É capaz e já Camões o tinha escrito: além do mais, havia o Adamastor, as ninfas e lémures que deixaram descendência, como se torna visível.
Pelo sim, pelo não aqui fica o escrito de Tavares para demonstrar que quando tem razão, tem. Tirei-o daqui, porque o encontrei no Google:
Pobre Fernando Medina, do que ele se foi
lembrar: fazer um Museu das Descobertas, ou dos Descobrimentos, em
Lisboa! Uma ideia que pareceria absolutamente consensual e necessária e
que só pecava por tardia, parece que se transformou numa polémica que já
suscitou a indignação de mais de uma centena de historiadores e
“cientistas sociais”, trazida a público num abaixo-assinado de
professores de diversas Universidades, portuguesas e estrangeiras — se
bem que, para dizer a verdade, quase todas de segundo plano, as
Universidades, e quase todos, portugueses, os professores, com excepção
de alguns, que presumo brasileiros, em decorrência dos nomes que
ostentam e que só podem ter origem em antepassados portugueses e não em
avós balantas ou mesmo tupi-guaranis.
Antes de, com a devida vénia e
indisfarçável terror, entrar na polémica, deixem-me confessar a minha
ignorância preliminar relativamente a duas questões, seguramente
menores: desconheço quase por completo, não só os nomes, mas, sobretudo,
a importância dos ditos historiadores para o que, num português em voga
mas não recomendável, chamam “a riqueza problematizante” do que ora os
ocupa; e desconheço ainda mais o que faça ao certo um cientista social
que o torne uma autoridade na matéria.
Isto posto, e indo ao fundo da
controvérsia, estas cem excelentíssimas autoridades indignam-se, em
suma, contra o maldito nome do nascituro museu. Porque a questão, dizem
eles, é que chamar-lhe Museu das Descobertas ou dos Descobrimentos, “não
é apenas um nome, é o que representa enquanto projecto ideológico”.
Este, esclarecem, é o projecto ideológico do Estado Novo, “incompatível
com o Portugal democrático”. Bravo, António Ferro, o SNI continua vivo,
os Descobrimentos portugueses mais não foram do que a antecâmara do
colonialismo e o Estado Novo o seu apogeu e desfecho natural! O “mar sem
fim português”, de que falava Pessoa, outra coisa não era, afinal, do
que o Portugal do Minho a Timor, de que falava Salazar.
Pois, bem, se a palavra “descobertas”
envolve um “projecto ideológico” de conotações maléficas, isso significa
que as excelentíssimas autoridades têm outro projecto ideológico que se
opõe e resgata este. Qual seja, e abreviando, chamar a atenção, por
exemplo, para que os povos alegadamente descobertos pelos portugueses
não se terão sentido descobertos, porque, de facto, já lá estavam. É um
argumento tão fantástico, que, de facto, é irrebatível. Mas, salvo
desconhecida opinião, ninguém sustenta que Vasco da Gama criou do nada o
samorim de Calicut, que os Jesuítas encontraram o Tibete despovoado ou
que Pedro Álvares Cabral celebrou a primeira missa em Terras de Santa
Cruz para uns fantasmas vestidos de índios. Não, o que eles fizeram foi
encontrar as rotas, marítimas ou terrestres, que ligaram o Ocidente e a
Europa ao Oriente e às Américas, pondo em contacto dois mundos até aí
sem contacto algum (com a excepção parcial das viagens de Marco Polo,
por via terrestre, e as viagens marítimas, sem sequência científica ou
outra, dos vikings). O que se sustenta é que não foi o samorim que se
deu ao trabalho de largar o seu luxuoso trono e apanhar uma low-cost
para a Europa, mas o Gama que se arriscou a ir mar fora naquelas cascas
de noz ao seu encontro. Na época, isso significou — em termos de
navegação, de cartografia, de indústria naval, de rotas comerciais e de
avanços científicos em todas as áreas — um pulo de uma dimensão nunca
antes e raras vezes igualado depois, na história da Humanidade. Sem
falar das terras virgens que descobrimos e dos que não descobriram
povos, dos que navegaram em pleno desconhecido, movidos por um
verdadeiro sentido de descoberta tão extremo e destemido que só
poderemos classificar como quase demência: Bartolomeu Dias dobrando o
Cabo da Boa Esperança sem saber o que iria encontrar do outro lado;
Fernão de Magalhães procurando insanamente o Estreito que ainda hoje tem
o seu nome, ligando o Atlântico ao Pacífico e provando que a terra era
redonda e circum-navegável em toda a sua extensão; os irmãos Corte-Real
desbravando o limite extremo do norte navegável. Todos eles em mar
aberto e em terra de ninguém, onde seria impossível às excelentíssimas
autoridades encontrarem forma práctica de dar execução a outro dos
argumentos arrolados para o conceito ideológico do seu museu: “Valorizar
as experiências de todos os povos que estiveram envolvidos neste
processo”.
Enfim, e sempre resumindo, vem depois o
argumento da escravatura. É incontornável e eu subscrevo-o: deve estar
referenciado num museu sobre as Descobertas, e subsequente colonização
portuguesa. Sem esquecer, porém, que não foram os portugueses que
inventaram a escravatura, mas apenas aproveitaram o comércio de escravos
que encontraram florescente nas costas oriental e ocidental de África. E
sem esquecer também que, sem desculpar o que foi a tragédia da
escravatura, não há erro mais simplista de cometer do que julgar a
História pelos padrões éticos contemporâneos. E estou à vontade no
assunto, pois escrevi um romance histórico cujo tema central era a
escravatura em São Tomé e Príncipe e em que, apesar de ela ter durado
até à primeira metade do século XX (!), não encontrei, curiosamente,
entre tanta fonte pesquisada e tanto historiador preocupado, nenhum
trabalho histórico de referência que a contemplasse.
Não resisto a uma palavra aos invocados
historiadores brasileiros que assinam esta petição. Conheço muito, de
ver e de ler, da herança história de Portugal no Brasil — e tenho um
profundo orgulho nela. Todos os ciclos de prosperidade histórica do
Brasil, ligados às riquezas naturais, tirando o primeiro — o do
pau-brasil, irrelevante, em termos económicos — foram feitos graças a
árvores levadas para lá pelos portugueses: a cana de açúcar, a borracha,
o cafeeiro, até os coqueiros, que levámos da Índia. E o ouro, o célebre
ouro, roubado pelo D. João V? Ah, o ouro do Brasil! Do célebre “quinto
real” (tudo o que cabia à Coroa), nem um quinto cá chegou. O resto?
Perguntem a todas as ‘Lava-Jato’ que saltearam o Brasil, desde 1822.
Pedras, monumentos? Tudo o que ficou de pé é português: no Pará, em
Pernambuco, em Salvador, em Minas, no Rio, em Paraty, onde quiserem. E o
Amazonas, cujo desbravamento por Pedro Teixeira é uma aventura
assombrosa de coragem e persistência e cuja colonização, que incluiu a
construção dos sete fortes de fronteira, erguidos com pedras de granito
levadas de Portugal a mando do marquês de Pombal, e a que o Brasil ficou
a dever milhões de quilómetros quadrados de floresta virgem preciosa, e
que foi, no dizer do grande historiador brasileiro Joaquim Nabuco,
“talvez a maior extraordinária epopeia de todos os Descobrimentos
portugueses”? É bem provável que os brasileiros não saibam nem queiram
saber dessa história. Os portugueses não sabem com certeza. Mas deviam
saber.
Que haja portugueses que tenham vergonha desta história e queiram reescrevê-la numa espécie de museu de autoflagelação é problema deles. Mas não pode ser problema dos outros. O dinheiro dos nossos impostos não pode servir para fazer um museu contra a nossa História, contra uma História que foi tão grandiosa que, se calhar por isso mesmo, nem a conseguimos entender, na nossa pequenez actual. Tudo isto me faz lembrar o que escreveu no início de um poema uma senhora que, por acaso, era minha mãe: “Navegavam sem o mapa que faziam/ Atrás deixando conluios e conversas/ Intrigas surdas de bordéis e paços…”.
Para terminar: já me tinha pronunciado
sobre isto antes. Antes de esta irrepetível oportunidade para fazer uma
coisa bem feita ter sido capturada pela intelligentsia ociosa dos
abaixo-assinados. Mas volto ao que então escrevi: eu não queria apenas
um Museu das Descobertas em Lisboa. Queria um Museu de Portugal e do Mar
ou dos Portugueses e o Mar. Onde coubesse também a história de duas
outras extraordinárias epopeias que o comum dos portugueses e dos
estrangeiros que nos visitam desconhece: a nossa contribuição única e
indispensável na história da pesca à baleia (juntamente com os
cabo-verdianos), no Atlântico e Pacífico, e na história da pesca ao
bacalhau à vela, na Gronelândia e norte do Canadá. Desse modo se
tornaria patente que não foi por um simples acaso, nem para espalhar a
fé e o império, ou apenas para trazer a pimenta e a canela da Índia, que
este pequeníssimo povo, entalado entre o fim da Europa e o mar,
escolheu o mar como destino. E, porque o espaço tem relação directa com
isso, porque está miseravelmente desaproveitado, porque é lindo e porque
sai mais barato aos contribuintes, queria vê-lo na Cordoaria Nacional.
De facto a Descoberta do caminho marítimo para a Índia não foi descoberta, foi aventura...
O mal destes intelectuais militantes do politicamente correcto pode não ser falta de conhecimento mas apenas de um conhecimento científico evolutivo, o mesmo que assegura que o homem vem do macaco, por descendência directa. Portanto, resta saber se preferem ter como ascendentes os babuínos ou os gorilas ou, hipótese mais provável, do chimpanzé que já conheciam a teoria da bola saltitona. De qualquer modo, símios há muitos.
Por outro lado, em Portugal há um défice acentuado de conhecimento histórico e se MST denota uma boa escola primária, eventualmente num colégio de padres, a verdade é que nem todos tiveram direito à mesma educação.
Por isso aqui ficam uns recortes de uma revista francesa que agora perfaz quarenta anos de existência- A L´Histoire, aparecida em Maio de 1978- e cujo número especial de Agosto de 2016 mostrava o que foi a evolução histórica no continente africano, o tal em que se assegura ter havido a descoberta da origem do homem. Ou não terá sido descoberta e, sim, invenção? É perguntar a esses sábios...
No Porto já existe o "World of Discoveries" (para inglês ver) e nenhum excelso cientista social se queixou
ResponderEliminarv. https://www.worldofdiscoveries.com/
Já em Braga tivemos direito a ter a estátua do Marechal Gomes da Costa tapada para "por os bracarenses a pensar e a discutir a razão pela qual a escultura foi hoje tapada", de modo a perceberem "quem é esta personagem e o que ela representa", conclui."
https://www.jn.pt/local/noticias/braga/braga/interior/estatua-de-gomes-da-costa-tapada-por-ativistas-do-bloco-de-esquerda-9285038.html
devolvam antónio das mortes à União Indiana
ResponderEliminarpor ser migrante
deviam merditar sobre isto
ResponderEliminarde modo que nada há de novo debaixo do sol.
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois.
Eclesiastes 1:9-11
Estes indivíduos têm uma estratégia que é essencialmente merdiática e como controlam os mérdia, passa. Mas na minha opinião é um meio para um fim. O fim é o amanhã que canta, o meio é estar nas notícias, todos os dias, todos os dias, sem falhar um único.
ResponderEliminarO comunismo, tal como a ferrugem, nunca dorme.
ResponderEliminarE quem acha que é uma questão menor, faz o jogo da "reacção"...ahahaha. Ou seja dos que andam sempre a rabiar contra a tradição e o passado.
Eu já estava à espera desta imbecilidade. Mesmo a exposição da Comemoração dos Descobrimentos Portugueses não se tinha feito agora.
ResponderEliminarPorque a escardalhada tomou conta disto tudo e a lavagem cerebral agora até tem patrocínio "estrangeiro" da ditadura do politicamente correcto.
Lembro-me de há cerca de 3 anos uma brasileira ter vindo ter comigo para ver se eu lhe orientava uma tese na área. Só que a área que ela queria era o "racismo do colonialismo".
E queria ilustrar este racismo com imagens portuguesas contra os pretos
ehehehe
Eu perguntei-lhe se tinha ideia do espaço e das datas e que nada. Já sabia que tinha de ser racismo desde sempre porque sim.
Para meu espanto, sai-se com esta: "sim, porque o racismo é tão grande que até se diz que tem medo do escuro às crianças porque o escuro é o preto".
A sério. Parece anedota mas ela disse isto mesmo- que temos um preconceito racial até por se ter medo de estar às escuras e não ver nada.
Eu recomendei-lhe o ISCTE. Disse que por lá encontrava de certeza quem lhe orientasse a coisa mas comigo não valia a pena.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar"sim, porque o racismo é tão grande que até se diz que tem medo do escuro às crianças porque o escuro é o preto".
ResponderEliminarTodos os dias aprendo uma coisa nova… nesta vou tentar ser como Sherlock Holmes e esquecer-me imediatamente.
Não sei se alguém chegou a ver este apontamento da BBC sobre uma pintura que mostra Lisboa nos tempos do império (Facebook).
ResponderEliminarA coisa está preta.
ResponderEliminarDenegrir.
Mercado Negro.
Serviço de preto.
Magia Negra.
Ovelha Negra.
Lista Negra.
.
Estas são expressões correntes que tem origem numa epoca. Época essa onde havia seres humanos de primeira e de segunda. Não está bem nem mal. Foram outros tempos e a língua acompanhou esses tempos.
Da mesma forma que a evolução moral e legal no que estes temas diz respeito mudará a língua para futuro. E bem.
Rb
A aristocracia de espirito não é coisa que se compre. Um bom berço ajuda, mas não é suficiente. Se não sabemos perceber que o destinatário das nossas palavras pode sentir-se ofendido e, mesmo assim, as usamos sem freio, só pode haver uma razão. A maldade. Deixa de ser o uso duma expressão normal para passar a ser uma ofensa deliberada.
ResponderEliminarOs americanos quando querem interiorizar um preto dizem-lhe: come here boy.
E depois, bem e depois eu perguntei ao meu motorista angolano se os angolanos levavam a mal se chamasse preto para indicar alguém. Ele disse-me que dependia. Da entoação. Oh preto chega aqui é ofensa. Mas se dissermos aquele preto é alto para caramba não é ofensa.
A diferença pode ser subtil nalguns casos mas prevalece sempre o bom senso, a boa formação moral, a educação.
.
Atributos que mui estão em falta na direita pisca pisca.
Rb
Mui bom senso, mui boa formação moral e mui boa educação deve ter o pisca pisca que disse isto:
ResponderEliminar"Não se espantem, porque entretanto os tais três reis magos que vêm em Fevereiro agora a Portugal (...). Um é do Banco Central Europeu, o outro também é da Comissão Europeia e até há um mais escurinho, que é do FMI".
E sabe como reagiram por cá os toinos dos académicos à conta dessa pintura, não sabe, José Rui...
ResponderEliminarPois, é como lhe digo. Uma anedota mas é anedota de lei e manda.
Não conhecia a pintura, nem nunca tinha visto nada semelhante.
ResponderEliminarDiogo Ramada Curto é um dos que questiona a autenticidade da obra. Pois é, estraga-lhe a narrativa...
Estes tipos sao a nova Inquisicao. Tal torna-se cada vez mais evidente. Se nao forem denunciados e travados agora agora daqui a 10 anos sera talvez demasiado tarde.
ResponderEliminarMuseu do Auschwitz Português » OK
ResponderEliminarMuseu das descobertas » Ai que horror e colonialista.
A democracia arrebentou com a civilização ocidental.
Não sei como reagiram… o meu contacto com o Mundo, designadamente o pequeno mundo português é quase exclusivamente através deste blogue. Já não olho para quase mais nada. Passo a tempo livre a ler e ver as coisas que me interessam.
ResponderEliminarPor exemplo, ainda ontem acabei de ler um livro sobre malaguetas — este ano vou cultivar umas 15 variedades. Sabia que não se deve conservar malaguetas em óleo ou azeite sem ser no frigorífico? E secas! As frescas fora do frigorífico podem desenvolver uma bactéria que provoca botulismo. Em casa dos meus pais havia sempre um frasco de piri-piri em azeite fora do frigorífico, tenho sorte em estar vivo!
Com certeza que o conceito de descoberta está hoje ultrapassado, porque de facto o resto do mundo sempre lá esteve.
ResponderEliminarHoje num mundo globalizado é um bocado ridículo informar os outros, por vezes culturas muito mais antigas que a nossa, que nós é que os "descobrimos" como se a única parte importante da humanidade fossemos nós.
O que houve foi a expansão europeia de que o descobrir o caminho para chegar aos outros povos não passou d uma primeira etapa.
A maior parte desses povos até já eram conhecidos e eram conhecidos outros caminhos. Para nós a chegada à índia não foi nenhuma descoberta. Toda a gente sabia que existia e era por isso que queríamos lá ir.
Estava-se apenas a estudar vias alternativas no que foi apenas um pormenor na expansão e não um movimento de descoberta pela descoberta que aí sim mereceria tratar o período por essa designação.
Essencialmente o que se passou foi a expansão e o próprio termo descobertas só passou a designar o conjunto do processo muito mais tarde, quando a civilização se afinou e não ficou tão bonito gabar a conquista pura e simples como os reis da CONQUISTA faziam.
A designação de todo o processo pelo seu aspecto mais inócuo e progressista não passou de um politicamente correcto avant la letrre.
Ah isto é apenas o princípio.
ResponderEliminarJá andavam por aí a dizer que é crime contra a humanidade.
Pensavam que era só prós outros, não?