A RTP foi durante décadas a única estação de tv que se poderia ver em Portugal, com excepção das emissões da TVE captadas nas zonas raianas.
Em 1977, a vizinha Espanha já tinha tv a cores e nós estávamos na apagada e vil tristeza da bancarrota. depois da experiência fantástica comunista-socialista que nos prometiam amanhãs de sonho. A cores, porém, só a partir de 1980.
Um dos sinais evidentes da nossa colonização cultural espelha-se na RTP. Começou em 1957 a mostrar os "ventos da História" e já então Salazar se sentia cansado de governar, tendo-o feito apenas por um dever ser que seria quase um imperativo categórico.
Porém, os tais ventos que mais não são do que as modas, as ideias peregrinas e a influência cultural de um estrangeiro longínquo, como os EUA, não mais nos abandonaram, soprando agora como o suão que ninguém sabe ao certo o que é, mas que existe com categoria semiótica.
Como aqui se diz, a seguir ao prec, os jornalistas sentiram-se obrigados a pertencer a um dono ideológico e até partidário, tornando-se prosélitos das causas avulsas que defendiam. A RTP não fugia à regra e com o I Governo Constitucional, saído de eleições em 1976 torna-se a voz do dono socialista democrático.
Em Maio de 1977 houve dois programas que definiram um estilo da nova tv pós-prec: uma telenovela brasileira, Gabriela; e um concurso para dar prémios a concorrentes, A Visita da Cornélia".
A telenovela assentou arraiais nas salas das casas portuguesas ( e ainda haveria relativamente poucos receptores, cerca de 150 por mil habitantes) e à hora de jantar de todos os dias úteis da semana.
O concurso vinha logo a seguir, mas apenas às segundas-feiras.
A telenovela demorou muito pouco tempo a conquistar a audiência máxima, em Portugal. Merecida, aliás, pelo virtuosismo das interpretações e acaparada por toda a intelligentsia de então, devido ao enredo esquerdizante do romance de Jorge Amado, adaptado para tv e transmitida no Brasil em 1975.
Em 20 de Maio de 1977 apresentava-se assim, no O jornal, os dois eventos prestes a inaugurar a nova era da tv em Portugal e a nossa colonização cultural mais rasca e poluente ( telenovelas e concursos) que moldou personalidades, alterou hábitos e modificou costumes. Até a onomástica antroponímica se modificou radicalmente de tal modo que nomes tradicionais portugueses que até aí eram correntes, desapareceram dos registos de conservatória, trocados pelos bastardos brasileiros. Os Marcos tão influenciados pelos Paulos passaram aos Márcios das novelas e as Elizabetes inglesas e francesas foram trocas por Marlenes sem tiques.
Em 1977 ainda não era assim...
A história da telenovela na RTP pode ler-se melhor aqui, no O Jornal de 21 de Outubro de 1977, no auge da novelamania que se desencadeou. Aqui está a prova da "alienação" e a origem da colonização. Nem Cunhal escapou...
Apesar de todo o sucesso da telenovela e da influência maciça que provocou, parece-me mais interessante porque mais subtil o tal concurso da Visita da Cornélia, cujo funcionamento prático aqui se explica.
Os concorrentes habilitavam-se a ganhar prémios "de milhares de contos: automóveis, andares, electrodomésticos". As viagens ainda não estavam na moda...
A curiosidade maior deste concurso prende-se com a qualidade intrínseca dos concorrentes nas provas que apresentavam. E com os nomes dos mesmos, quase todos da rosa, com excepção de um: Rui Guedes.
No artigo abaixo publicado do O Jornal de 9 de Setembro de 1977 dá-se conta de um dos candidatos fétiche: o arquitecto Francisco Keil do Amaram, conhecido por Pitum que tendo sete filhos ( seis de um primeiro casamento e um mais recente) , com 42 anos, foi um fenómeno de popularidade e ajustava-se perfeitamente ao politicamente correcto da época e "profudamente humanista". Era bisneto do autor da letra de Heróis do Mar...
Entre os nomes sonantes aparecem Orlando da Costa, escritor ( pai dos Costas que agora estão na ribalta) Vasco Vieira de Almeida, o advogado de uma das firmas do regime, etc.
Vale a pena ler porque é de um tempo que já não há. Agora só há os filhos e segundo Fernando Dacosta que citava Natália Correia a propósito do assunto, agora é que se iria ver o descalabro que viria a surgir. Como aliás, se vê...
Estas páginas revelam um fenómeno antropológico e sociológico, em Portugal, que merece estudo ou pelo menos consciência da sua existência.
O Portugal destes finais de anos setenta foi um viveiro do que viria a seguir, no pós-abrilismo. Ao mesmo tempo que revela o tal "humanismo" que não se percebe muito bem o que seja, mas fica a interpretação própria de quem queira, mostra o lado negro da esquerda mais atávica que nunca permitiu alternativa e abertura ao que havia dantes. A consolidação do pensamento politicamente correcto começou por aqui.
deu bode o assalto à rtp por analfas de esquerda
ResponderEliminaresguichou merda por tudo quanto era lado
não vi a gabriela nem o capachinho vermelho a cantar o fado
lembro-me do Clemente a ser substituído pelo Dany Kaye
pena não mostrarem a fuga do dito
" A Visita da Cornélia"? Não era a Vaca Cornélia?
ResponderEliminarHavia uma vaca em cartão que falva com a voz da Fernanda Borsatti mas o nome do concurso era mesmo a tal Visita da Cornélia, segundo se escreve e me lembro.
ResponderEliminar"o capachinho vermelho a cantar o fado"! EH,EH,EH!
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