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terça-feira, fevereiro 25, 2014
VPV: a trilogia da decadência postiça
Vasco Pulido Valente dedicou as três pequenas crónicas do último fim de semana, no Público, ao assunto magno da nossa pretensa decadência atávica.
Fiquei com dois recortes, o de Sexta e o de Domingo. Li o de Sábado que é mais do mesmo; o de Domingo cita Eça e a mania portuguesa de copiar modas da estranja. Uma anedota.
VPV parece concluir do esforço intelectual deste mini ensaio que Portugal, desde o fim do Séc XIX que não sai da cepa torta. Resta saber é se alguma vez fez parte da boa cepa e principalmente qual é a coisa qual é ela que ainda agora falei nela.
VPV parece que estudou o Séc. de Eça e da geração de setenta, através de muitas leitura, designadamente dos próprios "vencidos da vida" desse tempo e transporta para o presente as ideias feitas por aqueles desse passado distante que ninguém vivo chegou a viver. Nem o decano Oliveira dos filmes castello lopes.Por mim, não compreendo como alguém pode compreender uma época sem a viver. Fatalmente interpreta uma compreensão alheia...
Sobre o fim do Séc. XIX cita o desesperado Antero que se suicidou mesmo ao lado da palavra Esperança, para indicar as razões que o mesmo putativamente descobriu como causas da "decadência" nacional, já nesse tempo: o catolicismo do concílio de Trento; o Absolutismo e a obsessão pelas conquistas longínquas. VPV acha que estas razões não o são, mas permanecem enraizadas num certo consciente colectivo que anda por aí à solta e que ás vezes escreve em jornais, em parábolas indecifráveis e ideias confusas tipo Lourenço. Isto sou eu a dizer que VPV não diz tanto.
Sobre o nosso tempo, dos últimos vinte anos, realmente o que interessa, VPV recolhe-se outra vez ao cavaquismo. VPV foi Secretário de Estado da Cultura em 1980, na AD de Sá Carneiro e em 1986 apoiou Mário Soares à presidência. Tanta clarividência política até cega, mas enfim, é o que temos. É verdade, no meu entendimento modesto, que a AD de Sá Carneiro foi o que de mais moderno tivemos depois do PREC, mas ainda assim durou pouco porque o mentor morreu.
Quanto ás verdadeiras razões da decadência, elencadas sumariamente, não acredito nelas. Tanto faz, cada um acredita naquilo que entende e há por aí cada crença que sabe Deus!
Mas vou tentar explicar porquê e começando por dizer que me parece ( quem sou eu para me aparecerem estas coisas, com um halo de luz que brilha?) que Portugal não decaiu coisa alguma. Portugal foi-se arrastando no meio ambiente e nos finais do Séc XIX não estava mais atrasado ( em relação a quê e a quem, já agora que falta dizer? À Alemanha ou ao Império que nos legou o herdeiro do Trono caído?) do que alguns países que agora estão economicamente muito mais adiantados, designadamente os nórdicos.
Talvez valha a pena pensar e descobrir se Portugal está atrasado, agora, por outros motivos que não aqueles apontados. Fundamentalmente, Portugal atrasou-se economicamente e é preciso saber quem é que produz riqueza num país e como a produz. É essa, a meu ver, a chave do enigma da suposta decadência. Quem se der ao trabalho de explicar como é que Portugal produziu riqueza nos últimos vinte anos sabe a resposta.
Para ilustrar como éramos culturalmente no fim do Séc XIX e início do XX, deixo aqui cópias de duas obras dessa altura.
A primeira é o já por aqui citado Manual Encyclopedico para uso nas escolas de instrucção primaria, de Achilles de Monteverde e aprovado pelo conselho superior de instrucção publica, ainda nos finais do séc. XIX ( 1886). Provavelmente foi por este manual que Salazar e outros notáveis da época aprenderam a instrução primária. Lendo o indice da obra dá para entender que não éramos assim tão decadentes na cultura básica elementar.
A segunda obra popular é o Rifoneiro Português de Pedro Chaves, de 1928. A obra reune toda a sabedoria popular em forma de rifões antigos e compilados segundo uma lógica que o autor expõe e nos explica implicitamente porque somos esquecidos do que fomos: não queremos saber do nossoo passado ou de quem fomos. Agora aparece VPV a dizer que somos decadentes há décadas...
Portanto, decadentes, nós? Como assim? Nós nunca estivemos em posição de poder decair. Nem mesmo aquando das descobertas ultramarinas. Nós somos como os outros só que nos atrasamos estas últimas décadas.
Gostaria de saber porquê, mas tenho por aqui tentado perceber as razões. E uma delas, para mim, é esta: Não aproveitamos os ensinamentos da verdadeira sabedoria de Salazar e Caetano. Isto nos últimos 40 anos.
VPV sobre isto, porém, é esconso. Evita escrever, mas deveria pensar melhor, porque ganharia com tal exercício. Poderia abandonar um pouco os preconceitos de uma esquerda, essa sim, decadente e ler António José Saraiva. Por exemplo, mas há outros...
Possuo o curioso e compilatório manual do monteverde.
ResponderEliminarE alguns livros escolares de finais do sec XIX e meados de XX.
Sempre me pareceram assaz sólidos por comparação com a livralhada infantilizada dos anos recentes.
A juventude é cada vez mais tratada como se fosse atrasada mental
A capa do rifoneiro é uma maravilha.
ResponderEliminarQuanto à decadência é uma treta que já quis dizer muita coisa.
Há-de ter vindo do Max Nordau...
O VPV tem um parti-pris com a Igreja Católica.
ResponderEliminarO Português 'com dinheiro para investir' sempre quis enriquecer depressa.
ResponderEliminarQuando os sociaisfassistas criticam o 'patronato'luso, apoiam-se numa parte substancial da realidade que não podemos ignorar.
O capitalista português foi sôfrego, quiz enriquecer à força.
Esta foi a mentalidade dominante, que está a mudar, que tarda em mudar.
Não invalida que tivesse havido o 'bom capitalista', capaz de criar algo sustentável e que perdura.
Mas a inveja é poderosa e aliada à pouca instrução, não favoreceu a criação de outras condições para que o capitalismo florescesse mais forte
Há outros factores associados. No entanto o factor mentalidade é decisivo.
Em Portugal não houve empresas, mas chafaricas.
Quando se cria alguma coisa deveria ser para sempre ( ainda que a gente saiba, como os casamentos, que tudo é mortal e pode acabar)
A CUF foi uma chafarica?
ResponderEliminarUma grande àrvore (grande) não faz uma floresta.
ResponderEliminarE a Siderurgia Nacional do Champas?
ResponderEliminarchafarica é a designação atribuída na maçonaria às suas lojas
ResponderEliminarpor acaso trabalhei numa empresa portuguesa multinacional
que não se desenvolveu mais porque os sovietes do 25.iv a liquidaram.
quando depois do Brasil fazia estudos de mercado em Paris
tinha um total de 3 países e 5.000 trabalhadores
tenho comigo o caderno de 'physica' da 4ª classe de meu pai com a data de 1907
agora escrevem com erros de ortografia e sintaxe
e letra de ETs
os vascos são uma desgraça nesta terra
Os empreendedores modernos e democratas sã-no com o dinheiro dos contribuintes apoiando o partido certo, se calhar consoante a escala do poder.Não sou do meio mas não deve ser fácil hoje em dia montar uma empresa industrial que possa enfrentar a concorrência internacional.Perderam a tecnologia,a formação especializada e acrescentaram as correias de transmissão que aliás levaram muitos a vender pura e simplesmente...
ResponderEliminarNestas coisas e sem disciplina a coisa não pode funcionar então no tamanho reduzido a que voluntariamente se remeteram vai mesmo ser muito custoso
Mas enfim os investigadores das migrações é que devem saber a solução...
É curioso mas algumas das regiões mais ricas da Europa são muito católicas, caso do Norte de Itália, Áustria ou Sul da Alemanha. Estive há pouco tempo no Norte de Itália, fui à missa várias vezes e vi nas igrejas muitos jovens, tanto rapazes como raparigas, que estavam lá sem a família. Adolescentes e jovens adultos na missa já não se vê em Portugal.
ResponderEliminarHá quem diga que o problema é específico da Igreja Católica portuguesa.
Em relação a este assunto, arrisco uma sugestão : a entrevista concedida por AJS a Leonor Curado Neves, e que está incluída no livro " O que é Cultura", da Difusão Cultural.
ResponderEliminarO tema da "Decadência" está lá - e é sujeito a um tramento polìticamente incorrectíssimo...
Imaginem só que aquele "reaça" inculto,aquele proto"fassista" ignorante menciona, não uma, mas várias vezes a palavra "raça" .
E vai por ali fora...
O VPN que opina sabiamente sobre tudo está bem emparelhado com o bochechas. Um pouco menos balelhas mas tem que escrever por encomenda todos os dias; não é facil, temos que convir.
ResponderEliminarCaro José,
ResponderEliminarCaros comenta"dores" e "doras".
Apreciei o que escreveram.
Grato por isso.
Creio que:
A "minha fésada", como se diz na minha terra, é uma crise de valores e de cultura, conhecimento. Assim interpretei também a "mensagem" do texto.
O resto são "materialidades" e miragens de poder que se desvanecem numa ápice e numa qualquer esquina do tempo.
José, Excelente postal, eu também havia lido as crónicas de VPV em causa. Esta caixa de comentários seria pequena para esgrimir argumentos pelo que digo que concordo com uma parte do seu postal e não tanto com outra parte e isso porque curiosamente estou a ler um livro cujo titulo é ''Porque falham as nações'' no qual estão descritas algumas teorias e conceitos (enquadráveis também à realidade Portuguesa) alguns tendo a ver com a história os quais poderão explicar a prosperidade ou pobreza das nações. Nada é tão absolutamente linear.
ResponderEliminarDiz o José: "Quem se der ao trabalho de explicar como é que Portugal produziu riqueza nos últimos vinte anos sabe a resposta".
ResponderEliminarPois é, distribuímos a pouca riqueza que havia, endividámo-nos para favorecer a construção civil e os bancos; aumentámos o Estado Social sem atender à sustentabilidade; deixámos partir indústrias herdadas dos tempos da EFTA.
O falecido Ernâni Lopes tinha uma frase que sintetiza o nosso engano: "julgámos que tínhamos deixado de ser pobres".
"julgámos que tínhamos deixado de ser pobres".
ResponderEliminarÉ pior.
Sabemos que somos pobres, mas armamo-nos aos ricos.
Foi sempre assim.
Só conhece a decadência quem passou pelo apogeu.
Nunca conhecemos tempos aureos.
Foi sempre para uns tantos, sempre a fingir.
Olhem que em terra de cegos quem tem olho é rei.Basta ver o PSI20.Tudo falido mas sobe até ao céu, com umas vendas de permeio para certamente colocar de parte e a bom recato...
ResponderEliminarOs gajos que andam com os pobrezinhos sempre na boca com as "medidas" internacionalistas são os piores.
Um poder sem poder dá no que deu...
É uma questão para a qual tenho procurado resposta, nos tempos livres, porque razão está Portugal menos desenvolvidos que os países mais desenvolvidos da Europa?
ResponderEliminarComecei por ver quando tinha começado esse atraso. Usei o gapminder para procurar isso.
Foi por causa da revolução de Abril?
Não o atraso já existia no tempo do estado novo.
Foi então o estado novo e a ditadura salazarista?
Não, quando Salazar tomou o poder já estávamos muito atrasados em relação à Europa.
Terá sido a 1.ª república?
Não, o atraso já existia, embora a situação tenha piorado e não melhorado com a 1.ªa republica. Não quer isto dizer que Portugal não se desenvolveu nessa época, quase todos os povos se desenvolvem em todas as épocas, mas nessa época o ritmo de desenvolvimento foi fraco.
Terá sido então durante a monarquia constitucional?
Essa foi a minha 1ª resposta. Julguei ter encontrado aqui a raiz do problema. Nos inícios do século 19 avançava a revolução industrial e o PIB dos países europeus avançou de forma notável, mas Portugal demorou 50 anos a começar a subir. 50 anos de atraso!
Pensei então ter encontrado a raiz do nosso atraso.
Dois acontecimentos marcantes da nossa história:
1 - As invasões francesas e consequente fuga da corte para o Brasil. Também li, do VPV, que foram para o Brasil, nessa fuga, 15 mil pessoas, a grande massa da elite nacional. Essa elite em grande parte não regressa, fica no Brasil. Essa fuga faz o Brasil, cria instituições que não existiam, cria o Brasil, mas "desnata" Portugal.
2 - Depois em 1834, 26 anos depois, outra hecatombe, a extinção das ordens religiosas. Pelo pouco que sei as ordens religiosas representavam uma parte significativa da população instruída (e que fornecia instrução à população). A sua extinção, suponho que para pagar aos apoiantes de D. Pedro, representou um retrocesso no nível de educação e instrução do país.
Fiquei com a ideia que a grande massa da instrução no século 19 era de nível muito baixo. Essa ideia ficou reforçada por uma conversa com alguém que leu uns relatórios de um inspetor das escolas primárias desse tempo que dava conta do nível lamentável da grande maioria dessas escolas.
Gostava de ter dados mais seguros, nºs exatos, ler eu mesmo esses relatórios, mas ainda não consegui deitar-lhes a mão.
Mais tarde li uma polémica sobre este tema entre VPV e Vítor Bento. Vítor Bento culpava a religião dos portugueses (ou a questão religiosa, não fiquei esclarecido se VB julgava ser o catolicismo a raiz dos problemas ou a extinção das ordens religiosas), VPV afirmava que a raiz do atraso se devia ao facto do início da industrialização se ter feito com base no carvão e Portugal não tinha minas de carvão, logo a industrialização só muito tarde se pode iniciar.
E dava-me eu por satisfeito.
Camilo
Mas, mais tarde li o livro "Matemática, uma questão de educação" de Jorge Buescu, da fundação Francisco Manuel dos Santos e fiquei a saber o que aconteceu no tempo do Marquês de Pombal. Todos sabemos que expulsou os jesuítas de Portugal. O que não sabia era que os jesuítas mantinham 80% do ensino no país, 20 mil dos 25 mil alunos que frequentavam o ensino básico era alunos dos jesuítas. Para além da universidade de Évora que tinham 1500 alunos (Coimbra, a outra universidade da época tinha 3000).
ResponderEliminarEste acontecimento foi uma bomba atómica sobre o nível de instrução da população portuguesa que demorou mais de 150 anos a recuperar. Enquanto na Europa o analfabetismo praticamente desaparecia durante o século 19, o nível de instrução dos portugueses desse século era inferior ao dos portugueses século 18.
Como o comentário já vai longo mais pormenores sobre este trágico episódio da história nacional podem ser dados depois. Também estou a procurar estudar melhor o que aconteceu nessa época e anos seguintes.
Em conversa com um brasileiro que estudou o assunto este disse-me que esses jesuítas não desapareceram no ar, não se reformaram. Nem todos os países da Europa terão acatado a extinção dos jesuítas, este foram para a Alemanha e para a Rússia, dando um decisivo contributo para o avanço científico desses países. Isto completaria o círculo, no mesmo acontecimento que provoca o declínio de Portugal teríamos a raiz de um avanço decisivo para a afirmação da Alemanha e da Rússia como potência científicas e consequentemente como potências económicas e militares.
Camilo