Fui comprar o livro de José Milhazes- As minhas aventuras no país dos sovietes- agora publicado pela Oficina do Livro e que pretende relatar "A União Soviética tal como eu a vivi".
Movia-me a curiosidade em saber a razão pessoal e concreta de alguém da minha geração, de um meio social que julgo conhecer e com experiências de infância parecidas ou mesmo semelhantes às minhas e de milhares de outras pessoas, aderir ao PCP numa altura em que o comunismo surgiu em Portugal, logo depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, como força política viável e inserida na mudança operada.
Nessa altura o PCP tinha muito poucos militantes, embora fiéis e indefectíveis, alguns dos quais foram presos e até deportados nos anos 30 e depois, para os campos de S. Nicolau e Tarrafal, por pertencerem à organização subversiva e que era proibida até então. Eram e são os sumo-sacerdotes da seita, mas os neófitos impressionavam mais pelo fervor e dedicação à causa.
A leitura das primeiras 35 páginas do livro ( que tem 332) dá um panorama de uma infância e adolescência numa pequena cidade do Norte ( Póvoa de Varzim), próxima do sítio onde também vivi e cujas referências avulsas a personagens do quotidiano daquele poderiam muito bem ser as minhas. As brincadeiras, a televisão a preto e branco e os jogos de futebol, a leitura dos livros de "cóbois", a frequência da escola, catequese e pessoas a elas ligadas poderiam ser as minhas, sem tirar nem pôr.
O meio "social" de Milhazes era o piscatório da Póvoa e das Caxinas dos anos sessenta e setenta que não era diferente de outros meios que conheci bem porque vivi no seu seio e experimentei as mesmas coisas e convivi com pessoas iguaizinhas às retratadas. O Norte de Portugal, nessa altura era suficientemente homogéneo para quem viveu esse tempo perceber perfeitamente o que Milhazes escreve. A cultura era a mesma, o meio o mesmo e as pessoas tinham os mesmos hábitos e costumes.
José Milhazes em determinada altura decidiu estudar para padre, missionário, nos Combonianos de Famalicão e Maia, por influência do "Padre Amorim" de quem porventura também ouvi falar, em Braga, no Seminário Menor por onde também andei.
Portanto, qual a razão pela qual José Milhazes escolheu ser comunista numa altura em que o comunismo era ideologia já bem conhecida na Europa e com os seus efeitos perversos também nessa altura bem divulgados lá fora e menos por cá, mas ainda assim, suficientes para quem quisesse mesmo saber?
José Milhazes deve ter conhecido o padre jesuíta Fernando Leite, dinamizador da "Cruzada" e do seu fervor místico ao "Imaculado Coração de Maria" e a Fátima e ainda a sua aversão visceral ao comunismo, certamente inoculada na sua infância depois da primeira República jacobina e maçónica que tinha jurado acabar com a religião em duas gerações.
Milhazes viveu o dia 25 de Abril e os que se lhe seguiram ainda no Seminário. Conta que os primeiros contactos com "membros de círculos católicos antifascistas do Porto contribuíram também para despertar em mim o interesse pela política".
Portanto, uma primeira explicação.
Mas José Milhazes conta que gostava de ler ( e gostava particularmente da História ensinada pelo professor Cunha) e a pergunta que surge é se alguma vez, nessa altura, se interessou em ler algo sobre o comunismo, no sentido de se esclarecer sobre a sua natureza.
Soljenitsine tinha sido publicado em Portugal, em 1974, embora o fulgor revolucionário comunista apagasse a sua chama de denúncia das arbitrariedades e crimes, sem comparação com o que Salazar tinha feito por cá. Não ouviu falar nessa altura disso? Ou ouviu e desvalorizou como sendo propaganda fascista ou da CIA?
E não se interrogou se seria mesmo isso ou coisa diversa? Aparentemente não, porque nem fala nisso e apenas refere os tais "contactos" e as leituras fervorosas dos breviários marxistas-leninistas.
Portanto, José Milhazes terá sido mais uma das vítimas da ideologia e propaganda comunista sem questionar a sua essência. Ora é isto que suscita curiosidade, esta adesão espontânea e consentida ao comunismo do PCP, já sem paralelo na Europa ocidental de então.
José Milhazes abandonou o desejo de ser padre missionário de forma "brusca, súbita" depois de um sonho e de uma aparição de figura sobrenatural que lhe indicou "outro caminho".
Abandonada a vocação religiosa dedicou-se logo à vocação revolucionária, por assim dizer. O tal "outro caminho" e foi logo parar ao PCP porque "a extrema-esquerda nunca me atraiu, pois era um bando de meninos de boas famílias que queriam salvar à força a classe operária e os trabalhadores". Milhazes também pretendia essa salvação forçada, mas por "outro caminho" e para isso aproximou-se de amigos comunistas, também estudantes da mesma turma que o levaram para a UEC. E aí leu os textos fundamentais: Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels; O Estado e a Revolução, de Lenine, etc.
"O principal era convencer as massas populares da nossa verdade- sim, porque a verdadee a história estavam do nosso lado".
Estavam? Para José Milhazes, com menos de 20 anos, sim. E porquê? Não tendo sido verdade revelada, nem proveniente directamente do sonho, como é que lá chegou a esse sentimento de pertença?
Os familiares directos, todos do meio piscatório e da pobreza da época, não foram pelo mesmo caminho, nem sequer com a influência do comunista-novo. Milhazes escreve agora que se regiam pelo "pensamento sábio de que quando a esmola é grande o pobre desconfia"...
Portanto é indubitável: durante o PREC, José Milhazes entregou-se de alma e coração à causa comunista do PCP. Depois do 11 de Março de 1975 "os acontecimentos que se seguiram-derrota da reacção fascista, fuga de António de Spínola,nacionalização da banca e das grandes empresas capitalistas, reforma agrária- tudo isso incutiu em mim a convicção de que tinha encontrado o caminho certo para uma sociedade mais justa".
Ora cá temos a explicação: "uma sociedade mais justa"! E que o convenceu mesmo de que em determinada altura do PREC "defendia cegamente que a insurreição armada era a melhor solução para pôr fim ao impasse em que o País se encontrava".
Onde é que estava então a injustiça da nossa sociedade e que tal determinou essa atitude de um Milhazes mal saído da adolescência? Será essa a chave para encontrar a razão para "o outro caminho". E julgo perceber em duas ou três passagens o motivo real para tal.
O primeiro é a rebeldia demonstrada, a vontade de rebelar-se contra uma ordem estabelecida em nome de uma justiça hipotética e sempre contra os "poderosos" ou "ricos". O episódio da lota da Póvoa de Varzim, com uma greve de protesto contra uma modernização de métodos, quando tinha 12 anos será um prelúdio dessa revolta interior contra o poder de quem tem mais.
Em plena adolescência, saído do Seminário, sentia um "forte complexo de inferioridade, devido à minha origem social". O Comunismo do PCP deu-lhe o antídoto perfeito para tal maleita.
Por último, um indivíduo aparentemente pacífico se bem que dado a rebeldias ( e o abandono do comunismo será outra faceta da mesma personalidade) estava disposto a pegar em armas, coisa que nem sabia, para defender a "revolução armada", única via para o socialismo, em pleno PREC.
O PRP e as FP25 não andam longe deste entendimento prático da vida política...
E tudo porquê? Porque os pais e a família eram pobres e não tinham dinheiro que lhes permitisse uma vida que outros-os "meninos de boas famílias- tinham.
Só isso, parece-me.
Conheci casos idênticos na minha aldeia, logo em 1974, uma semana depois do 25 de Abril. Tal como Milhazes, a política, antes nada lhes dizia. Depois passou a ser o leit-motiv de tudo o que faziam e diziam. Impressionante mesmo. E tal fervor neófito era apanágio apenas dos comunistas ortodoxos, digamos assim. Impressionante e com uma explicação plausível: a última palavra dos Lusíadas...
Milhazes não o confessa, naturalmente, mas deve ser isso e apenas isso.
E isso explica cabalmente a razão pela qual nenhuma contra-propaganda poderia surtir efeito. De nada valia publicarem-se relatos históricos do que acontecera em 1956 na Hungria ou em 1968 na Checoslováquia ou o que se passava na realidade dos países da "cortina de ferro". Tudo isso era desvalorizado como propaganda fascista e da cia e ainda hoje assim é.
De nada valiam as denúncias de Soljenitsine ou Sakarov. Nada disso importava um chavo para quem acreditava piamente num sistema que iria acabar com a exploração do homem pelo homem, começando por atacar os "ricos" e desfazendo a propriedade privada.
De pouco valia argumentar que a utopia que isso representava nunca se iria realizar porque nunca se realizara até então. Em Portugal todos os comunistas acreditavam que tal iria acontecer, com um modo próprio e adequado à realidade nacional. O mito e a ilusão ainda duram no comité central do PCP.
José Milhazes perdeu a fé. Primeiro em Deus e a seguir em Estaline, Marx ou Lenine. Que tragédia pessoal!
Acredita em quê, agora, José Milhazes? Nos ricos ou nos pobres? Isso que vale para o caso?
o pessoal vive principalmente da inveja e ódio
ResponderEliminarsei bem o modo como ainda hoje me tratam
só que eu não esqueço nem quero perdoar
e vingo-me geladamente
aconteceu com a administração do cão-domínio
conheci o Porto de 55 a 57 muito diferente do sul
aldeias inteiras sem homens devido à emigração
dizia o saudoso Pe Manuel Antunes (SJ)
«nada pior que um ex-qualquer coisa»
Ai desculpe José, mas é a primeira vez que leio alguém a ter um sonho místico que lhe indica o caminho da revolução
ResponderEliminarAHAHAHAHHAHAHA
Como seria a aparição? barbuda, por certo que aquelas barbas tão não são normais
":O))))))))))))
Foi assim:
ResponderEliminar"Vi-me num templo enorme, na presença de um ancião de longos cabelos e barbas brancas, semelhantes à representação católica de Deus-Pai. Ele dirigiu-se a mim e disse-me: Que fazes aqui? Este não é o teu lugar, o teu caminho é outro, segue-o.
-Mas eu quero continuar, sinto-me bem!- retorqui, ao mesmo tempo que chorava.
-Não, segue outro caminho!-repetiu ele com uma voa paternal.
Nunca fui muito dado a acreditar em sonhos, mas dessa vez não tive dúvidas."
Tal e qual. Vou colocar a página...mas não quero gozar com isto.
ehehehe
ResponderEliminarNão consigo deixar de rir. É de uma ingenuidade muito maior do que imaginaria.
E ele tornou-se nessa figura. Eu nem sabia que era mais novo e sempre estranhei as barbas. Depois vi agora as fotografias na URSS, ainda bem novo e já com barbas que nem coisa de judeu. E nunca mais as largou.
Acredita no sonho e nesse santo louco que lhe apareceu e foi para a terra deles.
Coitado. É um personagem estranho e ingénuo até por confessar isto.
ResponderEliminarComo é que um crente a sério, ao ponto de ir para o seminário, acredita que lhe aparece Deus a dizer para sair dali para fora e que o caminho só podia ser a Revolução armada?
José, isto é demasiado estranho...
O que me custa a compreender é a fé cega num sistema que tudo indicava ser bem pior que o de Salazar...
ResponderEliminarComo foi possível?
É como digo: só encontro uma explicação e que é a que apresentei.
A Liberdade para essas pessoas conta zero. Zero. O que conta é terem o que os outros têm e eles por qualquer motivo não conseguem. É estranhíssimo.
Bem, o Milhazes na época tinha 17-18 anos. Mas eu também tinha essa idade e não acreditava minimamente nessas balelas. E fazia-me muita confusão haver amigos de infância que embarcaram naquilo, só pelo motivo que leio no Milhazes: influência próxima de comunistas que prometiam o céu a quem acreditasse.
ResponderEliminarTantas discussões que tive com essa malta e quase todos abandonaram essas utopias alguns anos depois.
Por isso é que julgo que os motivos eram os mesmos, porque nesse caso eram.
os comunistas têm um perfil muito concreto e que passa por aí, por uma hostilidade à "burguesia" aos "possidentes".
Mas isso de haver gente que nem era burra e se torna comunista é o que mais houve e há. Uns por complexo de classe, outros por tradição familiar e outros por rebeldia e influência de grupo.
ResponderEliminarAgora um católico, bem crente, ter uma visão de Deus a indicar a Luta Armada é que é a primeira vez que leio tal coisa.
Isto tem uma bruta dose de loucura mansa. Daquela que também a têm os pastores evangélicos que passam o tempo a ouvir vozes e a ir atrás delas até ao cu de judas.
A mãe era católica e até chorou. Não houve ali infuência familiar.
ResponderEliminarApenas gostava de saber que raio de católicos progressistas conheceu ele no Porto e o que lhe meteram na cabeça.
Ele não perdeu fé alguma, trocou por uma fezada mais realista. Devia ser um pragmático. Não esteve para esperar
":O))))))
Os comunistas que mais me intrigam não são esses, porque esses são "naturais". É a cena da luta de classes e da inveja, com promessa de paraíso terreno a curto prazo.
ResponderEliminarOs que mais me intrigam são os betos ricos, de famílias bem ricas que também tinham pergaminhos "comunistas de luta anti-fascista" e que não largam aquela mentira e a dupla vida que vivem.
Há sempre loucura mansa e pendor para fanatismo.
ResponderEliminarNão sei, mas se conheceu o padre Fernando Leite deve ter dado voltas ao miolo religioso para o trasmudar noutra crença.
ResponderEliminarEsse padre jesuíta era um místico. Um autêntico. Raro.
Conheci-o porque foi meu confessor durante um tempo.
O Alexandrino de Sousa que morreu no Tejo também frequentou o mesmo ambiente na mesma altura...
Todos nós ( 400 numa certa altura) gostávamos de ouvir as histórias dp padre Fernando Leite.
ResponderEliminarQuando celebrava missa era uma alegria ouvi-lo.
Influenciou-me muito.
Mas comunistas católicos é coisa muito rara e acabam por se tornar fariseus. O Pureza é um desses, mais o Louçã.
ResponderEliminarMas o Milhazes é diferente. Teve sonho e tornou-se nessa imagem fantasmática. Vestiu-lhe a pele e nunca a despiu que ainda não cortou as barbas
Como os saloi. A Rússia é a terra deles.
":O))))))
Ai sim?
ResponderEliminarNão sabia. Mas esse jesuíta podia dar a volta ao miolo, como?
Não, o Milhazes é que teve de dar a volta ao miolo para mudar de uma coisa para a outra, depois de ter ouvido o pe Fernando Leite.
ResponderEliminarMas o Milhazes tem um ar simpático. Parece que ainda sofre o tal "complexo de inferioridade".
ResponderEliminarE atacam-no de todas as maneiras. Incluindo aquela cena de ter passado ficheiros da Pide.
Para mim, fica como um semi-santo louco à Dostoievski
Mais louco que santo e sempre a arrepender-se.
Anda a arrepender-se às pinguinhas.
":O)))))))
Ah, ok. Estranho, se era influenciável, e nota-se que é, que raio de impulso há-de ter tido para até a Revolução lhe aparecer como uma aparição divina?
ResponderEliminarMuito estranho.
Nunca na vida vi tal coisa
Repare, ele não deixou o seminário nem a via para padre por uma coisa mais real.
ResponderEliminarEle precisou que lhe aparecesse Deus numa Igreja a mandar seguir a via oposta- a de renegar a Igreja pelo Comunismo.
Isto dava um filme, melhor que o Silêncio
ehehehehehe
Não fez a coisa por menos. Contra os padres, só Deus em Pessoa
Tinha 17 anos...e afinal poucas leituras apesar de dizer que gostava muito de ler.
ResponderEliminarDaí a fé laica que o tomou...
ResponderEliminarDe facto é de rir.
Desculpe lá, ó Milhazes. Não é para gozar, mas apenas para
ResponderEliminardescontrair e pensar que não nos devemos levar muito a sério, por vezes.
Sim. Era inculto mas com loucura q.b. e fanatismo para a vida.
ResponderEliminarMas foi um fanatismo mais pragmático que arranjou família e a vida correu-lhe bem.
Nem precisou de cortar as barbas. Aposto que nunca as vai cortar. São talismã da visão que foi uma boa visão, apesar de tudo e ainda rende.
Sim, pela minha parte também peço desculpa e nada tenho contra o senhor. Nada de nada. Com isto até fico a simpatizar mais porque é uma confissão muito humana.
ResponderEliminarNão imagino um louçã ou um Pureza a contarem as visões ateias que tiveram.
Esses têm visões mais cínicas. Nunca se arrependem.
O Louçã e o Pureza acreditam na própria loucura porque estão na posição de a dominarem e beneficiarem directamente dela.
ResponderEliminarSe fosse ao contrário, punham-se a milhas do efeito...ahahaha.
Engraçado que ninguém comentou esta confissão. Se não fosse o José nunca imaginaria e continuava intrigada com as barbas, a pensar que era marranice escondida.
ResponderEliminar":O)))))))))
Esses punham mas era as barbas de molho
ResponderEliminar":O))))))))))))))
este tipo de pessoal está catalogado na psiquiatria
ResponderEliminarestas metamorfoses parecem pertencer ao asno de ouro
embora deteste recordar ainda me lembro de ser adolescente e jovem adulto
e nunca vi nada assim da parte dos colegas e conhecidos
um dos meus melhores Amigos era católico e social-fascista
falava sempre de S. Francisco de Assis
Sou de uma geração mais nova e achei este artigo e comentários especialmente interessantes.
ResponderEliminarCada vez mais tenho a sensação que a geração com agora mais de 60 anos em Portugal tem dois gigantescos campos de desiludidos: um porque vê e viu o país degradar-se em rebaldaria; o outro por ter fielmente acreditado numa utopia que foi por água abaixo. O pessimismo, pelo menos, é evidente.
Obrigado pela crítica, mas passei a saber uma coisa que desconhecia: "E atacam-no de todas as maneiras. Incluindo aquela cena de ter passado ficheiros da Pide". Isto deve ser fruto da má informação.
ResponderEliminarQuanto à inveja, nunca me moveu tal sentimento, a chamaria justiça.
Jose Milhazes:
ResponderEliminarNão é a invejazinha. Não...é outra coisa que se chama na mesma e que vem nos Lusíadas.
É querermos o que é dos outros, por acharmos que temos direito inalienável a tal e que todos somos iguais e substancialmente merecedores dessa igualdade.
É negar o mérito de quem o tem. É negar a diferença naural entre as pessoas e recusar a prosperidade individual de quem trabalha ou mesmo de quem aproveita oportunidades.
A cena da Pide li até agora nos comentários no Observador, caro Milhazes.
ResponderEliminarNo hard feelings.
Só uma pergunta, que é livre de não responder. Por acaso alguma vez leu a vida dos santos loucos do deserto ou dos saloi russos?
Justiça só existe cara a cara ou pela lei. Tudo o que é em manada tem outro nome mais perto de Vingança.
Ninguém faz justiça em nome de uma treta abstracta chamada "Partido" ou "proletariado".
Os comunistas que conheci nessa fase infantil eram assim.
ResponderEliminarE acredito que tenha sido esse o leit-motiv para a crença no PCP...ainda hoje.
Justiça comunista é revolta e aí sim, há os que servem de carne para canhão e os guias que vão para chefes de Partido.
ResponderEliminarO apelo à revolta é coisa visceral e bárbara e a antítese da mensagem cristã.
Justiça é outra coisa: precisamente dar a cada um o que lhe pertence...e por isso não se pode confundir com reivindicar para cada um segundo as suas necessidades, indo buscar a cada qual segundo as suas possibilidades.
ResponderEliminarNão acredito nessa ideologia, nunca acreditei e é a isso que chamo inveja.
Todas estas coisas precisam de uma Instituição. Até a crença religiosa. As instituições são tramadas porque depois tudo passa para um terceiro termo e em função desse terceiro termo e isso faz perder o pé da realidade.
ResponderEliminarÉ o "em nome de".
Há que ter cuidado a quem se entrega esse "em nome de" porque a maior parte não é de confiança.
E os comunistas não perdoam traidores. Não são como a Igreja. Não há justiça alguma que justifique ou fale mais alto que o Partido.
Se há coisa que sempre me deu a volta ao estòmago são mesmo esses momentos históricos das revoluções. o sans-culottes a sacarem e expropriarem tudo, como todos os milenaristas e isso nada tem de justiça.
ResponderEliminarA primeira coisa que fazem é instalarem-se dentro do que roubam e ocupar o lugar do famigerado patrão.
Nunca entenderei quem viveu o PREC ter-se tornado de Esquerda.
ResponderEliminarIsso é que nunca. Ainda se não tivessem vivido, podia haver cena apalermada de utopia romântica. Mas vivendo é impossível porque aquilo foi mesmo a revanche dos oportunistas e do pessoal das barracas.
A invejosidade intrínseca travestida de justiça social, parece-me.
ResponderEliminarCom o alibi das teorias e ideologia insuperável.
O logro perfeito, até para os próprios que se enganaram a si mesmos e com todo o gosto.
Isso em Portugal tem adubo natural.
ResponderEliminarPorque razão um Álvaro Cunhal dizia nesse tempo de há 40 anos que ganhava 7 contos e 500 escudos que era próximo do salário mais mediano que havia, ou mesmo do SMN?
ResponderEliminarÉ o mesmo fenómeno. Nunca conseguiria dizer que ganhava mais porque suscitaria aversão dos igualitaristas.
E ganhava. Em géneros...ahaha.
https://www.google.pt/amp/www.dn.pt/mundo/interior/amp/papa-diz-que-os-comunistas-pensam-como-os-cristaos-5492775.html
ResponderEliminarAqui o link para o original. Só por coisas de oportunismos besta.
ResponderEliminarApesar deste Papa não me agradar, ele não disse o que lhe querem meter na boca.
ResponderEliminarE ele é apenas um; não é a Igreja nem os seus fundadores, nem sequer ficará como um dos seus grandes teóricos.
Mas não disse o que os ateus comunas queriam que dissesse.
____Lei però, Santità, incita adesso i movimenti popolari ad entrare in politica. Chi entra in politica si scontra inevitabilmente con gli avversari. Guerra pacifica, ma comunque di conflitto si tratta e la storia ci dice che nei conflitti è in gioco la conquista del potere. Senza il potere non si vince.
______"Ora lei dimentica che esiste anche l'amore. Spesso l'amore convince e quindi vince anche quanti siamo ora. I cattolici sono un miliardo e mezzo, i protestanti delle varie confessioni ottocento milioni; gli ortodossi sono trecentomila, poi ci sono le altre confessioni come anglicani, valdesi, coopti. Tutti loro compresi, i cristiani raggiungono i due miliardi e mezzo di credenti e forse più. Ci sono volute armi e guerre? No. Martiri? Sì, e molti".
O Sr José deveria ter vergonha na cara.
ResponderEliminarJosé Milhazes não terá direito ao erro, não terá direito a aprender com a experiência, a viver a sua adolescência, como toda a gente vive ou viveu?
O Sr. José, que já entrou na recta dos 70, não acha que deveria ser menos implacável e sobranceiro, com pessoas que, como o Sr. Milhazes, fizeram o seu percurso de vida e hoje estão na maturidade?
Que mal é que ele lhe fez para escrever de forma tão arrogante e impiedosa?
O Sr. anda à há muito tempo à procura de razões que expliquem porque é que as pessoas aderiram ao PCP há 40/50 anos atrás e ainda não percebeu que são as mesmas que conduzem as pessoas a aderir à religião católica, à Cristandade?
Ainda não percebeu que católicos, maçónicos e comunistas é tudo a mesma merda?
Continue a malhar nos sociais fascistas. Nos outros, naqueles que saíram da seita, deixe-os em paz ou escreva com outros modos!
A verdade a que temos direito é o insulto...pois fique lá com o espelho na frente e desande.
ResponderEliminarSe lesse melhor compreenderia melhor. Assim...
ResponderEliminarE já agora não me acrescente dez anos em cima que não preciso.
ResponderEliminarEh Eh Eh.A idade...
ResponderEliminarPara mim essa coisa de grupos que se constituem em partido acaba por dar numa demissão do escrutínio intelectual.Em manada segue-se a quem conduz...
Claro que a motivação é a inveja o desejo instantâneo da igualdade.Como se passa hoje em dia com a colonização africana de Portugal.Que se sente com direito a discriminação positiva, a muito subsídio e mordomia e quando não dão ora ora é racismo...
"o desejo instantâneo da igualdade."
ResponderEliminarÉ isso mesmo. Bem sintetizado.
Zazie li santos loucos e iurodi russos. Alguns dos comentadores não sei se leram ou não, mas confundir desejo de justiça social, de igualdade de oportunidades com inveja é viciar as regras da discussão. Eu escrevi o que vivi e o que senti. Reconheço que, em certos períodos foi infantil, primitivo e até "idiota útil", mas isso faz parte da minha experiência, pois nem todos podem ser sempre heróis.
ResponderEliminarOs santos loucos são deliciosos. É o único exemplo de humor no cristianismo. Gosto muito dos saloi.
ResponderEliminarQuanto ao resto, acho que o próprio Milhazes tem vindo lentamente a mudar de opinião, portanto, pense nisso- na motivação para se enfiar num partido comunista por desejo de "justiça social".
O grande male do marxismo é de reduzir tudo ao "homo economicus". O cristianismo tem a noção de misericórdia e debaixo do manto da Virgem todos se albergam.
Porque dinheiro ou falta dele não é uma marca identitária nem deve ser sequer tomada como uma cruz para o resto da vida.
Os comunistas aproveitam-se do male dos outros e dele tiram partido. A humanidade é frágil- está sujeita a muitos imprevistos- como a doença e isso não se cura tirando a uns porque as pessoas são todas diferentes e não é responsabilidade dos que sabem cuidar da vida a dos que não sabem.
A igualdade de oportunidades é um pressuposto que pode ter um bom princípio mas nem esse é totalmente resolvido pelo Estado pois a família e o meio e até a genética falam mais alto.
Seja como for, o que a História tem demonstrado é que nunca o socialismo gerou maior igualdade porque é contra-natura. Gerou apparatchiks e esses sim, são invejosos porque vêm no status de chefe e igualdade da boca para fora, a maneira mais simples e menos trabalhosa de poderem ter privilégios.
Mas eu penso que tem mudado de ideias e li agora o que escreveu acerca do Golpe de Outubro e a diferença em relação ao de Fevereiro na Rússia e é bem diferente do que afirmava há uns tempos atrás.
Ou seja, está a dar-se conta de mais erros e isso é muito positivo. Significa que tem percepção ética e capacidade de olhar para trás.
Não deve ser nada fácil, ainda por cima numa idade em que ninguém gosta de recordar ou admitir erros.
Pela minha parte posso dizer que beneficiei de algo que nem sei se é positivo- a minha natural tendência para ser independente e gigantesca dificuldade de obediência ou integração em grupo.
ResponderEliminarE sei que nem é mérito- religiosamente até penso que é uma falta. Mas é uma reacção estranha porque sou gregária e aceito perfeitamente ordens e hierarquias mas em matéria do decisão e de pensar nunca consegui ter gosto pela manada em obediência de grupo.
Acho que passo a vida a criticar, incluindo o que cheguei a repetir por não saber e achar necessário primeiro conhecer e estudar antes de criticar (isto em matéria profissional, claro)
vêem em vez de vêm.
ResponderEliminarO comunismo gera apparatchiks é essa a sua gigantesca mentira comprovada pela História.
Nunca gerou igualdade alguma- apenas hipocrisia e miséria para os que não fazem parte da nomenklatura.
Ser-se pobre nunca devia ser um estatuto social. É estúpido e até perverso achar-se isso.
Ninguém por desejo de justiça docial adere á Revolução armada.
ResponderEliminarEra isto que queria referir. Se conseguir explicar a ligação legítima entre uma e outra, sim, é argumento.
A motivação já o Nietzsche a chamava de "moral da inveja". É mais simples e encaixa perfeitamente no motor da "luta de classes" dessa utopia.
"social e à"
ResponderEliminarO comunismo é a maior preversidade das boas intenções de muita gente.
ResponderEliminarBasta saber-se o que fazem os sindicatos com os problemas individuais de cada trabalhador para se perceber que vale tudo para a causa e zero para o ser humano individual.
O cristianismo ensina a caridade e a compaixão e ajuda aos que estão ao nosso lado- a pessoas concretas. Ensina a dádiva.
ResponderEliminarO comunismo só vê a floresta e ensina o roubo e inventa culpados por má-fé. Porque é mais fácil roubar que dar e ajudar.
Hmm, não fuja para a torre de menagem, sr. José Milhazes...
ResponderEliminarIgualdade de oportunidades não é a mesma coisa que igualdade tout court.
E, no real, fora da abstracção, igualdade de oportunidades pressupõe desigualdade; porquanto depende desta para ser realmente igualdade mediante as circunstâncias concretas, i. é, justa.
Eu não posso estar em pé de igualdade com quem tem cautela no que respeita a ganhar a lotaria, se eu não tiver uma cautela minha.
Se alguém diz - e impõe - que eu, não tendo cautela, estou em pé de igualdade de oportunidade de ganhar a lotaria com quem tem cautela, não criou igualdade nenhuma - somente substituiu arbitrariamente uma desigualdade por outra; no caso, uma desigualdade justa por outra injusta.
A justiça social não se consegue através do comunismo e tal está demonstrado pela História. Este consegue apenas nivelar por baixo as classes sociais, amalgamando os que poderiam ser burgueses e com dinheiro para se distanciar economicamente dos demais.
ResponderEliminarPor outro lado, cria outra classe que antes nem existia: a dos burocratas com poder de mando, os zelotas da ideologia prática e os verdadeiros detentores do poder supremo que é o de mandar matar.
Todos os países comunistas passaram por isso e os que ainda são conservam essa característica.
A Justiça Social consegue-se com a produção de riqueza ou a exploração da mesma se for natural e a sua distribuição equitativa ou aproximada.
Se não houver riqueza aplica-se o ditado antigo: casa onde não há pão...
Quem produz riqueza são os que têm capacidade ou oportunidade de tal. Tirar-lhes essa capacidade ou oportunidade como fazem os comunistas é motivado por quê?
Para mim, pela inveja, em sentido lato que é o de querer a igualdade instantânea como dizia o comentador lusitânia.
A fome de igualdade não é a mesma coisa que a fome de justiça social. É apenas um subterfúgio para se justificar essa vontade de querer o que os outros têm e nós não temos.
ResponderEliminarSeja posição social,prestígio académico, capacidade económica que o dinheiro confere, qualidade de vida, saúde, sossego, poder de mandar ou influenciar os outros, etc etc.
O teem e o têm ficam por conta...
ResponderEliminarÓ Zazie mete a viola no saco.
ResponderEliminarÉs um arrogantezinho.
Bastou o Milhazes aparecer, e mudaste logo de tom da converseta irónica para uma até doutoral.
Pratica sexo, meu!
Compra um vibrador que isso passa.
Mas, quem viveu o PREC que "igualdade de oportunidades" é que presenciou?
ResponderEliminarPresenciou- quem teve estômago para isso, que não foi o meu caso- expropriações. Ocupações do que era dos outros comandadas pelos tais que nascem sempre para líderes da inveja.
Como é possível encontrar algo de bonito ou defensável, numa ocupação, saque e roubo do que é doutrem é coisa que sempre me ultrapassou e naturalmente me provoca asco.
Nem no cinema aguento o Bunuel com aquela "última ceia" às avessas dos feios porcos e maus do Viridiana.
E é baixo considerar como exemplo da Humanidade o que é apenas uma margem mínima e defeituosa dela.
As potencialidades da Humanidade deviam sempre seguir os bons exemplos e nunca os desvios mais bestializados.
O imbecil que nem escrever sabe, também desconhece o Raymond Queneau- desorelha, animal e vai insultar a tua mãezinha que eu não sou da tua família.
ResponderEliminarDeve ser mais um "anti-machista" de esquerda. Estão cheios destes animais para exemplo.
Sendo os socialismos totalitários (incluindo o nacional-socialismo e o fascismo, o "vero" não os apodados) o principal veneno político que atingiu o século XX, muitos aderiram às suas variantes por serem movidos por razões canalhas (e muitos sentimentos associados, a inveja do outro, a ambição do pequeno ou grande poder por filiação, etc, etc). Contudo, muitos outros foram determinados por razões nobres e outros não embarcaram (foi o meu caso) nos anos (os 16 / 20 «anos) em que se está especialmente propenso a cair nos respetivos cantos de sereia por contingências várias da época em que se viveu, com quem se viveu, quem se ouviu e não ouviu, o que se leu e não leu, etc, etc, incluindo amores e desamores, ou idiossincrasias pessoais que não compreendem valores elevados (por ex. o individualismo existencial).
ResponderEliminarConsidero-me anti-comunista mas reconheço em muitas adesões ao comunismo impulsos que também senti e que me determinaram outros caminhos, a revolta contra a injustiça social e em particular socio-económica também a vivenciei (apesar de em larga medida ter sido privilegiado e viver a culpa católica da consciência disso mesmo e da ausência de mérito inerente).
Penso que a reação larvar nesses anos de juventude contra a injustiça social muitas das vezes não é determinada pela inveja do outro e o desejo da sua posição, posses, etc. (Tal como o antagonismo contra os extractores de riqueza sustentados em socialismos vários não deriva da inveja pessoal).
O grande barómetro passa pelo que se faz depois de passada a tal idade. Descontando o exército dos canalhas, entre os determinados pelas ilusões da luta contra a injustiça social, muitos pragmaticamente funcionalizam-se naquilo, outros abandonam a crença mas guardam a cartilha procedimental, outros (muitos) tornam-se verdadeiramente amorais e disponibilizam-se para vários senhores (dinheiro não é o único) e alguns rejeitam o monstro pelas mesmas razões morais que levaram à adesão.
Muito antes dos comunismos, a história apresenta-nos vários exemplos de ações individuais determinadas por uma combinação racionalisticamente inexplicável de vontade e crença que obscureceu a inteligência de quem é moralmente empenhado e cognitivamente competente. Quem não acredita na Deusa Razão pode constatá-lo sem abalos epistemológicos.
Mais complexo é o desafio de quem, na maturidade, se confronta com o que se fez (em que se embarcou) e com aquele jovem em que ao mesmo tempo nos queremos e não queremos reconhecer. Pessoalmente admiro quem o faz sem hipocrisias nem segundas intenções, determinado nos planos morais pelo interesse da partilha e o imperativo da integridade pessoal e consegue, graças à coragem, vencer as resistências inerentes ao espiríto d e sobrevivência e auto-proteção.
Em resumo, admiro Milhazes sem me reconhecer pessoalmente na sua experiência (porque não foi minha), pelo que vejo do homem que não alienou o jovem que foi apesar de não se rever nem compreender porque então tomou determinados caminhos. E tenho muito receio de quem consegue apagar o jovem que já foi.
Penso que é interessante o diálogo entre os Josés e calculo que seja mais importante o que os aproxima do que o que os afasta, apesar dos diálogos compreenderem sempre riscos de incompreensão pela força própria das palavras que ultrapassa intenções.
Não compreendo bem esse conceito da justiça social. Não estou convencido de que não seja contraditório.
ResponderEliminarHá problemas sociais, isso é evidente. Que haja pessoas sem o indispensável para viver é um problema social. Mas não é, necessariamente, um problema de justiça, parece-me.
Ao vagabundo mais preguiçoso que se conceba, em termos de justiça, não lhe cabe sequer o indispensável para viver, pois nada faz para que lho caiba. Porém, tal não deixa de ser um problema social grave.
Tem de haver outras coisas que entrem aí.
A compaixão e a caridade são duas delas que nada têm que ver com riqueza ou sua distribuição. O dever de não ser preguiçoso e de trabalhar são outras.
“O que me custa a compreender é a fé cega num sistema que tudo indicava ser bem pior que o de Salazar...”
ResponderEliminarNão se trata de comparar.
Como refere Carlos Amaral Dias numa entrevista recente ao Observador, sobre o regime anterior a 25 de Abril, “a primeira característica que tinha era ser uma autoridade provinciana. Não era um Hitler, nem um Estaline, nem um Mussolini. O Salazar era um tipo que não lavava as cuecas e não tomava banho.”
Ou seja, o regime estava personificado em gentinha tão caduca, tão moralesca, tão provinciana, tão ceroulas e fechada sobre si própria, que a única ‘coisa’ que existia era ser do contra.
E, ser do contra era ser comunista, pois não havia oposição mais à mão, que esta (as outras andavam de pantufas ou a banhos, não andavam na rua.).
Sabia lá o zé povinho o que era o comunismo!
O que a malta queria era passar da masturbação pró sexo anal.
Sair do puritanismo, dos cerejeiras cardeais na política.
Não foi, sobretudo, um problema económico ou político.
Foi acima de tudo um problema de costumes.
Talvez a raiz do problema resida precisamente na maturidade, aliás, na falta dela.
ResponderEliminarA capacidade de bem ajuizar parece-me andar ligada com a maturidade. É mais provável que um velho de 80 anos ajuíze bem do que um rapaz de 18. Senão, que cada um pense a que juízo preferiria submeter-se, não sabendo mais nada sobre os juízes.
Bom, acho que quando o argumento é "o Salazar não lavava as cuecas nem tomava banho", creio que estamos no grau zero da reflexão.
ResponderEliminarNem vale a pena comentar a plausibilidade de tal afirmação.
Simplesmente direi que V. deve pensar com as cuecas e escrever tratados na banheira, certamente.
O senhor muja por aquilo que comenta parece provir desta história :
ResponderEliminarChegou um dia um distinto oficial da brigada do reumático, à civil, acompanhado de um neto ao balcão de um snack bar em Lisboa e encomendou um prego.
5 minutos depois trouxeram-lhe um prato com um prego.
"Penso que é interessante o diálogo entre os Josés e calculo que seja mais importante o que os aproxima do que o que os afasta".
ResponderEliminarÉ capaz de ser verdade porque conheço muito bem a realidade que José Milhazes evoca. Foi a minha, até um certo ponto.
Mas não é esse o ponto.
Aqui o que me interessa é mesmo perceber a razão porque se adere a uma causa que em determinado momento chega ao extremo de tornar admissível eliminar o outro, fisicamente, com armas na mão e a imitar as revoluções que ocorreram por essa Europa fora e mesmo aqui, com as guerras do séc. XIX entre os "liberais" e os "absolutistas", por exemplo.
As razões andam próximas e julgo que se escoram na última palavra dos Lusíadas.
Lembremo-nos que se referia ao que Alexandre, o Grande sentia hipoteticamente por Aquiles...na fantasia de Camões. Por ter sido cantado por Homero.
É uma "enveja" simbólica que transporta um sentimento generalizado de aceder a uma grandeza que outros tiveram.
Julgo que por trás de todas as proclamações acerca dos "outros" e da justiça social a alcançar através de soluções políticas revolucionárias está esse sentimento básico e não a nobreza de um carácter generoso para se despojar do que tem e repartir com os demais.
Mas há excepções.
Quanto a José Milhazes não sei, porque não o conheço e aceito que não seja invejoso de carácter, mas não é isso que pretendi recortar para explicar a opção política, apesar de poder entrar em alguma contradição o que admito.
Os comunistas não são todos invejosos de carácter, tal como nos demais partidos e ideologias.
Apenas considero que é a única explicação racional para uma adesão a uma proposta política que tem como desiderato acabar com a "burguesia" e com os "patrões" e conferir a "igualdade" a todos.
A "enveja" do que pertence aos outros, o querer uma igualdade à custa da apropriação de coisas dos outros e à destruição do que possuem, convoca uma explicação.
A da "justiça social" para mim é muito exígua.
Acho que a verdade a que temos direito já andou por aqui com outro nome...enfim.
ResponderEliminarSim, é isso- é a moral da inveja e é de tal modo abstracta que a própria pessoa até pode nem ser invejoso.
ResponderEliminarPor isso é que eu penso que tem de haver uma tradição na família. Têm de projectar no meio que os rodeia essa tal injustiça.
Eu entendo e entendi ser do contra antes do 25 de Abril por uma questão de censura mas basta alguém aproximar-se de um partido de esquerda- e ainda mais em pleno PREC para se ficar vacinado para o resto da vida.
Ora o que mais vejo é gente que diz que sentiu o apelo precisamente quando eu senti a vontade de fugir daquilo tudo e para sempre, Sem a menor exitação- porque ter vivido o PREC é vacina ética para quem não queira fazer da política uma forma de arrivismo social.
Daí que diga que ainda acho mais estranho os que nunca tiveram a menor pobreza ou dificuldades na família e ainda hoje andem com o lema da "Revolução" em nome do povo.
É mentira- é uma forma de brasão que por cá não é vergonha, antes pelo contrário- dá status Se fosse noutro país já tinham deixado a palhaçada.
A questão da luta de classes é cretina e envenena tudo. Porque deixa de haver mero debate de ideias para haver um estranho rancor demasiado próximo que passa a envolver a nós e aos nossos.
ResponderEliminarE isso incomoda. E nem é preciso nada. Não é preciso ser-se ou ter-se mais que os outros. É uma ideia de "origem" diferente com complexos. Não tolero isso e chateia-me.
Ainda há bem pouco apanhei com esse tipo de conversa até como justificação para umas pessoas durarem mais ou terem menos rugas.
Veio logo a treta da resposta que isso era por serem dondocas que nunca precisaram de ter vida dura. Quando respondi que a maioria de quem é cententário até é lavrador, ficam sem resposta. E isso há-de ser um vício que depois mais do que justiça em nome de outros têm um parti-pris contra os que consideram "privilegiados".
E é por isso que as armas aparecem no programa da tal boa da igualdade santinha para todos.
Primeiro a vingança. Saquear, perseguir, se for preciso matar.
Essa verdade é lixo e passa-se por cima porque porcaria não merece resposta.
ResponderEliminarSempre a rosnarem e demonstrando que a Natureza tem, realmente, uma grande dívida para com eles- falta de QI. Não argumentam; rosnam e insultam por serem estúpidos.
Esse sentido revolucionário de esquerda pode aparecer onde menos se espera.
ResponderEliminarTenho um exemplo próximo de trabalho. Alguém que eu até muito estimo, andava com a ideia de tomar aquilo por dentro. Literalmente. Porque há quem tenha criado a coisa e dela se aproveite mais.
Questão que a mim não me aquece nem arrefece porque sempre achei que é da condição humana. Não me incomodam privilégios desde que não me roubem
":O))))))
E tomar por dentro algo criado por outrem, com dinheiros e tudo, na crença que quem vai tomar vindo de fora não repetirá o mesmo- é gigantesca ingenuidade.
Todos se aproveitam e os mais arrivistas são precisamente os últimos a chegar- os mais novos que estão de fora e acham mais fácil apanhar o que outros construíram.
Não me incomodam nem privilégios nem riqueza alheia nem nada a mais que outros possam ter que eu não tenho. Porque nunca me senti inferior a ninguém.
ResponderEliminarNem por um minuto e isso não se compra.
E o dinheiro nisso é treta. A pobreza de espírito é uma fatalidade sem cura por mais carcanhol em que se embrulhem.
Agora tudo em comum é mentira- é contra-natura.
Tenho que perceber melhor essa da "moral da inveja" do Nietzsche.
ResponderEliminarNão tenho estudos de filosofia. Mas para o que vejo por aí em quem os tem...
ehehehe
ResponderEliminarOra aí está uma afloração de inveja...e mea culpa porque é mesmo.Ahahahaha.
ResponderEliminarA sério: admiro o talento de quem o tem. E por vezes a tentação é desvalorizar e isso é por inveja, às vezes.
Tento não cair nessa tentação por uma questão prática: quem sofre mais é o invejoso. E isso é estúpido.
ehehehehe
ResponderEliminarEu admiro e quase posso chegar perto do culto da personalidade se for grande artista.
Mas não me lembro de invejar porque para isso era preciso estar próximo de algo que depois não vai mais longe. E artisticamente nem pouco mais ou menos tive a menor ilusão.
Tem piada falar nisso. Há-de haver sempre pequenas coisas que admiramos e gostávamos de ter.
A mais básica seria a máxima beleza mas nem por aí tive manias ou complexos. Quanto muito irritam-me choradinhos de funcionários públicos
Eehehhe Se calhar não me importava nada também ter ADSE
":OP
Se calhar o meu calcanhar são meros privilégios de ADSE que não tenho.
ResponderEliminarE vim agora do dentista e essa cena sente-se. ":OP
Resumindo: a inveja deve andar a par da ambição. Daquele tipo de ambição que se sabe frustrada à partida mas não deixa de ambicionar.
ResponderEliminarNão é coisa de zé carioca. Esse prefere a folia.
Quando alguém sente inferioridade "social" por pertencer a um meio desfavorecido relativamente a outros que o rodeiam, pode criar um complexo.
ResponderEliminarSe aparece uma doutrina que entra na moda e tem gente que a defende apelando a valores morais que confundem esse complexo, está feito o caldo de cultura para muitos molharem a sopa.
O PCP em 1974 foi esse caldo. E quem tinha esses complexos pode muito bem ter aproveitado a ocasião para disfarçar o sentimento real e que é o tal.
É o que me parece relativamente a muitos que conheci.
Estarei à beira da verdade? Continuo a procurar...ahahaha.
ResponderEliminarEstar frustrada à partida é uma base que depois explica teorias económicas imbecis que até fazem crer que o crescimento económico era mil vezes maior se ninguém tivesse direito a herdar.
ResponderEliminarOra isto é estúpido e até os neotontos embicam com heranças por outra panca de homo-economicus que imagina que pode ser dono de tudo e nada dever a ninguém nem aos seus.
Em massa a coisa vai dar ao mesmo- há uma entidade abstracta que se encarrega de tirar e "distribuir".
Pois pode. Mas isso é coisa que está para lá do meio. Eu gosto de observar as negras imigrantes. São brutalmente orgulhosas. É impensável haver por ali qualquer complexo, nas que conheço mais de perto.
ResponderEliminarPode estar mas faltam os outros- os betos comunas. São o fenómeno que mais me intriga e nunca consegui perceber.
ResponderEliminarHá casos que pode ser fruto de "revolta" contra "opressão"c paterna, ou assim, mas outros não. É a tal ideia de já os pais ou avós terem sido vítimas dos "fascistas" e eles depois ganham uma treta de uma panca de paternalismo.
Assim à "morgadinho da cubata". Um fariseísmo sonso e postiço.
Como é possível haver comunas com iate? onde está a explicação? Porque o iate veio no seguimento de terem acompanhado muita reforma agrária e ficado "padrinhos" de muito expropriador?
Só se for. Mas é uma estranha patranha.
Mas isto das motivações deve ser pouco porque só seria muito se existissem comunistas livres e sem precisarem de andar ás ordens ou a mandar num partido.
ResponderEliminarIsso não existe. Entender o comunismo é entender a lógica totalitária de uma estranha irmandade que devora os próprios que controla.
A intolerância e os efeitos do comunismo na sociedade são o fruto do que aquilo é internamente em esquema partidário.
E isso é diferente de todos os demais ainda que os partidos também me pareçam coisa que não fará lá muito pela elevação da cabecinha de cada um.
V.s que andaram em seminário é que podiam explicar melhor essa lógica de submissão e ordem interna.
ResponderEliminarNão faço a menor ideia. Só de ler e do cinema.
E penso que será diferente a passagem de um para outro.
ResponderEliminarPorque quem se meteu em partidos no PREC não foi minimamente com sentido de despojo e de servir e andar às ordens com a maior humildade.
O tanas. As aparições de abril viram foi ali a mais fácil maneira de terem e mandarem. Entravam para subir e controlar e mandar, não eram os abnegados servidores de uma causa.
Precisamente porque o Poder praticamente caiu na rua.
Isso da Revolução e luta armada na altura nada tinha de martiriologia- era Poder. Era uma visão heróica de Poder. Como não havia à mão em mais lado algum, nem existe em momentos normais da História. Só nestas rupturas.
Era ter Poder e mando. Não há nisso despojamento de nada. Se era para depois fazerem justiça, isso ia demorar porque primeiro havia que tomar o Poder pelas armas.
ResponderEliminarA lógica de submissão e ordem interna num seminário resume-se a três palavras que um padre dizia ser o breviário da disciplina:
ResponderEliminar"quietos calados e direitos". E escreveu no quadro.
Era dos indivíduos mais "sádicos" que existiam por lá, porque batia sem necessidade.
Esse padre alguns anos depois deixou de o ser e casou com uma prima afastada.
Curiosamente associou-se ao PS e escreve em jornais e é sectário.
Curioso.
mas o que se passava nos seminários nos anos sessenta tinha muito a ver com a educação da época.
ResponderEliminarNessa altura, os professores primários batiam nas crianças, com reguadas e canadas. A valer e a doer.
E se fossem para casa queixarem-se ainda levavam mais na maior parte dos casos.
Era essa a noção de autoridade.
E para mim não era má, necessariamente, embora fosse cruel em alguns casos. Não havia necessidade de fustigar miúdos sem capacidade de escrever sem erros.
Por outro lado, cria outra classe que antes nem existia: a dos burocratas com poder de mando, os zelotas da ideologia prática e os verdadeiros detentores do poder supremo que é o de mandar matar. (José)
ResponderEliminar.......
Para mim, pela inveja, em sentido lato que é o de querer a igualdade instantânea como dizia o comentador lusitânia... (José)
Completamente d'acordo. Dois parágrafos que traduzem a mais pura das verdades e estas são tão clarinhas como a água da nascente.
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O cristianismo ensina a caridade e a compaixão e ajuda aos que estão ao nosso lado- a pessoas concretas. Ensina a dádiva.(Zazie)
O comunismo só vê a floresta e ensina o roubo e inventa culpados por má-fé. Porque é mais fácil roubar que dar e ajudar. (Zazie)
Nestas quatro linhas estão inteligentemente descritas a essência da doutrina Católica e o dogma-religião do comunismo idolatrado pelos seus seguidores, os mesmos que para a imporem, quase sempre à força das armas nos países em que têm liberdade d'acção, são capazes de matar indiscriminadamente e aos milhões se necessário for, assim como eles próprios estão/estavam dispostos a morrer em defesa da sua crença.
Mas vivendo lá seria diferente, penso eu.
ResponderEliminarNão sei. É mundo que desconheço completamente.
O mundo do seminário que conheci é um assunto interessante de conversa. Mais logo vou tentar lembrar-me de algumas coisas.
ResponderEliminarNo livro de Vergílio Ferreira, Aparição dá-se uma imagem aproximada, mas o que conheci ainda era mais opressor, por vezes.
O Seminário era muito opressor. Muito mesmo.
Aquele palerma ali acima a citar o CAD deu-me vontade de rir.
ResponderEliminarA Carlos Amaral Dias sempre foi um patapouf mas agora, com o avc, pirou de vez. O tipo disse que achava muito estúpido ter de haver lei por causa do aborto ou da eutanásia que são questões estritamente do foro pessoal
ahahahahah
Realmente- nem sei porque a lei se mete quando alguém é morto. É lá com cada um
":O)))))))))))
Mas o José nada tem disso. Não lhe fez mossa alguma
ResponderEliminarehehehe
Manhã Submersa,queria dizer
ResponderEliminarzazi, minha flor solitária.
ResponderEliminarA solidão está a dar cabo de ti; vai ao cabeleireiro (isso de cortar o cabelo a ti mesmo não funcemina) compra uns farrapos, e passeia, passeia muito, há-de aparecer alguém que te tire dessa situação, pode não ser para sempre, mas tens sempre a possibilidade de repetir a experiência. Faz de ti uma mulher do século XXI. Não me pediste mas, analisando o teu comportamento, acho que estás a entrar no fim do percurso do Nietzsche. E, eu não queria, meu diamante por lapidar
zazi, minha flor solitária.
ResponderEliminarA solidão está a dar cabo de ti; vai ao cabeleireiro (isso de cortar o cabelo a ti mesmo não funcemina) compra uns farrapos, e passeia, passeia muito, há-de aparecer alguém que te tire dessa situação, pode não ser para sempre, mas tens sempre a possibilidade de repetir a experiência. Faz de ti uma mulher do século XXI. Não me pediste mas, analisando o teu comportamento, acho que estás a entrar no fim do percurso do Nietzsche. E, eu não queria, meu diamante por lapidar
A inveja e a maldade aparecem sempre nos momentos em que a ordem social é perturbada, foi o que aconteceu no 25 de Abril de 1974, aqueles que num dia eram uma coisa, logo no outro passaram a ser outra. Todo este lado sombrio do ser humano espera uma disrupção para emergir e mostrar toda a imundice que existe no seu interior. E depois, é a destruição de quem não pensa como eles, tal como os extremismos religiosos, os da politica são o mesmo, só há uma coisa em comum que é a imundice do ser humano.
ResponderEliminarDaí que diga que ainda acho mais estranho os que nunca tiveram a menor pobreza ou dificuldades na família e ainda hoje andem com o lema da "Revolução" em nome do povo. (Zazie)
ResponderEliminarTivemos um amigo de família que tinha posses, embora tivesse tido antepassados humildes e porventura pobres. Um dia - isto na altura dos abuspos e desacatos no Alentejo, alguns anos após o 25/4, com os comunistas a comandar as tropas e a doutrinar o povo, literalmente, isto é, os pobres trabalhadores - ao ouvir os seus protestos e reivindicações na televisão, dizia com a sinceridade que lhe reconhecíamos "eu, se fosse como eles, também era comunista".
Eis o exemplo acabado do que a inveja e o ódio aos ricos são capazes de fazer ao carácter tortuoso e mesmo máuzinho de certos seres humanos e terá tudo a ver com a sua ambição desmedida, a ganância pelos bens alheios e sobretudo uma inveja doentia por o outro possui (tendo-os às vezes em maior número e tão bons, como o caso deste nosso amigo) e cobiça desmesurada. Defeitos estes que lhes estão na massa do sangue e nem conseguem disfarçar.
Estes defeitos insanáveis em grande parte intrínsecos aos comunistas sejam eles pobres ou ricos (estes por oportunismo), foram excelentemente descritos pelo José e pela Zazie.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarDisse o José em comentário ao meu comentário: "Aqui o que me interessa é mesmo perceber a razão porque se adere a uma causa que em determinado momento chega ao extremo de tornar admissível eliminar o outro, fisicamente, com armas na mão e a imitar as revoluções que ocorreram por essa Europa fora e mesmo aqui, com as guerras do séc. XIX entre os "liberais" e os "absolutistas", por exemplo."»
ResponderEliminarEssa questão constitui, efetivamente, uma grande questão (e o exemplo da guerra civil portuguesa do século XIX é um exemplo em que maioritariamente os vencedores foram movidos por razões canalhas e os poucos idealistas, muito jovens, que embarcaram e sobreviveram tornando-se conservadores na maturidade e sendo visados pelos esquerdistas sempre a emergir ao longo desse século).
Contudo, no meu comentário estava a reportar-me a algo mais micro, os impulsos que determinam alguém a enveredar pelo radicalismo de ações e empenhos em movimentos e ideologias com pés de barro, aos 16 / 20 anos (a idade é fundamental). Plano em que embora uma considerável maioria seja determinada por algumas razões associadas aos sete pecados mortais, uns tantos pelo conformismo e ideia de carreira (por ex. tive colegas nos anos 70 e 80 que foram estudar para a URSS pela mera circunstância de a família ser do partido e parecer-lhes uma via com várias vantagens de carreira e académicas),e uma plêiade de outros motivos pouco nobres, mas penso que há vários individualmente movidos pelo que se lhes apresenta como imperativo moral.
Perspetiva sobre experiências pessoais na juventude que não constitui a defesa da bondade de escolhas mas, apenas, um olhar sobre estórias de vida em que a contingência também é determinante.
Plano em que os jovens moralmente empenhados são muitas vezes mais determinados pelo impulso para o fazer já e "reagir contra" do que pela sustentabilidade de um projeto e do que se constrói. Nesse sentido mais importante do que aquilo porque se luta (o ideal) é aquilo contra que se luta, daí não ter falado em justiça social como motivo mas na «revolta contra a injustiça social».
Naturalmente, dimensões emocionais da vivência de cada um são envolvidas (o que se sofreu, as culpas, etc, etc) e, volto a repetir, as contingências.
Posteriormente, na maturidade as escolhas envolvem outras determinantes e o prosseguir caminhos, reorganizá-los, esquecer, apagar, justificar, aproveitar valências, são várias atitudes ou desenlaces verificados, e em regra a marca do pragmatismo é a estatisticamente mais relevante.
Mudar sem alienar o jovem que se foi é um grande desafio para quem continua movido por imperativos morais e reflete sem indiferença sobre o eu e o outro (é sobretudo isso que numa refrega animada ou mesmo violenta de palavras pode ligar os contendores e, a dado passo, existir o risco de ser esquecido)
Relativamente à inveja da glória de Aquiles sendo um tema que merece ser decantado (espero ler o José sobre o mesmo) parece-me que se reporta à maturidade, e muito ao olhar para trás, e não ao móbil dos jovens movidos por agir contra o que os desgosta na sociedade (ainda que equivocadamente, ingenuamente, ou fechando os olhos ao barco em que se entra).
Também não é essa a inveja que conforma a força da adesão a certos modelos que vendem amanhãs que cantam, uma religião sem Deus que racionalmente um adulto sabe que sustenta apenas elementos destrutivos e vantagens para grupos minoritários ou indivíduos por via da filiação (hipocritamente em nome do bem comum, o cimento dos socialismos totalitários). Aí trata-se de uma inveja ódio do outro, e não da sua glória, a inveja da última frase dos Lusíadas tem inerente a admiração sentimento estranho a quem se alimenta do ódio (ainda que com palavras cínicas para esconder a falta de qualidade da louça) e que é ontologicamente incapaz compreender as epopeias dos outros.
Caro PJMODM:
ResponderEliminaracho que a inveja será tudo isso em conjunto. Esse sentimento que todos conhecem pode ser abrasivo, difuso, recalcado ou explícito na enunciação.
Aos 16-20 anos, a geração do tempo de Milhazes que
é exactamente a minha, tinha já a formação suficiente para decidir em consciência o que queria para si e para os outros como modo de organização política, em geral do Estado.
Tinha já a noção do que seria uma ditadura comunista do tipo das do Leste e que o PCP por cá acaparava completamente e sem reservas ( ao contrário da Itália ou Espanha) ou uma ditadura do tempo de Marcello Caetano. Sabia necessariamente o valor dessa distinção e por isso o PCP teve 12,5% em 1975, acho.
Porém, permanece a questão de fundo: o que leva um jovem adulto a optar por um sistema e um partido que necessariamente iria denegar a Liberdade, cuja ausência era a pedra de toque contra o salazarismo e principalmente não garantia a "justiça social" como também era já possível entender na época através da leitura de outras fontes que não as do breviário comunista dos Avantes, Pravdas e Granmas?
O clique fundamental para se optar politicamente pelo PCP qual é?
A justiça social não parece ser porque o PS tinha o mesmo desiderato "em Liberdade". O PPD/PSD idem e até o CDS fazia gala disso.
Porque é que se meteram no PCP?
Para mim sobra a tal explicação: a hostilidade aos que supunham ser os "ricos", a burguesia. É esse o traço comum e fundamental entre os comunistas, parece-me. É esse o fundamento da luta de classes.
E sendo assim o que impulsiona tal raiva latente e explícita no programa político comunista?
O que alimenta essa ideia concreta?
Para mim não é qualquer coisa abstracta inefável ou idealista. Antes pelo contrário: é aquela inveja como sentimento prevalecente na mentalidade de cada um.
Pode não ser de carácter, como acredito em relação a muitas pessoas, incluindo o José Milhazes, mas é de ambiente moral e de opção ideológica.
Por isso é que me interessa saber mais sobre o que Nietzsche disse sobre o assunto. Nietszche, apesar de não ter estudos de Filosofia, já li algures que "arrasou" intelectualmente Wagner...o que não é dizer pouco.
Mas tem razão: vou pensar melhor no assunto e escrever um postal que espero seja despretensioso mas interrogativo, sobre o assunto.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarO pai de José Milhazes não era comunista pelo que ele escreve no livro. Era pescador e analfabeto no sentido de não saber ler ou escrever porque "as letras não pescam e por isso não enchem a barriga", como dizia o pai e os amigos.
ResponderEliminarEra ainda uma pessoa de boa cepa no sentido de honesto e que era o apanágio de muitas pessoas daquela altura.
Por outro lado, Milhazes diz que nem a própria família conseguiu converter ao comunismo...por causa daquela sabedoria antiga sobre a esmola ser grande e o pobre desconfiar disso.
Logo é melhor ler o que Milhazes escreve antes de dizer certas coisas.
Porém, incomodavam-no também as "discrepâncias sociais existentes na sociedade, não compreendia porque é que uns viviam muito bem e outros muito mal, porque é que milhares de famílias à minha volta, incluindo a minha, viviam na miséria,embora não se cansassem de trabalhar".
ResponderEliminarÉ este o ponto: a família de Milhazes não escolheu o comunismo para resolver aquele problema. Milhazes escolheu...
Fez muito nem em apagar o comentário. Nem o deveria ter escrito...
ResponderEliminarBom, para referência, eis o que dizia o Mestre:
ResponderEliminarNós não temos receio do comunismo, porque (repetirei a frase) temos uma doutrina e somos uma fôrça; mas não queremos perder os homens simples, de boa fé, que procuram garantir o seu pão, de envolta com todos os outros.
Nesta efervescência comunista há, como por toda a parte, em primeiro lugar, um pouco de «snobismo»: a atitude das ideias arrojadas que causam mêdo e admiração aos «pobres homens» que nós somos, e são defendidos por senhores que antecipam com as suas camisas de sêda e seus fatos elegantes o bem-estar geral do futuro e vão tratando «por tu» os camaradas, obrigados por ora a reservar-lhes a êles «excelência». Há depois alguns espíritos, porventura cheios de sinceridade e certamente também cheios de ilusões, que buscam os meios de realizar a paz e a justiça entre os homens, paz e justiça tão abstractas e irreais como a concepção que têm da própria humanidade. Há ainda, e sobretudo os agentes activos e interessados, organizadores da desordem por inadaptação social, por instinto de revolta e por negócio, recebendo e gastando os fundos angariados, e encarregados de manter, geralmente por conta e ordem de estrangeiros, o fogo sagrado da anarquia. Estes, perfeitamente conscientes do mal, não podem contar nem com a tolerância para os seus ideais, nem com a liberdade para a sua acção; aos primeiros esperamos que lhes passe a febre e aos segundos que a vida os ensine a pensar melhor, impedindo uns e outros de se tornarem nocivos.
Quem é o Mestre citado?
ResponderEliminarOra, quem há de ser?
ResponderEliminarNão o tira pelo estilo?
"esperamos que lhes passe a febre"
ResponderEliminareeheheh
Era de uma perspicácia. E depois chamam-lhe provinciano tosco que nem lavava as cuecas
Podia ser o meu estimado Marcello Caetano...ahahaha!
ResponderEliminar":O)
ResponderEliminarJoão Raínha, o seu excelente comentário das 22.05 diz tudo o que há a dizer sobre o tema em questão. E explica preto no branco as motivações que levam certas pessoas a aderir ao comunismo e a transformação que este pode provocar nos seus espíritos e dos povos em geral, quando acontecem as revoluções comunistas e a subsequente alteração da ordem social nos países anteriormente em paz. A alteração da lei e da ordem, esta a primeira medida e a imprescindível de quem despoleta as revoluções, traz imediatamente à superfície os piores defeitos do ser humano, temporàriamente adormecidos à espera de um sinal de aprovação de quem lidera as revoluções para exteriorizarem da pior maneira a inveja, o ódio e maldade de estão possuídos.
ResponderEliminarEstes dois terríveis defeitos de personalidade são o que verdadeiramente motiva certas pessoas a tornarem-se comunistas. Creio ser este o enigma que explica o que o José anda há que tempos à espera de deslindar: o que levou e ainda leva alguns portugueses, uns ricos e bem nascidos outros pobres e desfavorecidos, a professar tão malígna ideologia. Trata-se da inveja e da maldade (e do ódio aos ricos) elevadas à máxima potência e de que não conseguem livrar-se por mais que queiram... e a maioria deles simplesmente não quer - nem pode - são defeitos de carácter que lhes são intrínsecos, estão inscritos no seu ADN.
Por distracção este comentário apareceu nesta caixa, mas era destinado a outra. Sorry:)
ResponderEliminarUm outro, que já está escrito e a ser enviado a seguir ou mais logo, é que diz respeito a esta caixa.
José, pode ter a certeza que é uma inveja desmedida e um ódio visceral aos ricos e às famílias bem nascidas, além de uma madade interior indisfarçável (não me refiro òbviamente ao José Milhazes e a outros ex-comunistas, que são a excepção à regra, que as há em tudo) que está na origem de quem escolhe/escolheu pertencer ou apoiar partidos comunistas e isto desde que esta ideologia existe e até antes dela ter nascido. Os dirigentes de todos os partidos comunistas, salvo um ou outro caso, normalmente eram homens bem-nascidos e intelectualmente dotados e pelo contrário os deserdados da sorte de que aqueles se socorreram/socorrem para a luta política, era/é pobre, humilde, sem eira nem beira e portanto nada tendo a perder, só esperam ganhar... mas o que nunca sucede para mal dos seus pecados o que não os impede de, na esperança (vã) disso algum dia vir a acontecer, permanecerem fiéis e religiosamente crentes nas falsas promessas do partido.
ResponderEliminarBasta lembrar o que os bolcheviques, com os tais intelectuais a comandar as tropas e a lavar o cérebro à arraia miúda, fizeram à infeliz família imperial russa e o que os motivou a praticar actos tão terrìvelmente bárbaros não só àquela como a inúmeros cidadãos nobres e a outros da classe alta e abastados. A arraia-miúda, sempre com a inveja latente e gulosamente à espera de se apoderar dos bens dos ricos, acicatada pelos chefes com a promessa de mais tarde irem possuir os seus bens e dinheiro. Chefes e arraia miúda igualmente invejosos: os primeiros, de poder e estatuto; a última, do dinheiro e bens alheios.
No caso do Czar e família, como em todos os casos que tiveram o mesmo fim, o que eseve por detras de tanto horror foi inveja do estatuto, do poder e da incomensurável riqueza que a família imperial possuía e do fausto de que se rodeava. É a ganância e a cobiça, filhas da inveja, que presidem à ânsia de se apoderarem de tudo o que os ricos e nobres possuem: fortunas consideráveis e palácios e palacetes majestosos e do seu riquíssimo recheio, conscientes de que por mais vidas que vivessem jamais poderiam alcançá-los, o que faz aumentar o ódio que lhes professam.
(cont.)
Enquanto que através das revoluções comunistas e com o incentivo dos chefes, tudo o que for longamente cobiçado sem grande esforço será perfeitamente alcançável e num futuro próximo ficará mesmo à mão de semear.
ResponderEliminarPensemos no oportunista, cínico e ganancioso Durão Barroso - sem esquecer alguns outros com os mesmos antecedentes políticos e quase todos de origem modesta ou mesmo pobre, será que ele também a teve? - e os actos indignos que aquele velhaco praticou no início deste maldito regime: roubos de mobiliário valioso na Faculdade que frequentava e na Embaixada de Espanha, bem como o fogo que pegou a esta e na qual praticou os mesmos roubos incluíndo tapetes persas valiosíssimos que resolveu cortar aos pedaços e que só um valdevinos sem eira e doentiamente invejoso seria capaz de cometar. Actos infames dele e de mais outros criminosos que com ele colaboraram no assalto à Embaixada e noutros crimes públicos e de património, como o fez na mesma altura o cínico e oportunista Albarran e outros da mesma igualha. Isto tudo enquanto ele militou no mrpp e mais tarde, como paga dos seus crimes, este sistema pútrido compensou-o e de que maneira oferecendo-lhe grandes e importantes cargos políticos, cá e lá fora, subindo depressinha na vida graças à pródiga democracia e aos seus mentores que muito agradecidos lhe ficaram pelos serviços prestados à seita. Outro dos mais graves crimes cometido por este patife, foi a traição ao País ao permitir secretamente o envio ilegal de armas dos Estados Unidos para o Irão atravéz dos Açores. E quem foram as personagens políticas que estiveram por detrás da sua rápida ascensão na política e o ilibaram dos crimes sociais e políticos praticado ds? Pois, são essas mesmas em que estão a pensar.
Não esqueçamos, também e a propósito do tema "inveja", o que fizeram aos Reis durante a Rev. Francesa movidos pela inveja doentia que tinham da monarquia e da família real e de milhares de nobres e de cidadãos da classe alta, embora a seita e aqueles por ela comandados tivessem nessa altura outras designações, tendo porém a mesma origem ideológica e padecendo d'igual inveja e ódio aos ricos e poderosos.
É bom lembrar que antes da matança indescriminada e horrenda acontecida em França durante 1789 e nos anos seguintes, já no século anterior haviam sido cometidos crimes idênticos na mui democrática Grã-Bretanha, movidos por inveja e ódio à monarquia, ao seu imenso poder e ao ambiente faustoso em que vivíam e que os revoltosos, pela sua origem humilde e paupérrima, jamais poderiam alcançar. E quem os liderava tinha a mesma origem política mas ainda não havia adoptado o nome pelo qual a seita ficaria conhecida, bem como o nome dado à organização mundial (sionista) que os seus sucessores mais tarde acabariam por fundar.
No Portugal de 1974 ter-se-ía porventura verificado a mesma matança e praticado igual selvajaria contra os ricos e poderosos (houve, é bom não esquecer, uns tantos e graves ameaços), caso não tivesse aparecido em cena poucos anos depois na U. Soviética - mas ele já andava por lá e polìticamente bem activo e porventura a enviar mensagens e ordens ao partido comunista português e aos seus principais dirigentes para terem calma e não avançarem demasiado no processo revolucionário em curso ou poder-lhes-ia sair o tiro pela culatra - um corajoso Gorbachov mais os seus Glasnost e Perestroika debaixo de braço. Devia ter aparecido em cena uns anos mais cedo e muita tragédia teria sido evitada em Portugal, mas mesmo assim honra lhe seja feita.