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quarta-feira, março 18, 2015

Os ventos da História em 1975 derrubaram os comandos

Um dos episódios mais vergonhosos e estúpidos de todo o PREC que se instalou em Portugal praticamente desde as primeiras semanas a seguir ao 25 de Abril de 1974 foi uma coisa chamada "dinamização cultural", "uma campanha de propecção socio-cultural, alargada de norte a sul do país, que, no fundamental, consistia no facto de intelectuais e artistas procederem a espectáculo e outras práticas pedagógicas e formativas que resultariam num real enriquecimento das populações. junto das quais se buscavae se propunha um contacto directo e fraternal".

Isto dizia-se  no boletim editado regularmente pela Fundação Calouste Gulbenkian, para as bibliotectas fixas e itinerantes. A Fundação adaptou-se  completamente aos esquerdistas comunistas e o boletim reflectia essa visão ideológica de pendor colectivista.

Em 1975 as campanhas da tal dinamização andavam no terreno e eram assim explicadas:

Na foto da direita vê-se a "tropa" junto das "populações locais" em plena actividade. Pelo ar seráfico da circunstante pode ler-se o interesse profundo que essas campanhas despertavam e disso dá conta o pequeno (des)apontamento.

Tais campanhas tinham assim objectivos claros de propaganda da revolução e dos seus benefícios para as populações que as mesmas recusavam obstinadamente entender, por serem de extracção "reaccionária", avessas a mudanças e portanto refractárias à modernidade por influência da Igreja.

Uma das campanhas com mais impacto logístico foi a operação "nortada" protagoniada pelos "comandos" de Jaime Neves, no início de 1975 e portanto ainda longe do papel desempenhado por este comandante, no 25 de Novembro desse ano, em prol de uma das facções do MFA, a saber, o "grupo dos nove".

Nessa campanha,  melhor explicada neste recorte da Vida Mundial de 16 de Janeiro de 1975 se pode ler todo o idealismo de um combatente de elite, pronto para ser despachado em missão de evangelização da revolução dos cravos...


A revista francesa Paris Match, de 1 de Março desse mesmo ano mostrava algumas imagens desse "corpo de elite" que fora para Trás-os-Montes na operação "Nortada", supondo-se que terão ido à lã dos preconceitos reaccioinários e vindo tosquiados de desilusão..





Não obstante estas tristes figuras para quem assumia tanto garbo militar, a verdade é que os comandos de Jaime Neves tiveram um papel determinante nos acontecimentos do "25 de Novembro", como se mostra por estas passagens do livro Abril nos Quartéis de Novembro, dos jornalistas esquerdistas Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso.



Ao ler estas "justificações" ficamos com a impressão de que o golpe do 25 de Novembro "começou sozinho" e que afinal os comandos de Jaime Neves pretendiam "ir mais longe" logo que se tornou clara a vitória das "forças moderadas" ( grupo dos nove). Não foi porque o dissuadiram ou não o deixaram, o que vai dar ao mesmo. Jaime Neves e os seus comandos integraram-se em pleno no processo revolucionário que se interrompera por momentos e quase os obrigaram a pedir desculpa pela interrupção porque o programa continuou...

Em suma: o 25 de Novembro em termos militares foi a mesma rábula  que o 25 de Abril em que as semelhanças com a guerra do Solnado são tentadoras.
É costume dizer-se que a partir do 25 de Novembro a "direita" retomou o  poder e acabou o prec. Este suicídio colectivo e em marcha acelerada terminou, de facto, mas apenas na instituição militar. O resto continuou bem vivo e actuante e dali a pouco começava outra aventura: a das FP25, com os resquícios dos doidos do prec, alguns deles ainda hoje no asilo ideológico em que se meteram.
Porém, nunca se terminou com o esquerdismo comunista, porque dali a meses tínhamos uma Constituição "à maneira" que deixava intocáveis as nacionalizações e deixou-se lavrar o fogo da linguagem esquerdista na pradaria dos usos e costumes, até hoje.
A sociedade portuguesa se não estava modificada até então, ficou-o nos anos a seguir. O grande vencedor do 25 de Novembro foi o esquerdismo moderado do PS e a social-democracia do PSD que conquistaram a alforria eleitoral que nos conduziria às duas bancarrotas em perspectiva.
E ainda há quem diga que as pessoas não mudam...e na verdade em relação a alguns capitães de Abril tal se verificará. Ainda andam por aí, feitos lémures de 1975 a catequizar jovens das escolas sobre os grandes benefícios do 25 de Abril de 74 que trouxe a luz ao Portugal apagado de então.


27 comentários:

  1. contaram-me no Alto Douro
    'Alguém' telefonou para o comando militar do Porto e disse com voz soturna
    '-ou tiram de cá estes merdas ainda hoje, ou seguem amanhã encaixotados num jota da CP'

    infelizmente o prec só mudou de aspecto

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  2. Ad baculum:

    Não está má, a sandocha.

    A "Dinamização Cultural" era todo o transfer APsic dos pretos das colónias para os analfapolíticos da parvónia.
    Se bem os conheci, andaram por lá na bebedeira e no mulheredo. Pelo menos, era a única noção cultural que os irmanava fortemente.
    Marxismo, só mesmo da linha Grouxo.

    Mas não foi bem Tapioca. Foi mais tipo "Os 5 na aldeia", quer dizer, os "não sei quantos na aldeia".

    E aquele tipo que está ao microfone, o Matos Gomes sabes quem é?
    O escritor Carlos Vale Ferraz.
    É de esquerda. E é condecorado com a Torre Espada, vê lá tu. Respect!
    Pagou tributo e ganhou direito em combate ás mais tristes figuras. E provavelmente era dos poucos que estava ali, cheio de ardor evangélico.

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  3. O Matos Gomes é o que se meteu naquele caso da menor e que era para ser para a mãe lá de fora e os pais postiços que eram da família também queriam.

    Uma desgraça.

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  4. O Fabião, ao microfone?

    E os que estão na messe?

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  5. Parece ele.

    Na messe, soldados e um subalterno da época. Ninguém relevante.

    Não sei nada disso da menor...

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  6. Ai a operação Nortada contra o feudalismo medieval

    ahahaha

    Nunca assisti a uma sessão destas.

    o José viu alguma?

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  7. O da Esmeralda/Filipa era esse?

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  8. Não, nunca vi esta anormalide mas vi o Serviço Cívico que amanhã vou tratar...porque se insere no mesmo tempo e modo.

    A Esmeralda que era da família do sargente e afinal deixou de ser. O sargente lá tinha muita fé no tio, só que já não estávamos em 75..

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  9. Agora, pôr comandos com o Jaime Neves à frente de um grupo de evangelistas...é de rir.

    É como se os vestissem de cuecas de renda...ahahaha

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  10. ehehehehehe

    Realmente. Eu devia ter visto essas coisas.

    Fui a banhos. Toda essa treta me irritava e não quis ver nada.

    Mas olhe que conheço gente que ia jurar que foi "formada" assim. São de esquerda da luta de classes porque assistiram a tudo isso e participaram nas ocupações dos mais velhos.

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  11. Aquela fotografia do comando, em primeiro plano, do Paris Match é uma grande fotografia.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Os comandos que conheci eram pequenos, para o baixo e entroncado.

    E havia as "Operações Especiais" ou "Rangers" que se formavam em Lamego.

    Na altura conhecia um amigo que lá andava e que era um pouco mais velho e contava histórias fantásticas.

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  14. Texto soberbo e com pormenores que desconhecia.

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  15. «Os comandos que conheci eram pequenos, para o baixo e entroncado.»

    havia de todos os tamanhos. Baseavam-se muito nas melhores tribos guerreiras cá da paróquia: transmontanos (de longe, a melhor) e alto-beirões. Embora houvesse de todas as partes, e muitos, excelentes, autóctones das antigas províncias ultramarinas, brancos e pretos. O Jaime Neves, por exemplo, é transmontano de gema.

    Ser baixo, no mato, dava menos trabalho a reduzir a silhueta ao fogo do IN (IN significa "inimigo"). E como os "comandos" eram tropa para andar mesmo à porrada, isso conferia uma certa vantagem ao possuidor.

    Mas o importante para se ser "comando" não era o físico: era a determinação. E a resistência às condições adversas (fome, sede, cansaço, medo...)

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  16. "havia de todos os tamanhos"

    AHAHAHHAHAHA

    Foi tão engraçada esta frase

    ":O)))))

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  17. Concordo em absoluto no que toca a transmontanos. São, ou foram o melhor do nosso reduto.

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  18. o único comando que conheci era 'o grande'

    dizia ser fiel de armazém duma importação clandestina duns militares de abril

    foi fazer o 'déménagement' duns caloteiros dum gajo que conhecia

    há estórias em que não acreditaria se as não tivesse conhecido

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  19. Essa dos transmontano serem o melhor do reduto é que me custa um pouco a engolir a seco. Precisa de mais molho explicativo.

    Não sei por que razão os transmontanos são assim ou assado e os minhotos são assados ou assim.

    Não sei e nunca me dei conta, mas já ouvi muitas vezes falar na manhosice de certas populações de algumas regiões, na calaceirice de outras tantas e na dureza de outras.

    Na verdade são estereótipos que dizem oo que se pretende fazer passar como ideia feita, mas não me convence.

    Birras...

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  20. Um comando, na minha mitologia adolescente era um indivíduo superior pela experiência de treino e pelo garbo inerente ao estatuto.

    Era alguém de quem se ouvia histórias. Muitas seriam do tipo das que os caçadores contavam...mas fascinavam na mesma ou ainda mais.

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  21. Também não sei se terá de ser assim ou assado.

    Mas é coisa que se nota e se conta com as mesmas características ao longo dos tempos.

    Sabemos distiguir o Norte do Sul. Percebe-se que os algarvios nada têm a ver com tudo o que fica a Norte do Mondego.

    Nas ilhas até se percebem diferenças mínimas e são os próprios que as contam.


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  22. Dou-lhe um exemplo- desatinei sempre em S. Miguel e entendi-me sempre na Terceira.

    No Faial odeiam-nos.
    ehehehe

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  23. Este comentário foi removido pelo autor.

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  24. Queres agora discutir com a tradição...

    Então toma lá mais para almoçares bem:

    Os melhores na Guiné são os Balantas e os Felupes, em Angola são os Cuanhamas, e em Moçambique são os Macondes (não confundir com umas lojas de roupa). Para a guerra, bem entendido. E a nossa melhor tribo são os transmontanos. De longe.

    Atiras várias vezes com um transmontano contra uma parede. Qual é o primeiro a dizer "ai!"? É a parede.

    Vês? Aprende.

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  25. Eu aprendo é que pelos vistos ser melhor é resistir a embates com as paredes...

    Malha-te Deus.

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  26. «Eu aprendo é que pelos vistos ser melhor é resistir a embates com as paredes...»

    Como é que achas que eu aprendi a falar com elas?!...

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