Páginas

quarta-feira, setembro 23, 2015

O jornalismo nacional e um dos últimos moicanos

Nas mesmas edições dos jornais de ontem há outra notícia comum e que tem lugar nos obituários: morreu Vítor Silva Tavares, um "editor radical", segundo o DN; um "editor livre" segundo o i; um " editor radical e o último dos resistentes" segundo o Público. O CM não o classifica porque o obituário ficou a cargo de dois colunistas, Eduardo Ralha ( "editor único") e Francisco José Viegas ("o criador da &etc") .

O Público anunciou na primeira página o panegírico em modo de obituário.

No interior dá quase duas páginas ao assunto do "último dos resistentes"...



E na última página até João Miguel Tavares acha que o falecido é digno de figurar nos anais do panteão da intelectualidade lusa.



O i não poderia fugir da onda e publicou também  uma página.



E o DN nunca lhes ficaria atrás em assuntos deste teor...



Mas afinal quem era o falecido? O Público o disse: o último dos "resistentes". Resistentes a quê, afinal?

É preciso ler a "esquerda.net", para o perceber devidamente. E esta entrevista também.  VST sempre foi um indivíduo de esquerda "radical" e fundou uma pequeníssima editora nos primeiros meses de 1974. a &etc, dada a publicações "alternativas" e de pendor esquerdista. Dois dos títulos são de antologia: " A cona de Irene" e "O bispo de Beja", cuja imagem se mostra mais abaixo.  Devem ser livros interessantíssimos...mas a sorte desta gente foi sempre a estúpida censura. Até em Julho de 1980 apareceu tal estupidez à solta ( para proibir e apreender o tal Bispo de Beja, um panfleto escabroso abaixo de cão)  e claro deu azo a vituperações à então AD etc e tal, ou seja & etc.

Como cidadão, andou por Angola, antes da guerra "colonial" e fez parte da "resistência" ao regime de Salazar/Caetano, activamente. Foi preso pela "PIDE" por actividades subversivas e depois do 25 de Abril fez eventualmente parte daquele núcleo de utópicos que acreditaram que os tais "radicais" associados a movimentos como os PRP, FP25  e quejandos poderiam alterar o status quo para algo que não se sabe bem o que seria. Há milhões de pessoas por esse mundo fora que sabem, excepto estes "últimos radicais", estes moicanos fora do tempo. A nostalgia dos tempos "revolucionários" em que "tudo era possível" é mais forte que a razão do senso comum.
Os "fascistas", a "extrema-direita", os "reaccionários" são o inimigo desta gente de valores esquerdistas e libertários fossilizados e por isso estimam os seus como objectos de culto, já com tendência para o desaparecimento e a rarificar, perante a ascensão do "neo-liberalismo" e do sistema que sempre combateram em nome de uma utopia desmesurada e irracional por natureza.
Geralmente gostam de viver bem, confortáveis, embora este fosse excepção porque era mais frugal. Vivia em Lisboa, no centro histórico e tinha ali tudo à mão. Por exemplo, boa comida. Tudo o que nunca teriam se o regime que defendiam fosse realmente a regra de lei no nosso país...
Este equívoco gigantesco e de proporções trágicas tem contribuído para o nosso atraso endémico nas últimas quatro décadas, mas continuam a porfiar em escavar mais fundo a utopia fossilizada.
À medida que estes indivíduos forem desaparecendo, irão surgir mais obituários como estes, todos iguais e todos diferentes.
Só me espanta aquela crónica de JMT, sem o condimento contextual de quem foi este falecido...mas enfim.

É por isso que o falecido é estimado, pelo Público e demais jornais de Lisboa, do modo que se pode ler. Por outro lado, há uma loja em Lisboa, na Calçada do Combro - Letra Livre- que lhe fez uma pequena homenagem em forma de livro aqui há uns tempos. O livro é uma pequena preciosidade gráfica assinada por Paulo da Costa Domingos. A meu ver e sem qualquer ironia do melhor que se pode fazer por esse mundo fora, incluindo a Itália.

Algumas páginas desse livro.








40 comentários:

  1. Mas o grafismo é da autoria dele?

    ResponderEliminar
  2. A &Etc teve grafismo excelente com colaboração de muitos artistas.

    tivemos bons designers gráficos.

    ResponderEliminar
  3. "Só me espanta aquela crónica de JMT, sem o condimento contextual de quem foi este falecido...mas enfim."

    O João Miguel TAVARES às tantas ainda é familiar deste Vitor Silva TAVARES

    ResponderEliminar
  4. Foi lançado por ele. Toda esta geração nasceu no Bairro Alto.

    ResponderEliminar
  5. não sei que era o falecido antifascista
    só agora tomei conhecimento da personagem e da sua editora

    o prec foi demasiado duro para mim
    não perdi tempo com figuras sem nível

    ainda fica demasiado lixo humano

    tenho pena de dizer o que sinto

    há milhões que não deviam ter nascido

    ResponderEliminar
  6. O Bairro Alto é o berço da esquerda jornalóide nacional.

    ResponderEliminar
  7. Quem lá vai agora depara com o espectáculo do legado que nos deixaram: restaurantes e bares.

    ResponderEliminar
  8. E a maior parte deles de má qualidade.

    ResponderEliminar
  9. Também nasceu no marcellismo

    AHAHHAHAHA

    Esta agora foi para chatear. Mas é verdade que tudo isto nasceu na censura

    ":O)))))))

    Se foi dela, não sei. Mas lá que não houve um único teórico do marxismo-leninismo que não tenha sido traduzido e publicado, é a pura verdade.

    ResponderEliminar
  10. O grafismo do tal livro da Letra Livre é da autoria do tal Domingos. É um pequeno génio, quanto a mim.

    ResponderEliminar
  11. A Censura potenciou a força propagandística da maior destas porcarias. A &etc era marginal e lembro-me de folhear as edições à medida que saíam, logo em 1974. Nunca comprei nenhum porque nenhum nunca me interessou particularmente.

    Lembro-me de ter ficado chocado com a imagem de capa do O Bispo de Beja, mas não me lembrava já da Censura do censor da AD, talvez aquela abencerragem que proibiu o Saramago e lhe deu a visibilidade imerecida.O Lara das capas das irmandades cripto-maçónicas.

    ResponderEliminar
  12. A par da &etc havia as Edições Afrodite, doutro marginal dentro das margens, Fernando Ribeiro de Mello que tem uma Antologia do Humor português que se vende no alfarrabista do Chiado ( antiga Sá da Costa) por mais de cem euros.

    Que fique com ele...

    ResponderEliminar
  13. ainda comprei um livro da afrodite

    ou a Peregrinação ou a história trágico

    no Bairro Alto deixei de frequentar a rua do Grémio Lusitano, 25

    depois da enxurrada de marginais

    ResponderEliminar
  14. há dias o meu navegador foi bloqueado pela polícia
    ao procurar fotos de quadros da Virgem Maria

    escrevi Jungfrau Maria e consegui

    há sempre um arzinho a Zimbabué

    ResponderEliminar
  15. consta que o maçanico super-juiz foi militante do ps e andou em campanha com o ex-seminarista reis que depois foi ministro e grão-mestre do gol

    quando se fala da esquerda lembro-me sempre de rodrigo da fonseca, a raposa, que vivia na Travessa dos Ladrões (actual rua da Estrela)

    atribuem-lhe a frase:
    'nascer entre brutos, viver entre brutos,
    morrer entre brutos'

    ResponderEliminar
  16. Sobre o tal maçanico parece que tal ocorrência é tão remota que já nem conta para qualquer totobola. Coisas de juventude, provavelmente. António Reis é do PS, mação de Mação e por isso terá tentado outras coisas.

    Mas a tentação terá mesmo ficado por aí e nadíssima mais. É o meu parecer, s.m.o.

    ResponderEliminar
  17. Apreciei o &tc.
    E a afrodite de fernando ribeiro de mello.

    Tenho mais edições desta editora do que da primeira.

    ResponderEliminar
  18. Eu também aprecio essas edições, mas não faço do seu editor o "último dos resistentes" nem aprecio por aí além a ideologia que transpira nas entrevistas que deu.
    Não aprecio que tenha sido refractário ou desertor e tenha, ainda em Angola e quando a guerra terrorista começou, contra nós portugueses, o mesmo se tenha posto do lado do terrorismo.

    Não aprecio que tivesse uma trancheira ideológica que é comum a muitos utópicos porque se revela um logro e uma tragédia para os povos que seguiram essa doutrina e prática.

    Também não aprecio que se censure uma pessoa destas e se proíba a mesma de escrever, dizer ou publicar asneiras, ou, pior, textos subversivos a um regime que deveria subsistir pela sua integridade moral, à imagem do chefe que foi Salazar.

    ResponderEliminar
  19. Trincheira em vez de trancheira, mas poderia ser de "tranche"...

    ResponderEliminar
  20. Basta ler as ossanas que lhe escreveram, incluindo a Alexandra Lucas Coelho e sempre por essa mitificação do anti-fascismo e dos livros censurados.

    ResponderEliminar
  21. Resistente a quê?

    Deviam era explicar agora a que título até é censurado um jornalista da esquerda republicana e laica, apenas por estar a fazer crónicas objectivas na Hungria.

    ResponderEliminar
  22. http://www.noticiasaominuto.com/pais/456760/tribunal-da-relacao-da-razao-a-defesa-de-socrates?utm_source=emv&utm_medium=email&utm_campaign=afternoon

    ResponderEliminar
  23. José, não cabe recurso desta decisão do TRL (lido no link postado pelo Karocha)?

    "A mesma fonte adiantou que esta decisão dos juízes desembargadores é definitiva e não admite recurso para o Supremo Tribunal de Justiça."

    O MP não pode mesmo recorrer? Porquê?

    ResponderEliminar
  24. Não pode recorrer e talvez nem interesse. Vamos agora saber, a pouco tempo de eleições o que foi a verdadeira cornucópia do detido no 33.

    Acabou o segredo de justiça interno e por isso o externo vale zero. O melhor seria mesmo o MºPº escancarar o processo na parte que toca ao detido.

    ResponderEliminar
  25. Por outro lado esta decisão do desembargador Rangel é suspeita. Não porque o devesse ser mas porque o próprio assim o quis ao não pedir escusa.

    ResponderEliminar
  26. Sim, eu sei que não pediu escusa, entre outras coisas porque acompanho por aqui.

    Mas e isto?

    "A fonte referiu que, no âmbito do mesmo recurso, o TRL analisou ainda outras duas questões - a duração dos prazos de inquérito e a especial complexidade do processo - tendo julgado as mesmas improcedentes, considerando que a segunda questão ficou resolvida num acórdão anterior da Relação."

    http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4796644&page=2

    A especial complexidade do processo não é importante para os prazos da acusação? Se esta ainda não estiver concluída, pode fazer falta mais prazo. É uma forma de atrapalhar tudo...




    ResponderEliminar
  27. "A especial complexidade do processo não é importante para os prazos da acusação? Se esta ainda não estiver concluída, pode fazer falta mais prazo. É uma forma de atrapalhar tudo..."

    É mas isso ficou resolvido naquele acórdão em que o desembargador José Reis votou vencido, coitado...porque tinha dado tantas esperanças ao recluso que este até recusou a ida para casa com a anilha.

    Desta vez, não recusaria...

    ResponderEliminar
  28. Afinal, no Público lê-se isto:

    "Apesar de ter dado razão à defesa de Sócrates neste aspecto, os juízes recusaram que o Ministério Público tenha excedido o prazo da investigação, o que, na visão da defesa, deveria ter dado origem à libertação imediata do ex-primeiro-ministro, que se encontra desde o início de Setembro em prisão domiciliária. A forma como foi decretada a especial complexidade do processo, que implica um alargamento de vários prazos, nomeadamente do período máximo da prisão preventiva - ou da obrigação de permanência na habitação, que é para este efeito equiparável - era contestada pela defesa, mas os argumentos não convenceram os dois juízes da Relação, que consideraram improcedente o recurso nesta parte."

    http://www.publico.pt/sociedade/noticia/relacao-de-lisboa-da-acesso-total-ao-processo-a-defesa-de-socrates-1708892

    ResponderEliminar
  29. Isto faz lembrar cenas do caso Casa Pia. Arranjam-se uns juízes amigos e pronto . . .

    ResponderEliminar
  30. Neste caso pode estar enganado. As coisas mudaram.

    ResponderEliminar
  31. No Público:

    http://www.publico.pt/sociedade/noticia/juizes-arrasam-carlos-alexandre-e-rosario-teixeira-no-processo-de-socrates-1708982

    Preocupante...

    ResponderEliminar
  32. http://www.sol.pt/noticia/413365/Socrates-Defesa-vai-pedir-na-sexta-feira-libertacao-imediata

    ResponderEliminar
  33. Pasme-se!

    "Supremo recusa queixa de bastonária contra Governo"

    http://www.sol.pt/noticia/413379


    Atentado contra o Estado de Direito, disse ela... a criatura tem, de facto, agenda própria.

    ResponderEliminar
  34. Pode pedir a libertação sempre que quiser. Porém, só na altura do acórdão transitar em julgado será eventualmente atendido e mesmo assim, não é como exige.
    Até lá, o detido continua a calçar 33.

    ResponderEliminar
  35. A Bastonária é, juridicamente, uma desequilibrada.

    ResponderEliminar
  36. E faz do cargo que ocupa um palco de propaganda de luta política contra o governo, sem qualquer pingo de vergonha.

    ResponderEliminar
  37. Deduzo que o 'joseph' papou o Bispo de Beja.
    Mas não a Cona da Irene.
    E ficou ressabiado...
    Que pena!

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.