Observador, Alexandre Homem Cristo:
A qualidade de uma democracia republicana mede-se, entre outras vias,
pelo comportamento dos seus representantes, tanto governantes como
parlamentares. Isto porque os nossos regimes liberais não são apenas
compostos de regras, leis, instituições, freios e contrapesos. O
cumprimento da lei não chega – de nada servem as regras e as
instituições se umas não forem cumpridas e outras não forem respeitadas,
mesmo quando assim a lei o permite. Os regimes liberais distinguem-se,
para além da forma de governo, pela sua dimensão moral. Estão suportados
em pilares éticos e são mantidos por quem acredita nos valores da
liberdade, igualdade, justiça, dignidade humana, diversidade,
tolerância. E, como tal, a credibilidade de um sistema político perante
os cidadãos assenta, também, no reconhecimento do respeito por esses
valores por parte dos seus representantes – e não, somente, do
cumprimento da lei e das regras, pois algo ser legal não significa que
seja ético.
É por isso que, em várias democracias maduras, os políticos abandonam
as suas funções quando se vêem envolvidos em casos que põem em causa a
sua idoneidade enquanto servidores públicos. Só no último ano, exemplos
não faltam. Bruno Le Roux, ex-ministro do Interior em França, demitiu-se devido à contratação das suas filhas para assistentes parlamentares. Aida Hadzialic, ex-ministra da Educação na Suécia, demitiu-se por ter sido apanhada a conduzir sob efeito de álcool (0,2 g/l). Keith Vaz, ex-deputado inglês do Partido Trabalhista, demitiu-se por se ver envolvido num caso de prostituição masculina. Ard van der Steur,
ex-ministro da Justiça da Holanda, renunciou ao cargo face à acusação
de que, em 2001, teria ocultado informações ao parlamento sobre um caso
de corrupção de justiça. José Manuel Soria, ex-ministro espanhol da Indústria, demitiu-se após ter sido conhecida a sua relação com empresas em paraísos fiscais. Sigmundur Gunnlaugsson, ex-primeiro-ministro da Islândia, renunciou ao cargo quando se viu envolvido no escândalo dos Panama Papers. E por aí fora.
Em Portugal, resiste uma certa dificuldade em compreender esta lição
elementar: o regime tem de manter uma dignidade moral e quem ocupa
cargos públicos tem de estar acima de qualquer suspeita. Aliás, um dos
debates deste tempo ilustra bem o problema: não se precisa dos tribunais
para afirmar que Sócrates, enquanto agente político, é culpado – basta
saber que, enquanto primeiro-ministro, viveu às custas de transferências
ocultas de um amigo com quem o Estado mantinha negócios. Mas se
Sócrates é um óbvio caso de polícia, a cena política portuguesa está
repleta de situações cuja inconsequência envergonha.
Carlos César (PS) tem toda a sua família empregada em cargos públicos, incluindo posições de nomeação. Ricardo Rodrigues (PS),
célebre por ter sido condenado em tribunal pelo roubo de gravadores a
jornalistas durante uma entrevista, foi escolhido pelo PS e há semanas
eleito pelo parlamento para o Conselho Superior dos Tribunais
Administrativos e Fiscais. António Gameiro (PS), conhecido por ter sido condenado em tribunal
pela apropriação indevida de 45 mil euros de uma cliente (e com pena
agravada pelo Tribunal da Relação), foi (novamente) eleito para o
Conselho de Fiscalização do Sistema Integrado de Informação Criminal. E,
menos recente mas interessante de comparar com o que sucedeu na Suécia,
Glória Araújo (PS), à época deputada (2013), foi apanhada pela polícia a conduzir sob efeito de álcool (2,41 g/l) – e recusou renunciar.
Todos os exemplos recentes são do PS? Sim, como seriam do PSD se
estivesse no governo – o poder permite aos partidos agir à sua conta e
vontade. Eis a arrasadora indiferença dos partidos aos critérios éticos,
sobretudo quando integram a maioria parlamentar. Ora, é fácil (e justo)
apontar o dedo aos partidos. Mas tudo isto apenas acontece porque se
entrega aos políticos a decisão em benefício próprio, sem ter contrapeso
na sociedade civil – isto é quem proteja o sistema político, denuncie e
pressione os partidos a alterar comportamentos que, sendo legais, não
são éticos. Só que, no fim de contas, ninguém se importa realmente. O
facto de as recentes eleições em plenário da Assembleia da República
(Ricardo Rodrigues e António Gameiro) mal terem sido notícia é prova
suficiente. Depois não há surpresas: quem não se dá ao respeito não é
respeitado.
CÉSAR, o autêntico, acabou com a república
ResponderEliminaro cezarzinhp dá um jeitinho
o micro-césar pensa ser a incarnação de Cícero.
mas não passa de cicerone
1º centenário do nascimento do Presidente JFK
ResponderEliminaro PR JE dos S está em Espanha a tratar-se
jornal i
52 bilionários preparam-se para comprar as sobras do rectângulo
geringonça incluida como contra peso e medida
a dívida, pesada herança do socialismo, será paga pelos contribuintes
peço desculpa, mas falta de vergonha a sério é isto!
ResponderEliminarhttps://dre.pt/web/guest/home/-/dre/107099842/details/maximized?serie=II&parte_filter=31&dreId=107099821
"valores da liberdade, igualdade, justiça, dignidade humana, diversidade, tolerância"
ResponderEliminarAr e vento
Dieu se rit des hommes qui déplorent les effets dont ils chérissent les causes.