O Temível Dragão volta a insistir na teoria, perdão, hipótese sobre a inconsistência do relato pessoal de Marcello Caetano acerca dos acontecimentos do dia 25 de Abril de 1974.
A tecla repisada e já com nódoa negra é a mesma: Marcello Caetano foi assim uma espécie de poltrão ou, pior ainda, traidor à Pátria que o viu nascer. Não deu ordens. E ninguém lhe obedeceu porque não havia ordens.
Porém, havia militares na rua, em roda livre, literalmente. Blindados sem munições e uma centena e meia de "homens" que invadiram a cidade e pediram informações aos sinaleiros para chegarem à Praça do Comércio. Foram estes os militares de Abril que depuseram o regime deposto. Os heróis por conta própria porque nem tinham caderno reivindicativo para além da melhoria de rancho e pouco mais. Outros por eles se encarregaram depois em preencher o formulário da requisição acerca dos famigerados três D: democratizar, descolonizar e desenvolver.
Parece segura a afirmação no sentido de um tiro, só um tirinho no Terreiro do Paço, vindo de forças leais ao regime que se depunha, poder ter estancado a hemorragia dos famigerados três D e adiar por uns tempos largos o descalabro dos três B: bandalheira social, badalhoquice política e bancarrota económica.
Pois bem: esse tiro às claras e de aviso não chegou a dar-se porque as armas emperraram subitamente. Colegas militares, conhecidos entre si, apertaram as mãos e choraram convulsas lágrimas quando se entregaram de pés e mãos ao grupo de revoltosos que tinham pedido ajuda aos sinaleiros de serviço.
Renderam-se. Depuseram as armas. Não se defenderam nem defenderam o regime que se depunha.
Marcello Caetano, sozinho no Quartel do Carmo, compreendeu tal situação imediatamente quando pressentiu o silêncio dos inocentes no edifício. A tropa da GNR, a começar pelos comandos, também se tinha rendido e apenas um soldado, um coronel sem nome se aprontou a afrontar os revoltodos, qual d. quijote improvável mas corajoso. Os demais borraram-se todos, incluindo supostas forças de elite, tipo milicianos das mocidades e legiões e até, segundo consta, dos serviços mais secretos.
A tropa macaca e o esquadrão miliciano aninhou-se perante a revolta e inútil seria qualquer ordem vinda do Carmo, da Trindade ou até do Céu. Os militares que se renderam aos revoltosos fizeram o sucesso do dia e todos confraternizaram alegremente, com cravos vermelhos nas escopetas emperradas e sem munições. Ordem de Marcello? Para quem? Há duas situações concretas de desobediência a ordens explícitas nesse momento e uma delas na fragata que fundeava no Tejo. Ordens, para que te quero...
Marcello Caetano compreendeu tal situação e entregou-se também. Rendeu-se a um militar que se achegara aos revoltosos e juntara outros tantos consigo. Spínola era agora o novo califa no lugar do califa, posto invejável e que durou pouco porque roma não pagou a traidores.
Aos militares de Abril, na hora da despedida, juntaram-se-lhes os demais camaradas de armas e juntos fizeram o que é agora evidente: levantaram o rancho. Todos. E foi isso que Marcello Caetano percebeu logo e se alguma vez se referiu a evitar derramamento de sangue estava enganado: nunca tal sucederia porque quem o poderia fazer estava ocupado em confraternizar com o inimigo de ocasião e a gritar novos vivas à cristina.
E vem agora o Temível Dragão defender a honra de um convento já nessa altura em ruína acelerada...
Quanto ao Chefe de Estado, há muito que era figura decorativa e quem isso não perceber esgrime contra moinhos de vento. Da História, já agora.
Levantaram o rancho. Todos. O todos é que é o detalhe macaco e vergonhoso de que nunca se falou.
ResponderEliminarE no 25 de Novembro foi igual. E é disso que se tem de falar.
ResponderEliminarO episódio mais revelador acaba por ser aquele que foi contado o ano passado sobre o colega militar do lado dos revoltosos e que vai parlamentar com o que defendia o regime ou era suposto fazê-lo.
ResponderEliminarEm determinada altura sai disparado o herói e atira-lhe à queima-roupa: ou te rendes ou levas já um murro!
Quer melhor que isto?
Não há.
ResponderEliminarOs três Ds ???
Destruir
Desbaratar
Descolhoar
em 1910 foi a mesma trampa com a tropa fandanga que está lá 'a ganhar o meu'
ResponderEliminarrepito
o almirante cândido dos reis dissera 2 semanas antes
'quando há revolução em Portugal,
1/2 aceita a outra borra-se'
'o estado a que esta merda chegou'
Pois foi. Foi o tal do murro.
ResponderEliminarJosé:
Alguma vez alguém escreveu isto assim, de forma clara, como o José agora o fez?
Não me lembro.
E até eu, que não percebo corno disto, começo a juntar as pontas que há muito me pareciam de golpe e contra-golpes à Raul Solnado, e chego lá.
Estava tudo feito na golpada.
E a palhçada tem sido dupla- os abrilistas a festejarem os lateiros que nos libertaram, e os outros calados que nem ratos ou a rosnarem ao Marcello.
E sim. Na república já tinha sido o mesmo; nas guerras liberais, idem.
ResponderEliminarAté aí já se sabia e o VPV sempre insistira.
Mas não me recordo de ele ter chegado a isto- foi uma farsa de levantamento de rancho em que estava metida a tropa toda e mais as polícias à espera.
Não estava tudo na golpada não.A rapaziada que gritava antes do 25 "academia musical" não percebe mesmo nada de nada.Assim como os democratas de hoje que ainda um dia assim os ventos da Europa lhes sejam desfavoráveis vão experimentar...porque desde o 25 de Novembro de 1975 até agora já decorreu uma eternidade e não vejo responsabilidades dos levantamentos de rancho...
ResponderEliminarUm governo incompetente não conseguiu resolver um problema, em tempo, dos seus principais esteios apoiantes e depois ainda se queixam?Porra...
ResponderEliminarPois. Realmente até o Lusitânea passa a vida a sacudir a água do capote.
ResponderEliminarA culpa é dos políticos, pois. Os militares só fazem levantamentos de rancho por patriotismo.
http://www.guerracolonial.org/index.php?content=18&category=&dateBegin=1974&dateEnd=1975
ResponderEliminar1974-04-29
> Carta de militares portugueses da Guiné, especialmente milicianos, ao general Spínola, exigindo negociações com o PAIGC
A coisa foi acontecendo em Moçambique, desde a Beira e Guiné.
Nunca andei a sacudir água do capote.Embora ao fim de uma semana do 1º 25 já tivesse perdido a fé.E como não há duas sem três...que espero seja ainda no meu tempo...para aplaudir!
ResponderEliminarÉ que advogados à solta só costumam fazer as merdas à vista!
ResponderEliminarOs advogados viu-se- de chaimite , a cavalo e de barco, foi tudo igual.
ResponderEliminarPor que é que em Janeiro de 74, o Jorge Jardim liderou a revolta na Beira contra as forças militares?
ResponderEliminarAcusou-as de inércia.
sobre Raymond Aron
ResponderEliminarhttp://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/13823/7221
Falácias acadêmicas, 15:
o modo repetitivo de produção do marxismo vulgar no Brasil
Paulo Roberto de Almeida*
Aron
ResponderEliminar« La gauche est victime d’un certain nombre de mythes.
Le premier de ses mythes, c’est le mythe de la gauche. Cette gauche est animée par trois idées : la liberté contre l’arbitraire, l’organisation pour mettre en place un ordre, non pas traditionnel mais rationnel et enfin l’égalité contre les privilèges.
Le deuxième de ses mythes, c’est celui de la révolution qui se doit d’être de gauche (sinon c’est un coup d’État). La gauche vit dans l’attente de cette révolution libératrice alors même que l’histoire s’est toujours refusée à cette prophétie marxiste.
Enfin le troisième mythe, c’est celui du prolétariat, sauveur collectif chez Marx que l’on peut comparer au Messie chez les chrétiens. La première difficulté quant au prolétariat réside dans sa définition. »
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar«Por muitas asneiras e inabilidades que Marcello Caetano perfizesse (e em amplo sentido, tratou de justificar plenamente o vaticínio a seu respeito do antecessor no cargo: «as asneiras, como as verdades, também têm a sua lógica, e por isso certas asneiras implicam necessariamente outras asneiras.»), nada justifica uma tamanha bandalheira entre aqueles que, por natureza e ética deontológica, deveriam constituir-se baluartes da disciplina, da abnegação, da honra e do espírito de sacrifíco em prol da Pátria, da memória dos antepassados e de todos aqueles, europeus e africanos, que tinham vertido o seu sangue e dado a sua vida em combate. Mas quando uma corporação fardada e mimosa acha que o seu bem estar e o seu interesse egoísta se devem sobrepor aos interesses colectivos de povos pluricontinentais que dependem da sua acção, o resultado só pode ser aquele que foi.
ResponderEliminarE eu, confesso, tenho que fazer uma pausa para ir ali fora vomitar.»
Sabes quem escreveu isto, ó forcado amador de rilhafoles?
O mesmo que escreveu estes:
http://dragoscopio.blogspot.pt/2015/03/a-acromiomancia-revisitada-v-vertigem.html
http://dragoscopio.blogspot.pt/2015/03/a-acromiomancia-revisitada-viii-sem.html
Portanto, que eu me descubra atacado pelo papagaio do Marcello até acho pitoresco. Agora, que me veja acometido pelo meu próprio piriquito, considero, no mínimo, anedótico.
Assim, apenas recomendaria que, se a ideia é discutir comigo, convém que me arremessem com algo que à partida eu próprio já não tenha dito.
Ressalvando naturalmente a única discordância expressa (e essa, sim, plausível de polémica) de eu não achar que o Marcello deve ser canonizado e isento de todas e quaisquer responsabilidades. Não me lembro de tê-lo acusado de traição, mas apenas de participação em bandalheira, culminado com desarranjo intestinal.
O que, pelos vistos, parece causar grande irritação e belicosidade ao seu apologeta póstumo.
De que dermatose opinopédica brotará tanto melindre é questão que, em tendo tempo, hei-de apurar.
"Mas quando uma corporação fardada e mimosa acha que o seu bem estar e o seu interesse egoísta se devem sobrepor aos interesses colectivos de povos pluricontinentais que dependem da sua acção, o resultado só pode ser aquele que foi."
ResponderEliminarSe isto é o mesmo que dizer que toda a tropa se levantou do rancho no dia tal...vou ali e já venho. E não é para vomitar que não tenho dores de barriga prementes por via da vergonha que se espelha em reflexo putativo.
É para ler outra vez mais coisas.
O que eu leio ali e estou certo o leitor médio o fará, é que os revoltosos eram lateiros. E os demais eram o quê?
Refiro-me aos garbosos das galonas e adereços espaldares.
Esses mai-los milicianos borregaram tudo num simples gesto de desistência.
É a vontade desse geste que me interessa e não andar por aqui a fustigar quem não merece.
Refiro-me ao dito Marcello porque gosto de defender quem é atacado injustamente, apesar de geralmente apontar o dedo aos factos, à lei e aos costumes para que se faça a justiça devida, com objectividade.
É o que também quero fazer aqui nestas actividades extra-prebosteanas.
Esse periquito não pode ser canário quando quer. E muito menos melro.
ResponderEliminar"Refiro-me aos garbosos das galonas e adereços espaldares.
ResponderEliminarEsses mai-los milicianos borregaram tudo num simples gesto de desistência.
É a vontade desse geste que me interessa e não andar por aqui a fustigar quem não merecia"
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Esses militares enfermariam da mesmíssima doença que a restante populaça, isto é, fartos do regime?
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Não creio que os militares sejam seres alienigenas e que não bebam das mesmas angustias, desesperanças e esperanças das famílias de onde provêm.
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O que me parece é que o poder politico não acompanhou o sentimento concreto do povo. O povo não queria a guerra porque não encontrava nos fundamentos que a suportavam motivação ou interesse comum ou coisa que valesse a pena dar a vida. Quer dizer, um tipo enviar um filho para a guerra tem de ser por uma causa nobre, superior e inevitável do tipo defendermo-nos de uma agressão.
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Eu acho que não há explicações complexas para coisas simples. O povo estava farto. As famílias apreensivas a ver quando calhava a vez do mais velho. A causa não despertava assim tanto interesse vital para o povo. Ora, as tropas vêm do povo e bebem deste as suas angustias e insatisfações. É natural que mal pudessem acabssem com aquilo que causava angustia e mal estar.
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O regime não soube ler a alma popular. E quando a percebeu foi tarde demais.
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Rb
> o meu próprio piriquito
ResponderEliminar":O))))))))))))))
«do tipo defendermo-nos de uma agressão. »
ResponderEliminarClaro que não. Em África os portugueses não tinham que se defender de uma agressão porque é um continente destinado a pretos.
Assim fossem os portugueses um povo eleito e podiam defender-se em terras colonizadas contra os indígenas não eleitos.
Mas com exegese minuciosa será que se extrai daqueles escritos todos, aliás com a escorreiteza gongórica do costume, algo que se assemelhe à conclusão que resumi com o "levantamento de rancho"?
ResponderEliminarSe sim, amordaço os meus papagaios. Se não, espero que o periquito se esganice no esforço de cantar de galo.
"Em África os portugueses não tinham que se defender de uma agressão porque é um continente destinado a pretos."
ResponderEliminar.
Precisamente. O povo portugues não se sentia ameaçado. Quem se sentia ameaçado eram os líderes do regime porque as colónias faziam parte da estratégia económica do mesmo. Aliás, pedra angular do mercantilismo económico em curso.
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Rb
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar"Quer dizer, um tipo enviar um filho para a guerra tem de ser por uma causa nobre, superior e inevitável do tipo defendermo-nos de uma agressão. "
ResponderEliminarA causa era nobre e defendíamo-nos de uma agressão.
A questão era resolver a contento de quem lá se encontrava e nos dizia respeito. Ou seja, os nossos compatriotas que para lá tinham ido ganhar a vida, como se costuma dizer.
O que fizemos com a desistência, que alás é semelhante ao que se passou no dia 25A e no dia 25N, foi abandonarmos aquelas centenas de milhar de pessoas à sua sorte, literalmente.
E brevemente vou colocar a génese dessa traição exemplar com os nomes do costume: Soares e Almeida Santos.
"Transtornou-se-lhe a tripa e, no aperto, mandou Portugal pela retrete."
ResponderEliminarIsto é referido ao papel de Marcello no Carmo.
Ora esta hipótese escatológica insiste na tecla rebatida. E não sai dali a rebater o químico já furado.
A cópia está por isso esborratada com essa mancha que não deixa ver a verdadeira merda que os militares fizeram nesse dia.
Sim, todos os militares. Incluindo os que não estavam nas chaimites ou lá o que era que se movia a toque de sinaleiro.
Por outro lado gostaria de ir lá bater palmas ao postal sobre as correntes de ar na Igreja. Só que com aquele sistema de comentários não me entendo. Não me reconhece a identidade e troca-ma pela que googlei a primeira vez.
ResponderEliminarAssim, não me atrevo porque me pede passwords e sei lá que mais...
Bem, concedo que pareceu justa e nobre a guerra no seu inicio. Defender uma parte do território de eventuais oportunistas de ocasião. Eu teria feito na mesma. Contudo, teria recuado perante as evidências concretas. Os ventos da mudança (países vizinhos); a descolagem popular à causa; impossibilidade pratica do país viver contra a opinião alheia (igreja, ONU, EUA...); forte probabilidade dos militares (combatentes) seguirem sentimento popular.
ResponderEliminar.
Assim, todas as evidências apontariam sempre para uma solução não militar q pudesse ter em boa conta os portugueses q lá e estavam.
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Em todo caso, se lhe colocasse uma questao. What if. Daria com entusiasmo e abnegação um filho para a guerra para defender as Berlengas?
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Dir-me-ia o Dragao: claro, a ilha é território nacional. Derramar sangue é essencial por causa da coluna vertebral.
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No entanto, na pratica, a maioria do pessoal não pensa assim. Tem prioridades sobre a sua própria coluna vertebral. A pergjnta que cada portugues se faz é: Porque é q mandarei o meu filho para defender aqueles calhaus?
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Quando o sentimento popular não está linha com os interesses dis lideres políticos a solução não estará na guerra. Faze-la é um desperdício. De tempo, recursos e vidas. A solução, quando o povo nao percepciona importância na causa q vslha a pena dar a vida, a solução, dizia, é inevitavelmente a negociacao.
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Rb
Bom, quer dizer, ridicularizam as hipóteses de conspiração das altas esferas militares com estrangeiros, mas não vos repugna meterem a tropa toda no mesmo saco... Acho curioso.
ResponderEliminarOutra coisa: esperavam que os soldados, ou até mesmo os oficiais subalternos, oficiais, e a maior parte de oficiais superiores decidisse defender a situação sem olhar a mais nada?
Ou seja, Caetano viu o desmoronar e por isso fez bem; mas os militares fazendo o mesmo, já foi por levantamento de rancho? Não colhe.
As unidades militares e respectivos comandos não agem no vácuo nem são independentes.
Portanto, e já Gomes da Costa nos pinta assim o 5 de Outubro, qualquer hesitação ou falta de firmeza no ordenar na supressão de uma revolta militar aumenta, por assim dizer, exponencialmente, a probabilidade de as unidades leais se passarem para os revoltosos.
Não há nenhuma situação em que seja mais crítica e essencial uma boa e funcional cadeia de comando do que numa revolta militar. O topo da hierarquia tem que mobilizar imediatamente as forças de que dispõe quanto mais não seja para extremar posições entre os revoltosos e os leais confrontando-os.
Os papagaios não me incomodam. Quando muito podem é convocar borrasca.
ResponderEliminarA questão reles e mesquinha do corporativismo militar foi um facto e a mola originária do circo. Era endémica. Mas fazer essa extensão geral da traição é abusiva, arbitrária, caprichosa e não demonstrável. Em todo o caso, essa generalização, se a admitimos, não atenua, apenas agrava a inércia inadmissível do Marcello. Ou todos os que deviam defender o regime são uns trastes, menos ele, que até era o mandarim? O calimero, como o jeremias, é uma figura típica portuguesa, mas nada louvável.
"Levantamento de rancho" é uma mero termo achincalhante e de mera retaliação ao facto de eu ter tratado o teu pequeno tótem idiológico com relativa (mas justa) aspereza.
O que eu gostava que ficasse bem claro é que não há "um culpado" - seja o Marcello, os militares, os comunistas, as ventosidades das grandes potências... Há uma confluência de causas, condições e responsabilidades. É toda essa abóbada que importa mapear. O Marcello, inegávelmente, representa a pedra de fecho, mas não responde por todas as outras pedras. Simplesmente, uma vez retirada, tudo rui fatalmente.
Portanto, se o que observamos é o que parece ser um levantamento de rancho generalizado, o que aconteceu realmente foi uma falha das altas hierarquias.
ResponderEliminarEssas é que é preciso apurar porque não agiram. E ao mesmo tempo ter consciência que se encontrava dividida entre leais e revoltosos.
Ou seja, as tropas leais também sabiam que as outras tinham cobertura de peso hierárquico e não só.
Tudo isto é psicologicamente relevante na tensão em que se definem campos e lealdades.
Não havia pura e simplesmente tropas leais porque quem as comandava não eram os rapazes do reumático.E como não havia bandalheira como se diz...a hierarquia real funcionou!
ResponderEliminarE funcionou porque o "Programa até nem era mau".O tal que durou uma semana a ser desrespeitado...para dar carta branca ao pai da pátria...
ResponderEliminarEntre as Caldas e o 25 nem imaginam as palestras que os reumáticos fizeram.Isso e claro ameaças.Resolver extraordinariamente o problema que deixaram criar é que não lhes passou pela cabecinha...e muitos deles foram logo saneados
ResponderEliminar"O que eu gostava que ficasse bem claro é que não há "um culpado" - seja o Marcello, os militares, os comunistas, as ventosidades das grandes potências... Há uma confluência de causas, condições e responsabilidades."
ResponderEliminarPois essa sempre foi a minha teoria hipotética.
Porém, vendo eu as vergastadas na honra póstuma do finado Marcello, achei que era demais.
Tanto mais que o que ouço dizer é que era um fascista.
E como já me esfalfei para provar que não era também me esganiço para demonstrar que não teve a culpa que lhe imputam por muitas baforadas de lume vivo que lhe mandes.
Marcello era honrado e foi até ao fim. É a minha opinião e ainda não vi nada que me fizesse alterá-la. De mais a mais admiro a sua obra intelectual e tens aí a única explicação para o defender.
No entanto, quando se fala do dia 25A e da inércia de alguns, importa repisar que a principal inércia foi dos militares e não do civil que comandava cercado e abandonado o que já não tinha comando possível.
É essa a minha teoria hipotética e portanto a conclusão sobre o levantamento de rancho apenas uma alusão semiótica à ocorrência que me parece agora clara e explicativa do fenómeno oculto da entrega e deposição das armas ao inimigo que era afinal o camarada que tinha feito o curso na mesma sala ou enchido na mesma parada.
"Portanto, se o que observamos é o que parece ser um levantamento de rancho generalizado, o que aconteceu realmente foi uma falha das altas hierarquias.
ResponderEliminarEssas é que é preciso apurar porque não agiram"
Parece que o dia se perdeu ali para o lado da Ribeira das Naus e Praça do Comércio. Isso é a última versão da História e parece-me razoável essa interpretação.
Assim, quem depôs as armas e se rendeu foi a tropa que conduzia as viaturas e não apontou os canhões. Não quem os mandou disparar.
Portanto, os manda-chuva dos comandos, nesta rábula não são os pontos. São os espectadores.
O Marcello diz que todos se renderam e ninguém se esforçou por defender o regima.
ResponderEliminarPortanto foi uma generaldina.
Se o 25A podeia ter-se frustrado se as tropas fiéis ao regime fizessem fogo sobre o Salgueiro Maia e quem o acompanhava, acabava tudo ali.
ResponderEliminarMas não fizeram. E a meu ver, bem pelos motivos que já expus.
Esse levantamento de rancho era justo. O que estragou tudo foio caldo que entornaram logo a seguir com a canalha do MFA comunista.
Mas mesmo isso é discutivel porque não houve condições para ser diferente com aquela Junta Militar.
Marcello desistiu porque percebeu que a canalha tinha ganho.
O Dragão julga que no Ultramar não havia revolta nas bases...nem reuniões nem nada.Era tudo a combater(o que se fazia)
ResponderEliminarPara mim as bases de partida na altura pareceram-me boas.Mas depois da chegada dos democratas começou logo a táctica do salame ajudados por tudo o que era mundo(kgb, cia, etç...) e aí foi o fim das primeiras promessas do novo regime...
O regime exauriu-se e não teve sequência digna podendo tê-la.
ResponderEliminarQuando chegouo Marocas mais o patriota soviético tomaram conta disto.
A pergunta que continuo a fazer é como os deixram tomar conta tão depressa e sem oposição alguma...
Tu tens uma ideia fantasiosa e idílica do Marcello. Criaste um mito, o que é legítimo, mas explica o melindre.
ResponderEliminarEu já percebi o fascínio pela obra intelectual (solidariedade corporativa, pois).
Mas isso não está em causa. O homem intelectualmente era brilhante. E deveria ter-se mantido nesse pedestal. Por vontade do Salazar, que lhe conhecia bem os defeitos, jamais teria sido eleito como sucessor.
Não era fascista coisa nenhuma. Simplesmente, lidava muito mal com a contrariedade e era excessivamente vaidoso da sua "superioridade intelectual". Quando se deitou a promover o Spínola adiccionou mais fatuidade à equação - a negatividade característica, em vez de temperada, saíu reforçada.
Eu não faço questão que ele estivesse a dar o golpe com o Spínola, para se livrar da Direita, mas essa é a tese defendida por muito boa e bem informada gente. E a inércia tanto ou mais gravosa, em meu entender, não é a do próprio dia, mas do mês que antecedeu esse dia, entre a intentona das Caldas e a golpada.
Mas sugiro que não mistures o extraordinário mestre de Direito com o medíocre governante que ele foi. É uma lei da vida: um bom professor não dá necessariamente um bom político. Ainda mais naquelas terríveis circunstâncias.
Aliás, o teu decorativo Almirante Thomaz estava praticamente sincronizado com o Kaulza e associados para despachar o Caetano o mais breve possível.
ResponderEliminarO Marcello sabia disso: que estava a muito curto prazo.
Pois...bem gostava de poder viajar no tempo e poder assistir ao exercício conjunto dessa dupla fantástica: o Tomás e o Kaulza com as rédeas da Nação.
ResponderEliminarMas tu acreditas um só segundo que tal parelha tinha canga?
O Kaula em 1974 já era doido, acho. Doido é uma forma de dizer. Conheces algum escrito relevante da criatura? Tenho o livrito que escreveu: desordenado confuso e intragável.
Um tipo destes Chefe de Governo? Nem na América do Sul desse tempo.
O Marcello era o melhor que poderíamos ter na altura.
ResponderEliminarAcho que o que escreveu sobre os seus governos ( e tenho os três últimos volumes de recolha dos discursos e actos legislativos etc etc) foi coisa que não vi em mais ninguém. Nem em Salazar.
Marcello quanto a mim foi mesmo um governante admirável.
E estou pronto para debater isto com quem quer que seja.
Portanto a admiração não é apenas pelos escritos de Direito.
Ah! E eu nunca fico melindrado com estas coisas.
ResponderEliminarSe te parece com o que escrevo tira daí o sentido.
Gosto é de malhar os verbos e se dá ideia de melindre é porque chiam ou gemem de os torcer semioticamente.
Semioticamente é adverbio que uso para chagar conceitos.
Contribuo para a discussão deixando uma pergunta.
ResponderEliminarMas antes, recordemos os principais êxitos dos golpistas, durante a madrugada e manhã de 25 de Abril:
Ocupação do Quartel General da Região Militar de Lisboa, praticamente vazio;
Ocupação dos estúdios do Rádio Clube Português;
Acampamento de uma dúzia de homens na pista do aeródromo de Tires;
Ocupação de parte dos estúdios da RTP, no Lumiar;
Ocupação (pela principal força revoltosa) das portas principais de alguns ministérios, vazios devido à hora, na Praça do Comércio. A excepção é o Ministério do Exército onde se encontra boa parte do Governo e algumas altas figuras militares, que saem sob escolta de forças não aderentes ao MFA;
Descoberta que Marcello está no quartel do Carmo;
Ocupação do morro do Cristo-Rei;
Cerco ao quartel (quase vazio) da Legião, na Penha de França;
Hora do almoço. O MFA anuncia, pelos emissores do RCP, que “controla o país de Norte a Sul”. Mas esquece-se de definir controlo e país.
Agora, o que conseguem os golpistas durante a tarde, até à rendição (visível) de Marcello:
Manter as posições da manhã, uma vez que ninguém os tentou desalojar de lá. A excepção é a força da EPC na Praça do Comércio que, percebendo-se que não está lá a fazer nada, é mandada subir ao Carmo para ocupar a porta principal do quartel e pedir a rendição de Marcello.
Agora imagine-se que Marcello (mesmo sabendo que tem os dias (como governante) contados) autoriza a DGS, ou o Alouette, a tirá-lo do Carmo.
Presumo que as restantes forças do MFA manteriam as suas posições, controlando o país de Norte a Sul.
Finalmente a pergunta. E a força da EPC, comandada por Salgueiro Maia, que não podia dar um tiro para não ser dizimada, cercada no Carmo por homens de Lanceiros 2, Cavalaria 7, Infantaria 1, GNR e Polícia de Choque (que, provavelmente, uma vez mais, não seriam os primeiros a disparar) mesmo que incentivada por uma ou duas centenas de populares, ia ocupar, a seguir, a porta de quem?
Ainda vais ter muito que penar, então...
ResponderEliminarPenar ou espernear. E os coices serão de mula: sorrateiros e fulminantes.
ResponderEliminarMarcelo foi uma figura trágica.
ResponderEliminarMas, foi sobre nós - quase todos nós - que verdadeiramente se abateu a tragédia.
O golpe de 25 do A, no seu burlesco - é um desgraçado entremez.
Quem combate moinhos da história não tem medo de coices de mula de Sancho Pança.
ResponderEliminar:O))