Crónica de VPV hoje no Observador, a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República e que intitulou "o mestre da encrenca":
Quem conheceu Marcelo nestes quarenta anos de democracia com certeza
não se espanta com a encrenca que ele agora arranjou com o
primeiro-ministro e o ministro das Finanças. Onde ele pode baralhar as
coisas, baralha – pelo prazer, por impulso, porque a sua natureza o
impede de se calar, quando devia ficar calado, ou de falar quando devia
falar. Com vinte anos, foi o “lélé da cuca” e a “vichyssoise”. Depois
vieram outras mais graves, menos graves, numa sucessão irresistível até à
Presidência da República, onde ele tem finalmente a oportunidade de
exercer o seu talento e consolar o espírito. Mesmo na televisão os
comentários dele eram sempre sobre a habilidade de cada um para enganar o
próximo e o bom povo, a quem hoje ele inunda de “afecto”, num
espectáculo pelo menos pouco sério. Há quem goste e há quem se desgoste.
Não interessa. Se o elegeram, que o aturem.
De resto, Marcelo em parte não tem culpa. A espécie de sarilho em que
desta vez se resolveu meter exige parceiros e ele descobriu dois com
muitas possibilidades: Centeno e Costa. O jogo do diz que disse e que
não disse, ou que disse e não pensou, ou que pensou e não disse, precisa
de um certo treino e de uma certa vocação. Pena que o Estado e as
finanças da ralé sofram com isso. E que a Presidência da República, como
o parlamento e os partidos, caia no desprezo geral. Eanes, Soares,
Sampaio e Cavaco cometeram erros, consentiram abusos, mas nunca se
arriscaram ao ridículo e as querelas pueris, a que o vivaz Marcelo
diariamente se presta. A República pede por força um Presidente; e a
nossa, com origem militar, deu a essa personagem um papel, aliás, pouco a
pouco limitado, mas que, de qualquer maneira, ainda é excessivo e lhe
permite uma ingerência constante na política partidária.
Com Marcelo em Belém não consigo conceber onde iremos parar. Ou consigo: iremos de encrenca em encrenca até ao desastre final.
Esta mesma crónica já tinha sido escrita há muitos anos noutra revista, no caso a Opção, em 19.8.1976, por Artur Portela Filho:
não me recordava do 'lélé da cuca' ou maluquinho
ResponderEliminar'o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita'
3 trapalhões atrapalhados
vai ser um sucesso
E o Marcelo ainda tem a base aérea de Leiria para baptizar como Dr Álvaro Cunhal...
ResponderEliminarPS
O ex-delfim do dito Dr sempre quis ter um aeroporto lá para ficar mais perto de casa...e manda quem pode!