O artigo é sobre uma obra de arquitectura na remodelação de uma capela, no Seminário Menor de Braga, que a foto mostra.
Esta capela que agora assim se mostra e na perspectiva indicada, com vista para o fundo, já foi assim, até há pouco tempo:
Estive lá em Maio passado e gostei da transformação apesar de ser tão radical que parece outra capela.
Obra notável e embora conheça quem não aprecie, julgo que a nova capela transmite uma dimensão religiosa sublimada da anterior. Agora parece uma pequena catedral medieval inserida num espaço que antes era apenas modernista ou nem isso: vulgar. A ilusão é de tal forma que o escrito exposto dá uma dimensão poética à sensação de lá estar.
Também me parece muito conseguida. O espírito da luz do gótico foi bem realizado.
ResponderEliminarJosé em termos arquitectónicos — e para não ser só dizer mal —, Portugal é uma potência mundial. Não é o Siza e Souto de Moura, é uma infinidade de arquitectos medianos (para os padrões de cá) que são do melhor que existe no Mundo. E há uma dúzia capaz de ganhar um Pritzker. (Dito isto,também é uma seita que para se lidar é complicado… nas obras em Portugal começa no arquitecto e acaba no trolha, tudo a ajudar…)
ResponderEliminarTer o país feio, destruído arquitectonicamente e urbanisticamente é mais um dos selos de qualidade pós 25A! Só patos bravos. Muito se roubou e ganhou a parir as nossas vilas e cidades.
Mas ultimamente tem sido concretizadas obras muito meritórias, é um facto. Eu sei que a Zazie por exemplo não gosta, mas eu gosto dos cubos brancos.
Eu gosto desta intervenção.
ResponderEliminarA arquitectura deve ser a coisa que mais me diz. Não para apreciar mas para viver.
E há-de ser por isso- por ser algo perfeitamente vital que sou muito conservadora nesse aspecto.
Consigo apreciar, em fotografia, alguns cubos. Mas não era para viver.
O que mais admiro é a arquitectura popular tradicional. Toda ela. Consegue juntar tudo- a sabedoria do aproveitamento dos espaços e das funções com a simplicidade e ligação até dos materiais ao local.
Nas outras artes não tenho esse problema porque não é coisa tão vital e biológica.
ResponderEliminarMas incomoda-me- pode mesmo estragar-me o dia, ver a porcaria dos graffiti seja onde for. É como pisar merda.
E péssima arquitectura ou coisas modernas à City causam-me pavor. Não consigo sequer passar um dia nesse ambiente. Muito menos viver assim.
Olhe, é de tal ordem que é por isso que nem voto nas autárquicas. Só de pensar que posso estar a dar carta branca a mais merda, nem pensar.
ResponderEliminarVotava mais facilmente em brigadas de polícia. Era o único programa que apoiava.
"Mas incomoda-me- pode mesmo estragar-me o dia, ver a porcaria dos graffiti seja onde for. É como pisar merda. "
ResponderEliminarA melhor descrição que li desde sempre… não suporto. E suporto ainda menos a inacção das autoridades e instituições. O Rui Rio no Porto implementou tolerância zero para essa merda e a ver se praticamente todos não desistiram. É que custa-lhes dinheiro e dá trabalho e é chato chegar lá um tipo de rolo e pintar por cima.
Onde moro, há diversos casos daquilo que só posso entender como chantagem de paredes todas borradas que de repente aparecem pintadas de frenco com uma obra de um "artista". E desconfio que ainda lhes pagam. Já chegou a casas particulares que pagam ou cedem os muros das garagens.
City é Londres? Se é, digo-lhe que deve ter da pior arquitectura imaginável para centro de cidade. É qualquer coisa de inexplicável. O Príncipe Carlos nem deve dormir a pensar naquilo e como se poderá demolir…
ResponderEliminarEra "pintadas de fresco".
ResponderEliminarSim, exacto. É um pavor.
ResponderEliminarO Dubai deve ser pior
":OP
o rectângulo tinha mais beleza no tempo dos
ResponderEliminar'barões da caliça'
quando em serralves disse que aquilo era uma merda
alguns lacaios olharam-me de modo furibundo
importante o convite à desaparecida reflexão
Ora aí está um excelente exemplo do que eu queria dizer, Floribundus.
ResponderEliminarPara mim, basta confrontar a casa Serralves Art Déco dos anos 30 com a Serralves cubo-branco do Siza Vieira.
É que não consigo sequer desencantar hipótese que me diga que "são coisas diferentes, mas dentro do género e tal e coisa..."
O tanas- Serralves Art Déco é um prazer visual- tem charme. A outra é uma trampa desagradável a tudo.
Claro que me podem dizer que apesar de ser desagradável, dentro do minimal tem jogos de luz e tal. Mas, para isso, teria de ser qualquer outro objecto- uma gare de aviões, ou uma pequena caixa de arrumações. Nunca uma casa de tamanho real e a fazer disso mesmo.
ResponderEliminarNão dá. Não consigo suportar.
Agora este tipo de intervenções como parece ser o da apela são outra coisa.
ResponderEliminarParece-me qeu é mesmo o mais difícil de se conseguir. São um arranjo que tira partido do moderno integrando-o no antigo. Como uma declinação do espírito medieval em formato contemporâneo. Mas sem ser uma armação toda assim, exterior. Porque aí ia falhar, pela certa.
Acho que nestas conjugações que não pretendem deitar tudo abaixo e fazer novo, é que muitas vezes está a grande perícia artística.
O problema do "cubo-branco" é querer fazer do design arquitectura.
ResponderEliminarEm design o minimal até fuciona muito bem. Adoro o design suíço.
Serralves é um horror estético, a meu ver.
ResponderEliminarEsta capela só vendo, indo lá...e apreciar a luz e a composição criada.
Estive nessa capela durante os meus 10 a 14 anos. Todos os dias.
ResponderEliminarFoi ali que ouvi missas em latim e no novo rito; sermões de vários padres eloquentes e interessantes que todos os presentes ( cerca de 400 diariamente) adoravam, como os do Pe Fernando Leite.
Foi aí que aprendi que o comunismo era malévolo para a sociedade e o mundo.
Foi aí que aprendi a ter mais Fé.
Foi nesta capela.
E agora passados estes anos, quando lá regressei, com esta nova arquitectura, tudo o que se passou antes sublimou-se no que aprendi entretanto.
O arquitecto, quanto a mim, fez uma obra genial porque me permite recordar o passado e integrar as ideias novas sobre a espiritualidade antiga que sempre apreciei, por exemplo nas catedrais.
Esta capela é uma catedral em miniatura.
Que engraçado. No seu caso pode fazer bem esse balanço.
ResponderEliminarJá sabia! Serralves, não adoro, mas é uma obra meritória. Mas há muitas mais.
ResponderEliminarTambém há muita arquitectura como design, mas a que me atrapalha é a arquitetura como parolice, tipo city ou Dubai… ou mamarrachos tipo Colombo e virtualmente todos os centros comerciais …
O Colombo? Não é mau...no género.
ResponderEliminarNo centro de Berlim fizeram pior, depois da queda do muro.
A City também não me parece muito mal, no género.
E já agora, Viana do Castelo, com as obras dos três arquitectos da moda, em Portugal?
Já alguém viu bem o que fizeram?
Não me parece famoso...
eheheh
ResponderEliminarCom essa é que o José arrumou
Eu não os vi, só em fotografias, mas qual deles o mais horrível.
Pior que toda a City (aliás, até gosto do Shard)
Como é que o Souto Moura foi fazer aquela poia?
O Colombo não é mau? José, sobre isso não pode haver discussão — quase que me engasgava com o meu chá Pai Mu Tan Imperial! O senhor do pasquim Público tem outros méritos e um deles foi desfeiar o país com toda a casta de mamarrachos absolutamente inenarráveis. Dos quais o Colombo é o expoente máximo… havendo mínimos como o Norte Shopping e o inacreditável Gaia Shopping.
ResponderEliminarA city é de um mau gosto verdadeiramente appalling (aliás, começo a suspeitar seriamente que os ingleses, tirando o John Pawson e os jardins, sabem é de futebol e não têm gostinho absolutamente nenhum). No meio daquele lixo arquitectónico, deve haver alguns bons que passam despercebidos. Como "skyline" é um pavor.
Berlin… outra valente merda de facto (também não fui lá — só quando caiu o muro e pouco depois), mas se reparar no meu comentário acima, arquitectos bons tem em Portugal. E não são poucos.
ResponderEliminarEm Viana o de Souto de Moura até é perturbador… mas eu acho que o man não anda bom da pinha. Li uma entrevista dele ao DN que achei uma pobreza tão franciscana que até fiquei triste. E aquele choradinho à portuguesinho do tipo quem não chora não mama… insuportável.
O do Siza está bom. Não estou a ver quem é o terceiro…
Viana tem coisas boas: o Centro de Remo, o prédio da Caixa Agrícola, um hotel preto que acho muito bom… tudo de arquitectos desconhecidos do público e que não são da moda. Casas particulares também, há uma com cobre na fachada que gosto bastante. Este Branco Cavaleiro é o mesmo do centro de remo, gosto.
Este último exemplo até gosto.
ResponderEliminarA questão não é ser minimal ou mesmo brutalista. É serem matacões com excressências disfuncionais. O do Souto Mouta parece que tem cocó à volta. Uma tripalhada inútil horrorosa.
Depois existe urbanismo. E esse não se afere indicidualmente mas pelo seu conjunto.
Os ingleses têm o estilo vitoriano naquelas casas de tijolo que é lindo. Ora o que me incmoda é andar por Hampstead e ver uma besta de um milionário espatifar uma dessas moradias para a transformar num cubo branco à nipónica da moda.
Ou outro que até acrescenta palmeiras e coloca tudo a alumínio minimalista nas placas e portões.
A arquitectura teve coisas bem interessantes até aos anos 30. Depois deu-lhes para o exagero e a ver quem conseguia fazer mais ficção científica.
Houve design aliado aos cubos com coisas lindas, incluindo o lettering, como o neoplasticismo do Rietveld
O Fernando Távora, por exemplo- também tem a mania das excressências, tal como o Siza Vieira.
ResponderEliminarPara que é que fazem aquelas inutilidades de pseudo-janelas saídas como se fosse coisa militar ou traves espetadas como se fosse uma pérgola?
Não é estrutural nem é decorativo. É estúpido e agressivo à vista e ao "tacto".
Estou com a Zazie.
ResponderEliminarQuanto à capela, não sei se percebo bem o que estou a ver, mas se ficou como na última fotografia, e era como na primeira, então nem tem comparação. Agora têm lá uma capela, porque dantes tinham lá o que parece ser um estaleiro de obras.
Aliás, é fácil encontrar a igreja católica em qualquer terriola onde também haja igrejas protestantes: é procurar a mais feia.
Tudo o que é moderno - ou seja, feito pós 2ª GG - é normalmente mamarracho brutalista em betão nu como parece na primeira fotografia.
Em qualquer sítio, se se vê um mamarracho desses com uma cruz, 99% das vezes é uma igreja católica.
Não consigo explicar este facto, e constata-se de Portugal à Suíça, pelo menos.
Mas justificava-se repristinar a Inquisição só para este assunto. Porque a arquitectura é vital, como diz a zazie, e há-de haver aqui gato escondido com o rabo de fora... É impossível isto ser mau gosto que toma tudo e todos em todo o lado...
Há coisas que só para cenários de filmes. Um delas, que admito que fosse "boa no género" que fez as coisas mais destestáveis foi a Zaha Hadid.
ResponderEliminarÉ um exmeplo que ultrapassa qualquer possível desagrado com Colombo ou construção de pato-bravo anónimo.
Os arquitectos têm demasiado ego e se não os controlam destroem tudo para fazerem utopias.
O brutalismo não gosto mas há coisas brutalistas que até resultam. Depende do lugar-
Há uma igreja em Hampstead, também de tijolo que tem formas brutalistas e é bem curiosa. Fica perto da casa do Freud. Já a fotografei.
Eu digo que é vital porque é um prazer gratuito dos maiores passear-se em locais com arquitectura linda.
ResponderEliminarE é coisa que nem precisa de ser cara para poder criar urbanismo que pacifica o espírito.
Isso é que chamo ser vital. Porque dou enorme importância à estética do que me rodeia.
Mas diz bem.
ResponderEliminarVital de vida e de viver. Nós vivemos em edifícios, por isso nem é preciso ressalvar nada.
A arquitectura é vital para toda a acepção da palavra.
Pois é
ResponderEliminar";O)
Muja, se acha que a última foto é a capela pronta, não podemos falar mais de arquitectura, só do Trump. E sobre isso também não pode haver discussão: Bronco é bronco. E vice-versa! :)
ResponderEliminarAh! Obrigado!
ResponderEliminarPois, não tinha percebido!
As duas últimas fotos do postal são a capela como era.
A foto com o pessoal sentado é o resultado, então?
Bem me parecia que estava ao contrário dos ventos da história...
Então, não tem altar nem sacrário? Só aquela mesa marada? Ou é aquela espécie de mesa-de-cabeceira atrás encostada à parede?
Parece uma igreja prot.
ResponderEliminarAté o crucifixo atrás está disfarçado no meio dos paus todos.
Diria que a capela ficou bonita. Só precisam de a mobilar... ahahah!
Mas, então, a foto do artigo é a remodelação a meio?
ResponderEliminarO tecto por cima do lugar do altar também era escusado ficar assim.
ResponderEliminarParece o tecto dum barracão.
E aquele sino... Por dentro? Nunca tal vi...
ResponderEliminarAumentaram o pé-direito para o meter dentro?
Vá ao Google para perceber melhor.
ResponderEliminarAquela parte com luz deve ficar aos pés da nave.
aqui
Quanto muito a estátua é que poderá parecer mais esquisita. A mim não me choca nada; na Idade Média era assim e eu sou "pré-trentina"
":OP
A parede está um espanto!
ResponderEliminarOlhe só a abóbada
ResponderEliminarLindíssimo. Até fiquei com vontade de ir lá ver.
E é uma pequena armação de madeira!
ResponderEliminarVeja o filme:
https://youtu.be/EoXwKqTYVhg
«Que tu próprio ames pintar um ícone, que ames fazê-lo, assim como eu amei fazer a escultura de Maria ou todas as outras coisas que fiz nesta igreja»
ResponderEliminarNão há nisto nada de prot
Muito inteligente- Vão ao mais antigo da tradição icónica e junta-lhe a luz gótica num espaço medieval.
ResponderEliminarE sim, o tecto por cima da abóbada do altar é também primitivo- como se fosse bizantino.
ResponderEliminarO cristianismo começou assim, com formas bem mais iconoclastas que tudo o que depois de Trento se fez.
É preciso ir muito mais atrás para se entender.
Isto é que é um excelente neo-medievalismo
E nada contra a estátua.
ResponderEliminarNadinha
ehehehe
No princípio era assim. Uma religião popular, ingénua e humilde.
Agora render culto perante uma figura destas é que só os católicos são capazes.
ResponderEliminarPor isso é que o catolicismo é superior. Concilia tudo.
Quando lá fui, em Maio deste ano, bastou entrar para ficar imediatamente rendido à beleza medievalizada do lugar. E que era nada disso, antes das obras. Julguei até ser impossível fazer uma coisa daquelas porque a capela primitiva não tem sequer cem anos. O meu pai, que lá passou também por aquele lugar, em 1967 levou-me lá a mostrar o sítio onde tinha estado: as salas de aula, os pianos para aprender a tocar, os salões de estudo, o recreio, etc etc.
ResponderEliminarA capela que era já a que se mostra nas fotos abaixo ainda não existia no tempo dele que foi o do início dos anos 40, tempo da Guerra.
Portanto, esta obra agora feita é um espanto quanto a mim. Gosto de catedrais góticas e visito-as sempre que posso. A de Braga, da Sé velha, agora, para a ver é preciso pagar.
Mas a beleza das catedrais góticas, como a de Alcobaça, empresta um ar a esta capela.
Não obstante tudo isso, um amigo meu, colega desse tempo, não gostou daquilo e do facto de o altar estar situado no meio da assembleia e de os bancos estarem virados uns para os outros. E não aprecia a arquitectura.
Que se há-de fazer? Há quem goste e quem deteste.
Por mim, é uma pequena maravilha.
Obrigado. Assim já se vê melhor.
ResponderEliminarContra a estátua, não tenho nada.
O resto... assim assim.
Não gosto do betão a nu.
Não consigo sequer perceber como pode ser lindíssima essa abóboda.
Às vezes penso que o Vs. mal - o das pessoas mais velhas - é terem tido coisas belas a mais. Por isso depois acham piada a estas coisas "diferentes".
Estou farto de ver esse tipo de coisas. É tudo diferente, logo igual - tudo abstracto, tudo morto.
Podia ser a abóboda de uma igreja como de um corredor de parque de estacionamento.
Safa-a a pedra, a estátua e a madeira.
Não duvido que o jogo de luz seja interessante e estando lá deve ser diferente. Mas isso os antigos também já faziam.
Não quero estar a desfazer muito porque há muito pior, mas é o que sinto.
Para se perceber: em 1967 havia uma parte do edifício antigo que já tinha sido remodelada, como foi a capela. A existente anteriormente, por exemplo em 1940, não era assim como se mostra na imagem anterior a esta nova remodelação. E claro, nada tinha a ver com esta.
ResponderEliminar"Às vezes penso que o Vs. mal - o das pessoas mais velhas - é terem tido coisas belas a mais. Por isso depois acham piada a estas coisas "diferentes"."
ResponderEliminarAs coisas belas que existiam ainda existem, acho. O que existia nos anos sessenta, quando tinha a idade de criança, muitas vezes era mais feio do que agora.
Tomando Braga como exemplo, hoje, o centro é mais bonito do que nessa altura. A Rua do Souto que atravessa a cidade na parte central é muito mais bonita hoje do que então, a meu ver.
Aquilo à volta da Sé Velha era de fugir, de tão velho e degradado que estava. Hoje é uma maravilha, renovado mesmo com algum mau gosto em certos sítios.
Quanto à estátua, achei bizarra a figura da beata sentada no banco. Para mim não faz sentido, nem sequer estético, mas pode fazer para outros. E se me derem um sentido para aquilo que tenha lógica religiosa, até começo a aceitar melhor.
ResponderEliminarDo que não gosto mesmo nada é a Igreja nova que fizeram em Fátima. Parece uma sala de concertos. Um pavilhão. E não sei se o arquitecto não foi o mesmo...aahaaahahah!
Eu sei que existem.
ResponderEliminarMas renovado não é novo.
Não que dantes fizessem tudo bonito. Hoje é que parece que fazem gala em fazer tudo feio.
Aliás, parece não. Fazem mesmo gala.
Como em tudo o resto, a "abertura" da arte para fora dos cânones visava a supressão destes. Sempre acompanhada do bom do mercadejar.
Se não houver cânones, os mercadores designam o grande artista antes de ele criar - ou "produzir" et pour cause - o que quer seja. Como já fazem no cinema e na música.
Hoje, de uma forma geral, só passa o que dantes se considerasse feio.
Já me fartei de discutir isto com um amigo que é fotógrafo dado às artes.
Mantém ele que a beleza não é objectiva e que tal permite liberdade para os artistas fazerem coisas diferentes das que se faziam. Coisas "novas".
Digo eu que, se isso fosse verdade, então haveria apenas mais coisas: as que se faziam pelos cânones e as "livres".
Mas não é isso que sucede: passou a haver só coisas "novas" e "livres". O resto desapareceu tudo - no sentido de se fazer novo.
Os russsos estalinistas também pensavam assim. A arte realista da União Soviética é muito pobre, a meu ver. O que havia dantes, no início do século começava a ser uma nova forma de expressão. A seguir estiolou.
ResponderEliminarHá obras de arte, de Picasso e de outros modernistas, que nos anos sessenta eram consideradas feias esteticamente. Uma criança que garatujava, na altura, fazia "picassos".
Quem vai aos museus ver essas obras de arte percebe imediatamente a beleza intrínseca que lhes é própria e não será apenas por influência do gosto modernista entretanto instilado no gosto geral.
É mesmo espantoso, por vezes, ver certos quadros. Para mim, percebe-se logo a categoria de um grande artista só de ver o modo como traça os contornos de figuras, mesmo geométricas.
Ver um Dufy ou um Matisse mais simples dá logo a noção de quem quem os fez é um artista maior.
Não gosto da pintura de Bacon, mas reconheço a arte que nele existe.
Mujah: no meu caso é básico; sou biolgicamente medievalista.
ResponderEliminarNão há lugar algum que me fascine mais que uma pequena igreja medieval.
E nem precisa de ser gótica. Basta uma rotunda românica ou ainda mais antiga.
Nem sei explicar. Por isso gostei desta intervenção. Porque vai a esse passado e capta esse espírito.
O medieval não é "estético". Tem uma beleza espiritual que implica outras coisas.
Pode até parecer escuro, rude e feio. Era um local de ascese.
Engraçado as associações que o José fez.
ResponderEliminarEu faço as mesmas. Percebe-se a estética de despojamento de um Bernardo de Claraval ao ver um Malevich e vice versa.
O Matisse foi isso tudo- um clássico, um místico e um primitivo-moderno.
Era profundamente católico.
A estátua também acho que não devia estar sentada.
ResponderEliminarFaria sentido num plinto qualquer. Agora sentada, de facto, retira o sentido e parece mais uma brincadeira de café ou de intervenção de rua.
ehehe Terá sido o mesmo?
ResponderEliminar«Hoje, de uma forma geral, só passa o que dantes se considerasse feio.»
ResponderEliminarSim, isso é verdade nas artes plásticas.
Mas os espaços religiosos não estavam subordinados a lógica estética, por muito que o tivessem sido.
Tinham um sentido lógico de sagrado, mesmo quando era o tal "esplender da luz na matéria". Quer fosse à Bernardo de Claraval (que aboliu a decoração do bestiário) que fosse à abade Suger que pensava o oposto.
Claro que o barroco é outra coisa. Mas estou a falar dos templos antigos de uma religião antiga.
Este ano era para ter ido a Ravena e acabei por não poder ir.
ResponderEliminarÉ um dos locais que mais me fascina por ter por lá isso. Por fora ninguém diz- é rude- por dentro tem aqueles mosaicos espantosos.
Hoje em dia o bonito existe mas é abstracto e quer ser "grande pintura" quando podia ser maravilhosa decoração de tecidos
ResponderEliminarAHAHAHAHHA
Uma vez disse quase isto a uma rpariga que faz coisas lindíssimas, incluindo em gravura.
E disse-lhe que apreciava muito todas aquelas complicas decorações e sobreposições e que me fazia lembrar os recidos nipónicos primitivos ou outros tradicionais indianos que eram lindíssimos. E eu até compro pequenas peças deles para fazer forros e lenços.
E vai ela e confessa-me que tem esse fascínio desde miúda e que os comprava também.
E eu estive quase para lhe dizer que o que ela faz devia ser utilizado em padrões de ricos tecidos para a moda
eheheheh
E isso era impossível porque ser artista hoje em dia não é ser utilitário
Eu acho esta obra mesmo boa. Não gosto de um ou dois detalhes: A figureta, que não entendo; e o altar que é francamente feio e desligado do resto. Mas é mais uma obra de um arquitecto que nunca ninguém ouviu falar e que prova o que eu digo. Até gostava de visitar.
ResponderEliminarPode dar-se o caso de vocês estarem a dizer mal do que temos de melhor, como é costume dos portugueses e eu neste caso sou excepção. Porque considero mesmo que a arquitectura portuguesa é do melhor mundialmente. E vê-se isto nestas obras correntes e nada grandiosas.
O arquitecto de Fátima não é grego? Acho que era um grego.
E outra coisa: falaram do brutalismo, mas julgo que o betão à vista não faz uma obra brutalista. Isso que eu saiba foi uma corrente que acabou e os exemplos actuais têm quando muito elementos brutalistas, mas muito atenuados. Siza, Souto de Moura et al, são minimalistas, mas nem são radicais. Radical é o John Pawson, o meu preferido (que nem curso de arquitectura tem, tal como o Tadao Ando, outro preferido).
ResponderEliminarNós tivemos os maiores arquitectos durante o Estado Novo.
ResponderEliminarE também acho que ainda temos. Mas a arquitectura de agora é que não me fascina como a dos anos 20 ou 30.
Dei o exemplo das duas Serralves para explicar a questão. Podia dar mais. O problema é esse não são as pessoas e a sua arte.
Dava para despejar uma série de nomes e toda a gente sabe o que fizeram- Pardal Monteiro, Cassiano Branco Cottinelli Telmo, etc, etc
ResponderEliminarO Cassiano Branco teve coisas maravilhosas.
Passava as férias no Luso e aquele Grande Hotel ainda hoje é incomparável com o mais que desencantem recente.
Isto para não falar do interior das casas.
ResponderEliminarDos azulejos às bandeiras das portas, aos frisos nas paredes, às ombreiras das portas; as protas de madeira trabalhada, a mil e um detalhes que faziam charme, tudo isso desapareceu com a mania do "menos é mais"- ponto; linha, plano.
Isso funcionava nas igrejas medievais
ResponderEliminarAHAHAHAH
Com um rude genuíno e depois a marginalia e o bestiário, ao lado dos santos.
Tenho por aqui uma entrevista com o Raul Lino sobre muita coisa. E nem me lembro se já publiquei porque a tenho scaneada há muito. O artigo é assinado por Maria Antónia Palla...adivinhe-se quem é.
ResponderEliminarAcho que já publiquei mas nem fui confirmar.
O JRF dá exemplos de boas obras mas singulares.
ResponderEliminarOu seja- um bom edifício não faz bom urbanismo.
Mede-se tudo pelo individual. E tudo tem de parecer obra-prima.
E os bairros? como é?
À Siza Vieira? para isso antes a arquitectura tradiconal marroquina e em Marrocos, não no Norte.
O problema é que tudo tem de ter um mesmo ar e demasiado ego. E depois acham que funciona em qualquer lado porque não pensam no colectivo.
E outra coisa- tem tudo de parecer qualquer coisa menos uma casa.
Na Idade Média tudo era feito à imagem da catedral. Até a decoração dos paramentos.
E as decorações estavam sujeitas a estilos que demoravam a mudar e também eram mutio iguais.
Agora o decorativo desapareceu e faz-se do estrutural decoração que tem de parecer qualquer outra coisa absolutamente diferente da função e da tradição que essa função sempre teve.
No extremo, aparece o que mais me encanita que são as encomendas para tapar os prédios com desenhos de mensagem ideológica, como se a arquitectura fosse um dazibao.
ehehe
ResponderEliminarO que dizia ela do Raul Lino?
Publiquei este mas a história é outra e tem sete páginas sobre a arquitectura de Lino, no Século Ilustrado de 1970.
ResponderEliminarSe não tiver publicado vou fazê-lo agora porque tem considerações esparsas e de diversos arquitectos sobre Lino.
As estações de comboio; as escolas primárias, os mercados, os bairros do Estado Novo, foram outra maravilha.
ResponderEliminarE eram mais ou menos iguais.
Fizeram-se coisas que agora passam por "experiências artísticas" únicas- como a a pala da Ezpo qeu era usual em arquitectura de mercados e nem precisava de ser assinada.
Um exemplo: o antigo mercado de Xabregas. Nem se sabe quem foi o arquitecto.
Já lá está. A vantagem de ter tudo organizado permite recolher em minutos o que me interessa.
ResponderEliminarObrigada, José.
ResponderEliminarDaqui a pouco vou ler.
JRF,
ResponderEliminarNão sou entendido. Disse brutalismo porque me aparecem por vezes daquelas compilações na net, e são sempre parecidos com o que eu quero dizer.
O Barbican é brutalista, penso eu, e é em tijolo, como diz a zazie.
É um espaço agradável - outros diriam o contrário, mas, para mim - apesar do estilo.
Querem brutalismo- vão ao original: o do "pedregulho triste" do Speer e o dos bunkers fotografados pelo Paul Virilio.
ResponderEliminarA "aura negra do que não se pode nomear" como dizia o W. Benjamin
Eu ao gostar do modernismo, minimalismo, etc, não quer dizer que não goste da arquitectura do Estado Novo, que no conjunto era muito mais harmoniosa. Adoro os bairros. Vivo numa casa de 1927 e estou a ver se me mudo para uma de 1960 — ambas com beiral :) . Mas estou-me a ver grego… despedi o primeiro arquitecto e podia ter despedido o segundo… agora o empreiteiro abandonou a obra há quatro meses. É a ética de trabalho que cá existe. Nem a pagar…
ResponderEliminarPara urbanismo é necessário outro tipo de conhecimentos acho eu e Siza e Souto de Moura para mim já provaram serem nulidades. A Avenida dos aliados no Porto é tenebrosa, as marginais de Leça e Matosinhos idem. Parecem desertos de granito, mas ver de balão deve ser bonito.
É verdade que eu gosto de obras específicas e singulares é verdade, mas há imensas. Mesmo muitas.
ResponderEliminarA Zaha Hadid era excelente arquitecta, mas faz parte de um tipo que é a arquitectura-espectáculo. Gosto de alguma coisa, mas não queria uma casa feita por ela. Gosto da Casa da Música e cumpre a função, é de longe o edifício mais fotografado no Porto; o Guggenheim de Bilbao, mais que cumpre a função e o investimento; O Louvre de Abu Dabhi de Jean Nouvel é qualquer coisa de extraordinário; a filarmónica de Hamburgo de Herzog & De Meuron…
Relativamente à decoração pormenores, etc, eu que vou na segunda casa (restauro total), digo-lhe que não sei o que nasceu primeiro: se o simplificar, se a falta de artesãos. É que não só não há, como o custo é incomportável. Nesse sentido, a simplicidade. Mas é verdade que os bairros do Estado Novo eram muito simples e muito bonitos. Aqui deitaram um abaixo da Efanor, onde os meus avós e mãe moraram, para construir prédios em volta do Norte Shopping, uns em cima dos outros. Isso sim, é revoltante. O senhor Sonae, desde 74 a destruir o país, um bairro de cada vez. E é uma empresa sem gosto absolutamente nenhum.
"com beiral"
ResponderEliminarTambém eu queria. ehehe
Fiz beiral no quintal, à falta de outro.
":O))))
Eu já sei, por isso é que disse :D .
ResponderEliminarehehehe
ResponderEliminarJá sabia?
Não me lembrava de ter falado nisso.