Miguel Esteves Cardoso já foi o meu herói da escrita nos jornais, nos anos setenta, lá por 1977 ou coisa assim, embora tenha começado a escrever no O Jornal em 1975 porque foi aí que li a sua primeira crónica ( que aliás guardo).
Tínhamos sensivelmente a mesma idade e por isso achava piada a um tipo com um nome como esse, desconhecido, começar a escrever de modo diferente dos habituais, sobre música popular, ainda por cima.
Até então lia Trindade Santos no Expresso, para mim o único crítico decente a escrever sobre música em Portugal. Em 1977 havia uma revista- a Música & Som, onde escreviam alguns dos escríticos musicais da época, incluindo também o tal Trindade Santos e pouco mais, porque o Sete não chegava sequer a esse patamar porque era um semanário generalista sobre espectáculos e "show bizz" em geral, no panorama nacional. Tinha lá o Rolo Duarte pai e está tudo dito.
Miguel Esteves Cardoso, nessa altura, escrevia em tom ditirâmbico sobre grupos ingleses e música popular de expressão anglo-saxónica e ainda Amália, de vez em quando e numa altura em que ninguém ligava pevide à diva nacional do fado. Não me lembro de alguma vez ter escrito sobre António Pinho e a Banda do Casaco, por exemplo. Mas lembro-me de uma crónica hilariante sobre os "jazos" ou os simplórios da música lusitana, numa crónica que foi a pedrada no charco da nossa escrítica musical. O estilo era diferente do que até aí se podia ler e que só um Artur Portela Filho ou um Assis Pacheco ou ainda um O Neill conseguiam de algum modo alternar.
MEC foi uma lufada de ar fresco na escrítica, mas não foi um fenómeno duradouro. As crónicas no Independente que se seguiram às de O Jornal e no Expresso estiolaram rapidamente numa modorra estilística porque MEC não é um escritor. Não é um Salinger ou sequer um O´ Rourke ou mesmo um Tom Wolfe. MEC é um cronista, apenas.
Desde os tempos do Independente, os melhores textos de MEC são crónicas sobre gastronomia. Lembro-me de uma sobre as "andouilletes" francesas que tem já uns anos e que foi publicada no Público, sendo do mesmo género antológico daquelas sobre "dar ares de jazo", dos anos setenta.
É isso o melhor de MEC, a meu ver e nada mais para além de uma escrita escorreita que aliás nunca me impressionou por aí além. Nesse aspecto, Lobo Antunes chega para ele, sem esforço de maior.
Mesmo assim MEC conseguiu impor-se nas letras nacionais, bastante pobres, e pairar acima de uma média muito baixa e agora tem uma entrevista ao jornal i em que em determinada altura diz isto, sobre a sua actividade radiofónica antes de 25 de Abril de 1974:
Fazia programas de rádio e tinha de levar as coisas aos censores.
Cortava as músicas do Elton John, do James Taylor, do Neil Young.
Parecia uma coisa dos anos 30.
Permito-me duvidar e muito do acerto desta afirmação. A Censura prévia proibiu a passagem de músicas de Elton John, antes de 25 de Abril de 74?
Vejamos. Elton John até então tinha publicado sete discos. Partindo do pressuposto que tal terá ocorrido entre 72 e 74, temos três discos- Honky Chateau; Don´t shoot me, i´m only the piano player e Goodbye Yellow brick Road.
Nenhum deles contém temas que a Censura dos nosso coronéis reformados tivesse cuidado em preservar dos ouvidos sensíveis do auditório nacional de rádio. E quem diz Elton John pode dizer James Taylor ou Neil Young. Nunca ouvi que uma coisa dessas tivesse acontecido e lembro-me de ouvir no rádio da época as músicas desses músicos.
É provável que MEC tenha motivos para o ter dito, mas não o explicou e devia. Até lá tomo a afirmação como resultado de má memória. Pelo menos.
sempre achei mec muito deprimente e já nem o lia em diagonal
ResponderEliminarpreferia Assis e O'Neill
lembro-me da Cornélia realizada pelo recém-desaparecido Luís Andrade.
também tive ficha na PIDE-DGS por ter entrado numa eleições sindicais em 1968 e entrado para a CED em 1972. penso que haveria no mínimo umas 100 fichas. um Pide que andou comigo na escola convidou meu sogro para padrinho e fui acompanha-lo. foi ele quem me disse
só fui agredido depois do 25.iv pelos sociais-fascistas e outros fantasistas tipo boxexas
digo 100 mil
ResponderEliminarPelas almas, que raio de comparação! O'Neill é um grande poeta em qualquer parte do mundo. Assis era tudo o que MEC foi em bom, além de poeta bissexto e de romancista de um só livro. Em todo o caso MEC foi um fenómeno, não por seu escritor, mas por ser quem foi. Foi verdadeiramente o primeiro queque popular. No meu tempo era um êxito entre a mocidade ranhosa e esquerdista da UC.
ResponderEliminarClaro que também foi o meu herói desses tempos.
ResponderEliminarMas o MEC não era um "queque" que se tornou popular- inventou-se como um gourmet.
O motivo pelo qual o MEC se me tornou interessante como escriba de jornais foi o estilo e o tema. O estilo diferenciava-se do resto e o tema era a música popular.
ResponderEliminarQuando saiu "O amor é fodido" nem sequer o folheei. Nem folheio.
O motivo pelo qual se tornou popular não consigo entender muito bem, mas é provável que tenha sido por causa dos anos noventa e da tv, com aquele estilo de falso iconoclasta ( MEC é dos tipos mais assertoados à situação que conheço).
Sobre o seu papel no Indy não sei bem qual foi exactamente, mas o jornal tinha algum interesse nos suplementos porque no conteúdo jornalístico deixava muito a desejar e a Manuela Moura Guedes era um anjinho ao pé daquilo.
Apesar da popularidade dos 90, como diz o José, ter vindo com as prestações da TV e co-direcção no Independente, penso que o melhor que ele (ainda) fez nesses tempos foi a K, de curta vida, mas boa memória.
ResponderEliminarTenho quase todas as K e continuo a achar que o melhor ainda são as crónicas gastronómicas.
ResponderEliminarUm das K tem um artigo extenso sobre Marcello Caetano, da autoria de Vasco Pulido Valente.
Um povo de herois: passados 40 anos descobrimos todos um passado antifassista; com alguns palavrões pelo meio, para dar um arzinho soissantehuitard.
ResponderEliminarAcho que a popularidade do MEC veio das cronicas que assinava no Expresso nos anos 80, sob o titulo "A causa das Coisas".
ResponderEliminarDepois disso, pelo menos para mim, a sua qualidade decaiu muito.
pois se não leu, devia ler!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
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ResponderEliminarDo MEC crítico musical nos anos 70, não me recordo: por essa época, passada algures entre a instrução primária e o ciclo preparatório, os meus interesses eram outros - coleccionar cromos e ler livros e revistas de BD. Ao invés, lembro-me bem dele no "Expresso", em meados dos anos 80, na "Causa das Coisas": era brilhante a forma como observava e escalpelizava a realidade de um certo quotidiano trivial português. Foi por este tempo que quase conseguiu ser eleito deputado para o Parlamento Europeu, obtendo para PPM o recorde de cento e vinte cinco mil votos. Depois de tal zénite, decaiu muito, nunca mais recuperou a forma que tinha exibido em "A Causa das Coisas" e em alguns momentos - "Noite da Má Língua", por exemplo - raiou a rasquice pura e simples.
ResponderEliminarEu era muito jovem na época, mas a minha mãe adorava e coleccionou até certa altura as crónicas do MEC e passou-me essa preferência. Não era difícil gostar de MEC. Na verdade ele foi uma lufada de ar fresco com tantos textos sem oscilações de qualidade providos daquela ironia fina, um estilo dificílimo de escrita, em que abordava sempre com brilho sobre assuntos tão distintos.
ResponderEliminarTinha ideia que o Elton John tinha tocado em Portugal, num festival, antes dos 25.04
ResponderEliminarTocou em VIlar de Mouros em 1971 e não foi censurado. E não vejo que o Elton tenha alguma canção susceptível de censura por cá, no tempo de Caetano.
ResponderEliminarSimplesmente não vejo. Nem o James Taylor ou o Neil Young.
Não entendo esta passagen da entrevista.
Bem me parecia...
ResponderEliminarO look do Elton parece-me, em teoria, suficiente para ser censurado mas se o deixaram apresentar-se ao vivo, banirem as músicas (acrescendo o facto de me parecer que a incidência de portugueses bilingues deveria ser infinitamente menor) parece-me parvo.
É galga
ResponderEliminarehehe
Eu nem entendo outras passagens da entrevista. Mas enfim.
ResponderEliminarEu creio que a visibilidade que o MEC ganhou também se deve ao personagem que ele inventou para si mesmo.
ResponderEliminarO hajapachorra chamou-lhe "queque", mas é falso. Nem sequer podia ser tido por um "menino de boas famílias com pedegree".
Inventou-se rico e, é um facto, que enriqueceu. Transformou-se em muita coisa, incluindo em judeu.
Mas ainda hoje a complacência política é uma variante do "estrangeirado" que se apaixonou por Portugal.
Um tipo que acha o Sócrates uma pessoa de bem é alguém que não entende o povo português.
ResponderEliminarSócrates entende.
E entende porque andou de "anjinho", passou mal, foi adolescente chico-esperto, estudou sem estudar verdadeiramente, "fez-se" por si mesmo nos sítios onde tal rendia e tornou-se um símbolo do pior que temos mas também de um certo desenrascanço que nos caracteriza em geral.
ResponderEliminarMEC acho que não entende uma só destas noções, como devem ser entendidas.
Por outro lado MEC é mesmo judeu porque tem um lado incompreensível e que não se explica.
ResponderEliminarÉ fluido.
ResponderEliminarBem visto, José.
ResponderEliminarNem sei se ele gosta de Sócrates. Todo aquele "gostar" é invólucro. É o embrulho da personagem que inventou.
ResponderEliminarMas o MEC sabe o que é a chico-espertice.
ResponderEliminarNão enriqueceu a jogar na bolsa.
Inventou cenas- incêndios providenciais e coisas assim, bem à tuga
ehehehehe
O hajapachorra chamou-lhe "queque", mas é falso. Nem sequer podia ser tido por um "menino de boas famílias com pedegree".
ResponderEliminarZ e que tem uma coisa a ver com a outra? Ele explicou muito bem essas diferenças porque sabe o que é, de facto um queque com todos os tiques e sem ponta de pedigri. Por isso também se inventou monárquico, mas já lhe passou, era um monárquico falso como judas. Qualquer queque se diz monárquico numa certa altura da vida. Depois há a história de estudar em manchester, meus Deus em Manchester (cavaco estudou em York). Não há queque que não tente fazer 'ciências políticas' em Inglaterra. É que não estudam outra coisa. É ele, é o cepo do Espada, é o Coutinho, é para o que dão. O marmanjola ainda teve tudo na volta, mas deslumbrou-se e acabou mal, muito mal. Uma vez no início dos 90 encontrei-o no parque natural de S. Jacinto e percebi que estava completamente perdido. Desde então não passa de uma assombração. A educação formal é estruturante e essa nunca a teve.
Olhe, hajapachorra, v. acabou a dizer aquilo que tive pudor.
ResponderEliminarLembrei-me logo do Coutinho. Esse é que é o genu+ino, embora tenha sido o imitador.
Mas o MEC tinha loucura e humor que nenhum deles alguma vez teve.
Mas não tem pensamento político e nem sei a que propósito faz crónicas a dizer disparates.
ResponderEliminarÉ a ideia do gourmet inventado- lá desencanta paladares agradáveis em porcarias que nem para o gato.
Mas esses são certinhos. Nenhum deles se drogou em idade para ter juízo.
ResponderEliminarO MEC fê-lo por qualquer outra coisa que faz parte da loucura e desequilíbrio de que também fez arte.
O Coutinho não é o que parece. Aquilo é uma capa preta em cima de uma menino. É o mais inteligente deles todos. Não disse que era o mais talentoso.
ResponderEliminarÉ quem, o Coutinho?
ResponderEliminarÉ o menino Joãozinho que agora fala brasileiro
ResponderEliminarehehehe
Nunca entendi o que viam nesse. É um gigantesco cretino.
ResponderEliminarÉ este:
http://3.bp.blogspot.com/-otH95uyQJH8/UNIzTEhpU7I/AAAAAAAAGmw/TdjJeALXHvc/s1600/Riquinho+5.jpg
Bem... então é preciso ter pedigree para se ser Monárquico???...Nessa lógica, nunca haveria um republicano para amostra.
ResponderEliminarNão é nada cretino. E fala mais italiano que brasileiro.
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