Quando se fala na guerra no Ultramar a minha ideia de sempre é a de que uma guerra de guerrilha não se ganha porque está sempre a renovar-se.
Em África deparamos com uma guerra de guerrilha em três frentes e fizemos-lhe frente total. De tal modo que alguns dizem mesmo que estava ganha, apesar daquelas evidências de senso comum.
Um dos que assim pensa é um antigo combatente que dá uma entrevista extensa ao Sapo24 e que vale a pena ler na íntegra.
Daqui:
Tem das histórias mais surpreendentes vividas na Guerra do Ultramar
para onde foi como piloto-aviador. Como a do capitão que, na neblina,
matou por engano a mãe de uma criança bosquímano à frente da filha,
Kinda, que decidiu trazer para Portugal e perfilhar. Dormiu na cama ao
lado de Iko Carreira, que viria a ser ministro da Defesa de Angola entre
1975 e 1980, a quem poupou a vida mais do que uma vez, e era amigo de
Daniel Chipenda, que conheceu em Coimbra e a guerra colocou em campos
opostos.
De regresso a Portugal foi secretário-geral do Conselho
da Revolução em representação da Força Aérea, tendo a seu cargo o
pessoal. Foi aí que se deparou com "uma monumentalidade a dar para o
esquisito", como os conselheiros revolucionários a andarem nos carros
"roubados" aos banqueiros fascistas. E foi também então que conheceu
Cavaco Silva, um homem de quem guarda uma péssima imagem.
Pediu
para passar à reserva aos 40 e poucos anos, quando a tropa já não lhe
dizia nada e no momento em percebeu que os jogos políticos falavam mais
alto. Mas ainda voltou a África, ao Congo, depois de ter feito sociedade
com um bispo luterano que conheceu em Sevilha: comprou duas traineiras
em Setúbal, a Portugal e a Setubalense, e levou-as para pescar no Lago
Tanganica. Ouro sobre azul. A empresa desfez-se nos anos noventa, mas as
traineiras ainda lá estão hoje, activas.
Aos 83 anos continua a escrever a sua história e as histórias
daqueles que, no céu e na terra, fizeram parte da sua vida: de "Kinda e
Outras Histórias de uma Guerra Esquecida" a "Margem Esquerda", passando
por "Histórias de uma Bala Só – Acasos de Vida e de Morte" até
"Conversas com um Gorila Chamado Virunga", contos para crianças e não
só. Enquanto termina o próximo livro, "A Grande Viagem de Maumude", é a vez de o SAPO24 traçar o retrato de Carlos Acabado, um alentejano optimista.
A história de Kinda, que dá origem a um dos seus livros, é fantástica. Quer contar como aconteceu?
Passa-se
com um capitão meu amigo, que já morreu. Ele ia numa missão de ataque e
foi lançado de helicóptero. Em Angola, como em África em geral,
arrefece muito à noite e forma-se uma neblina que se estende para as
margens. Ele subiu a encosta e, de repente, vê o que julga ser um vulto
com uma arma e, instintivamente, atira. Era uma
mulher com um pau de bater fuba, um pilão. Matou-a. Ela estava com uma
criança e a miúda correu para ele a chorar... Ela tinha família, mas ele
quis ficar com a pequena; trouxe-a para Portugal, perfilhou-a e
educou-a como aos restantes filhos.
Onde pára Kinda?
Penso
que neste momento está em África, no Lubango, antiga Sá da Bandeira.
Este capitão morreu com um ataque cardíaco e não sei o que é feito da
mulher, perdi o contacto com eles. Depois da guerra iamo-nos encontrando
e a última vez que o vi foi em Coimbra, estava ele exactamente na
queima das fitas da Kinda - a quem mudou o nome para Maria Adelaide.
Fizemos uma grande festa, recordámos toda aquela cena... A miúda, que
era bosquímano, geralmente mulheres esbeltas e com os olhos achinesados,
fez-se uma bonita rapariga. Ele morreu passado pouco tempo, nunca
souberam do livro. A mãe, se for viva, deverá ter uns 81 ou 82 anos. A
Maria Adelaide deverá andar entre os 50 e os 55 anos.
É possível viver em paz na guerra?
É. É
difícil, mas... A guerra é um fenómeno muito esquisito, é uma coisa
estúpida. Mas vemos além da guerra, sabemos o que sentem os nossos
inimigos. No momento em que a guerra acabou ficou tudo bem, penso que
isto só aconteceu com o povo português. Há uma relação até de amizade
com alguns inimigos. Eu, por exemplo, era amigo do Daniel Chipenda, que
tinha conhecido em Coimbra.
Como é que o conheceu?
Esse
é outro episódio da minha vida. A Força Aérea resolveu mandar para
junto do meio universitário uma espécie de caixeiros-viajantes com o
objectivo de recrutar pessoal. O chefe do Estado-Maior chamou-me e
disse: "Você vai para Coimbra com ajudas de custo permanentes [que
naquele tempo era dinheiro, qualquer coisa como 200 escudos por dia,
além do ordenado e gasolina], hospeda-se no Hotel Astória e vai
representar a Força Aérea e fazer publicidade da Força Aérea". E lá fui
com dois aviões e um sargento piloto coimbrão (morreu num acidente);
comecei com aquela história e acabei na República dos Paxás, na ladeira
do seminário [risos]. Integrei-me de tal maneira que quando casei aquela
malta foi toda ao meu casamento. Na viagem de núpcias passei por
Coimbra e fui tomar um café ao Nicola, que era onde nos juntávamos à
noite. Vem o criado, vira-se para a minha mulher e pergunta: "A senhora
namora este senhor?"
"Namoro não, casámos!", diz ela. E ele responde: "A senhora teve uma
pouca sorte terrível". Ela, coitada, nem queria acreditar. Tive de
explicar: "Ó senhor Martins, olhe que a minha mulher não é de Coimbra, é
de Lisboa". Mas ele insistia, e ela aflita...
E foi na República dos Paxás que conheceu Chipenda, estudante de Coimbra e titular da Académica?
Foi.
Depois eu fui para um lado e ele para outro. A seguir à guerra
juntámo-nos outra vez e falámos da experiência de cada um. Uma vez as
tropas dele furaram-me o avião e aquilo foi mesmo mau, mas conseguimos
aterrar. O Daniel Chipenda chegou a dizer-me: "Se por acaso eu morrer em
Angola e não me quiserem lá, enterrem-me em Coimbra". Isto, dito por um
emancipalista de um angolano, revela a relação que tínhamos. Aquela foi
uma guerra quase civil, entre irmãos. No meu curso tive o Iko Carreira
[primeiro ministro da Defesa de Angola, entre 1975 e 1980], que dormia
na cama ao meu lado, na camarata. Havia uma certa relação... O Iko
Carreira não foi apanhado pelas nossas tropas porque o protegíamos. Para
o apanhar era preciso matá-lo e ninguém queria matá-lo. Por duas vezes
ele esteve com a arma apontada. São histórias que não vêm na história.
Era uma miséria total; gastei – gastou a Força Aérea – horas de voo a
levar miúdos e pessoas doentes para os hospitais. As rações da Força
Aérea eram melhores porque vinham da América. Enquanto os do Exército
tinham sardinhas, umas latas dificílimas de abrir - até se dizia de um
problema que era quase tão difícil como abrir uma lata de sardinhas -,
as nossas até tinham um bolo, uma espécie de queque que quase sempre
dávamos aos miúdos das sanzalas. Dávamos uma grande assistência à
população.
É estranho, ao mesmo tempo que se abate salva-se?
É.
Mas toda a gente diz que viu atrocidades, abater civis, cabeças
espetadas em troncos... Eu nunca vi e estive lá 12 anos. De uma maneira
geral, o nosso soldado é um sentimental. Claro que é capaz de dar um
tiro, tem de ser, mas nunca notei, e andei muito a pé, nenhuma
barbaridade. Vi famílias enforcadas pelo MPLA [Movimento Popular de
Libertação de Angola] e até um homem atado pela UNITA [União Nacional
para a Independência Total de Angola] a um pau cheio de mel para as
formigas o comerem vivo - estava praticamente morto quando lá chegámos.
Fez muitas amizades com o inimigo?
Uma
vez, no meio de uma tempestade, aterrei numa pista que encontrei para
me safar. E estive uma noite à conversa com um comerciante local, que me
acolheu e me contou que tinha filhos de africanas, como todo o bom
português. E dois eram terroristas. Recebeu-me lindamente e, muito
calmo, ao jantar contou-me aquilo. "Então mas você diz-me uma coisa
dessas?", perguntei. "O que quer que lhe diga? A realidade é esta",
respondeu. Em Teixeira de Sousa, que era uma cidade fronteiriça, sempre
em ebulição, havia um hotel que era uma espelunca, pior que qualquer
estalagem do antigo Bairro Alto, o Hotel Sepol. E Sepol era Lopes ao
contrário, o que representava o espírito da cidade: era tudo ao
contrário. Encontrávamos lá mercenários que vinham do Congo aviar-se...
Tive grande amizades, tanto com brancos como com africanos. E tenho uma
filha que nasceu lá, o cartão de identificação diz que é natural do Luache, que ninguém sabe onde fica.
Ouvi-o afirmar que a guerra estava ganha. Porquê tanta certeza?
A
guerra estava ganha, não tenho a menor dúvida. Estou a falar de Angola,
mas mesmo em Moçambique era possível e na Guiné as informações que
tinha dos meus amigos militares era que a guerra não estava perdida,
pelo contrário, havia mais oferta de africanos para as nossas forças do
que para o PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo
Verde]. Devíamos ter aguentado mais uns tempos para dar uma
independência decente a esses países, não era para manter o império. Uma
independência civilizada. Faltava aceitação política, mas militarmente a
guerra estava ganha, afirmo onde for preciso. O MPLA, que é hoje
senhor, dono e ladrão de Angola, não existia. Até o Daniel Chipenda, um
dos cabeças do MPLA, me confessou: "Estávamos para nos entregar" quando
foi o 25 de Abril. O general Bettencourt Rodrigues [Ministro do Exército
(1968-70) e governador-geral da Guiné (1973-74)] confinou a UNITA e
eles colaboravam connosco e o FNLA [Frente Nacional de Libertação de
Angola] tinha desaparecido. Posso dizer-lhe que fazia calmamente num
Mercedes, com a minha mulher e filhos, 300 km até Henrique Carvalho, 600
km até Malange e depois outros 300 km até Nova Lisboa. Veja a confiança
que eu tinha em como eles estavam derrotados.
Como vê hoje as relações entre Portugal e Angola?
Penso que são as
relações entre pai [Portugal] e filho [Angola] desavindos. Entregámos
Angola por influência, sobretudo, do Partido Comunista e depois Mário
Soares entregou aquilo a quadrilhas. Mas é uma fase, quarenta ou
cinquenta anos na história de um país não são nada. Vai normalizar.
Porque ninguém consegue estar em África como nós. Tenho a experiência
pessoal e posterior do Congo, onde os portugueses são tratados como
congoleses, somos l'enfants du pays, filhos da pátria, e isso dá-nos uma vantagem fantástica.
Em relação a Angola fala de pai e filho desavindos. Angola quer sentir-se filho?
Angola
tem a nossa cultura. Mas ainda hoje Angola corre o risco de se
fragmentar, porque aquilo não é um país, é uma zona tribal. E isso é
evidente nas mínimas coisas. Os angolanos entre si são tão diferentes
como nós dos espanhóis ou como nós dos italianos. Os portugueses, bem ou
mal, deram a Angola a estrutura de nação que procuram ter, mas com
complicações. Quer queiram, quer não, falam a nossa língua, têm os
nossos hábitos e eram a província ultramarina mais portuguesa,
absorveram muito de nós.
A parte da corrupção também?
Também.
Infelizmente também lhes demos exemplos desses e eles sabiam. Tinham a
escola primária e evoluiram depressa. São autênticas quadrilhas, com a
agravante de haver muito mais para roubar do que aqui, ninguém calcula.
Uma das pessoas de que lhe falei estava numa zona de diamantes e sabia
os rios, os canais, onde eles estavam. Uma vez só a pesquisa para ver se
valia ou não a pena explorar uma mina justificou todo o investimento.
Agora é que a canção do Zeca Afonso é aplicável: roubam tudo e não
deixam nada. Lá e cá.
Estava em Angola no 25 de Abril. Quando soube que tinha havido uma revolução?
Só
soube do 25 de Abril uns dois dias depois, quando aterrei e o
comandante me contou que teria havido uma zaragata para Lisboa. Quando
me disseram que um dos mentores do golpe era o Costa Martins [fez parte
do Conselho de Estado e foi ministro do Trabalho nos II, III, IV e V
Governos Provisórios], que era do meu curso e fomos como irmãos, pensei:
"Isto não pode ser a sério, estamos desgraçados!". Eu conhecia o Costa
Martins de ginjeira, era bom piloto e muitas outras coisas, mas para
aquilo não servia. Depois começaram a aparecer os outros todos...
Em que acreditou, então?
Pensei
que isto ainda teria remédio. Nunca conheci o general Spínola, nunca o
vi nem nunca trabalhei com ele, mas fiquei com uma péssima impressão,
porque é preciso uma pessoa ser estúpida para acreditar no que ele
acreditou, que era um salvador da pátria. Aconteceu-lhe o que aconteceu:
teve de fugir, disfarçado de bigodes... Uma vergonha.
Era impossível porquê?
Porque tínhamos de ser
nós, que estávamos já em Angola, a ditar as condições da independência.
Não éramos tontos e conhecíamos a evolução do mundo, sabíamos que aquilo
tinha de ser independente, mas nunca me passou pela cabeça que uma
descolonização com aquela dimensão, aquela população e a
responsabilidade que tínhamos, pudesse ser feita como foi. Foi uma
traição ao país. Volto a dizer que devíamos ter continuado a guerra, que
estávamos à beira de a segurar. Havia lá portugueses que nunca tinham
vindo a Portugal, como havia quem nunca tivesse ido a África e só lá
tivesse interesses. E eram essas pessoas, a quem mandavam o dinheiro,
que diziam que estava tudo perdido. Tínhamos de ter protegido tanto a
população negra que era nossa como os brancos que lá estavam, os
mulatos. Aquilo podia ter sido uma nação fabulosa, mas fomos vítimas de
uma guerra fria.
Quando regressou a Portugal?
Vim
em fins de 1975. Assisti em Luanda às guerras entre eles, canhões a
atirar às arrecuas, a bombardear casas dentro da cidade. Aguentei
enquanto foi possível. Mandei primeiro a família para Portugal e fiquei
lá eu e o meu cão, um pastor belga, a quem tive de pagar depois uma
viagem na TAP. Ainda viveu em Évora mais uns dez anos. Era um cão
célebre, só lhe faltava falar. Dava-se com toda a gente e, como eu já
não tinha família em Angola, quando voava tinha de o levar comigo.
Enquanto o avião rolava na pista, ele, que gostava de andar de
automóvel, estava bem, mas quando descolava o Lord ficava quietíssimo.
Quando aterrava era uma alegria enorme. Era um cão fantástico, nunca
mais tive nenhum. Um amigalhaço.
E o que foi fazer, de regresso a Portugal?
Como era alentejano, colocaram-me em Beja, assim como quem diz agora não chateies a gente. Beja era
uma base alemã, só lá tínhamos um avião. De maneira que fiz voos
desportivos, fotografei todos os castelos que havia... Está a ver o que é
uma pessoa vir de uma guerra, com voos a sério, e ter de fazer xis
horas de voo pacífico obrigatórias. Juntei o útil ao agradável. Estive
lá três anos e depois o general Lemos Ferreira [chefe do Estado-Maior da
Força Aérea] chamou-me para o Conselho da Revolução. Disse-lhe que não
tinha nem vontade nem vocação, mas ele insistiu. O Conselho da Revolução
tinha, além dos conselheiros, três secretários-gerais: um da Marinha,
um do Exército e um da Força Aérea, que era eu.
Qual era o seu papel?
O meu pelouro era o
pessoal, tratava dos automóveis, dos escritórios e não tinha muito mais
que fazer. Nunca mais me fardei, era tudo à paisana. E havia ali coisas,
uma monumentalidade um bocado a atirar para o esquisito. Aquela gente
convenceu-se de que eram os salvadores da pátria, tinham o poder todo
ali concentrado. E não podia ser bem assim. Depois pagaram caro com a
revisão da Constituição de 1982.
Pode concretizar?
Os conselheiros andavam
todos em carros roubados – tinha havido o PREC [Processo Revolucionário
em Curso]. O Vítor Alves, de quem eu era grande amigo, andava no carro
do banqueiro Jorge de Brito [Banco Intercontinental Português], que era
um carrão, e os outros também, tudo em carro bons. Era do meu pelouro e
eu achava mal os revolucionários andarem nos carros roubados aos
fascistas. Afinal, estavam a fazer o mesmo que eles. Então resolvi
renovar a frota do Conselho da Revolução, pedindo carros às armas. Uma
das coisas que me impressionou, e me fez ficar com má impressão de
Cavaco Silva, que era ministro das Finanças... Não está bem a ver o que
lá ia parar e as pessoas que iam lá falar [ao Conselho da Revolução].
Como um velho democrata, socialista, a quem arranjaram um tacho de
consultor no Conselho da Revolução e a quem tive de
arranjar escritório. Eu tinha quarenta e pouco anos e ele mais de 80.
Quando fui mostrar-lhe o escritório expliquei que depois lhe arranjaria
mais uns sofás e diz-me ele: "Então arranje-me um canapé". "Um
canapé?!", perguntei. "É que às vezes pode vir alguma rapariga
visitar-me...", responde. Isto revela a ideia que ele fazia do Conselho
da Revolução. Lá expliquei que não sabia se haveria canapés, que talvez
tivesse que se contentar com uma cadeira... Coisas assim.
Voltando aos automóveis e a Cavaco Silva, resolveu a situação? E porquê a má imagem?
Nessa
altura eu correspondia-me com os ministros por diversos motivos. Por
exemplo, como era alentejano, não queira saber a quantidade de
expropriados que vinham ter comigo a ver se lhes resolvia problemas,
tudo à minha volta a ver se eu conseguia desenrascar as coisas. E eu
fazia uns despachos, dava ao Sousa e Castro, e cheguei a corresponder-me
com o António Barreto, que era ministro a Agricultura. Fui sempre bem
recebido. No caso dos automóveis, não havia carros suficientes. No
governo, no Ministério das Finanças - julgo que ainda é assim - havia um
departamento que geria a frota do Estado. Por isso tive de lidar com
Cavaco Silva, que ainda não era a estrela que veio a ser depois. E ele
tratou-me mal – eu até já era major. Não gostei.
Cavaco tratou-o mal em que sentido?
Bem, não
me bateu, mas não queria que eu lhe aparecesse com problemas daqueles,
que não era assunto para ele. Expliquei por que motivo era importante,
mas respondeu-me sempre já com uma arrogância de político. Fiquei com
uma péssima impressão do homem.
E tratou do assunto?
Tratei
eu. Foram para lá uns Volkswagen em que depois ninguém queria andar,
porque achavam que não eram grande coisa. Lá se arranjaram uns carros
melhores para os conselheiros e nós ficávamos com os de mais baixa gama.
Mas, sobretudo, retiraram-se de circulação aqueles carrões, que ainda
por cima era mau andarem por aí nas boîtes... Renovámos a frota para uma
mais discreta e popular e resolveu-se assim o problema. Cada um com chauffeur,
guarda-costas, secretária. Os militares não estavam preparados para
assumir responsabilidades deste género. Quanto a mim, no fundo, no fundo
eram loucos.
Como olha hoje para a instituição militar, em particular para a Força Aérea?
Os
militares estão descredibilizados e caíram em desgraça, também por sua
culpa, mas, sobretudo, por culpa dos políticos. Portugal não deu o
devido valor às pessoas que combateram, mas no fim das guerras,
sobretudo aquelas que se perdem, os militares ficam sempre malvistos
pela população. Faz parte da história. Diziam que estávamos a enriquecer
lá, que era por isso que queríamos continuar a guerra... Tudo mentira. E
há um plano, eles sabem que desarticulando e desprezando as Forças
Armadas elas perdem força, não vão interferir. Hoje não há nenhum
coronel, nenhum comandante de uma unidade, que se atreva a trazer atrás
de si dez soldados. O que quero dizer é que hoje não há qualquer
possibilidade de se fazer uma revolução. A força está na Guarda
Republicana, está na Polícia e há quartéis guardados por seguranças
privados. Isto é admissível? O roubo de Tancos foi o quê? Não há tropa. E
o uso das messes, das cantinas, para fazer catering privado é
uma mancha na história da Força Aérea, mas em todo o lado há gente boa e
gente má. Senti-me envergonhado. Sempre houve roubos: gasolina,
sabonetes, papel higiénico, papéis para os filhos desenharem... Mas não
eram milhões nem uma coisa organizada, eram uns bifes e umas galinhas
para a família, para a sogra. A pirataria nunca chegou ao ponto em que
está hoje.
O que o levou a escolher a Força Aérea?
Sempre
gostei de aviões, mas achava que não tinha físico para ser piloto. Um
dia fui experimentar e, afinal, tinha. E ainda apanhei aquela época
romântica em que éramos todos amigos; se não tínhamos dinheiro para ir a
casa no fim-de-semana, passávamos pela Ota e havia sempre alguém que
emprestava. Estou afastado há muito tempo, mas estou convencido de que
já não há a mesma camaradagem. E íamos para a Força Aérea para servir.
Eu podia ter concorrido à TAP e nunca o fiz. Hoje os pilotos, não digo
todos, vão tirar o brevet, que é caríssimo, à Força Aérea, financiam-se ali e depois vão embora. Isso não acontecia.
O que o levava a crer que não tinha físico para piloto?
Na
altura dizia-se que os pilotos não podiam ter dentes cariados. Eu tinha
e pensava que aquilo era eliminatório. Mas não, o único defeito que me
encontraram foi uma dentada de um burro na perna, ainda tenho a marca.
Como aconteceu?
Na aldeia eu tinha um burro e um primo, ainda hoje
somos muito amigos, tinha outro. Mas os burros não gostavam um do
outro. Um dia o burro dele atirou-se ao meu e em vez de o morder,
mordeu-me a mim, que estava montado nele. A dentada de burro é
fortíssima, julguei que tinha partido a perna. Na inspecção da Força
Aérea quiseram saber o que era aquilo, o médico nem sabia que os burros
mordiam... Mas estava tudo bem, entrei para a Força Aérea e tive sorte
com os instrutores que me atribuiram. Tive vários acidentes mas nunca
fiquei mal, nem eu nem ninguém que ia comigo.
Lembra-se de algum em particular?
Os acidentes
que tive não foram tão maus como isso. Uma vez rebentou um pneu na
descolagem e o avião saiu da pista e partiu-se. Eram pistas improvisadas
e o mais aborrecido foi que tive de lá ficar 15 dias até me irem
buscar. Era quase nas terras do fim do mundo e demorou a arranjar um
avião para lá ir buscar o avião e a tripulação, que era eu e o mecânico.
Isso já foi em África, depois de ter sido mobilizado. Mas não foi logo, foi?
Primeiro
fui colocado como instrutor de pilotagem na Base Aérea de São Jacinto,
em Aveiro, que era a base de instrução primária dos pilotos, onde estive
três anos. Eu era alentejano, fiquei deslumbrado com a cidade, a água a
correr ali pelo meio... Depois fui para Tancos fazer uma adaptação a
outro avião e fui mobilizado para África; calhou-me Angola. Tive sorte,
colocaram-me num sítio para onde ninguém queria ir, uma base ainda no
início, só barracas, mas uma boa pista para aviões. A nossa área de voo
era enorme e não havia GPS nem sequer cartas de navegação. Acabei por lá
ficar 12 anos, levei para lá a família e era ali que tinha tudo
organizado. E tive sorte outra vez, quer ver?
Conte...
Chamavam-me o Às do Leste da aviação,
porque conhecia aquilo tudo de cor. O que não era verdade, foi um golpe
de sorte. Certo dia foi à base um general, também piloto, mais novo do
que eu sou agora, mas já velhote. Fui voar com ele, como segundo piloto,
e como não dizíamos nada um ao outro deixei-me dormir. O homem
perdeu-se e abanou-me para saber onde estávamos. Já tinha passado mais
de uma hora e meia de voo e, numa extensão tão
grande como a da Península Ibérica, olho para baixo e vejo um rio com
três ilhotas ao meio. Era uma das minhas referências, de maneira que lá o
fui orientando. Quando chegou a Luanda, o general foi dizer a toda a
gente que eu era um fenómeno: ia a dormir, acorda-me e eu sei onde
estou. Nasceu um mito. A partir de então eu chegava a Luanda e punham-me
mapas à frente: "Que sítio é este?" [risos] Eu repondia que não sabia,
mas eles não acreditavam, pensavam que eu sabia tudo e fiquei com essa
fama, que não correspondia bem à verdade. Era difícil orientarmo-nos,
até por causa dos ventos que desviavam os aviões, e tínhamos de ir com
muita atenção para não nos perdermos. Perder-se de avião não é a mesma
coisa que perder-se de carro, mais meia hora de voo é o suficiente para a
gasolina acabar e o avião cair.
Quando o Conselho da Revolução acabou era ainda muito novo...
Quando
saí do Conselho da Revolução pedi para passar à reserva, tinha 45 anos,
mas tempo de serviço suficiente, porque fui para a Força Aérea muito
cedo e em África o tempo de serviço contava a dobrar. Estive lá 12 anos,
só de África tinha 24 anos de serviço. E decidi vir-me embora, porque
naquela altura a tropa já não me dizia nada. Com a política, a
interferência dos políticos, perdeu-se o espírito e tínhamos a noção do
que ia acontecer, o estado em que estão as Forças Armadas. É um plano
que estão todos a executar: esquerda, direita, centro. Nunca deixei de
acreditar completamente que isto ia mudar, mas sabia que o caminho era
muito difícil. Calhou à nossa geração o regresso a uma Europa que na
cabeça dos nossos políticos estava à nossa espera de braços abertos. Mas
não estava, estava, como está, à espera que a gente trabalhe para
ganhar o pãzinho de cada dia. E hoje a União Europeia corre o risco de
se desintegrar e se isso acontecer ficamos fora do baralho. Não temos
nada. Concretamente, não temos nada.
Disse que esteve no Congo, já depois da guerra e do Conselho da Revolução. O que esteve lá a fazer?
Quando
passei à reserva fiquei sem nada que fazer, em Évora. Num passeio a
Sevilha, no hotel Los Lebreros, encontrei um africano todo bem-posto a
falar um português correcto e, claro, meti logo conversa. Era de
Moçambique e era bispo
luterano, mas como era da facção da Joana Semião, uma activista, não
podia regressar ao país. Ela foi morta e ele fugiu e estava ali a tirar
um curso. Contei que tinha muitos anos de África e ele deu-me uma carta
caso eu quisesse ir a Albertville, actual Kalemi. Meti-me num avião e
fui. Kalemi tem o Lago Tanganica, uma das maiores reservas de água doce e
onde há toda a espécie de peixes. Quando cheguei lá não havia ninguém a
não ser dois gregos com um barquinho onde mandavam uns pretos pescar à
noite. Eu tinha um documento da FAO [Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura] com tudo descriminado... Simpatizei com o
bispo, o bispo simpatizou comigo, fizemos uma sociedade. E foi assim que
fiquei sócio da Igreja Luterana, que tinha a Société Generale du Lac
Tanganica.
Qual era o negócio?
Na altura em que o Cavaco
mandou vender e queimar as traineiras em Portugal, consegui comprar em
Setúbal duas traineiras, arranjar tripulação e lá foram pelo
Mediterrâneo, passaram o Canal do Suez, aportaram e continuaram por uma
linha de caminho-de-ferro que começa em Elizabethville, actual
Lubumbashi, feita pelos chineses como alternativa ao nosso
caminho-de-ferro, com receio que fosse cortado durante a guerra, o que
nunca aconteceu. Como lhe disse eu tinha os estudos da FAO e fui eu que
sugeri comprar os barcos em Portugal. No comboio as traineiras iam nos
vagões mais baixos, montadas ao contrário. Só que aconteceu um
imprevisto: a meio caminho há umas pontes com ferros e a cabine dos
barcos não passava. Está a ver o que é no meio de África ter duas
traineiras num comboio que não nas pontes. Foi preciso voltar para trás
e arranjar mecânicos para, com os mestres das traineiras, desmontarem
tudo. Perdemos imenso tempo, estivemos quase um mês e meio naquilo. Mas
lá chegaram a Kalemi e foram metidas dentro de água.
Ainda lá estão passados estes anos?
Vendi
a minha parte nessa sociedade, mas as traineiras ainda lá estão a
pescar, bem como as duas famílias que foram de Setúbal e estavam
desempregadas. Os barcos chamavam-se Portugal e Setubalense. Ali
pescava-se e não havia regras, só em Junho é que era proibido pescar por
causa de uma formiga que sai dos formigueiros - eram formigueiros do
tamanho de palmeiras, feitos com uma goma que parece ferro -, e, as
formigas, aos biliões, atravessam o lago ao sabor
dos ventos. Muitas caem na água e os peixes vêm comê-las, por isso é
proibido pescar nessa altura do ano. De resto as redes vinham sempre
cheias e como aquilo era da igreja luterana uma parte era para a
população. Ainda ontem recebi uma mensagem a perguntar quando é que lá
volto. Respondo que isto foi há 30 anos, estou com oitenta e não quero
morrer ali. A última vez que lá fui foi em 1992 ou 1993.
Foi nessa altura que visitou o Parque Nacional de Virunga, que inspirou o livro para crianças?
Sim,
fui ao parque dos gorilas e estive à mesma distância que estamos, assim
como se vê nos filmes. E foi aí que nasceu o livro. Vi e passei por
coisas giríssimas, andava por lá de jipe com o bispo, de sanzala em
sanzala. E fiquei com uma colecção de arte africana; não é artesanato, é
arte comprada nos circulos deles.
O livro que está a escrever já tem título?
"A
Grande Viagem de Maumude". Tem-me dado um trabalhão, mas há uma pleiade
de historiadores agora na casa dos quarenta anos que é uma maravilha,
tem uma nova perspectiva da História, mais real, sem endeusamentos, e
isso tem-me ajudado na pesquisa. A nossa chegada ao Índico foi um choque
de civilizações, nós estávamos muito atrasados. A civilização indiana
e, sobretudo, a chinesa eram muito mais avançadas, até mesmo em
humanismo. Não eram meninos de coro, mas nós éramos uns selvagens.
Ainda se interessa por política?
Sim,
mas a política é uma desilusão. A imagem que tenho é a de um cano de
esgoto que se abriu e de onde saem ratazanas, que tomaram conta disto. É
um edifício tomado por ratazanas.
Há tratamento?
Muito difícil, porque não é só
um fenómeno nosso, é mundial. Veja o Brasil, Israel... Perderam-se os
objectivos e uma certa ética. Mas isto não vai lá com revoluções, só vai
lá com a evolução. Sou contra revoluções, veja a tragédia que foi a
Revolução Francesa, que toda a gente diz que foi uma coisa bestial, mas
que foi o início de uma época tremenda, que ainda estamos a viver. Pode
parecer blasfémia, mas é verdade. O que precisamos é de evoluir, de
resgatar valores. Olhe, outro dia fui a Serralves, entrei numa sala e
estava uma lâmpada pendurada e um escadote por baixo. O meu primeiro
pensamento foi: o electricista esqueceu-se do escadote. E é chato, num
museu. Vou ver e o escadote era a própria
obra. Mas era um escadote normalíssimo... É de mais! Enfim, calhou-nos a
nós esta fase mais difícil, temos de a viver, mas isto vai melhorar.
quem está acabado é o rectângulo
ResponderEliminarCarlos nasceu, como eu, no falecido além Tejo que Deus haja
também na década de 30
O escadote e a lâmpada não pode ser entendivel por qualquer um.
ResponderEliminarPara apreciar uma obra de arte é preciso estudar muito. A estética é apenas uma pequena parte que valoriza a obra.
Às vezes recebo pessoal das obras em minha casa. Gosto de convidar, uma vez por ano, os subempreiteiros a quem recorro, para os colocar em sintonia.
É uma noite maravilhosa. Vê-los a apreciar algumas obras que tenho, é bonito.
Há sempre um que comenta a obra que lá tenho em destaque. Qualquer serralheiro fazia isto, oh doutor.
O homem da guerra colonial foi a Serralves. E ficou espantado. Ainda bem.
Rb
A estética do regime socialista(alguns dirão social democracia) anda pelas ruas da amargura.Entregaram à Lenine as "colónias" e agora é stress para importar os pretinhos que só nos enriquecem...
ResponderEliminarJá falta de vergonha e traição há às resmas...mas prontos agora é EUROPA EUROPA EUROPA mas se a Europa se vai ui ui ui
Na Guiné aquilo estava mau.Os cabo-verdeanos a chefiar os guineenses e com bases a Norte e a Sul com apoio da URSS, Cuba e China e sem que a malta pudesse lá ir meter umas bombas de avião claro como hoje fazem os israelitas...
ResponderEliminarEntretanto agora os pretinhos querem voltar a ser "Portugueses" e todos batem palmas sem perguntar quem é que lhes paga...
Que grande entrevista!
ResponderEliminarAhahaha!
ResponderEliminarO que eu me ri com o desaguisado dos burros...
E levar traineiras de Setúbal para o Tanganica - é obra!
Alguém neste País, disse... raramente tenho dúvidas.
ResponderEliminarFoi aquilo que encontrei em África. Pessoas humildes, que me disseram: - o branco vai embora e o preto vai andar em guerra. Vamos morrer à fome. E um branco, à minha chegada, dise: embora indiretamente: - o que é que estes filhos da puta de militares vêm fazer para aqui?!
Da mesma forma, entendi a pseudo-revolução como uma forma de vingança. Não para melhorar a situação populacional nacional, sim e apenas, a melhoria da situação dos pseudo-progressistas.
O meu País está mais pobre do que nunca. E continua a deixar-se enganar com frequência. Meninos com o 9 e 12 anos de escolaridade, que fazem contas com os dedos. Que não sabem quem é o Superior Magistrado da Nação, etc...
A Justiça, não existe. Mete-se nas cadeias quem rouba para matar a fome e deixa em liberdade, quem rouba os impostos suados pelos portugueses...
Liberdade de expressão, não há, há sim o insulto à expressão
Fantástica entrevista,
ResponderEliminarsobre Angola, muito mais haveria que contar,,,, um destes dias.
Esta entrevista é um espécime muito raro, coisa para guardar. A Isabel Tavares coitadita… a continuar assim, não arranja emprego nem a virar queijos ao Coelho.
ResponderEliminarPode ser que ele tenha razão, 50 anos é pouco tempo… Mas não me acredito, o estrago foi enorme e os comunas, chineses e outros abutres não vão abrir mão daquilo só porque o português tem uma empatia especial com África.
Eu sou dos que penso que a guerra estava ganha, ou pelos menos suficientemente ganha para ficarmos e passarmos a uma outra fase da nossa presença em África, com dignidade. Ainda bem que ele fala de Mário Soares, esse indivíduo devia ser mais falado.
ResponderEliminarPor aqui se vê o embuste da ideologia de esquerda para desmantelar o país e entregar parte do nosso território ( de quem lá vivia) às multinacionais americanas, inglesas, cubanas soviéticas, chinesas.
ResponderEliminarOuvi Salazar discursar no 28 de Maio em Braga no ano de 1970 desde a varanda do Theatro Circo.
Ouvi muitos testemunhos de militares em 1976, 1977, 1978 que apresentavam sempre histórias ao arrepio da cantilena mundialista.
a guerra estava contida, bem contida.
O 25 de abril surge duma questão corporativa dos militares. Isso já se sabe a neste blogue já disso se deu conte, creio.
É um fartote de tanto rir. Botem os olhinhos na descolonização inglesa que soube sair e manter os interesses. 10 anos antes do 25 abril os ingleses devolveram as colônias.
ResponderEliminarÉ fizeram bem. Salazar é que fez tudo mal. Ele é o responsável por levar balas em vez de compromissos e negociação. A ele se deve a perda do nosso patrimônio.
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Rb
A direita pisca pisca aprecia a subjugação dos povos. Para a direita pisca pisca os povos não podem escolher. Principalmente os povos de raças menores.
ResponderEliminarGente seria e honesta decidiu no inicio da década de 60 que não era mais admissível manter os povos africanos subjugados à lei da força.
As Nações Unidas declararam, e declararam bem, que os africanos tinham direito a ser independentes.
Os ingleses , franceses etc compreenderam bem a ideia. Nem sempre.correu bem mas, saíram das colônias mantendo os interesses nas mesmas.
Portugal foi a excepção. Não saiu. Salazar não quis sair. O regime autocrático e corporativo dependia das colônias. Levou a guerra aqueles que dizia serem portugueses além mares. Tretas. Para Salazar os africanos eram indignas que deviam ser submetidos e colocados na ordem.
Os portugueses perderam tudo. Claro. No tempo que era possível negociar e sair a bem, Marcello não teve tomates para o fazer.
Soares não teve outra alternativa. O estado novo nao deixou margem nem condições para negociar a saída a bem.
Hoje as colônias são livres. E escolhem o que querem para os próprios.
Rb
Enquanto uns se cagam para o segredo de justiça eu cago-me para os que venderam os Portugueses das "colónias" a troco de malas de dinheiro
ResponderEliminarUns verdadeiros merdosos que ignorantes não souberam acautelar os interesses de ninguém.Nem dos pretinhos a quem agora adoram lamber o cu e daí tanta hepatite "A"...