O artigo e entrevista que seguem tem a "mão" de Ruben Tristão de Carvalho, o comunista do PCP que durante os anos sessenta e início dos setenta escrevia sobre música popular e que possivelmente será um dos eruditos que há no país sobre esse assunto. Chegou a ser director do jornal Disco Música & Moda que saiu em finais de 1970 e publicou durante o ano de 1971.
O assunto é o programa "Em Órbita" que é uma lenda entre aqueles que ainda o
escutaram nessa primeira fase ( começou em 1 de Abril de 1965) dedicado à
música pop e depois, já nos anos setenta, exclusivamente dedicado à
música erudita.
O indicativo deste programa nesta segunda fase é
uma parte do Cântico Final , Schlussgesang ( "Herr, Du hast mein Fleh´n
vernomen-Senhor, ouviste as minhas Súplicas?) da Missa Alemã de Schubert
( Cânticos para celebração do Santo Sacrifício da Missa) na versão do
Bergedorfer Kammerchor, com direcção de Hellmut Wormsbächer, disco LP
Telefunken, edição da Valentim de Carvalho de 1973 ( demorou anos e anos
até descobrir esta versão original do indicativo...).
A publicação é o Século Ilustrado de 14 de Janeiro de 1967 e como diz um dos jovens ( Diogo Saraiva de Sousa) " Não conhecemos nenhum programa, mesmo na rádio estrangeira, do mesmo tipo".
Ora, esta afirmação, no tempo do governo de Salazar, vale um programa que a Esquerda que temos não conseguiria fazer. Uma abécula do género Raquel Varela, provavelmente nem entende o que isto quer dizer...
Em 1967 Ruben de Carvalho já era comunista como se entrevê na entrevista com os membros da equipa desse programa de rádio na "frequência modelada" ( calinada do género cordial...) do então Rádio Clube Português, uma emissora privada.
O conteúdo da entrevista, das perguntas e resposta não poderia ser mais sugestivo do que animava estes jovens de 1967: as ideias "progressistas", eventualmente comunistas. A pergunta que deixo, ainda sem resposta é: como é que estes jovens não se aperceberam da natureza totalitária do comunismo que defendiam, assim nas entrelinhas que a Censura da época deixava passar?
por detrás da música havia um suporte
ResponderEliminarcontra-literário
que nunca me interessou
de música sei apenas dizer se gosto ou não
sou como o crítico tauromáquico
'aprecio melhor o ovo estrelado que a galinha que o pôs'
charlie hebdo
ResponderEliminarcagaram-se de medo.
nada de caricaturas islâmicas
o Islão é a mais importante religião em França
deixaram esquecer para encontrar uma saída aceitável
os judeus andam com as calças na mão
por causa do nuclear iraniano
Que saudades do "Em Órbita" !
ResponderEliminarEu e os meus irmãos fazíamos os trabalhos de casa rapidamente para às 19h estarmos na sala a ouvir o programa até o nosso pai chegar a casa, por volta das 20h30m, e aí... toca a desligar o rádio e ir para a mesa.
A excepção era na altura do Natal em que o programa terminava sempre com uma música do Simon & Garfunkel, Silent Night, e então tínhamos "autorização" para ouvir o programa até ao fim, embora já à mesa :)
"frequência modelada" ( calinada do género cordial...)
ResponderEliminarDe facto. Diz-se Frequência Modulada (FM) técnica usada na transmissão de sinal de rádio (com melhor qualidade de sinal, mas menor distância de transmissão) que consiste em “somar” a onda de sinal à onda portadora adaptando a frequência desta última. Técnica alternativa à Amplitude Modulada (AM, com mais ruído, mas maior distância de transmissão) que “soma” a onda de sinal à onda portadora com adaptação da amplitude desta.
ninguém reparava, mas era
ResponderEliminarDas Schlangenei
The Serpent's Egg
'mannaggia la miseria!'
Bem postado, José. Realmente, da "juventude diferente" ao "homem novo" vai apenas um passo. Já agora, os rapazes deveriam estar "em órbita" quando escreveram que Shelle(!!!!) Watts, em vez de Charlie Watts, era (ainda é) o baterista dos Stones (legenda - enfim, legenda em que os nomes não estão alinhados com os músicos da foto - da 2ª página)!
ResponderEliminar"A pergunta que deixo, ainda sem resposta é: como é que estes jovens não se aperceberam da natureza totalitária do comunismo que defendiam, assim nas entrelinhas que a Censura da época deixava passar?"
ResponderEliminarCaro José, não perceberam esses, assim como os de hoje não percebem e continuam a jurar a pés juntos que melhor não há!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPois eu acho que é essa natureza totalitária que os fascina(va), eles apercebem-se e bem da dita cuja. A malta do Maio de 68 andava por Paris a partir tudo, de livro vermelho na mão, a babar-se com Sartre e Marcuse, enquanto dava uma saltada ao cinema para ver La Chinoise de Godard. É a mesma malta que por cá, no pós-25A, andava à pancada em cinemas onde se exibiam as obras chanceladas pela louca da Jiang Qing, que repetia como autómatos as palavras de ordem do PC, MRPP e quejandos.
ResponderEliminarA forma como argumentavam (e ainda argumentam) revela a natureza totalitária do que defendiam, sobre a qual não tinham quaisquer dúvidas ou rebates de consciência.
ResponderEliminarSem essa natureza totalitária não teriam sido atraídos de forma tão entusiástica para tais "ideais". Contra o "regime burguês" nada de mansidão. Basta ver que o período mais sinistro (e não os faltaram) do regime chinês, a "Grande Revolução Cultural Proletária", foi responsável, no Ocidente, pelas maiores ondas de entusiasmo ao ideal maoísta, de tal forma que os seus apaniguados passaram a encarar os comunas de obediência soviética como social-fascistas ou seja, insuficientemente revolucionários!
ResponderEliminarQuanto aos pró-URSS, a natureza totalitária do regime não oferecia dúvidas a ninguém minimamente informado.
ResponderEliminar4ª repblica
ResponderEliminarNível salarial no sector público equivalente a cerca de 3 vezes o do sector privado, registando uma duplicação, em termos reais, nos últimos 12 anos…
Às filhas solteiras dos funcionários públicos era conferida uma pensão vitalícia de € 1.000…
No Parlamento existiam funcionários auferindo 18 salários/ano, beneficiando ainda da utilização graciosa de um SPA instalado em pisos inferiores do edifício…
Cerca de 600 profissões, entre as quais as de cabeleireiro, massagista, apresentador de TV, trompetista/flautista, eram consideradas de “desgaste intenso”, justificando o direito a reforma integral aos 55 anos (homens) ou 50 anos (mulheres)…
Num hospital público, Evangelismos de seu nome, existia um quadro de 45 jardineiros para tratar de alguns torrões de relva situados na entrada do edifício…
Em alguns institutos públicos, o quadro de motoristas era equivalente a 50 X viaturas de serviço…
Os gastos orçamentais com a Defesa cifravam-se em 7% do total.
Não precisam de imaginar mais…esse País existe(iu) mesmo, era a Grécia por alturas de 2010 – extratos do livro “Boomerang, Travels in the New Third World”, de Michael Lewis (editor do Washington Post), publicado em 2011.
Boa recordação!
ResponderEliminarLPA
Devia ser alguma coisa que colocavam na água: Essa geração de 60 é, talvez, a mais ESTÚPIDA que Portugal produziu.
ResponderEliminarSeria importante saber o porquê do fenómeno, porque esses desgraçados ainda não percebeu o que lhes aconteceu, nem o que fizeram.
José: GRANDE CROMO ao ter arquivos dessas coisas dedicadas à espuma do tempo que é a música popular, apenas alguns degraus acima do futebolinho...
Pedro Marcos: é a primeira pessoa que me lembre, a dizer que esse "rei vai nu".
ResponderEliminarEu sou dessa geração, embora meia dúzia de anos mais novo. Essa gente é do início da década de 50.
Pensando bem, como foram educados estes Jorge Gil e outros João Alexandres e Pedros Albergarias?
Os pais foram educados no regime de Salazar, logo nos anos 30 e 40. No caso destes indivíduos eram de uma certa elite de classe média baixa, digamos assim. Funcionários públicos, eventualmente.
Porque é que detrstavam Salazar e o regime?
É uma boa pergunta mas acho que sei a resposta: porque tinham acesso ao que se passava lá fora e que aqui não chegava livremente por causa da censura que afinal nem era assim tão restritiva. Mas era-o nos costumes que julgo que esses indivíduos percebiam ser mais restritiva do que por exemplo no Reino Unido ou em França, para nao façar dos EUA.
O que nessa altura ( meados dos anos sessenta até 74) era uma "abertura" maior às modas e costumes lá de fora que se mostravam a essa elite relativa.
O que eu não entendo, porém, é a contradição entre esse desejo e a sua resolução na opção por um regime ( comunista ou socialista que na época nem era assim tão evidente) que era ainda mais restritivo que o que tínhamos.
Essa é a prova da estupidez dessas pessoas. Só essa.
O Cândido Mota que era o apresentador do programa foi comunista logo a seguir ao 25A.
ResponderEliminarQue é que este individuo via no comunismo? Um maior respeito pela liberdade sexual? Engano. Um maior respeito pelos costumes? Outro engano. Um maior respeito pelas liberdades individuais? Triplo engano.
Como é que isto foi possível?
Essa pergunta é que me tem atazanado estes anos todos...