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quarta-feira, setembro 21, 2016

O mea culpa do Correio da Manhã

O Correio da Manhã enganou-se numa pretensa revelação explosiva: escreveu na passada sexta-feira, na primeira página que um administrador do grupo Lena tinha dito no processo Marquês que a empresa subornara José Sócrates.

Os jornalistas Eduardo Dâmaso e Tânia Laranjo leram mal os despachos dos procuradores no processo e tomaram a nuvem por juno, afiançando que o tal administrador tinha confessado aquilo que afinal resulta apenas da prova indirecta recolhida. Mas resulta, porque afinal a questão principal é mesmo essa: o dinheiro que passou pelo arguido Carlos Santos Silva, via Grupo Lena será efectivamente de José Sócrates ou assim deve ser tido como tal. Foi isso que indiciariamente se disse já no processe e é isso que constitui o núcleo fundamental da equação que o levará eventualmente a julgamento.

Mas não é por isso que se deve afirmar o que o Correio da Manhã afirmou porque factualmente é um erro.

O erro é relativamente grave porque dá azo que o tal administrador e o grupo Lena se vitimizem mais uma vez, aproveitando o embalo da inocência presumida e continuar a mistificar a verdade iniludível. Ana Gomes, do PS, chama hoje "efabulações" o que José Sócrates anda a fazer relativamente ao assunto dos dinheiros. Está tudo dito.

O problema do jornal é a necessidade aditiva de mostrar primeiras páginas apelativas. Para isso esgotam adjectivos corriqueiros e colocam em risco a sobriedade de notícias que deveriam ser melhor ponderadas, como essa e mesmo a de hoje.
O título da primeira página é outra habilidade que denota que o seu director não aprendeu nada com o caso e continua recalcitrante nestas palermices que não sei a quem se destinam. A mentecaptos? O jornal acha que o seu público é apenas de mentecaptos e voyeurs?

É pena.  Não era preciso tanto, porque o jornal cumpre um papel que nenhum outro actualmente o faz na sociedade portuguesa: ocupar-se de verdades ocultas em certos meios e entidades, como é o caso de José Sócrates.

O jornal, hoje, dá assim o corpo ao manifesto, com assinatura dos artigos por outros que não aqueles dois jornalistas:




Assim, segundo se lê, a promessa da primeira página - CM revela interrogatório polémico- é apenas cumprida em parte e não é revelado todo o interrogatório mas apenas partes do mesmo, principalmente a descrição dos factos ao arguido, em circunstâncias que nem estão esclarecidas devidamente.

Mais uma vez, perderam uma oportunidade de reganharem a confiança de leitores que não se guiam apenas pelo sensacionalismo bacoco de certas cachas.

Lamentável, lamentável. Tanto mais que o jornal é dos que ainda se podem ler sobre estes assuntos.

21 comentários:

  1. Este jornal não vale o papel em que é impresso. A minha tese sobre o facto de "o jornal cumprir um papel que nenhum outro actualmente o faz na sociedade portuguesa" é que isso é um retrato acabado do país.
    "O jornal acha que o seu público é apenas de mentecaptos e voyeurs?" A resposta a esta pergunta parece-me óbvia.
    Ana Gomes, uma desbocada sem emenda, subiu bastante na minha consideração se faz parte de um PS muito silencioso, mas crítico do grande trafulha. -- JRF

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  2. Devia ler o jornal para ponderar melhor.

    As notícias sobre os acontecimento do dia a dia são jornalisticamente apresentadas sem grande elaboração.

    Neste aspecto o melhor jornal português é o Jornal de Notícias. Dá gosto ler o que escrevem sobre os fait-divers regionais ou os acontecimentos de faca e alguidar, muito melhor que o CM.

    As notícias para encher o olho de quem passa e vê a primeira página são também planas e sem oscilações estilísticas ou opinativas, a não ser no destaque gráfico. Lêem-se de um trago ou no tempo de tomar um café.

    É só essa a crítica que poderia fazer ao jornal.

    Quanto ao mais, não me parece justo que se diga que o jornal não presta jornalisticamente.

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  3. Não presta jornalisticamente traduz-se por "é jornalismo" e "o jornalismo tem coisas pouco profundas e casos do dia chocantes"

    ";O)

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  4. alguém dizia
    'é disto que o meu povo gosta'

    o grau de ileteracia da maior parta dos nativos
    não dá para mais

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  5. Kultura (Q riqueza)

    http://observador.pt/2016/09/09/navio-de-vasco-da-gama-pode-ter-sido-encontrado-em-oma/

    LOL

    "O objetivo: iniciar uma guerra contra os navios de Meca na costa de Malabar e à entrada do rio Vermelho para conseguir o controlo forçado dos caminhos das especiarias."

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  6. António Galamba,
    maçon do GOL no Sapo

    Há uma maioria que ainda quer um PS no governo assim, capturado, distorcido e a reboque dos partidos políticos que, na Assembleia da República, apresentam diariamente a fatura de uma solução governativa à medida de ambições pessoais

    O país não pode ser um banco de ensaios de experiências governativas, sujeito aos espasmos de quem se enganou na porta partidária onde entrou ou aos exorcismos ideológicos de quem nunca teve responsabilidades na gestão da vida concreta das pessoas....

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  7. Não me parece… o José também andou aqui um ano a dar segundas oportunidades ao Público e aquilo é outro lixo, se bem que de diferente natureza. Agora vai-lhe acontecer o mesmo com o CM, por causa do trafulha… Mas mantenho a minha tese, aquilo é execrável de alto a baixo e um retratinho acabado do país (ser o único a pegar em certos assuntos). -- JRF

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  8. Execrável, desse ponto de vista era o extinto 24H do inacreditável jornalista Pedro Tadeu que aprendeu no o diário, o tal da "verdade a que temos direito" do PCP.

    O CM é um jornal popular como eram dantes os diários. Mas mesmo nessa vertente fica atrás do JN que foi sempre o melhor jornal, apesar do Camões que lá está.

    O aparecimento do Público nos anos noventa é um reflexo do que se passava lá fora, em Espanha ( El País e depois El Mundo) e em França ( Libération e Le Monde) e ainda Itália, principalmente, com o La Repubblica que para mim é o jornal perfeito. E é de esquerda, como o Público sempre foi.

    Este tipo de jornais só tem sucesso se o público para os ler for surpreendido com a qualidade intrínseca do produto.

    Na França a imprensa é sempre surpreendente, na qualidade.

    Eu não preciso de jornais portugueses como o Público porque tenho franceses, italianos e até espanhóis, para ficarmos no sul da Europa.

    O Público está mesmo uma grande porcaria. Devia acabar. Espero para ver como vai ser com o David Diniz, mas duvido muito que melhores porque não reconheço ao indivíduo categoria para tal.

    Mas vou esperar para ver.

    Um director para o Público? Eu. Ahahahahaha!

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  9. Nãaa...estou a brincar, como é óbvio.

    Uma coisa saberia fazer: escolher colaboradores diferentes e com interesse.

    Mas lendo o La Repubblica dou conta de que a tarefa de dirigir um jornal com aquela qualidade não é para qualquer um. Em Portugal não estou a ver pessoas com a categoria exigível.

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  10. todas as manhãs leio na Net as gordas da 1ª pg dos jornais nacionais e o noticiário dos da Europa ocidental e Alemanha

    aproveito 10%

    os motivos de interesse procura na Net

    reservo 1h

    neste momento estou a escrever um pequeno ensaio sobre antropofagia a nível europeu
    no seguimento dos estudos sobre alimentação

    pelos meus 20 anos li um livro do retive esta imagem
    '2 observadores à mesma janela interessam-se por assuntos diferentes'

    é difícil encontrar gente séria em todo o lado

    é dificil o diálogo entre 'Eu e o outro'


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  11. "Um director para o Público? Eu. Ahahahahaha!"

    Pois fique o José sabendo que estaria òptimamente bem como Director desse matutino ou, se fosse o caso, de um outro que viesse a aparecer sob a sua direcção. E digo mais, ainda que pouca importância tenha a minha palavra, eu, que não compro jornais há dezenas d'anos (com a excepção d'O Diabo) seria a primeira a voltar a fazê-lo diàriamente e com todo o gosto. Porquê? Porque o José sabe o que escreve, como escreve e é imparcial nas opiniões e críticas que tece à esquerda e à direita do espectro político. Além da erudição de que dá bastas provas, o que para um Director de um Jornal ou, para ser mais precisa, para qualquer jornalista que se preze, é condição sine qua non para exercer a profissão com dignidade e credibilidade q.b. E mais, é meio caminho andado para o êxito de qualquer jornal e já agora de qualquer revista especìficamente direccionada para a temática político-económica e literária e com umas pinceladas no social se for caso disso (para vender mais alguns exemplares:). Afinal de contas os antigos Diário Popular, Diário de Notícias e Século abrangiam todas estas facetas e eram óptimos Jornais e vendiam aos 180 mil por dia! (quantos exemplares vendem os poucos e sofríveis de hoje em dia?, pois...), isto no tempo em que os matutinos e os vespertinos eram dirigidos por extraordinários Jornalistas e tinham colaboradores de prestígio e os jornais tinham classe.

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  12. Ando a ver uma série dinamarquesa chamada Borgen, versa a política e também a relação com a imprensa. Acho que ia gostar, ainda não viu.
    E o top dos tops, The Wire, julgo que 5a época, sobre os jornais (as cinco épocas são brutalmente boas). -- JRF

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  13. Borgen? Calhou em ver alguns episódios, mas não gostei por aí alé,. Demasiado trepidante na montagem e com argumento que não me cativou por aí além.

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  14. Maria:

    Obrigado, mas um jornal que pudesse dirigir seria um fracasso editorial. O público que lê jornais em Portugal não aprecia o que eu aprecio em várias matérias.

    Ainda há pouco pensei nisso ao ler um artigo da revista americana Stereophile, sobre a hi-fi no Japão.

    Há por lá duas cadeias de venda a retalho de....auscultadores. Gigantes, para a nossa dimensão. Só auscultadores de som e das marcas mais conceituadas, até às outras mais de supermercado.

    Há uma exposição anual sobre isso, em Tóquio. Há anúncios nos metros e transportes de "commuting".

    Há por lá uma cadeia de venda de discos usados - Disk Union- que tem para apresentar a potenciais compradores 15 versões diferentes do álbum Branco dos Beatles.

    E isto é apenas um pequeno aspecto.

    Por cá tudo isto é ficção científica.

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  15. Não é má, vejo ao fim da noite… cativa-me ser dinamarquesa e saber pouco sobre o modo de vida nesses países do norte.
    A questão dos auscultadores, já pensei nisso… coisas dessas dá no Japão porque Tóquio tem o dobro sã população de cá. Um nicho lá ou nos EUA é um mercado. Cá o único nicho é o futebol… o seu jornal teria de abrir e fechar com futebol :) -- JRF

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  16. Não é apenas por ter o dobro da população de cá. Nos EUA não há fenómenos semelhantes, apesar de terem mais do dobro da população do Japão

    É por outro motivo: cultural, essencialmente. Classe.

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  17. Então não há? Claro que há. Pode não chegar ao extremo de terem um posto de alta tensão no quintal com o seu próprio transformador, para "não contaminar a música", mas nos EUA tem imensos nichos para tudo. No hifi, a quantidade de marcas americanas que o comum dos mortais nunca ouviu falar é extrema. Pode não chegar a existir auscultadores, mas vinil dificilmente não arranja nos EUA.
    Relativamente a cá eu entendo o que quer dizer, que proporcionalmente não existe nada igual nem parecido e a classe (para os EUA refutei) é capaz de ser uma boa razão. Mas talvez os nichos precisem de massa crítica que num país pequeno nunca seja atingida e hoje em bom rigor, todas as "especialidades" compro na internet. -- JRF

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  18. Pois...a gente habitua-se a mandar vir lá de fora.

    Nos anos sessenta e setenta, o material cultural de cariz popular, como revistas, discos ou livros especializados vinha tudo lá de fora, da França, da Inglaterra e dos EUA. E só não viria da Alemanha por causa da língua.

    Hoje é quase a mesma coisa, embora tenha havido evolução.

    Em meados dos anos setenta apareceram os discos da Banda do Casaco e do Júlio Pereira e sua banda de músicos amestrados.

    Depois apareceu Rui Veloso, a grande pedrada no charco.

    Porém, na imprensa crítica havia melhor nos anos sessenta e início dos setenta: Mundo da Canção. O Música & Som que apareceu em 1977 não era nada, comparado com o que se fazia lá fora, naqueles países, pelo que continuei a consumir de lá.

    Em Espanha era igual, aliás.


    Sobre hi-fi o boom ocorreu no tempo do contrabando dos anos oitenta. Todas as marcas japonesas havia por cá, na Almirante Reis e na Rua Escura no Porto. Era uma delícia ir lá ao Sábado.

    Depois normalizou com as importações legais, mas não se evoluiu muito desde que apareceu a revista Audio do Jorge Gonçalves e José Vítor Henriques, dois especialistas capazes de ombrear com qualquer Michael Fremer.

    Mas...para quem? Quem é que os lê?

    Por isso continuo a ler o que se publica lá fora.

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  19. Acho o hifi em excelente forma actualmente… mas como diz um amigo meu o bom som é para sempre. Este mês comprei a What Hifi 40º aniversário para ver com atenção os 40 aparelhos mais significativos dos últimos 40 anos (ou 40 dos mais significativos). O NAD 3020 compra-se no eBay por 120€… não é preciso entrar em loucuras para ter o tal bom som. Quando mudar de casa, em breve, espero investir algum — se os socialistas deixarem… -- JRF

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  20. Hoje comprei a Rock & Folk, francesa, uma revista que comecei a comprar em Outubro de 1974 ( o primeiro número que comprei e custava então 45$00). Gostei tanto que ainda fui comprar o número anterior, de Setembro que estava no expositor da livraria Bertrand da época.

    O papel, as fotos, o grafismo e a escrítica eram excelentes.

    Estava lá um Phillipe Manoeuvre que escrevia como poucos.

    No número deste mês tem um artigo sobre os álbuns dos Rolling Stones, até 1971, e que agora foram reeditados em mono. Comecei a ler umas linhas e tive que comprar a revista só por isso.

    O que escreve e o modo como escreve não tem paralelo em Portugal com nenhum escriba conhecido.

    Por isso, 40 anos fizeram diferença nenhuma, nesse aspecto. Está tudo na mesma, por cá.

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