O assunto resume-se a coisa mais prosaica que o aparecimento de novas ideias salvíficas para o país: apenas a táctica mais recente para alcançar uma fatia do poder político que lhes escapa desde 25 de Novembro de 1975, apesar de terem consolidado um poder mediático nada despiciendo e que justifica as presentes contradições.
A velhíssima ideia de Esquerda, agora sem a retórica marxista, de rigor nos setenta, permanece inalterável, como permanecem inalteráveis os propósitos e consequências práticas da mesma: a miséria assegurada para todo um povo, em proveito de uma classe de "vanguarda" que governaria em nome do "povo". É essa classe de vanguarda que anda por aí nos media, com a cumplicidade activa e permanente dos mesmos, a promover o embuste de sempre e o logro do costume.
Senão, vejamos:
Hoje no i, um dos cabecilhas desta nova fronda de descontentes da Esquerda, de seu nome Daniel Oliveira, cuja notoriedade advém única e exclusivamente dos favores mediáticos que obteve ao longo dos anos, esportula ideias de Esquerda sem objectivo que não o acima apontado: participar no poder e poder ir ao pote, neste caso nas eleições europeias e as que venham a seguir. Um objectivo meritório, como se pode entender...
Estas ideias são, obviamente, sufragadas pela directora-adjunta do jornal ( outro falido e que não se sabe quem é que o sustenta economicamente) Ana Sá Lopes, trânsfuga do Público ( mais um falido mas que se sabe quem é que o sustenta- o grupo Belmiro que quer manter esse berloque à custa de milhões de um mecenanto improvável).
No Público, a ideia de Esquerda é a mesma de sempre, como o prova este artigo de 18 de Setembro de 2012, com a ideia básica em proeminência equívoca e paradoxal ( porque a injustiça não é uma ideia política nem deve se empregue como metonímia):
Torna-se também claro que esta gente que dirige jornais falidos e que não tem competência para mais, é de esquerda. Desta Esquerda que se afirma como uma "atitude ética e cultural"...e só podia ser.
Sobre o projecto político concreto dessa mesma esquerda, a vacuidade é a norma porque actualmente não há soluções marxistas evidentes e consequentes e a sua proclamação, de qualquer modo, está tomada pelo PCP, há muitos anos e anos. Com os desenganos que os media não assumem nem interiorizam, em Portugal.
Assim, o que resta a estes daniéis com as suas harpas de crentes nos amanhãs a cantar?
Pouco: Plataforma de Esquerda, Política XXI, Bloco de Esquerda e agora um Polo ou um Livre. Até agora todos falharam os objectivos de federar umas ideias de Esquerda mal definidas mas sempre proclamadas pelos seus próceres.
Em França, terra de origem destas ideias, há muito que estes daniéis oliveiras mais os fósseis que os geraram estão arredados do poder ou mesmo da ideia de poder partilhado. A revista Nouvel Observateur desta semana é eloquente no editorial do seu director e em notícias sobre os mesmos.
E como é que chegamos até aqui, a este absurdo de ver todos os dias nas tv´s, convidados pelas anas lourenços activistas, os próceres destas ideias ultrapassadas e fossilizadas noutros países?
Tudo tem uma explicação e a minha é esta:
Em 1982, Vasco Pulido Valente escreveu no jornal A Tarde ( dirigido por Victor da Cunha Rego) um resumo desta malina que nos atinge há décadas e que começara alguns anos a minar o panorama social e mediático nacional. Já nessa altura, em que o tal Daniel ainda andava de cueiros, a Esquerda se definia como "uma atitude ética e cultural". Enfim.
Porém, a origem desta "atitude" remonta aos primórdios da Revolução de 1974. Nessa altura, quem não alinhava pelo padrão de Moscovo e preferia outras paragens, tentava inventar um paradigma, como este, proclamado num jornal apelidado de Esquerda Socialista de 16 de Outubro de 1974, congregante de várias sensibilidades que se opunham à "direita", fosse lá isso o que fosse e que os mesmos nem sabiam ao certo, talvez o diabo secular que se oporia a uma ideia fixa: a igualdade como meta de amanhãs a cantar.
Entre os prosélitos deste proto Polo Livre, já com alguns radicais livres, antecedente remoto dos blocos, estavam luminárias que depois se arrependeram das asneiras de juventude, como Augusto Mateus ou Jorge Sampaio. Arrependeram-se é um modo de dizer, porque não há arrependimento sincero de quem nunca deixou de pensar à Esquerda. Veja-se o caso singular do mesmo Jorge Sampaio que em 1978 ainda acreditava no pai natal dessa esquerda, como se vê pelo O Jornal desse ano. Tal como agora, divergiu do antigo "Movimento" para fundar uma "Intervenção", ou seja, um "polo". Lacoste, provavelmente.
Poderia pensar-se que esta gente mudou e que afinal aquelas ilusões de juventude que aliás não atingiram toda a gente mas só esses inteligentes, foram abandonadas e repudiadas. Que nenni!
No Público de há uns anos, o mesmo Vasco pulido Valente fazia-lhes o epitáfio, assim:
E tudo isto se resume a uma ideia mais simples e que os mesmos acabaram por aceitar sem repudiarem aquelas antigas e bem enraizadas: Sá Carneiro, explicava-a claramente no Expresso, pouco antes de 25 de Novembro de 75, em 17 de Outubro desse ano, assumindo desse modo o papel de líder da "direita" ( imagine-se!) tal como a entendiam aqueles mesmos acabadinhos de nomear e tantos outros que agora querem repescar as mesmíssimas ideias, como Pacheco Pereira, nostálgico certamente das andanças esquerdistas.
Sendo evidente e claríssimo que a única ideia de esquerda viável em Portugal ( e em França como mostra aquele editorial do Nouvel Obs) é a referente à social-democracia, o que o PS descobriu logo a seguir a meter o socialismo na gaveta da História, por causa de ter sido governo e notado que não havia alternativa, o que pretendem estes pândegos que há dezenas de anos andam a perseguir um fantasma que lhes surgiu em manhãs de nevoeiro marxista?
Não se percebe, evidentemente. Um dos primeiros trânsfugas do comunismo fossilizado, Francisco Louçã, há uns anos, em entrevista à Sábado ( Agosto de 2009) mostrava claramente as contradições destas ideias peregrinas e que são as mesmas dos daniéis oliveiras e ruis tavares dos polos livres.
Sobre Louçã e os seus seguidores ideológicos, enquistados nas ideias económicas de um João Martins Pereira, há muito que não oferecem qualquer dúvida os seus propósitos porque foram também já explicados devidamente, aqui:
Numa
esquerda socialista. (...) Para nós o socialismo é a rejeição de um
modelo assente na desigualdade social e na exploração, e é ao mesmo
tempo uma rejeição do que foi o modelo da União Soviética ou é o modelo
da China. Não podemos aceitar que um projecto socialista seja menos
democrático que a "democracia burguesa" ou rejeite o sistema
pluripartidário. Não pode haver socialismo com um partido político
único, não pode haver socialismo com uma polícia política, não pode
haver socialismo com censura. O que se passa na China, desse ponto de
vista, é assustador para a esquerda. (...) Agora, a "esquerda
socialista" refere-se mais à história da confrontação, ou de alternativa
ao capitalismo existente. Por isso o socialismo é, para nós, uma
contra-afirmação de um projecto distinto. Mas, nesse sentido, só pode
ser uma estrutura democrática."
O que dizia Louçã em 2005 a este propósito? Isto:
"O
BE é um movimento socialista ( diferenciado da noção social-democrata,
entenda-se-nota minha) e desse ponto de vista pretende uma revolução
profunda na sociedade portuguesa. O socialismo é uma crítica profunda
que pretende substituir o capitalismo por uma forma de democracia
social. A diferença é que o socialismo foi visto, por causa da
experiência soviética, como a estatização de todas as relações sociais. E
isso é inaceitável. Uma é que os meios de produção fundamentais e de
regulação da vida económica sejam democratizados ( atenção que o termo
não tem equivalente semântico no ocidente e significa
colectivização-nota minha) em igualdade de oportunidade pelas pessoas.
Outra é que a arte, a cultura e as escolhas de vida possam ser impostas
por um Estado ( é esta a denúncia mais grave contra as posições
ideológicas do PCP). (...) É preciso partir muita pedra e em Portugal é
difícil. Custa mas temos de o fazer com convicção."
Enganam e enganam-se(alguns).Quando apanham o poder digladiam-se em lutas pela pureza ideológica e abrem o caminho ao único partido inabalável na teoria e na prática:--o comunista.Este já tem a experiência histórica:uma ditadura férrea,uma polícia política,campos de trabalho,nacionalização do pensar e do ter,execuções.Isto nunca devia ser esquecido.
ResponderEliminarJá li coisas bem melhores - deve estar empaturrado com as filhoses.
ResponderEliminarCarissimo José
Vamos ao bacalhau?
Um Bom Natal
Pirolito
Há mais marias na terra.
ResponderEliminarO retrato só peca por defeito.
Caro José, não apresenta o seu presépio este ano?
A ver se não instalam aqui a múmia do lenine.
Bom Natal!
jose.j
O meu presépio deste ano? Huummm...não fui ao musgo.
ResponderEliminarMas ando à procura de uma ideia até logo.
Descilpe mas esse Mélanchon é ainda mais tolo que os nossos melenchões...
ResponderEliminarO Mélenchon apanhou um banho eleitoral nas últimas. Tolo? Não mais que um Arménio...
ResponderEliminarO que é certo é que todas as vanguardas estão a caviar enquanto os reaças apanham as migalhas caso se portem bem
ResponderEliminarEu resumo tudo assim:Depois da entrega de tudo o que tinha preto e não era nosso andam agora furiosamente a colonizar-nos com subsídios da segurança Social e um Estado Social Internacionalista.Nivelando tudo por África evidentemente.Um caso de alta traição não?
E ainda falta realizar o desejo do prof Marcelo que é fazer eleger os importados para ao estilo Mélenchon se caminhar cantando a internacional para uma civilização estilo Bantu...
ResponderEliminarskepticos:
ResponderEliminarMuito obrigado pela informação que
é magnífica.
Hesito, por ser dia de Consoada, em colocar este sítio em evidência.
Por Caridade cristã, vou aguardar até depois das festas.
Chamava-lhe Cunhal "democracia avançada". Eu cá prefiro chamá-los "partidos das marchas-atrás".
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