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quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Sombras no regime

A propósito do estudo académico sobre os apaniguados do sistema, torna-se importante entender as raízes profundas do mesmo sistema que se mantém inalterado há quase quarenta anos e que fatalmente tem de ser apontado como o causador dos nossos males sociais económicos e morais ( a árvore conhece-se pelos seus frutos, é sabedoria do Evangelho...).
 Para entender as diversas teias de influência política que ao longo dos anos foram tecidas e aguentam sempre o regime, impedindo de facto a sua renovação, há diversos nomes que importa elencar, muito para além do estudo genérico dos apaniguados do sistema que são aos milhares.

Estes nomes são singulares porque se destacaram neste período de tempo "democrático" aproveitando todas as virtualidades que se foram apresentando ao som da evolução política que é de uma continuidade atroz.
Na estrutura do verdadeiro poder em Portugal, aquele que tem influência nas escolhas políticas mais importantes, e as apresenta ao povo para votação, ou seja o sistema político-partidário, confluem diversos e poucos nomes.

Um deles é Vasco Vieira de Almeida, advogado desde 1976.

Já por aqui se escreveu sobre a personagem mas nunca é demais contar estas histórias a quem não sabe e lembrar a quem já se esqueceu.

A história começa logo em 1974, antes mesmo, porque este "esquerdista" começou logo como funcionário superior bancário, com atestado marxista. Conta o Expresso de 17 de Dezembro de 1975


VVA tinha estado preso pela "PIDE", no Aljube, por ter ajudado "antifascistas" e tal valeu-lhe imediatamente um reconhecimento automático de valor democrático, com direito a prebenda: foi ministro em governo provisório, com a legitimidade revolucionária. Portanto, bem marxista.

Em 1974-75 logo no período do PREC em formação, VVA foi enviado especial a Angola para tratar de assuntos da "descolonização" ( tal como Manuel Alegre, aliás).  Em 23 de Agosto de 1975 VVA já sabia o que iria acontecer com a "descolonização exemplar", mas não foi capaz de suster a onda revolucionária e de se opor aos rosas coutinhos, comunistas, esquerdistas de várias cores e tal como Almeida Santos, Mário Soares e outros embarcou na grande nau do descalabro nacional.


E não foi apenas nesse mar que a nau iria naufragar. Tal como dizia ao O Jornal de 16 de Janeiro de 1976, VVA sabia o que iria acontecer ao país dali a pouco: a primeira bancarrota, como nunca tinha acontecido nos quarenta e tal anos antes, com Salazar e Caetano. Sabia mas pouco fez politicamente para travar o descalabro. Em Portugal, nessa altura, quem tinha um olho de visão política e estofo intelectual bastante era rei e VVA conseguiu ser um príncipe que saiu logo da corte, apesar de nunca ter abandonado os demais cortesãos. VVA, tal como Sérvulo Correia, só não foi mais longe na política porque provavelmente não quis e preferiu enriquecer no trabalho jurídico. Nesta pequeníssima nomenklatura do sistema, Rui Machete é o parente pobre. 

Em 1976 fundou a sociedade de advocacia e como bom profissional singrou, deixando já o filho a tomar conta da barca.

Em 2012 deu uma entrevista ao Jornal de Negócios que já foi comentada aqui.

Porém, a actividade da firma de advocacia, uma das maiores de Portugal e de quem José Miguel Júdice dizia ser uma das três consultáveis obrigatoriamente pelo poder político, sempre conduziu o indivíduo para mares encapelados de dúvidas democráticas que foram já analisadas por aqui quanto à ética dos pareceres de que são clientes certos dos governos e por aqui relativamente a assuntos mais obscuros e ainda por dilucidar.

Quem não conhecer esta personagem central do Portugal democrático dos últimos 40 anos não conhece o país. E é o conhecimento do que fizeram pessoas como esta e como se enquadraram democraticamente que se torna essencial estudar para entender melhor com podemos sair do beco onde nos encontramos.
Tal como Camilo Lourenço escreve:  "saiam da frente!"

11 comentários:

  1. Jà Camões situava a inveja no centro dos problemas nacionais.

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  2. Continua com muita inteligência.

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  3. Não tendo andado pelo CEJ, faz-se o que se pode.

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  4. Inveja?Ou revolta?De ver uns basbaques pseudo-democratas a afundarem e a retalharem a mais antiga nação da Europa?Numa de descoloniza e agora coloniza...mas claro por nossa conta e distribuindo o "a cada um segundo as suas necessidades"

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  5. Bem podem andar a colocar a história na clandestinidade mas um dia os verdadeiros Portugueses vão chamar os bois pelos seus verdadeiros nomes:traidores...

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  6. Revolta? Náaaa...

    Quanto muito, o que pode revoltar aqui o sinistro de permanência, é a bandeira nacional não ter vermelho que chegue... E às tantas as quinas lá também o estorvam, fazem-lhe impressão à vista: é simbologia muito fachista... ficavam lá melhor assim uns instrumentos de trabalho do "povo" ou do "proletariado"... de que ele sem dúvida fará parte... por "solidariedade" sobretudo, e quanto mais não seja.

    Mas tudo tem a sua utilidade na óptica sinistra: até um reaccionário como Camões...

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  7. Não eram camaradas.

    A este tipo de personagens no teatro revisteiro de Abril os comunistas apelidavam de "os amigos do Partido".

    Significava que «os amigos do Partido" não perfilhavam a ideologia mas também não criavam obstáculos e podia haver diálogo com eles.

    Sempre na mira de um dia os amigos "franquearem a porta à chegada"

    Porém, "os amigos do Partido» eram ratos.

    Construíram grandes celeiros e hoje estão bem na vida.

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  8. dizia o almirante cândido dos reis antes de o suicidarem:

    «quando há revolução em portugal, metade aceita, metade borra-se»

    foi o que aconteceu ao centro-direita

    passa o tempo
    «a ver a bunda passar cantando trovas de amor»

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  9. Aníbal Duarte Corrécio, às 16:06

    a designação adequada para essa gente era "idiotas úteis" ou, em francês, «compagnons de route» em vez de "amigos do Partido", mas a sua descrição da função deles está correcta.

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  10. Os ''Mirzas'' deste país fazem vómito !!

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  11. Os analfabetos do pensamento único também.

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