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terça-feira, junho 09, 2015

O P.S. envergonha

O partido socialista tem, definitivamente, um problema com a Justiça. Um das propostas mais recentes do "projecto eleitoral" do PS previa a " garantia de protecção e defesa do titular de cargos políticos ou públicos contra a utilização abusiva de meios judiciais e de mecanismos de responsabilização como forma de pressão ou condicionamento". Parece que terá sido abandonada mas não é intenção para esquecer porque será represtinada de uma forma ou de outra, num futuro próximo se as circunstâncias eleitorais se proporcionarem.

Tal intenção mereceu esta crónica de Eduardo Dâmaso, do Correio da Manhã:

 "António Costa tem-se esforçado por blindar o PS aos efeitos da prisão de Sócrates. O seu "Projecto de Programa Eleitoral", pelo contrário, promete uma verdadeira vingança contra a justiça e os jornalistas. É certo que se trata de um "projecto" mas anuncia intenções legislativas que são um perigo para a separação de poderes entre política e justiça e para a liberdade de imprensa.

Na parte específica da justiça tem dois pontos inteiramente dirigidos à remoção do juiz Carlos Alexandre do Tribunal Central de Instrução Criminal. Um, anuncia a possibilidade de distribuir os "actos processuais por tribunais com menor carga processual, com base em critérios objectivos e transparentes que satisfaçam as exigências do juiz natural". Se lembrarmos um dos eixos da defesa de Sócrates, os seus advogados não escreveriam melhor.

Num outro ponto, anuncia "a institucionalização de um regime de colocações e de movimentação de magistrados capaz de proporcionar a estabilidade e o desempenho de funções com o horizonte temporal necessário a uma boa gestão processual". Traduzindo: Carlos Alexandre tem mesmo de ir ao próximo concurso para desembargador e não pode continuar na 1ª instância.

E que dizer da "garantia de protecção e defesa do titular de cargos políticos ou públicos contra a utilização abusiva de meios judiciais e de mecanismos de responsabilização como forma de pressão ou condicionamento"? Se António Costa deixar passar estes e outros dislates está a atirar ao lixo tudo o que de bom fez enquanto ministro da Justiça e que não foi pouco."

A relação política do PS com a Justiça é fenómeno antigo, porque foi o próprio Almeida Santos, um dos Sombras da política portuguesa a dizê-lo, recentemente:  “Fui fundamentalmente um legislador. Fiz dezenas de leis no próprio Conselho de Ministros, eram aprovadas logo ali e publicadas. Posso ter a vaidade de ter sido eu um dos principais artífices. Trazia de Moçambique uma linguagem jurídica e pediram-me para fazer as leis. Dificilmente terá havido um legislador que tenha feito tantas leis e tão rapidamente”.

A característica mais vincada do P.S. com a Justiça é a imediata subalternização dos magistrados e até a marginalização dos agentes da justiça sempre que um dos dirigentes do partido seja envolvido nas   malhas de uma investigação criminal que coloque em risco o status quo.  Nessa altura surge um reflexo instintivo de defesa corporativa do grupo, do partido e do status quo ameaçado, o que é feito sem qualquer pudor ou receio de denúncia democrática da campanha deslegitimadora e atentatória contra o princípio da separação de poderes.
Tal foi denunciado recentemente pela própria ministra da Justiça que afirmou claramente que receia uma limitação da separação de poderes se o PS ganhar as eleições. E que não haja dúvidas que assim sucederá, perante a anomia geral.

Tal sucedeu aquando do escândalo do fax de Macau e é certo e facto notório que a principal vítima escreveu um livro cuja denúncia das manigâncias do poder socialista, particularmente do decano Mário Soares, foram abafadas, até hoje.

O escândalo seguinte, da Casa Pia, ocorreu há cerca de dez anos e implicou profundas alterações na legislação penal. para dar garantias de defesa reforçadas a arguidos excelentíssimos.
Como tais garantias não foram suficientes, foram arranjadas outras, suplementares, em consequência de desenvolvimentos desse processo em que um dos envolvidos, Ferro Rodrigues, actual figura de proa do partido disse explicitamente ao actual líder Costa que  se estava a "c. para o segredo de justiça". Nada lhe aconteceu e foi promovido a líder parlamentar.
O caso Freeport foi outro exemplo do despudor socialista perante a instância de controlo da investigação criminal em Portugal, com um PGR afecto aos críticos dessa investigação. 
Com o caso Face Oculta assistiu-se a outra sucessão de escândalos envolvendo figuras gradas do P.S. com manifestações de propósitos idênticos de aviltamento dos investigadores judiciários e a novo ímpeto reformista do sistema legal.

As mais recentes condenações de outras figuras gradas do P.S. ainda sem trânsito em julgado e o culminar da investigação ao antigo primeiro-ministro socialista, preso em Évora, representam apenas mais um episódio desta saga que envergonha a democracia portuguesa e não é com o actual líder António Costa que isto vai mudar.
Nenhum outro partido em Portugal se atreve a este comportamento profundamente anti-democrático, sem custos eleitorais, até hoje. 

O PS é um Partido Sem vergonha. A razão para tal reside na habituação anómica, na falta de  denúncia vigorosa do poder judicial e de quem vendo tal estado de coisas, as aceita sem protestar.A razão profunda foi enunciada por um advogado, Ricardo Sá Fernandes: "o PS é um partido minado pela cultura do favor e da promiscuidade".


8 comentários:

  1. Por tudo isto importa que o próximo Presidente da República seja alguém independente dos partidos para impor alguma ordem na matilha. Que se diria se o árbitro de um jogo de futebol estivesse ligado e fosse pago por uma das equipas em disputa ? O resultado pareceria sempre viciado. E se na futebolada isto não se aceita porque é que se aceita na política ? Não me esqueço da importância superior da futebolada mas mesmo assim, se se separassem as águas na política, talvez ela não ficasse mais séria mas pelo menos pareceria mais séria, o que não sendo óptimo é pelo menos um pouco melhor do que temos.

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  2. os ratos estão sempre prontos para
    comer o queijo e deitar fora a ratoeira

    os magistrados vão passar a ser eleitos pelo ps

    'quem não sabe ser caixeiro fecha a loja'

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  3. "O partido socialista tem, definitivamente, um problema com a Justiça"

    Olhe, José, eu acho que é a Justiça que tem um problema com o PS e não está à altura de o resolver.
    E a consequência de tudo isto é que o país tem um problema com a Justiça.
    As razões já o José por aqui tem referido.
    O silêncio do sistema e do PSD e CDS deixam supor que são parte do problema.

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  4. a este período até ao ato eleitoral

    chama-se e alemão 'Stunde null' ou 'hora zero'

    se o ps ganhar seguir-se-à 25ª, a que vem depois da última

    excepto nas eleições em que o PRD lhe retirou mais de 1/2 dos votos

    nunca teve menos de 1,5 milhões de eleitores

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  5. Só um povo muito demente é que daria uma vitória eleitoral a este PS.
    Só um povo muito democrata é que daria uma vitória eleitoral a este PS.

    Demência & Democracia

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  6. «Esta decisão, ao contrário do que os senhores podem supor, não nos surpreende. É uma decisão de óbvia vingança, uma vingança mesquinha do senhor procurador da República e do senhor juiz de instrução contra um arguido que recusou vergar às suas tentativas de o vergarem», referiu o advogado, à saída do Estabelecimento Prisional de Évora.

    Para quem não quer julgamentos na praça pública, não está mal.
    Só não se percebe como é que este Araújo pode tratar assim o juiz de instrução de um processo no qual é parte interessada.
    A imprensa, essa nem se pode dizer que seja benevolente, é propriedade da Cosa.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. A propósito de sem-vergonhas...Évora, cidade tão querida às itinerâncias dos reis da 2ª dinastia, continua guardando o desapeanhado adiantado-mor.

    O desvalido, prefere os gozos de estilita & mártir, aos confortos de aptº luxuoso.

    E tudo isto, por um detalhe: pulseira electrónica – ou “anilha”, na verve elegante do seu desconcertante causídico.

    Assim, O verão será dedicado ao salutar bronze e aos bons ares da cidade-museu, mas sem anilha.
    É justo.
    Amen.

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