O que VPV escreve no Público de hoje é uma espécie de anti-climax às comemorações da efeméride redonda dos 40, sem qualquer ternura, mas de uma crueldade adequada. Este discurso ainda é raro, apesar da ideia representar o chamado ( pelo brasileiro Nelson) "óbvio ululante".
O corolário lógico do que escreve VPV é simples: a liberdade conquistada em 25 de Abril de 1974 foi apenas para fazer o que resultou depois e que o mesmo elenca: o prec. Foi por isso mesmo uma liberdade que aproveitou em primeiro lugar aos comunistas, incluindo os doentes infantis do comunismo, ou seja, a extrema-esquerda na classificação leninista que o PCP lhes dava. O que o MFA fez em 25 de Abril foi apear um regime que tinha apoio popular extenso. Basta entender que dias antes, no estádio 28 de Maio, Caetano tinha sido aplaudido espontâneamente por dezenas de milhar de pessoas que nem sabiam que o mesmo iria está lá, tal como fora apoiado do mesmo modo, quando no Verão de 1973 regressou de Londres, onde Mário Soares e o partido Trabalhista local lhe fizeram uma espera vergonhosa por causa da guerra no Ultramar.
Essa acção militar, o golpe capitaneado pelos ditos, resultou no derrube do regime que estava exangue e as pessoas acreditaram num modelo novo, mais moderno e europeu. Foi por isso que vieram para a rua no dia 25 de Abril a aplaudir o golpe dos capitães.
Porém, como ficou exuberantemente demonstrado um ano depois, em eleições livres ( mas sem partidos apoiantes do antigo regime, note-se...) o povo rejeitou o comunismo. Ainda assim, o MFA dos capitães que dominavam o movimento, durante um ano, de 1974 a 1975, tudo fizeram para entregar o poder a uma esquerda que era comunista e foi isso o PREC.
O 25 de Abril é o pai do PREC e isso é intolerável porque ilegítimo sob todos os pontos de vista.
Valia a pena essa liberdade para isso? Não valia e agora isso é tão evidente que até dói lembrar a loucura que foi. Aliás, se se ler a noção de liberdade que Oscar Wilde dá e se transcreve na mesma página- "Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir", hoje em dia existe a mesma liberdade que antes de 25 de Abril, porque nem por escrito se pode dizer tudo o que certas pessoas não querem ouvir...sem sofrer as consequências.
Quem pena pelo prec, pena por este 25 de Abril porque é mesmo de penar.
O 25 de Abril não foi por isso a conquista da Liberdade com L grande porque foi apenas a liberdade para a extrema-esquerda comunista se manifestar livremente e fazer o que fez. Aliás, coarctou imediatamente a liberdade a outros, mormente os que directamente lhes tinham tirado essa liberdade. Daí o discurso "antifascista" com a substituição das palavras que justificaram todas as acções.
Repare-se: a liberdade conquistada em 25 de Abril de 1974 permitiu que a imprensa, o rádio e a televisão pudessem exprimir opiniões e "dar" notícias sem censura prévia que existia com o condicionalismo explicado pelos defensores do regime na época: impedir a subversão, mormente a comunista, perante um país em estado de guerra. Qual o país que não tem censura nestas circunstâncias? Conhece-se algum? A Inglaterra não teve no momento da guerra das Malvinas nos anos oitenta? Os EUA não tiveram no momento da guerra no Iraque?
Enfim, em Porgtugal, a Censura, por via da estupidez regimental de alguns próceres mais papistas que o papa, tinha uma Censura de costumes que era atávica e proibia a publicação de coisas contra "a moral". Em França, na Inglaterra e noutros países era a mesma coisa, com uma diferença: a moral católica era mais elástica em determinados lugares do que noutros.
Proibia ainda livros e publicações considerados subversivos. Mas lá está: proibia no fim de contas a subversão comunista e por isso a liberdade do 25 de Abril veio permitir essas publicações. Basta ver que livros foram proibidos- e há uma lista por aí- para se verificar a realidade desta asserção. De caminho, os jornais que capitalizavam na oposição ao regime em modo subversivo ( o Expresso fazia-o) eram censurados. Hoje, censuram de modo igual, mas internamente e cada vez mais em auto-censura. Não há liberdade para as pessoas poderem dizer certas coisas, por exemplo isto que aqui escrevo, sem consequências que passam pelo afastamento, por serem consideradas de "extrema-direita" ou mesmo "fascistas".
Esta linguagem aqui usada é, segundo a nova terminologia comunista, introduzida na linguagem comum há 40 anos, "reaccionária". Porém, tal termo foi inventado pelos mesmos, como uma espécie de tigre de papel para comer incautos assustados com a "reacção" comunista tornada sentimento generalizado e comum, nos media. O medo de alguém ser classificado de "reaccionário" afastava imediata e inconscientemente o desejo de relatar factos em modo real, passando os mesmos à História, com a reescrita politicamente correcta. O jornalismo nacional deixou de escrever como escrevia em 1973 e passou a introduzir os termos do novo acordo ortográfico e semântico, imposto pelos comunistas e esquerda em geral e nem se aperceberam disso, o que é ainda mais notável.
Como exemplo, deixo aqui um recorte do Expresso de Março de 1975 em que Vasco Pulido Valente e outros falam em "mesa-redonda" sobre assuntos económicos e modelos políticos.
Gostaria de ter lido então VPC a dizer o que hoje diz. E não vale a pena argumentar que era jovem e não pensava, porque não é verdade. Lia, via e ouvia, inclusivé jornais estrangeiros como passo a demonstrar em seguida.
A Vasco Pulido Valente não escapou, certamente, esta notícia do L´Express de 5 de Maio de 1975 em que a revista francesa se queixava de o jornal português congénere a criticar pelo excessivo reaccionarismo...
O VPV não deve ter tido o programa do MFA à mão.Só lá vejo "anti-monopolista", fala-se "ultramar", de manter a DGS no Ultramar como Polícia de Informação Militar.
ResponderEliminarDito isto os "motores da revolução" para nunca perderem o combóio do poder, depois acabaram por criar as condições às forças mais obscuras e traidoras da Nação e pelos vistos ainda não desistiram.E já era tempo de terem vergonha do que fizeram...
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ResponderEliminarMas também convém dizer que ao tempo que esses não riscam nada e a Nação continuou até com mais velocidade a a afundar.O refazer do império do "bem" agora só cá dentro e por nossa conta foi e é feito por quem?
ResponderEliminarEstes gajos são todos uma merda, nomeadamente os grandes comentadores...
E quanto ao "anti-monopolista" ainda hoje não foi sequer cumprido...
ResponderEliminarGrande post.
ResponderEliminarCada vez concordo mais e vejo o 25 de Abril de forma diferente.
Porque a realidade é essa.
A citação do Oscar Wilde foi perfeita. Mas ainda mais perfeito foi explicar que dizer-se estas coisas trás consequências.
Como não traria no Estado Novo.
Porque a vigilância agora é unânime.
Pensei no assunto e concluí que não era capaz de colocar este texto online usando o meu nome próprio.
Porque ia ter consequências por muito que eu trabalhe no melhor ambiente do mundo e com a total liberdade de fazer o que me apetece.
Mas ia ter. Por causa do meme. Porque isto é iconoclastia que marca na testa, como nunca em termos colectivos algo marcou antes do 25 de Abril.
Quem viveu devia saber isto. Mas se sabem também poucos são o que o contam.
Traz e não trás.
ResponderEliminarMas o "sistema" actual dá uma no cravo e outra na ferradura.Não os deixam falar mas afinal pagaram-lhes a reconstituição das carreiras como se nada de mal tivesse acontecido...
ResponderEliminarE quem é que recolocou a máquina nos carris a 25 de Novembro?Não me digam que foram os comentadores e os políticos de "direita"...
"Gostaria de ter lido então VPC a dizer o que hoje diz."
ResponderEliminarEra impossível.
Pois se até a própria 'direita' se organizou em Centro (!!!) no CDS e o PSD reclamava o Socialismo em Sá Carneiro, como poderíamos pensar douttra forma?
O PCP era única força que sabia ao que vinha. Tudo o resto era paisagem.
O VPV não diria isto na altura porque teve formação jacobina.
ResponderEliminarMas disse-o aí nos anos 90 na tv. A gaga que o entrevistou até ficou mais gaga.
cada vez mais me convenço que o 25.iv foi pior que o terramoto e maremoto de 1755
ResponderEliminarnada de pior nos podia ter acontecido
'enquanto houver um socialista as bancas rotas continuam'
Salgueiro Maia vai fazer muito falta para conseguir meter no Carmo o 'melena e pá'
desta feita 'vai cair o Carmo e a Trindade'
Quanto ao Salgueiro Maia agora elevado aos píncaros onde andaram os seus "amigos" quando ele era quase perseguido e humilhado lá na arma de cavalaria onde só lhe deram comandos de "instrução" e o presídio militar para comandar...
ResponderEliminarGrande José, grande blogue.
ResponderEliminarAqui se faz verdade histórica acima de tudo.
Intervenções curiosas e certeiras de Feraz de Carvalho, que desconheço quem seja. Acertou em tudo.
ResponderEliminarParabéns pelo blogue. É gratificante ver que não se está só no mundo quando se critica a desgraça que foi o PREC.
AG
Em Portugal sempre houve uma oposição e que nem a chamada censura conseguiu fazer frente: a oposição de café. E se isso não é liberdade não sei o que esta seja. Desde que se ficasse pela maledicência oposicionista ninguém era preso,a não ser por divulgar ideais comunistas. O reviralho era aceite dentro de certas condições e desde que não andassem em golpadas mirificas. De modo que a censura actual,por pairar sobre as mentalidades e a linguagem, é mil vezes bem pior.
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