a esta medida de austeridade? É ler porque até se torna cómica a semelhança argumentativa com os dias de hoje e o que Arménio Carlos e camaradas dizem:

Os demais partidos faziam exactamente o que hoje faz a oposição. Ribeiro e Castro do CDS já dizia que " a poupança forçada é um reflexo da ineficácia do governo"; o PPD/PSD, por Sousa Franco ( que depois saiu e foi para uma ASDI e um PS e até foi ministro de Guterres, o "António" que teve um dos piores governos deste o tempo de D. Maria, segundo ele) dizia que "Os trabalhadores não devem pagar os atrasos inaceitáveis do Governo". E assim foi.
O PS, mesmo com o discurso de Mário Soares nesta entrevista, fatalmente social-democrata e indistinto do do PPD/PSD continuava porém na cepa torta. Até 1989, altura de uma revisão constitucional consentânea com a nossa estadia na CEE, foi assim:

Este PS não tem emenda e pelos vistos nós, enquanto povo, também não. Por isso mesmo ficam aqui estes testemunhos da História que é sempre um "carro alegre que atropela, indiferente, todo aquele que a negue".

7 comentários:

  1. Entretanto depois de terem entregue tudo o que tinha preto e não era nosso, com aceitação do confisco dos bens dos "retornados" vejam lá que agora andam igualmente empenhados a colonizar-nos com os antigos colonizados.Mas agora com direito ao "Estado social Internacionalista" que está mais uma vez a afundar os indígenas tão maravilhosamente governados pelas lojas maçónicas e grandes pedreiros...

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  2. A ideia vastamente difundida e defendida por uns quantos do "fim da história" com a chegada das democracias liberais sempre foi, para mim, motivo de um misto de espanto e riso. É desconhecer a natureza humana imaginar que o "fim da história" chegará noutro momento que não seja o fim do mundo em si.

    O grande problema, a meu ver, das democracias maduras (por momentos imaginemos que também a nossa o é) é que quando se deixa de ter um outro objectivo que não o exercício do poder nada de bom daí virá.

    Ser político havia de ser um estado passageiro e não uma profissão.

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  3. ...e a coisa anda tão podre a este ponto: acabo de ler a notícia de que o Relvas se casou com a assessora de imprensa do PM.

    A primeira coisa que me ocorreu foi: "eh pá, subida na horizontal!!" o que além de profundamente cínico pode, muito provavelmente, ser completamente injusto.

    Viver no lodo leva-nos a isto!

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  4. "Ser político havia de ser um estado passageiro e não uma profissão."

    O padrinho Balsemão disse uma vez na tv há uns anos que estava muito satisfeito por ver que na política já se começavam a ver profissionais.

    Disse mais ou menos isso e fiquei espantado, na altura. Agora já não.

    Balsemão é um dos artífices da nossa desgraça.

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  5. Sobre o casamento do Relvas não me parece assunto público. Tanto quanto julgo saber apaixonou-se pela senhora.
    Divorciou-se e agora casou.
    Sejam muito felizes e tenham filhos se lhes aprouver.End of the story.

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  6. Concordo e desejo o mesmo ao Relvas e à sua esposa.

    O que tentei transmitir é que, hoje, pela envolvência em que vivemos, nada é visto como sério e inocente.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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