Já me esquecia de referir um fait-divers com muito
interesse. Teófilo Santiago, inspector
da PJ com um “crachá” de ouro,
reformou-se e deu pelo menos duas entrevistas. Uma há cerca de um mês, ao Correio da Manhã, com excerto acima. Outra, á revista do DN/JN de Domingo passado.
Curioso porque julgo termos frequentado o mesmo curso de
Direito, em Coimbra. E julgo saber a quem se refere quando logo no início da
entrevista menciona um professor universitário detido pelo mesmo, logo no
início da carreira. Poderá ser um professor de processo penal, precisamente
nesses anos de 1977 ou 78 e com um nome que tem apelido Almeida.
O que Teófilo Santiago diz de relevante nesta entrevista não
é novidade para quem já leu algo sobre o processo Face Oculta, eventualmente
até escrito neste blog.
O que se passou no Verão de 2009, imediatamente antes das
eleições legislativas é uma das maiores vergonhas de toda a nossa história
judiciária e teve como protagonistas os mais altos representantes do poder
judicial e judiciário: o então presidente do STJ e o PGR que saiu.
Santiago diz que esse processo lhe deu a machadada final na
réstea de inocência que ainda tinha no sistema político-juidiciário.
“Nesse processo, o «Face Oculta», o que me chocou e ainda
hoje me considero injuriado, eu e as pessoas que trabalharam comigo, foi haver
pessoas que, aproveitando tribunas públicas, se permitiram dizer com a maior
impunidade que tinha sido feita espionagem política. É uma acusação
absolutamente inaceitável.”
É preciso chamar os boys pelos nomes e neste caso o nome da
rosa é o sinistro Vieira da Silva. Foi esse indivíduo que boquejou desse modo.
Quanto ao resto é ler e meditar porque é que o PS- sempre o
PS- desde o caso Casa Pia se intromete sem qualquer réstea de pudor ou vergonha
nas investigações criminais que lidam com os putativos criminosos que andam no
partido e que o fazem sem qualquer receio de serem incriminados.
Porque é que esse partido, essencialmente, porque não se vê
tal coisa noutros partidos, se julga intocável na vida política portuguesa de tal
modo que qualquer suspeita que recaia sobre algum dos seus próceres mais
notáveis gera sempre uma reacção desproporcionada e desmedida, com apelos a
levantamentos e denúncias de cabalas a eito? Não se compreende.
É incrível como um partido destes ainda resiste a estes
escândalos sem a punição eleitoral necessária.
Este comportamente de um partido com vocação para o poder executivo, em alternância é escandaloso, mesmo em termos europeus e inadmissível democraticamente. A única razão que perscruto para não ser castigado nas urnas por causa desses comportamentos é o silenciamento cúmplice da maior parte dos media. Os socialistas estão por todo o lado e "quem se mete com o PS, leva", como dizia o "hádem" in illo tempore". Ainda dirá, se calhar.
Segue a entrevista, parcial:
DN- Vamos aos seus casos mais complicados. Mais mediáticos.
Teófilo Santiago_Não gosto dessa situação, sabe porquê? Depois do prazer de
fazer uma investigação, vem um desprazer enorme com todas as circunstâncias
laterais que se geram à volta. Muitas vezes, desvirtuadas. Procura-se esse
mediatismo. Mas eu não gosto. O taxista fala de uma coisa de manhã e à tarde há
uma reacção.
DN-Mas o seu nome fica ligado a alguns processos complicados,
pelo menos para a opinião pública, desde o «Aveiro Connection», passando pelo
Pedro Caldeira e acabando, obviamente, no «Apito Dourado» e no «Face Oculta».
TS_Houve outros complicados. O processo do pelotão de
segurança do Porto foi muito complicado. Tive milhares de processos. Tenho
consciência que as minhas equipas foram das primeiras a confrontar-se com
algumas realidades. Não vamos chamar mérito a isto, é a evolução que coincidiu
temporalmente comigo nas situações. No «Aveiro Connection» foi a primeira vez
que não estamos perante um simples caso de contrabando de tabaco, é uma
situação de corrupção generalizada nas forças policiais, na Polícia Marítima,
na Guarda Fiscal e na Capitania. Apareceu o corporativismo naquilo que menos
bom tem o corporativismo. Mas as equipas que liderava não vacilaram. Porque
hierarquia tinha absoluta confiança em nós.
DN-Isso mudou, essa confiança? Quando? Em que processos?
TS_Estou-me a referir às primeiras hierarquias porque era
delas que tinha uma maior dependência. Depois fui ganhando algum espaço.
Apareciam coisas novas, pouco comuns, mas não olharmos para o lado. Em Aveiro,
pela primeira vez, foram apreendidos prédios completos porque não respeitavam
as regras da boa construção, um crime novo. Naquela altura foi uma
singularidade, uma excentricidade quase. Naturalmente, quanto mais e melhor se
trabalha mais situações chegam ao nosso conhecimento. Recebíamos notícias de factos
mais ou menos delicados de várias partes do país, pessoas que queriam dar
conhecimento àquelas equipas, àquele departamento.
DN-E lidar com o protagonismo dos próprios suspeitos, era tão
ou mais difícil que a própria investigação?
TS_Nunca me preocupou. Não ligava muito a isso. Tinha um
grande respeito por todos os intervenientes processuais, seja o da mais modesta
condição social, seja da mais elevada. É evidente que só se fosse um leviano é
que não via que, nalgumas circunstâncias, daí viria outro tipo de dificuldades…
E até 2004…
DN-Até ao «Apito Dourado»?
TS_Até 2004 não tinha nenhuma razão para não acreditar que as
coisas são assim, funcionavam assim.
Li algures, que o «Apito Dourado» foi o processo com o qual
diz que perdeu a inocência.
TS_É verdade. Nunca me passou pela cabeça… Sempre transmiti às
pessoas que estavam comigo para que não se preocupassem. Que era impensável que
alguém nos pudesse querer fazer o que quer que seja, porque nem se atreveriam a
tal. E olhe, as circunstâncias falam por si… O sermos despedidos se calhar foi
o menos… O que se passou foi feio, foi das coisas mais feias… Nem consigo
encontrar um adjectivo para qualificar o procedimento ou o processo que levou à
nossa saída.
DN-Responsabilidade apenas da hierarquia de então?
TS_Também teve a ver. Mas, como foi dito, por vontade do poder
político. Depois vem por aí abaixo.
DN-Foi o poder do futebol? Não tinha a noção desse poder?
TS_Tínhamos. Mas o problema ali não foi o futebol. Foram as
implicações de pessoas que estariam ligadas aos vários poderes, nomeadamente ao
político, em tudo aquilo. E a necessidade enorme que alguns responsáveis tinham
em saber o que é que se passava na investigação. Até aí, o poder político, pelo
menos que eu me apercebesse, independentemente de pessoas mais ou menos próximas
serem tocadas, nunca tinha ultrapassado aquela linha. Aqui não! Ultrapassou-se
tudo. Disseram-me claramente, «até às tantas horas, tem que se saber quem são
as pessoas e o grau de envolvimento». Eu ri-me.
DN_Conta-se que na lista das buscas colocou alguns nomes no
fim para que ninguém se apercebesse. Isso é uma história ou foi verdade?
TS-Não foi assim. Nem tive um peso tão grande na investigação
do «Apito Dourado» como tive noutras. Tinha as equipas de vigilância comigo e a
partir da morte do Fehér há uma situação particular na investigação que dá o
salto e aí é que, juntamente com os outros elementos da direcção, tivemos que
tomar uma opção de estratégia a seguir. E a opção foi não comunicar à
hierarquia o que se estava a passar. Se nós cumpríssemos com esse dever de
lealdade que nos era exigido, então o director nacional da PJ teria também que
ter o mesmo dever para com a ministra da Justiça e lá ia tudo, como sói
dizer-se em linguagem policial, com os ciganos. Mas nunca me passou pela cabeça
o que se seguiu… Quer dizer … pressentia-se qualquer coisa, mas aquilo?! A
grande vítima foi o Dr. Artur Oliveira.
DN-A história do pai e do irmão serem investigados em Coimbra
por burla na Caixa Agrícola?
TS_Investigados?! Um processo que já estava mais do que
encerrado, ressuscitou-se, fazem-se buscas com aparato e tudo mais para
justificar o que iam fazer!!! Não se faz!
DN-Ele, director, demitiu-se. Vocês, adjuntos,
solidarizaram-se… Esperava ser reconduzido? Não acha que foi de alguma
ingenuidade?
TS_Rejo-me por princípios. Perdi a inocência nesta coisa
porque apesar de já ter muita experiência disto há limites. Adivinhava o que se
estava a passar, ele não era o alvo. Por isso é mais lamentável ainda o que lhe
foi feito. Houve pessoas, n pessoas, que me disseram «não ponha o lugar à
disposição, não faça isso, obrigue-os a ser eles a tomar a atitude». Mas por
uma questão de ficar bem comigo… Tenho três regras, a Constituição, as leis e a
ética.
DN-Os alvos eram vocês os dois, você e o João Massano?
TS_Éramos. A partir daí…
DN-E a causa era o «Apito Dourado»?
TS_A causa não era o «Apito Dourado», eram os poderes
entenderem que não podia haver uns cidadãos, embora com responsabilidades
policiais, que não lhes respondessem àquilo que eles queriam saber.
DN-As pressões chegaram-lhe directamente a si?
TS_Ao Dr. Artur Oliveira, porque era mais fácil, Mas ele
também nunca vacilou. Punha-nos as questões e eu tentava tranquilizá-lo,
aconselhava «diga-lhe que não sabe». «Ah, mas então pergunte ao Teófilo». E eu,
«o Teófilo diz que não lhe diz». Passámos de bestiais a bestas em menos de 15
dias, só no futebol é que acontece com essa frequência. Exactamente quando,
sabe-se lá porquê, algum poder político começou a ficar incomodado com
eventuais conhecimentos laterais, fortuitos como agora se diz, relativamente a
todo o conjunto da investigação. Foi um processo feio. Não era preciso chegar
àquilo. E eu aí, de facto, comecei a ver que a vida não era como a Teresa
escolhia nas cartas.
DN-E entre esse processo e o« Face Oculta», recentemente, que
acabou por envolver o então primeiro-ministro, qual foi o mais complicado?
TS_Todo os processos são complicados. Todos têm a mesma
atenção. São situações complexas, mas desde que saibamos que estamos a trilhar
o caminho certo, tudo bem. Nesse processo, o «Face Oculta», o que me chocou e
ainda hoje me considero injuriado, eu e as pessoas que trabalharam comigo, foi
haver pessoas que, aproveitando tribunas públicas, se permitiram dizer com a
maior impunidade que tinha sido feita espionagem política. É uma acusação
absolutamente inaceitável. A injúria resultante de algumas afirmações
proferidas por pessoas com grandes responsabilidades foi para nós um grande
problema, porque não pudemos responder à letra como mereceriam. Espionagem
política?! Nunca, em circunstância alguma, houve qualquer intuito de natureza
política. Por alma de quem?
DN-Por estar um primeiro-ministro envolvido? Pelo processo
paralelo, com as restrições que se conhecem?
TS_Foi um conhecimento fortuito. E que fique bem claro, não
houve nenhuma escuta ilegal. Houve conversas telefónicas que não foram
validadas, é completamente diferente. A ilegalidade implicava necessariamente
um ilícito, um crime. Não foi assim. No âmbito de investigações relativamente a
uma rede organizada de tráfico de influências, corrupção e outros crimes,
aparece uma outra situação. Havia um plano de controlar os órgãos de informação
que corria lateralmente. Não podíamos olhar para o lado. Estava a ser gizado e
concretizado um plano que tinha por fim o controlar a comunicação social no
geral, nomeadamente a que era menos favorável ao poder de então. E, no meio
disso tudo, que já não era pouco, aparece de forma fortuita um cidadão, que na
altura era primeiro-ministro, a falar.
DN-Defendeu sempre que esse processo fosse investigado em
separado?
TS_Tinha que ser! Depois, o resto são as mistificações, esse
arrazoado de pessoas com grandes responsabilidades a intervir, que me leva a
crer que não estavam de forma tão bondosa assim, porque tinham obrigação de
saber de todo o formalismo que isso implicava. Concretamente foi assim: houve
um acumular de situações paralelamente a esse plano, e não sou eu que estou a
dizer que era um plano, os próprios envolvidos diziam e explanavam a maneira
como iria. A partir do momento em que aparece o cidadão que na altura era
primeiro-ministro, isso implicou um formalismo próprio. Agora diz-se, «as
conversas deste e tudo o mais, não têm interesse nenhum». As conversas têm
interesse, como toda a gente sabe, contextualizadas. Aquele processo era uma
amostra do país que somos. Mas a partir do momento em que o senhor
primeiro-ministro, seja ele qual for, goza de uma prerrogativa que só pode ser
investigado pela Relação e só podem ser autorizadas eventuais instâncias
telefónicas pelo Supremo…
DN-Pelo presidente do Supremo…
TS_Não é assim. Tenho um entendimento diferente. Acho que é
pelo Supremo. Mas logo que apareceu essa situação não havia outra coisa a
fazer, até porque o prazo é curto, foi autonomizar imediatamente a situação,
mandar para validação e investigar. Porque investiga-se quando há indícios, não
é quando há certezas. E tudo apontava já para estar em marcha um plano ilegal
do ponto de vista criminal. Fiz uma participação, em que disse que no âmbito da
investigação em curso havia uma situação que era susceptível de vir a
configurar ilícito, um plano concertado, com objectivo definido para controlo
dos meios de comunicação social. O Ministério Público de Aveiro acolheu, o juiz
acolheu. O fundamento eram as escutas telefónicas. A conversa que apareceu, de
forma fortuita, juntamente com as outras gravações, porque não podia ir
desintegrada. À medida que iam aparecendo outras mandávamos certidões para
serem incorporadas. Estive convencido, eu e todos os que trabalhámos naquilo,
até Outubro, que havia uma investigação. Ninguém nos dizia nada, ninguém tinha
que nos dizer nada. Depois, vem a história absolutamente rocambolesca, às
pinguinhas, com cassetes, um arrazoado sem ponta por onde se lhe pegue,
impróprio de pessoas que ocupavam lugares de grande responsabilidade pelos
quais tenho grande respeito, umas confusões danadas. Mas são confusões
procuradas, não resultaram de qualquer procedimento impróprio da investigação.
DN-A investigação foi acusada de fazer justiça na praça pública
por não conseguir provas legais e concretas?
TS_Isso seria um contra-senso, sabe porquê? Estivemos a
investigar aquilo durante dois anos e ninguém soube de nada. E no momento mais
crítico, que foi o das eleições, elas decorreram sem que ninguém soubesse coisa
nenhuma. É estúpido, porque se alguém descesse tão baixo para pensar que
podíamos ter intuitos de natureza política, então evidentemente teríamos
aproveitado o momento certo em que aquilo poderia representar algo de bastante
significativo. A lei obriga a que nos mandados de busca se digam os factos. E
só nesse dia é que se começou a conhecer a situação, por causa dos mandados,
que apareceram na televisão. E também está mais que demonstrado quem é que
entregou isso ao vosso colega, que fez o trabalho dele. Nesse dia tornaram-se
conhecidos quais eram os alvos. A seguir começaram os interrogatórios e toda a
gente teve acesso aos factos, às escutas e s tudo o mais. Fiz, já não me lembro
de quantas participações por hipotética violação do segredo de justiça. Embora
ache que só há violação do segredo de justiça se aquilo que é dito corresponder
à verdade… e até cheguei a ler que tínhamos utilizado os meios da Mossad ou
coisa assim, coisas do outro mundo. Quem é que fala para a imprensa? Toda a
gente! Toda a gente menos os polícias e possivelmente os magistrados…
DN-Os polícias não falam?
TS_Não posso responder, eu não falo normalmente.
o ps tem a votação garantida do MONSTRO que criou
ResponderEliminara partir daí pode fazer o que quiser
o bloco central dá uma 'mãozinha'
é pena que este investigador não escreva memórias documentadas com os factos e politicos envolvidos
infelizmente a máfia que nos domina
transformou o rectângulo numa lixeira
'siga o enterro'
Mais oriunda do PS do que do PSD/CDS, uma corja sitiou a chamada 'vida democratica' e 'encheu-se' com o pé de cabra do Estado.
ResponderEliminarSoares é bem o capotraste.
O Coelho é um bom rapaz.
O Balsemão ao dar guarida à 5ª Divisão merece 100 anos de prisão.
Isto levanta uma questão importante - que é de relevância internacional: o poder do media, ou antes, o poder de quem controla os media.
ResponderEliminarÉ um problema que afecta todas as democracias. A par com o dinheiro das campanhas eleitorais, é o outro ponto fraco destes sistemas.
Nathan Rotschild disse uma vez: quem controla a moeda, controla o país (eu controlo a moeda da GB).
Hoje pode dizer-se: quem controla os media, controla a democracia.
Ora, uma democracia "controlada" deixa de ser uma democracia...
Agora sei porque é que o roberto mugabe, veio a Portugal, a convite do monsieur pinto de suza. Não existe diferença entre Portugal e o Zimbabwe.
ResponderEliminarDemorou, mas cheguei lá.