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sexta-feira, fevereiro 14, 2014

A Esquerda é uma ideia e Baptista Bastos um seu profeta




“A esquerda é uma ideia”. Assim define Baptista Bastos a Esquerda.  E complementa: “ De igualdade, de fraternidade, de equidade. De trabalho.”   É este o vademecum que lhe permite posicionar alguém à esquerda ou à direita.
Será isto suficiente para definir uma ideologia? Não é e nunca foi, mas é assim que  esta Esquerda entende que deve ser.  Um conceito que prescinde de  factos que o contradigam.
O entrevistador pergunta-lhe qual a prática dessa esquerda e a resposta é que  “não existe”.
Será talvez por causa desse desinteresse pelos factos que as experiências socialistas reais, nos países que se proclamaram como tal os não afectam muito.Falar da Coreia do Norte ou de Cuba, ou da antiga RDA ( e da terrível STASI) ou dos demais países ditos socialistas é música de Cage para os ouvidos de um comunista fossilizado. Não entra.
Baptista Bastos visitou a URSS três vezes e nunca descobriu a raiz do mal comunista. E até proclama agora que “tenho pena que a União Soviética tenha implodido. Agora percebeu-se que era um travão a muitas das coisas que estão a acontecer”.
As tais muitas coisas que estão a acontecer não são enunciadas por BB mas é fácil de perceber porque redundam sempre no mesmo:  no modo como se produz riqueza e se distribui e no capitalismo, imperialismo, globalização etc etc..
BB acredita no comunismo, ainda hoje porque sim:  “revejo-me no PC”.
Portanto, há um “mundo” em BB e pessoas semelhantes que são muitas  e se revêem  num sistema de ditadura em que uns tantos iluminados do Partido único, com tendência para se perpetuarem no exercício do poder, mandam politicamente nos demais cidadãos. 
N o exercício desse poder, de partido único, há uma necessidade imperiosa de cercearem liberdades que os sistemas democráticos ocidentais consideram fundamentais.  A liberdade de expressão de pensamento não conta como valor, porque é cerceada pela censura efectiva e real, permanente e actuante. A liberdade de circulação, reunião e associação é igualmente cerceada de modo grave e claro, uma vez que não se admitem partidos que professem ideologias “fascistas” nem partidos que simplesmente tenham por missão assegurar uma alternância das pessoas que estão a excecer o poder. 
A liberdade de confissão religiosa fica limitadíssima quando a doutrina oficial do Estado é o ateísmo.  A liberdade individual de iniciativa privada fica desde logo reduzida ao mínimo na medida em que toda a propriedade é do Estado. A produção de bens passa a ser função do Estado, com toda a lógica daí decorrente.
Este sistema político, com muitas mais características, como por exemplo uma ferocíssima repressão policial sobre qualquer dissidente da linha justa do Partido foi a realidade vivida por milhões de cidadãos durante décadas na antiga URSS e nos países do bloco de Leste.
Baptista Bastos a estes factos responde com os conceitos aludidos porque ainda acredita na eficácia de tal sistema, para impedir “as muitas coisas que estão a acontecer”. 
Há porém várias contradições que atentam contra a lógica mais elementar.

Quem defende um sistema político deste jaez que autoridade moral tem para condenar um sistema político como o que existia antes de 25 de Abril de 1974 em Portugal? Nenhuma, claro.No entanto, paradoxalmente são eles quem se acha no direito moral de vituperar o "fascismo" e de tornar tal luta a bandeira para os que " não apaguem a memória". Neste caso, das prisões fascistas, da repressão fascista e da ditadura fascista, como proclamam, sem qualquer pejo ou vergonha.
A admiração por um sistema em tudo semelhante ao verdadeiro fascismo não deveria alertar qualquer consciência inteligente para a incongruência e monstruosidade da contradição? 
A própria vituperação do “fascismo”, apontado como sendo o sistema político do Estado Novo não deveria fazer corar de vergonha sempre que tal ideia é expressa, como o faz BB ao referir-se ao “fascismo”? Estas ideias e argumentos, tipicamente comunistas vêm já dos anos 50 ( no tempo da II Guerra, Estaline fez um pacto de não agressão com Hitler, coisa que não gostam de lembrar...) e são agora replicadas nos mesmíssimos termos de então pelos comunistas que conseguiram que outros não comunistas as adoptassem de igual maneira.
E então porque continuam a mostrar aquela fé inabalável na crença contraditória? Porque são estúpidos e maus?  Nem tanto. São apenas sonhadores da utopia que se contentam com “ a ideia” e desprezam os factos que lhes destruiria a ideia sonhadora.
Enquanto desprezam o “fascismo”,   idolatram o comunismo que partilha com aquela ideologia os métodos de exercício de poder. Tudo se passa como se o fascismo, ao qual associam regimes como o de Salazar e Caetano que pouco tiveram a ver com o verdadeiro fascismo, fosse o Mal absoluto e indiscutível perante o qual ou aparência do mesmo, tudo fica explicado  e injustificável. 
O fascismo é a palavra mágica para se encontrarem no lugar imaginário que ocupam e com ela argumentam para delimitar fronteiras.
Designando o regime de Salazar como fascista não precisam de nada mais para o desacreditarem e relegarem para os regimes hediondos da História. Como Salazar de facto prendia quem fazia propaganda subversiva em nome do comunismo, perseguindo nos terríveis Tribunais Plenários e condenando quem a praticava de facto ( e não consta que houvesse erros judiciários nessa matéria) tanto basta para a diabolização completa e sem remissão do regime.
Se lhes fizerem ver que os tribunais da antiga URSS e os métodos de obtenção de confissões e as condenações em reclusão em campos de concentração ( Gulag) ou em hospitais psiquiátricos para toda  a vida, foram coisas que aconteceram, em modo muito mais terrível que por cá, mesmo com tarrafais, tais factos são relegados em primeiro lugar para a propaganda fascista e em segundo, se as evidências se tornarem indesmentíveis para os “exageros” revolucionários ou a relativização dos encarceramentos vitalícios.Ou então se lhes fizerem notar os milhões de mortos estalinistas, a resposta aparece rápida com a comparação dos milhões de mortos à fome nos países capitalistas.
Há uns anos foi publicado um Livro Negro do Comunism. Pouco depois aparecia a resposta com um Livro Negro do Capitalismo, como se a lógica fosse a mesma.
A menção ao fascismo de Salazar serve para arredar qualquer discussão sobre o Estado Novo, mas a menção à repressão de cariz verdadeiramente fascista nos países de Leste é-lhes indiferente como tema de argumentação. E esta "ideia" fez caminho durante as últimas décadas em Portugal, tornando o partido Comunista uma força política "democrática" e consensual, relegando para o esquecimento o programa, as ideias escritas trimestralmente no O Militante, arrancadas das catacumbas do comunismo mais serôdio e fossilizado e que contradizem plenamente aquele ideário tacticamente exposto para a democracia ver e deixar passar.

Estes factos não têm a menor consequência lógica no pensar comunista, na “ideia” comunista que continua pura e bela como sempre a entenderam: "De igualdade, de fraternidade, de equidade. De trabalho". E os comunistas como Baptista Bastos são os detentores da patente ideológica desta ideia que não cedem a mais ninguém, e muto menos à horrenda Direita que é, naturalmente, o oposto.

Provavelmente, como acreditam piamente nesta patranha com décadas ideológicas em cima e já com a patine necessária para se tornar "ideia-feita", desdenham todos os factos e acontecimentos históricos que a desmentem. E arranjam argumentos sediciosos para conseguirem conviver com a contradição fatal: vão buscar as ditaduras da América latina ou o sistema económico e de saúde americano ( como se os pobres na antiga URSS tivessem a mínima hipótese...) e lá se acomodam às contradições porque subjaz sempre a bela ideia a raiar na imaginação dos amanhãs a cantar. 
Será isto uma loucura? É. Só pode ser porque não tem explicação razoável e racional.

E é isto que se torna terrível. Porque pessoas como Baptista Bastos há-as aos milhares em Portugal e a figura simbólica de tudo isso e do terror comunista, Álvaro Cunhal anda a ser transformado em herói nacional por essas escolas fora. 

Na crónica que o jornal lhe publica, hoje, Baptista Bastos dá exactamente a ideia que se lhe atravancou definitivamente nas meninges que lhe protegem o pensamento fossilizado. Sá Carneiro visto por BB só poderia ser um...fascista. Aliás, como o PCP de Cunhal o classificava em 1979.

Será isto apenas terrível e patético? Não, é perigoso também porque deriva de um sectarismo sem remédio. Mais ainda: o PCP fartou-se de fazer destes "saneamentos" do partido e sempre teve os "controleiros" para zelarem pela ortodoxia dos comportamentos. Logo que saem do Partido, os apóstatas são considerados traidores ( Mário Soares é um deles) e nunca perdoados democraticamente. Que o diga Zita Seabra.

Baptista-Bastos não sabe disso? Então por que se indigna com a expulsão de um militante de um partido que acha de "direita"? Não foi isso, exactamente o que o Partido fez sempre aos seus militantes desalinhados da "linha justa"? E na URSS tal desalinho, nos anos  estalinistas tinha que consequências? Um Tarrafal? Não: a morte. BB não sabe que era assim?



20 comentários:

  1. ".Falar da Coreia do Norte ou de Cuba, ou da antiga RDA ( e da terrível STASI) ou dos demais países ditos socialistas é música de Cage para os ouvidos de um comunista fossilizado. Não entra. "

    Ah!Ah!Ah!Ah! Magnífica imagem!

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  2. E até quando é que esta inteligentzia de comunistas encartados fossilizados vai continuar a doutrinar e a espalhar este virus?
    Quando é que vão começar a ser desmascarados e a desampararem a loja?
    Como é que se combate isto?

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  3. E o José tem mesmo razão. O problema é que isto é um efeito de linguagem.

    Emprenham pelos ouvidos, arregalam os olhos para parecerem idealistas e os fins justificam os meios.

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  4. JC:

    Como é que se combate isto?

    Não sei. Nem sei se isto que aqui escrevo terá algum efeito para além de meia dúzia de pessoas que pensam como eu e portanto nem precisam de saber mais.

    Porém, não entendo isto como uma trincheira de luta guerrilheira.

    Na verdade, nem me interessa para além de me esclarecer a mim mesmo e a quem achar por bem.

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  5. Se pensasse o contrário seria uma espécie de d.quijote. E não quero ser.

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  6. o lacinho garrotou-lhe as artérias que deviam levar o sangue ao 'cerbro da cabeça'

    'ó faxista de merda onde estavas no 25 de novembro'

    o ferrador da minha terra quando a besta não prestava dava-lhe
    'uma corrida em osso',
    ou seja sem albarda

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  7. Não largam as "universidades" e os mérdia. Os sovietes, não deixam passar nada. A igualdade deles é uma treta, eles ditam as regras, o discurso não aguenta uma leitura mais profunda, portanto, tudo tem que ser censurado, livros que não "aparecem", o jornalismo de vão de escada, parecem a voz do dono, o socialismo, com o dinheiro dos outros, é o sol da terra. A culpa é sempre dos outros

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  8. Como é que se combate isto?

    Diminuindo o peso do estado na economia. Está em quase 50% e no tempo de Salazar 15%.

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  9. Não basta essa intervenção na desestatização da economia. Há muitos "liberais" que de comunista nada têm e que apostam no Estado como mecenas. Alguns advogados de topo, por exemplo.

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  10. A meu ver isso pode ser acelerado com a denúncia do embuste comunista.

    Se na tv houvesse alguém que não tivesse medo e falasse claro, as coisas compunham-se.

    Mas não há. São todos "meloantunes" e faltam "jaimeneves".

    Se houvesse mais "jaimeneves" os comunistas eram arredados do discurso oficial e tinham que se reciclar como na Espanha.

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  11. A única saída para o PCP é a social-democracia.

    E se o fizessem teriam o meu apoio. Não escreveria o que escrevo se o PCP fosse um partido social-democrata.

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  12. De certo modo , este tipo ( que Vergílio Ferreira bem retrata no " Conta Corrente") personifica o dito francês " Coeur à gauche, portefeuille à droite" .
    E sabe tratar da vidinha : nem os labirintos burocráticos da CML o intimidam...

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  13. Cá para mim se não padecer de uma perturbação narcisica da personalidade, anda lá perto...

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  14. De acordo. Mas acho que é demasiada cera para tão ruim defunto.
    Outra coisa: fascismo=comunismo?
    Essa não,José.

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  15. A casinha da Câmara é bem jeitosinha

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  16. Chesterton define bem o estado de loucura que é comunismo:
    "Se o leitor discutir com um louco é muitíssimo provável que seja vencido por ele; é que a mente do louco progride muito mais depressa do que a mente do leitor, pelo simples motivo que não se deixa deter por todos os constrangimentos que acompanham a racionalidade. Ele não se deixa embaraçar pelo sentido de humor, nem pela amabilidade, nem pelas ingénuas certezas da experiência; e mostra-se tanto mais lógico, quanto perdeu determinadas emoções que o homem são possui"

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  17. BB: escreve bem, pensa mal.
    E desculpa muito os amigos.

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  18. Baptista Bastos visitou a URSS três vezes e nunca descobriu a raiz do mal comunista. E até proclama agora que “tenho pena que a União Soviética tenha implodido. Agora percebeu-se que era um travão a muitas das coisas que estão a acontecer”.
    As tais muitas coisas que estão a acontecer não são enunciadas por BB mas é fácil de perceber porque redundam sempre no mesmo: no modo como se produz riqueza e se distribui e no capitalismo, imperialismo, globalização etc etc..


    Eu, por acaso, concordo com o tipo.

    É verdade que a URSS era um travão a muitas coisas - essas que o José refere - e penso que foi por isso mesmo que "implodiu" - ou foi deixada implodir...

    Mas isso é apenas metade da história - e da História. Se a URSS - e o comunismo internacional, pois um e outro são indissociáveis - serviu como travão a certas coisas, não deixou de servir como catalisador a outras: o esboroamento e desmoronamento das sociedades baseadas nos valores tradicionais, que eram, em si mesmos, travões muito mais eficazes às sobreditas consequências.

    Ao analisar-se a questão da perspectiva de quem tem interesse em fazer desaparecer os travões, dir-se-ia que, numa primeira fase, o travão natural dado pela tradição nas sociedades foi atacado e subvertido para ser substituído por outro - artificial, anti-tradicional e anti-nacional; e, numa segunda fase, esse travão artificial foi removido, deixando o campo aberto à progressão de todas as coisas que antes travava.

    No campo do concreto, penso que se pode afirmar que, se ainda existisse a URSS, Portugal e os outros países em situação financeira semelhante não teriam qualquer problema: no contexto da guerra fria, se o Ocidente - i.e. os EUA - não fornecesse o dinheiro, a URSS fá-lo-ia certamente para procurar ganhar influência sobre os países afectados. Donde se conclui que o Ocidente abriria, forçosamente, os cordões à bolsa.
    Este é a metade a que mais ou menos se refere o entrevistado, embora nunca ponha - et pour cause - o assunto assim em pratos limpos.

    A outra metade é a que a gente aqui também sabe: se não fosse a URSS - ou os interesses que por detrás dela se moviam - Portugal nunca teria o problema logo à partida!

    Por mais que se clame e esteja na moda ridicularizar os das chamadas "teorias da conspiração", não pode deixar de impressionar quão convenientemente se desenrolou a História do séc. XX - para não irmos mais atrás - em favor dos interesses que a URSS supostamente travava...
    E é impossível afastar o pensamento, para quem possui um mínimo de cinismo, de que a URSS e o comunismo e seus derivados, embora se vestissem e vistam como piores inimigos do capitalismo, aparentem ser, na realidade, os seus maiores aliados!

    Recordo que a verdadeira mensagem presente no livro 1984, de George Orwell (que não era nada estranho a estas andanças) não é, propriamente, o Big Brother e o controlo repressivo da sociedade - à la Stasi, mas muito mais à la NSA e CIA; mas antes o conceito de "oposição controlada". No fim do livro, o grande chefe da oposição à ditadura, o líder da resistência, não era outro senão o próprio Big Brother...

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  19. O trabalho do comunismo está feito. Restam fósseis anacrónicos apenas, como em Portugal; relíquias de um passado recente.
    O caminho está totalmente aberto aos interesses em nome do combate aos quais o comunismo subverteu, dividiu, esboroou, destruiu e matou sociedades, homens e ideias. Nada se lhes opõe agora. E estamos a assistir a isso: o homem nasce, hoje, para consumir. Não tem direito à religião, à nação, à família, e - estamos em processo de o observar, com o casamento homossexual e a ainda mais perniciosa teoria do "gender" já posta em prática, por exemplo, em França - nem sequer tem direito à sua própria natureza.

    Contas feitas, que se observa? Observa-se que, em vez de combater este processo, e os interesses que o põem em marcha, o comunismo e derivados, na realidade, escancararam-lhe as portas.
    Falharam? Talvez. Mas não é pelo fruto que se conhecem as árvores? A intenção era boa? Talvez. Mas não está de boas intenções o inferno cheio?

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  20. O dinheirinho e a propriedade pulverizam tudo, ajudando a evidenciar a eterna condição humana, imutável.

    Querem-lhe as virtudes, resignem-se aos "pecados".

    Homem só há 1, e cada vez mais, por descobrir - mais nenhum.

    As ideologias passam, o indomado existe, persiste e ser-lhes-á supérstite.

    Mais mocada, menos mocada...

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