Os jornalistas portugueses fizeram o seu 4º Congresso em pouco mais de trinta anos. O 1º ocorreu em Janeiro de 1983 e foi um acontecimento então celebrado por ser o primeiro depois do 25 de Abril de 74.
O 2º foi já em 1986 e houve a preocupação em criar um código deontológico para exprimir "em normas consensuais os valores éticos com incidência na profissão."
Só em 1998, mais de dez anos depois se realizou o 3º Congresso, mais aprofundado nos temas debatidos, porque se verificou que "12 anos passados sobre o último Congresso, se registou uma
profunda alteração na paisagem mediática portuguesa. As transformações
ocorreram no jornalismo, mas afectaram também o perfil dos jornalistas
portugueses, como indicia o 2º Inquérito Nacional e prenuncia a sondagem
realizada junto da geração emergente, representada por estagiários e
por estudantes finalistas de Comunicação Social. Aos velhos e graves
problemas e bloqueios de carácter sócio-laboral, juntam-se agora novas
questões no domínio das práticas jornalísticas, da ética e da
deontologia."
18 anos depois, as transformações continuam e os problemas agora corporativizaram-se um pouco mais com a "precariedade" no emprego e os baixos salários ( tudo culpa do Passos, certamente).
Devo dizer que tenho algum respeito e consideração pela maioria dos jornalistas que escrevem notícias, mas tenho muitas reservas em relação a quem manda escrever ou controla o que se escreve, exercendo o papel de novo censor que nunca desapareceu do jornalismo.
Tenho ainda menos respeito pelas escolas de jornalismo que aliás não conheço, mas conhecendo os frutos saberei dizer como será a árvore.
A propósito disso vão já os primeiros recortes:
Os primeiros respeitam a uma entrevista com um jornalista que não frequentou aqueles cursos que empregam antigos jornalistas como professores que ensinam a rotineira forma continuada do " que vem de trás toca-se para a frente".
Hugo Rocha, do Comércio do Porto, "decano dos sindicalistas" é claro no que diz: o jornalismo não se aprende. Muito menos se os professores forem de estirpe tão cultivada como as judites, campos e ferreiras de todos os matizes. Aprende-se a ler e a escrever nas escolas comuns. Aprende-se História, Geografia e outras "ciências sociais". Estuda-se e lê-se muito e depois pratica-se a escrita de notícias cujas normas se aprendem na tarimba das redacções que já não existem, imitando estilos ou criando o seu próprio segundo o talento próprio ( lembrei-me agora mesmo de Rui Miguel Tovar, do jornalismo desportivo e que gosto de ler, precisamente por isso).
Também gostava de alguns jornalistas da velha guarda esquerdista como Adelino Gomes, pelo savoir-faire radiofónico e pela voz timbrada de bom locutor. Quanto à essência do que lia ou relatava era uma desgraça completa, eivada de preconceitos ideológicos aprendidos no esquerdismo militante.
É esse um dos problemas básicos e essenciais do jornalismo português: qualquer repórter de arjeta se julga predestinado a dar pareceres ideológicos sobre o que relata e os destinatários que aguentem o cabotinismo ou desliguem a fonte.
E é isso que está a acontecer ao jornalismo português: cada vez mais há quem desligue a tomada de atenção porque a manipulação, a desinformação e a pura propaganda tomam frequentemente o lugar cimeiro na deontologia pessoal do jornalista de causas.
Isso mesmo foi de alguma forma mostrado pelo jornalista que em Portugal rema contra a maré e dirige o Correio da Manhã, Octávio Ribeiro.
Não parece ser um indivíduo muito culto, mas é seguramente um indivíduo atento ao que o público pretende, tentando assimilar o que o público precisa, de acordo com a ideia peregrina de outro jornalista reciclado na crónica, Henrique Monteiro, tal como declarou no último Expresso da meia-noite.
Segundo o editorial de Octávio Ribeiro no CM de hoje:
O CM é o jornal que incomoda os zelotes do pós-jornalismo como José Pacheco Pereira e é disso que se trata: do jornalismo que relata sangue suor e lágrimas que muitos preferem nem ver, substituindo-o pelos artigos artsy-artsy, para uma meia dúzia de leitores e de opinião concentrada na ideologia do politicamente correcto.
Depois há outra categoria que classifico como híbridos. Aprenderam jornalismo em vãos de escada no intervalo de outros cursos mais expeditos como Economia ou Gestão e estavam no sítio certo à hora certa para os fretes certos a certos figurões.
Este tipo de jornalismo redunda nisto:
Mas tal não os incomoda demasiado porque a finalidade de tal jornalismo não é a sua sustentação económica mas apenas a dos seus interesses globais. Para estes os jornais ou media em geral são um custo conveniente associado a uma actividade que pouco ou nada tem a ver com jornalismo.
Enfim, o jornalismo português é uma vergonha nacional muito por causa disto que o articulista João Pereira Coutinho explicava ontem no Correio da Manhã:
dispenso esta escumalha com raras excepções
ResponderEliminarpor mim já tinham desaparecido
quando sairá a lista dos avençados do salgado e não só ?
Em Portugal não se faz jornalismo. Faz-se jornalixo:
ResponderEliminarhttps://historiamaximus.blogspot.pt/2016/05/o-diario-de-noticias-precisa-de-sair-do.html
«Redações» e «diretores», assim mesmo redigidos nas gordas, espelham também a escala da pobreza. Nem a aparente excepção do Coutinho se salva, porquanto se afunda (literal e em toda a linha) na bizarra sintaxe do «afundar» reflexo sem pronome.
ResponderEliminarJornalismo?!...
Não entendi onde está o erro em se escrever "afunda".
ResponderEliminarDiz o Coutinho que lê os jornais todos com esperança (ok, lorpa). De quê? Ainda? É para rir o Coutinho — mas o José acaba por sofrer da mesma forma. O José espera sempre aquele mirífico número do Público que nunca há meio de sair. Se quiser saber das últimas do frei Louçã, ou da Catarina, ou quem sabe, quais as últimas obras do vandalismo nacional por esse país fora, o Público é um grande jornal.
ResponderEliminarO resto outro lixo. Incluindo o Correio da Manhã. Aliás, sou contra a censura por considerar em última análise ineficaz, mas para o CM abria uma excepção. Podiam publicar tudo, menos notícias de sexo com animais. Que corja indecente.
Dito isto, há outros fenómenos a afundar os jornais, as notícias de faca e alguidar e sexo com animais, podem ser a causa ou a consequência, provavelmente um pouco de cada. Há uma falta de literacia cada vez mais aflitiva, que não ajuda nada nem jornais, nem qualquer forma escrita maior que um tweet do canalha Trump.
ResponderEliminarNa minha opinião o futuro do jornalismo passa por mecenato com interesses de alguma forma declarados ou pelo menos conhecidos. Esperar que os jornais sejam sustentáveis, que tenham investigação e um módico de decência à conta de vendas e alguma publicidade será ingénuo. Toda a imprensa portuguesa perdeu a independência no primeiro milhão e nunca mais a irá recuperar.
Sim, seria mais correcto dizer-se reflexivamente que se afunda. Mas é coisa mínima e parece que ele já é meio brasuca.
ResponderEliminarO José gosta de jornalismo.
ResponderEliminarPonto.
Gostaria de ler bom jornalismo em Portugal e já explicou onde ele existe de qualidade lá fora.
Um bom exemplo é The Intercept criado por um dos fundadores do eBay. Mas nos EUA há bastante esta noção de "devolver à sociedade". -- JRF
ResponderEliminarPor isso é que digo que sofre :) (sem malícia) -- JRF
ResponderEliminarEHEHEHEH
ResponderEliminarSofre para poder fazer jornalismo do jornalismo que não é feito
";O)
Sorte a nossa por esse gosto.
Meus caros: sempre sofri, com excepções muito contadas que tenho aqui contado.
ResponderEliminarEstas coisas são do meu agrado e até gostaria de desenvolver um postal sobre isso, embora tal fosse de interesse muito restrito e principalmente para meu recreio: rememorar ao longo destes últimos 45 anos ( desde 1970, mais ou menos) as ocasiões, muito raras em que tive o prazer de ler um jornal ou revista que me agradasse inteiramente, pela forma e pelo conteúdo.
Houve algumas ocasiões e julgo que me lembro de todas. Se tiver tempo e pachorra ainda hei-de escrever sobre isso, para memória futura.
Uma dessas ocasiões foi em 1973 com o aparecimento do Cinéfilo. Todo esquerdista, tinha uma paginação e um conteúdo sobre as artes que me agradava inteiramente.
Na informação geral gostava da Observador que era moderno para a época. Essa revista é o retrato perfeito do tempo de Marcello Caetano e tenho-as todas, a colecção completa. Não deve haver muita gente que a tenha...
O Cinéfilo, sim. Lembro-me bem de o comprar desde o primeiro número. Ao contrário do José, perdi tudo isso.
ResponderEliminarLembro-me bem de comprar o primeiro número do Observador em 1971. Era uma revista inovadora e que falava dos problemas tal como se viviam então na sociedade portuguesa que não estava na clandestinidade comunista.
ResponderEliminarComprei a seguir outros números mas a colecção completa comprei-a há uns anos num alfarrabista de Coimbra. É um tesouro.
Incrível. Era um miúdo.
ResponderEliminarO interesse restrito acaba por ser de tudo o que publica de uma maneira ou de outra, mas nesse aspecto sou egoísta, desde que me interesse a mim (e à Zazie), I'm game :) .
ResponderEliminarEu gosto é do "todo esquerdista"… realmente o Estado Novo era de uma dureza sem igual, um fassismo nunca visto! Eu estou convencido que nem existia papel impresso antes do 25A… até o Pedro Mexia praticamente me convenceu disso.
Tenho uma pergunta: Também tem uma colecção de fanzines e de publicações de autor e/ou que não entrassem no circuito comercial?
"Colecção de fanzines"? Como isso? De banda desenhada?
ResponderEliminarNão, disso não tenho.
O Cinéfilo era todo esquerdista porque era dirigido pelo Fernando Lopes que foi casado com aquela gaga que é toda antifassista, e tinha ligar cativo na tv.
O António Pedro Vasconcelos também era um dos redactores e é outro antifassista.
O José Nuno Martins começou aí e outros.
No 25 de Abril a revista fez uma festa de arromba...mas acabou pouco depois, porque a "revolução come os seus filhos"...ahahaha.
Em 1971 era um puto com 14 anos mas gostava dessas novidades. Comecei a coleccionar as Seleções do Reader´s Digest, edição brasileira, em finais de 1969 e que era a minha preferida por trazer muitos assuntos. A Flama e o Século Ilustrado também, de vez em quando.
ResponderEliminarAs Selecções tinham um almanaque anual e comprei um em finais de 1970, volumoso, com informações preciosas que lia e relia; com uma apresentação gráfica cuidada e papel quase "bíblia". Tenho esse volume um pouco estragado pelo tempo mas conheço um alfarrabista no Porto que tem um exemplar impecável e que um dia se ainda o tiver lá, compro.
Também adorava o almanaque da Bertrand e o do Século que comecei a comprar em finais de 1969. Tenho o de 1968 que traz uma história desenvolvida do cinema, o que então foi uma novidade para mim. Trazia uma lista dos papas que exerceram até então e outras curiosidades nas suas centenas e centenas de páginas.
Aliás os livros volumosos, da Inova, do Porto, atraíam-me a atenção pelo seu aspecto gráfico e que era apresentado na livraria Leitura, juntamente com livros franceses, da Flammarion, da Plon ou da Gallimard. Olhava para aquelas montras com curiosidade de conhecer aquilo tudo.
E a brasileira Realidade, parecida com a Life americana.
Comprava então regularmente a Vida Mundial que custava 5 escudos.
Ainda tenho isso tudo.
Acabei por comprar o livro de Soljenitsine L´archipel du goulag, em francês e dois volumes ( cor verde e outro vermelha) porque os vi então na montra dessas livrarias ( em Coimbra, na Ferreira Borges, acho)e queria então comprar mas não tinha dinheiro suficiente para tal.
ResponderEliminarTenho-os agora comprados num alfarrabista por 10 euros ou coisa que o valha e é quase como se fossem comprados nessa altura.
No início de 1971 o Almanaque das Seleções do Reader´s Digest era o meu livro preferido e mais consultado com as suas mais de mil páginas e formato graficamente perfeito. Com um cheiro próprio que me agradava e ainda me lembra.
ResponderEliminarManuseava aquele livro como se fosse um brinquedo com um tesouro lá dentro.
Custou-me 99 escudos e foi o meu padrinho que me deu dinheiro para o comprar, no Natal desse ano de 1970.
Eu acho isso espantoso. Ainda que os 14 anos da altura nada tivessem a ver com os de hoje.
ResponderEliminarSeria engraçado perguntar a um miúdo hoje o que colecciona para ler.
O almanaque do Século relativo ao ano de 1968 mas que comprei no final ano seguinte, vi-o na montra da livraria Cruz em Braga e foi outro manancial de informação que não havia noutro lado.
ResponderEliminarO máximo dos máximos nessa altura, para mim, era a biblioteca do sítio onde estudava e que tinha as enciclopédias Verbo, ainda em formação e a Luso-Brasileira. Só de olhara a fila dos volumes alinhados e já me apetecia ficar ali horas a consultar.
Havia os livros de Daniel Rops sobre a religião e que eram volumes que me interessavam também.
Foi então que apareceu a Colecção de Livros RTP que não comprei. Mas logo a seguir surgiu a colecção de livros de bolso da Europa-América, muito melhor apresentados e interessantes. Comprei logo os primeiros, até ao 6º volume ou assim. O primeiro foi o Esteiros do comunista Soeiro Pereira Gomes ( no fassismo era assim...) e li-o integralmente, tal como O Músico Cego do Vladimir Korolenko e A Missão do Ferreira de Castro. Tudo progressistas que o regime fassista tolerava.
E a história de guerra do Erich Maria Remarque.
Portanto a minha frustração com os jornais de hoje é não terem esse manancial cultural e de informação porque os jornalistas nem sonham com isto que escrevi.
ResponderEliminarPara isso só um Assis Pacheco ( um esquerdista) ou um António Lopes Ribeiro ( um salazarista) ou então um Vítor Cunha Rego já desaparecido e que também era coleccionador destas coisas.
ResponderEliminarPerdão, um Leonardo Ferraz da Costa.
ResponderEliminarJosé convenhamos que depois do 25A os antifassistas multiplicaram-se como cogumelos. Não deve haver em Portugal ninguém com um mínimo de notoriedade, ou sem notoriedade nenhuma mas que escreva num jornal, que não tenha sido antifassista. Os que ainda não tinham nascido são antifassistas por pensamentos, actos e omissões.
ResponderEliminarFanzines de bd sim, mas de música e de qualquer assunto — coisas auto-editadas, fotocópias e assim. Tinha curiosidade em saber. Hoje paradoxalmente, a tecnologia trouxe a morte a alguns, mas (outro tipo de tecnologia) permitiu um ressurgimento desse tipo de edições por todo o lado. Tenho algumas coisas que acho ou curiosas ou extremamente boas. Outras nem por isso.
Paradoxalmente, não sonham, mas está tudo disponível de uma forma que nós não julgávamos possível — a possibilidade de ser culto, de escrever bem, de informar bem, de contextualizar, está ao alcance de qualquer um como nunca antes na história e de alguma forma é desaproveitada.
ResponderEliminarNos últimos cinco anos devo ter visto ou revisto todos os "film noir" que existem, antigamente ou via quando passava na RTP ou nunca mais. Mas estas coisas interessam a muito pouca gente e eu como me interesso, a única coisa que sinto é o tempo a fugir e a nítida sensação que nunca chegará para tudo que me interessa.
(Acima queria dizer morte de algumas editoras e publicações estabelecidas. Mas as pequenas e micro-editoras proliferam.)
joserui:
ResponderEliminaro espantoso é isso mesmo que diz: hoje em dia há uma possibilidade imediata de aceder a coisas culturais que dantes era impensável.
Isso foi o que o progresso tecnológico trouxe de bom.
A internet e a possibilidade de consulta virtual da informação tornada acessível é espantosa e admirável.
O problema, porém, reside naquela pergunta que costumo colocar aqui:
" se não sabe, porque pergunta?" , uma vez que o acesso à informação depende de duas circunstâncias: ou de uma necessidade estrita para tal ou de uma curiosidade que nasça de qualquer modo.
Se não existir necessidade, por falta de interesse ou de curiosidade a informação é um apenas um limbo de possibilidades inexploradas.
E parece-me ser isso o que acontece quando se orienta a formação cultural para padrões estabelecidos pela Esquerda, esquecendo que há outros tanto ou mais interessantes.
A informação disponível segundo os padrões da Esquerda ( e falo da Esquerda em modo muito amplo e compreensivo) é avassaladora e quase exclusiva.
Para se aceder a outra é preciso saber que existe outra e ter a capacidade de ultrapassar a barreira ideológica que se formou. Ter de algum modo acesso a ideias diversas das correntes ou a uma cultura que não é necessariamente cingida aos padrões correntes e divulgados pelos media.
Julgo ser esse o problema essencial da sociedade portuguesa e nesse aspecto Gramsci triunfou aqui: quem venceu a batalha ideológica foi a Esquerda. Só ainda não venceu a guerra porque a Natureza é um adversário mais forte que a simples propaganda.
O outro decesso dizia que a razão principal da sua luta era a Liberdade. A jacobina, claro.
ResponderEliminarA minha também, só que uma Liberdade ainda mais ampla que a do dito.
O comunismo fala em amplas liberdades para significar que as suas propostas libertam todo o povo de todas as amarras.
ResponderEliminarÉ essa a maior patranha do séc. XX e que continua por este.
Venceu por cá porque não há uma cultura de Direita e a Esquerda mais recente aproveitou também as modas do politicamente correcto e das causas fracturantes importadas de fora.
ResponderEliminarE isso é obra dos media mas tem legislação já feita na UE e na ONU.
A escola e as universidades fazem o resto. Mas é um facto que o Gramsci triunfou por cá.
ResponderEliminar«A escola e as universidades fazem o resto. Mas é um facto que o Gramsci triunfou por cá.»
ResponderEliminarE o que é que tu já fizeste contra isso Zazie? Eu ao menos ainda escrevo e denuncio algumas coisas como se pode ver por aqui:
http://historiamaximus.blogspot.pt/2016/07/as-universidades-ocidentais-tem-de-ser.html
É que isto de andar apenas a barafustar nas caixas de comentários não adianta de muito. É preciso fazer alguma coisa, nem que seja apenas escrever num blog. Sempre é melhor do que estar de braços cruzados.